O Reino de Lotaria escrita por Anderson Ricardo Paublo


Capítulo 19
Capítulo 17 - A Fuga




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Na sombra do crepúsculo que se aprofundava sobre o palácio, o silêncio que seguia a morte da Rainha Seraphina era mais ensurdecedor do que qualquer clamor de batalha. Aerilyn, horrorizada, mal podia acreditar no teatro de violência que se desenrolou diante de seus olhos. Gabriel, cujas lágrimas marcavam sua face, encontrava-se num estado de choque profundo, incapaz de assimilar a rápida sucessão de eventos trágicos. Julius, sempre o protetor, agia com um senso de urgência inabalável, suas ordens cortando a tensão como uma lâmina afiada. "Temos que sair daqui agora!" ele alertou, sua voz um farol de determinação na escuridão crescente.

Enquanto preparavam sua fuga, uma figura esguia emergiu das sombras da sala — um Neko chamado Kissa, cujos olhos astutos haviam testemunhado o caos sem ser notado. "Vi tudo," Kissa confessou com um tom de voz que carregava a leveza peculiar de sua espécie, "desde o início. A Rainha... ela mentiu." Suas palavras confirmavam as suspeitas não ditas, lançando luz sobre a verdadeira natureza da trama que havia enredado Anderson.

Revelando-se mais do que um mero observador, Kissa se prontificou a guiar o grupo por uma rota de fuga conhecida apenas por ele. "Existem túneis, passagens secretas que atravessam as entranhas da cidade. Eu os conheço bem," disse, sua cauda movendo-se em uma expressão de confiança. "São as sombras que me abrigam enquanto busco alimento para minha família."

Com pouco tempo a perder, Julius acenou para que seguissem Kissa. A necessidade de escapar do palácio e evitar o inevitável confronto com o Rei e seus soldados era palpável. Juntos, eles adentraram o labirinto oculto sob o palácio, uma rede de túneis que prometia ser sua salvação.

O caminho era estreito e sinuoso, as paredes de pedra fria ao toque. Aerilyn, segurando firmemente a mão de Gabriel, procurava em seus olhos alguma faísca de coragem. Anderson, ainda atormentado pela violência que havia desencadeado, seguia em silêncio, a presença de Kissa um lembrete constante da injustiça que havia sofrido. E Kissa, com seus sentidos aguçados e familiaridade com as sombras, liderava com uma confiança que inspirava até mesmo os mais desesperançados.

Após horas de uma jornada tensa e silenciosa através dos túneis, o grupo emergiu além dos muros da cidade, sob o manto protetor da noite. O ar fresco da liberdade misturava-se ao peso da incerteza que carregavam em seus corações. Diante deles, estendia-se o desconhecido — um mundo vasto e perigoso, mas também repleto de possibilidades.

Julius, olhando para cada um de seus companheiros, sabia que a jornada à frente exigiria mais deles do que jamais haviam imaginado. "Nossa luta apenas começou," ele declarou, seu tom carregado de uma promessa e de um aviso. "Mas juntos, encontraremos nosso caminho.”

A caverna, um refúgio esquecido pelo tempo e escondido das vistas do mundo exterior, oferecia um breve respiro das tormentas que os perseguiam. Ali, sob a proteção de suas antigas paredes, o grupo encontrou um momento de paz para juntar seus pensamentos e curar as feridas do corpo e do espírito. Kissa, com um leve aceno de cabeça, desapareceu nas sombras da entrada, prometendo vigiar qualquer aproximação indesejada.

A tristeza pairava pesadamente no ar, uma nuvem de lamentação pelo que havia sido perdido. "Citera teria sido um grande aliado," murmurou Aerilyn, a dor em sua voz espelhando o desalento que todos sentiam. "E agora, estamos sós." Gafian, sempre o guerreiro stoico, colocou uma mão reconfortante sobre o ombro de Anderson, sua solidariedade um farol de esperança em tempos tão sombrios.

Enquanto isso, Julius conduzia Gabriel para longe do grupo, uma sombra de preocupação marcando suas feições habitualmente impassíveis. Em um canto distante da caverna, longe dos ouvidos curiosos, Julius expressou suas reservas, sua voz baixa e urgente. "Gabriel, precisamos falar sobre Anderson. O que ele fez no palácio... Isso não é algo que podemos simplesmente ignorar. Ele é violento, incontrolável."

Gabriel, cujos olhos ainda carregavam o brilho das lágrimas recentes, encontrou dificuldade em assimilar as palavras de Julius. "Mas ele é meu irmão," protestou, o conflito evidente em seu tom. "Ele estava nos protegendo, não estava?"

Julius suspirou, o peso da liderança e da responsabilidade refletido em sua expressão. "Proteção é uma coisa, Gabriel. Mas o que Anderson fez... Ele cruzou um limite. Não podemos nos dar ao luxo de sermos cegados pelo sangue. Se ele perder o controle novamente, quem dirá que não seremos os próximos na linha de fogo?"

Lolis, tendo ouvido a conversa tensa entre Julius e Gabriel, não conseguiu se conter e os interrompeu com uma convicção que surpreendeu a todos. "Precisamos encontrar uma maneira de me fundir novamente com Anderson. Eu acredito que posso ajudar a conter essa fúria dele," afirmou, a determinação brilhando em seus olhos. "Ele não é uma pessoa má; o que ele sofreu... anos de tortura moldaram a sua reação. Não podemos abandoná-lo agora."

Julius, apesar de suas reservas, reconheceu a sinceridade e a preocupação em sua voz. "Vou pensar em uma solução para isso," prometeu, a mente já trabalhando em estratégias possíveis. "Mas por enquanto, preciso que você convença Anderson a se abster de entrar em conflitos. Se houver combate, o grupo lidará com isso sem a ajuda dele." Lolis assentiu, entendendo a gravidade da tarefa, mas disposta a fazer o possível para manter a união e a paz entre eles.

Aerilyn, agora mais serena e refletindo sobre os recentes acontecimentos, aproximou-se de Anderson com um olhar de compreensão e remorso. "Anderson, me desculpe," começou, sua voz carregando uma sinceridade palpável. "Por um momento, eu realmente acreditei que você havia atacado a Rainha. Mas após ouvir a revelação de Kissa, percebi que sua reação não foi por ser preso, mas sim ao ver seu irmão sendo maltratado."

Anderson, surpreso com a abordagem de Aerilyn, olhou para ela, os olhos refletindo as profundezas de sua dor e sofrimento. Por um momento, palavras lhe faltaram, mas o olhar que compartilharam carregava uma comunicação mais profunda do que qualquer diálogo. Era um reconhecimento da injustiça sofrida, um pedido de desculpas não apenas de Aerilyn, mas de todos que haviam duvidado dele.

Na quietude da noite, quando apenas os sussurros da natureza preenchiam o silêncio, Anderson levantou-se silenciosamente. O luar que se infiltrava na caverna lançava sombras suaves sobre os rostos daqueles que partilhavam seu refúgio temporário. Movendo-se com uma delicadeza inesperada, ele se aproximou de Aerilyn, que dormia com uma serenidade que parecia distante dos recentes tumultos.

Com suavidade, Anderson tomou as mãos frias de Aerilyn, trazendo-as ao seu rosto em busca de calor. O gesto, embora simples, era carregado de um significado profundo, uma busca por conexão em meio à tempestade emocional que ele enfrentava. A sensação do toque gelado de Aerilyn contra sua pele foi suficiente para despertá-la.

Aerilyn, confusa a princípio ao acordar com tal proximidade, encontrou os olhos de Anderson fixos nos dela, refletindo uma vulnerabilidade que raramente permitia ser vista. O tempo pareceu suspender-se naquele momento, um silêncio confortável preenchendo o espaço entre eles.

Então, com uma voz que mal ultrapassava um sussurro, Anderson confessou: "Seu toque, é a única coisa que sinto." As palavras, carregadas de emoção crua, ecoaram no pequeno abrigo, revelando a profundidade de sua dor e isolamento.

Aerilyn, tocada pela sinceridade e pela confissão de Anderson, ofereceu-lhe um sorriso que carregava a promessa de esperança e compreensão. Sem hesitar, ela o envolveu em um abraço, um gesto de aceitação e apoio. Naquele abraço, Aerilyn procurou transmitir uma força silenciosa, uma promessa de que não estaria sozinho em sua batalha interna.

E naquela noite, sob o manto da escuridão e protegidos pela antiga caverna, Anderson e Aerilyn encontraram um conforto mútuo, um porto seguro contra as tempestades do mundo exterior. Para Anderson, o gesto simples de Aerilyn oferecia uma luz de esperança, um lembrete de que, apesar da escuridão que às vezes parecia consumi-lo, havia calor, havia luz.

Quando o primeiro raio de sol da manhã seguinte roubou-se pela entrada da caverna, encontrou Anderson e Aerilyn ainda acordados, compartilhando um silêncio contemplativo. Naquele novo dia, eles sabiam que enfrentariam juntos os desafios que Lotaria ainda reservava, fortalecidos por um vínculo que a adversidade apenas conseguira aprofundar.

 

 

 


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