O Reino de Lotaria escrita por Anderson Ricardo Paublo


Capítulo 16
Capitulo 14 - Caminhos Convergentes




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Exaustos, os sobreviventes da travessia pelo Mar das Sombras encontraram refúgio na vastidão da areia dourada da Ilha do Deserto. Deitados, tentavam recuperar o fôlego após a batalha árdua contra os Leviatãs, sob o calor suave do sol que começava a se pôr no horizonte. O silêncio, um bem-vindo companheiro, oferecia a todos um momento de paz e recuperação. No entanto, essa calmaria seria breve.

A chegada inesperada de duas figuras na praia rompeu a tranquilidade do momento. Julius, o Arqueiro Celestial, acompanhado por Gabriel, o jovem destinado a ser rei, aproximava-se do grupo com passos determinados. O reencontro, carregado de emoções conflitantes, trouxe à tona memórias e feridas há muito enterradas.

Julius, ao avistar Anderson entre os sobreviventes, iluminou-se com um sorriso de alívio e alegria. "Anderson! Eu não acredito, estou tão feliz por vê-lo," ele exclamou, a sinceridade em sua voz cortando o ar carregado de tensão.

Anderson, porém, não recebeu as palavras de Julius com o mesmo entusiasmo. Seu rosto se fechou em uma expressão de desconfiança e ressentimento. "Julius, um mentiroso," ele retrucou, a amargura tingindo cada palavra. "Você me abandonou." A acusação era um eco de dores passadas, de promessas quebradas e de uma solidão que havia marcado profundamente sua alma.

O silêncio que se seguiu foi tenso, carregado com o peso das palavras não ditas e das histórias não compartilhadas. Foi nesse momento de impasse que Anderson voltou sua atenção para o jovem ao lado de Julius. Observando Gabriel, cuja presença parecia tanto familiar quanto estranha, Anderson sentiu um turbilhão de emoções. "Você é o meu irmão, Gabriel?" ele perguntou, sua voz carregada de uma mistura de esperança e incerteza.

Gabriel, por sua vez, olhou para Anderson, tentando encontrar traços do irmão que lembrava de sua infância. Mas as memórias eram nebulosas, distantes; a imagem do irmão que ele havia conhecido não se encaixava na figura marcada pela batalha diante dele. "Eu... Eu não me lembro de você," Gabriel admitiu, a confusão evidente em sua expressão. "Quando te vi pela última vez, eu era muito novo."

A revelação pendia entre eles, um abismo de anos perdidos e vidas separadas por circunstâncias além de seu controle. O reencontro, tão ansiado e imaginado, agora se desdobrava sob o peso da realidade — uma realidade em que os laços de família eram tão frágeis quanto poderosos.

Julius, percebendo a tensão crescente, tentou mediar a situação. "Há muito que precisamos conversar, muito que precisamos explicar," ele começou, tentando pavimentar o caminho para um entendimento. "Mas por agora, o importante é que estamos juntos. E juntos, temos uma chance de enfrentar o que está por vir."

Julius, percebendo a tensão que se formava entre os recém-reunidos, buscou direcionar o grupo para um propósito comum, sugerindo um local onde pudessem encontrar refúgio e repouso. "O Vilarejo de Era está próximo," ele anunciou, esperando aliviar o peso da jornada sobre seus ombros. "Lá, podemos descansar e planejar nossos próximos passos com segurança."

Gafian, cuja lealdade à princesa Aerilyn e seu bem-estar transcendiam qualquer promessa de segurança, reagiu com desconfiança ao plano. Voltando-se para a princesa, sua voz carregava uma mistura de preocupação e determinação. "Não acho prudente seguirmos todos juntos," ele disse, olhando para Julius e Gabriel com um ceticismo evidente. "Princesa, talvez seja melhor se não nos acompanharem diretamente."

Anderson, cujo coração ainda se debatia com a complexidade de suas emoções ao reencontrar seu irmão, não podia deixar que o grupo se fragmentasse. Intervindo, ele posicionou-se ao lado de Gabriel, cuja importância para o destino de Lotaria não podia ser subestimada. "Gafian, eu entendo suas preocupações, mas precisamos estar unidos agora mais do que nunca," Anderson argumentou, sua voz firme, porém conciliadora. "Meu irmão, Gabriel, é o futuro rei de Lotaria, o garoto profetizado. Seu destino e sua segurança são cruciais para nós todos. O melhor é irmos juntos para o Vilarejo de Era."

O apelo de Anderson fez com que todos ponderassem a situação. Gabriel, ainda tentando encontrar seu lugar entre essas pessoas que o destino havia entrelaçado à sua jornada, olhou para Anderson com um novo respeito. Julius acenou, satisfeito com a decisão de manter o grupo coeso, reconhecendo a sabedoria nas palavras de Anderson.

Aerilyn, cuja força nunca havia sido apenas de sangue, mas de espírito, entendeu a necessidade de confiar naqueles ao seu redor. "Estaremos mais seguros juntos," ela concordou, lançando um olhar significativo para Gafian, cuja proteção ela sabia ser inabalável, mas cuja visão agora precisava se expandir para abarcar o bem maior.

Com um consenso tácito formado, o grupo, agora reforçado pela união de propósitos e pela determinação de proteger o futuro de Lotaria, seguiu Julius através das terras que separavam a praia do Vilarejo de Era. A jornada era tranquila, mas cada passo os aproximava não apenas do descanso merecido, mas também de desafios e verdades que aguardavam para serem descobertos e enfrentados.

Naquela noite, à medida que as sombras do crepúsculo se estendiam sobre o vilarejo acolhedor, eles encontraram, entre seus habitantes curiosos e acolhedores, um vislumbre da vida que lutavam para proteger. E enquanto se acomodavam para descansar, sabiam que o amanhã traria novas batalhas, mas também a esperança de um futuro onde a luz venceria as sombras que há tanto tempo ameaçavam Lotaria.

 

Na pousada que servia de refúgio temporário para o grupo, Anderson encontrou um momento de solitude em seu quarto, um raro instante de calma após as tempestades que haviam enfrentado. Despojando-se de sua camisa, ele se deparou com o reflexo de suas cicatrizes, cada uma contando uma história de dor, luta e sobrevivência. Era um mosaico de marcas que cobria seu corpo, um testemunho silencioso das batalhas que enfrentara.

Foi então que Gabriel entrou, sem perceber o momento de vulnerabilidade do irmão. Seus olhos se arregalaram ao vislumbrar as inúmeras cicatrizes que marcavam a pele de Anderson. "Quantas cicatrizes... Por onde você andou?" perguntou, sua voz misturando curiosidade e um toque de admiração involuntária.

Anderson, surpreso pela presença repentina de Gabriel, hesitou antes de responder. Baixando a cabeça, suas palavras emergiram carregadas de peso e sombras do passado. "Fui para o inferno, mas voltei, como prometi ao papai," ele confessou, sua voz quase um sussurro. "Voltei para te proteger." Suas palavras eram mais do que uma simples resposta; eram uma promessa, um juramento que ultrapassava a própria vida.

Gabriel, tentando aliviar a tensão e talvez trazer um pouco de leveza ao momento, sorriu e soltou uma piada, tentando dissipar a névoa de seriedade que se formara. "Bem, espero que tenha trazido lembrancinhas de lá, então," ele brincou, seu sorriso buscando uma reação no rosto de Anderson.

Anderson, no entanto, não conseguiu corresponder à tentativa de humor de Gabriel. Seu rosto permaneceu impassível, os olhos perdidos em algum ponto distante, onde as memórias do inferno que mencionara ainda queimavam vivas. A piada de Gabriel pairou no ar, sem encontrar o solo para aterrissar, deixando um silêncio desconfortável entre eles.

Foi um momento de compreensão para Gabriel, um vislumbre da profundidade da dor e da responsabilidade que seu irmão carregava em seus ombros. As cicatrizes de Anderson eram mais do que marcas físicas; eram símbolos da jornada tortuosa que ele havia percorrido, um caminho que Gabriel começava a entender que compartilhavam, ligados não apenas pelo sangue, mas pelo destino de Lotaria.

Gabriel aproximou-se, colocando uma mão no ombro de Anderson em um gesto de apoio silencioso. "Eu estou aqui agora, Anderson. Nós enfrentaremos o que vier, juntos," ele disse, sua voz carregada de determinação renovada.

Enquanto a atmosfera no quarto carregava o peso das revelações e da compreensão mútua, Gabriel, ainda processando a profundidade das histórias e cicatrizes que marcavam seu irmão, fez uma observação que revelou sua inexperiência com as nuances da vida de Anderson. "Vi que você tem uma fada de estimação," comentou, tentando encontrar algum terreno comum ou talvez apenas amenizar a gravidade dos momentos anteriores.

A correção de Anderson foi imediata, pontuada por uma intensidade que fez Gabriel perceber a superficialidade de sua suposição. "Não é de estimação," ele disse, a voz carregada de respeito e uma ponta de desafio. "É minha companheira, o espírito que habitava a espada do papai." A fala de Anderson não apenas estabelecia a importância de Lolis em sua vida mas também revelava a conexão profunda entre eles, uma aliança forjada em desafios e lutas compartilhadas.

Gabriel, surpreso pela revelação e pela importância de Lolis na vida de Anderson, sentiu um impulso de aprender mais. "Eu... Eu não sabia," ele admitiu, humildade e curiosidade tingindo suas palavras. "Me perdoe por ter simplificado tanto. Conta-me mais sobre ela, sobre vocês. Sinto que há muito que desconheço."

Na penumbra do quarto, Anderson iniciou sua narrativa, desfiando os eventos que marcaram sua vida desde a morte de seus pais. Ele falou do doloroso dia em que Julius, alguém que ele acreditava ser um aliado, o enviou para as Ilhas das Sombras, um lugar de desespero e escuridão onde foi submetido a torturas indizíveis. Descreveu suas lutas contra os anjos caídos e como, com a ajuda de Lolis e outros que encontrou pelo caminho, conseguiu escapar daquele lugar amaldiçoado, enfrentando leviatãs colossais nas águas traiçoeiras que circundam as ilhas.

Ao concluir, a voz de Anderson carregava um peso sombrio, uma resolução forjada nas provações que enfrentou. "E é por isso que não confio em Julius," ele disse, os olhos encontrando os de Gabriel. "Ele me traiu, me enviando para aquele inferno."

Gabriel, absorvendo cada palavra, cada detalhe das adversidades enfrentadas por Anderson, não pôde deixar de se sentir admirado pela resiliência e pela força do irmão. No entanto, ao ouvir as acusações contra Julius, um conflito se instalou em seu coração. Julius, a figura que o havia criado e treinado, que havia se dedicado a prepará-lo para os desafios futuros e a reunir aliados para a guerra que se avizinhava, não poderia ser o vilão que Anderson descrevia.

"Eu entendo sua dor e sua desconfiança, Anderson," Gabriel começou, sua voz marcada por uma hesitação cuidadosa. "Mas Julius me criou, treinou-me, e fez de tudo para me preparar para o que está por vir. Ele me contou sobre a guerra que se aproxima, sobre a necessidade de aliados. Não posso acreditar que suas intenções fossem malignas."

O diálogo entre os irmãos revelou não apenas as cicatrizes deixadas pelas experiências de Anderson, mas também a complexidade dos laços que uniam todos eles. A defesa de Gabriel por Julius era um testemunho de sua própria jornada, das lições aprendidas e da lealdade forjada sob a tutela do Arqueiro Celestial.

"Entendo que você tenha razões para confiar nele," Anderson respondeu, sua expressão suavizando-se com a compreensão da posição de Gabriel. "Mas as feridas que Julius deixou em minha vida são profundas. A verdade sobre suas ações, suas verdadeiras intenções, ainda precisa ser revelada."

Ao raiar do dia seguinte, o vilarejo de Era acordou sob a liderança decidida de Julius, que, sem perder tempo, anunciou os planos para o próximo passo da jornada. A energia do amanhecer mal tinha dispersado a névoa noturna quando ele começou a despertar o grupo, impulsionado pela urgência de sua missão.

"É hora de partir," declarou Julius, com uma autoridade que instigava ação. "Hoje, vamos ao encontro da família real de Citera. Lá, vamos firmar uma grande aliança, essencial para a batalha que se avizinha em Prontera." Sua voz, carregada de determinação, reverberava com a promessa de uma nova fase em sua luta conjunta.

Anderson, ainda ponderando sobre a conversa da noite anterior com Gabriel, reconheceu a importância do movimento estratégico proposto por Julius. Apesar de suas reservas pessoais, a possibilidade de formar uma aliança com a família real de Citera era um passo crucial na unificação de forças contra os adversários que ameaçavam Lotaria.

Gabriel, por sua vez, sentiu-se encorajado pelo senso de direção claro e pelo papel que desempenharia na formação dessa aliança. Sua criação e treinamento sob a tutela de Julius haviam preparado-o para momentos como esse, e ele estava pronto para assumir seu lugar no cenário maior da luta pela liberdade de seu reino.

Aerilyn e Gafian, cada um movido por seus próprios juramentos e lealdades, entenderam que a união com a família real de Citera era um avanço estratégico vital. Eles sabiam que a jornada até lá exigiria não apenas força física, mas também a habilidade de navegar as complexidades políticas que essa aliança poderia envolver.

Com o grupo reunido e preparado, partiram do vilarejo de Era, seus corações carregados com a esperança e o peso das tarefas que tinham pela frente. A viagem para Citera prometia ser tanto um teste de suas habilidades como uma oportunidade de fortalecer o movimento de resistência que crescia a cada dia.

A promessa de uma grande aliança com a família real de Citera era um farol de esperança, mas também um lembrete das complexidades e dos desafios na luta pela libertação de Prontera. Enquanto marchavam, cada membro do grupo estava ciente dos perigos que enfrentariam, mas também da importância de sua união e determinação.

O caminho até Citera se desenrolava diante deles, repleto de possibilidades e incertezas. No entanto, sob a liderança de Julius e com a força encontrada na diversidade de seus talentos e histórias, eles estavam prontos para enfrentar o que quer que fosse necessário. A batalha por Prontera estava no horizonte, e essa aliança era apenas o início de sua preparação para o confronto final pelo futuro de Lotaria.

 

 

 


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