O Reino de Lotaria escrita por Anderson Ricardo Paublo


Capítulo 11
Capitulo 9 - Alvorecer da Conexão




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O amanhecer nas Ilhas das Sombras banhava o mundo num tom pálido de cinza, um cenário que parecia congelado no tempo. Anderson, acompanhado de Nimariel, Vlad e Aatrox, avançava pela areia fria em direção aos destroços que a maré impiedosa havia arremessado à praia. Entre as madeiras partidas e velas rasgadas, uma figura se destacava, uma princesa distante de seu lar, Glatera, agora reduzido a memórias e desolação. Ao seu lado, Gafian e um soldado — os únicos remanescentes de uma jornada que desafiou os próprios limites da sobrevivência.

"Anos no mar," começou a princesa Aerilyn, sua voz um sussurro trêmulo contra o vento salgado, "enfrentamos horrores que desafiam a razão, perdendo muitos para as garras do inimaginável." Seus olhos, embora marcados pela fadiga, queimavam com uma determinação inquebrável.

Anderson, movido pela história de luta e perda da princesa, não hesitou. "Venham, nós temos um refúgio. Alimento e abrigo, vocês encontraram amigos aqui." Sua oferta era um farol no nevoeiro de desespero que cercava os sobreviventes.

Vlad e Aatrox trocaram olhares céticos, retirando-se com resmungos de descontentamento. "Visitantes indesejados," murmurou Vlad, sua paciência claramente testada pela situação.

De volta ao esconderijo, Nimariel assumiu o papel de anfitriã, preparando um prato simples mas nutritivo com Musguilos. Gafian, sempre o protetor, provou o alimento antes de permitir que a princesa comesse. Aerilyn tentou, mas o sabor estranho era demais para ela, um lembrete amargo de quão longe estavam de casa.

Gafian então compartilhou a trágica história de Glatera, detalhando os eventos que levaram à sua jornada desesperada até as Ilhas das Sombras. Anderson absorveu cada palavra, um silêncio pensativo envolvendo-o enquanto o peso das revelações assentava.

Mais tarde, Aerilyn encontrou Anderson meditando sozinho, as cicatrizes que mapeavam seu corpo contando histórias de dor e sobrevivência. "Nós somos Anderson," ele disse sem se virar, sua voz calma mas carregada de histórias não contadas.

"Essas cicatrizes," Aerilyn começou, hesitante, "elas contam uma história terrível. Como você sobreviveu?"

Anderson soltou um suspiro longo, uma admiração por sua resiliência inata. "A dor era uma constante, mas agora, nós... Eu... não sentimos mais. A dor se foi, substituída por um vazio. Podemos nos ferir, mas o sentimento... desapareceu."

Diante do olhar inquiridor da princesa Aerilyn, Anderson buscava uma forma de expressar uma verdade que poucos poderiam compreender. Sem uma palavra, ele sacou uma adaga de lâmina brilhante e, com um movimento rápido e preciso, fez um corte superficial em sua mão. "Olha... Nós não sentimos dor, não sentimos o toque, não sentimos nada," disse ele, uma sinceridade crua em sua voz. O sangue começou a brotar da ferida, mas seus olhos permaneceram fixos nos dela, desafiando-a a entender a profundidade do que aquilo significava.

A princesa Aerilyn, tomada por um misto de horror e fascínio, concentrou sua magia glacial na palma da mão. A luz suave emanando de sua pele se misturou ao ar frio que os cercava, criando um véu etéreo de cura. Com hesitação, ela tocou a ferida aberta de Anderson, e sua magia fluía para dentro dele, selando a carne com um toque gélido.

Anderson sobressaltou-se, uma expressão de surpresa e confusão atravessando seu rosto. "Nós…eu... eu senti isso," ele murmurou, olhando para sua mão agora curada, a surpresa evidente em seus olhos. A sensação de uma mão fria tocando sua pele era algo que ele não experimentava há anos, um sentimento há muito esquecido, enterrado sob camadas de dor e indiferença.

A princesa recuou ligeiramente, surpresa pela reação de Anderson. "Você sentiu minha magia?" perguntou ela, sua voz um sussurro suave, misturado com um toque de esperança.

"Sim, eu senti," Anderson confirmou, olhando para a princesa com um novo entendimento. "Isso não deveria ser possível. Nós... eu... estava convencido de que a dor e a sensação haviam me abandonado para sempre."

Esse momento, pequeno mas significativo, marcou uma virada em sua interação. Para Anderson, foi um vislumbre de humanidade que ele pensava ter perdido, uma conexão física com o mundo que acreditava estar além de seu alcance. Para Aerilyn, foi uma revelação do homem por trás das cicatrizes, um guerreiro marcado por batalhas que carregava em si uma profundidade de espírito que ela apenas começava a compreender.

"Isso significa que há esperança para você, Anderson," Aerilyn disse suavemente, um sorriso gentil tocando seus lábios. "Sua jornada... nossa jornada... está apenas começando."

Eles compartilharam um momento de silêncio, um entendimento mútuo pendurado no ar entre eles. A revelação de que Anderson poderia sentir novamente abriu novos caminhos de esperança e possibilidades, não apenas

para a cura de suas feridas físicas, mas também para a restauração de sua conexão perdida com o mundo ao seu redor. Era um sinal, talvez, de que mesmo as cicatrizes mais profundas poderiam encontrar alívio, e que, juntos, eles poderiam enfrentar os desafios que estavam por vir, não como guerreiro e princesa de reinos despedaçados, mas como aliados unidos por uma compreensão compartilhada de dor, cura e o poder resiliente do espírito humano.

Enquanto a luz da aurora começava a se dissipar, dando lugar aos primeiros raios do sol que lutavam para penetrar o véu de sombras das Ilhas, Anderson e Aerilyn permaneceram juntos, contemplando o novo dia. Eles sabiam que a estrada à frente estava repleta de incertezas e perigos, mas também de esperança e promessas de renovação. E nesse momento de quietude, a princesa de Glatera e o guerreiro marcado pelas sombras encontraram algo raro e precioso: uma faísca de luz no coração da escuridão, um lembrete de que mesmo nos lugares mais sombrios, a conexão e a cura são possíveis.

Este evento inesperado, uma simples troca entre dois seres carregados por seus próprios fardos e batalhas, semeou as primeiras raízes de uma aliança que poderia muito bem mudar o destino de Lotaria. Juntos, eles enfrentariam o futuro, armados não apenas com suas habilidades e magias, mas com a compreensão de que, em meio à luta e à dor, a conexão humana e a empatia poderiam ser suas maiores forças.

E assim, com o amanhecer dando lugar a um novo dia, Anderson e Aerilyn se preparavam para o que viria a seguir, sabendo que, independentemente dos desafios que enfrentariam, eles agora tinham um ao outro — um vínculo forjado pela adversidade, mas fortalecido pela promessa de esperança e renovação.

 


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