O Preço da Fama escrita por Holanda


Capítulo 9
Capítulo 9




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/765720/chapter/9

 

 

— Como você tá se sentindo? — Yang perguntou pela quinta vez naquela noite.

— Tô legal. — Foi a resposta automática de Nora, mas o jeito como ela balançava a perna nervosamente lhe dizia o contrário.

— Tudo bem se sentir estressada nessa hora. — Arslan disse ao lado da ômega ruiva. 

— A competição vai ser disputada hoje, anunciaram que as vagas diminuíram de 5 para 3. — Yatsuhashi falou e imediatamente Yang bateu no braço dele.

— Cara, não. — Ela se abaixou ficando de joelhos e segurou as pernas de Nora que estava sentada em um banco do vestiário. — Escuta, não pensa nisso, não pensa na competição, não pensa na vaga, pensa na sua luta e na sua adversária, você tem de focar em vencer, dê o seu melhor, mostre seus melhores golpes e tudo vai da certo no final. Ok?

— Entendi. — Ela respondeu, mas era difícil disfarçar sua ansiedade, Nora iria para sua primeira luta de peneira, isso significava que se ela tivesse um bom desempenho, poderia ser escolhida para entrar na liga oficial e começar a competir de verdade.

Mas agora que as vagas diminuíram, ela precisava de uma vitória para ter chances.

— Vamos entrar agora. — Arslan falou e depois se virou para Nora. — Lembra-se de seu treinamento e das orientações que nós te demos.

Nora balançou a cabeça em concordância e ela foi na frente, como era o esperado, saindo do vestiário da Arena Vytal com Yang, Arslan e Yatsuhashi logo atrás dela. Era uma visão um tanto assustadoras, os quatro fortes e mal encarados usando camisetas pretas com a estampa de dragão da Academia Xiao-Long, apenas Nora usava um moletom de mangas longas de cor branca e um desenho de um martelo no meio de seu peito. A ômega ruiva também havia feito tranças pequenas e apertadas em seu cabelo para não atrapalhar na hora da luta.

Enquanto passavam pelo corredor cheio e barulhento na direção do octógono, Yang se sentiu estranha em saber que daquela vez, não seria ela a lutar, mas ainda sim, estava apreensiva por Nora, ela queria muito que tudo desse certo e a ômega vencesse, mas o resultado era imprevisível, assim como Yatsuhashi havia dito, o número de vagas havia diminuído, isso significava que Nora precisaria fazer uma apresentação realmente boa, ainda mais com oito concorrentes naquela noite.

Pelo alto-falante alguém anunciou a sua chegada:

— E aí vem a adversária de Morgan, Nora Valkyrie junto de sua comissão.

— E que comissão é essa Mark, olha o time que acompanha essa menina? Temos Yang Xiao-Long,  Yatsuhashi Daichi e Arslan Altan.

— Yang é campeã do peso meio-médio, Yatsuhashi compete na categoria meio-pesado e quem não lembra da lenda chamada Arslan? Ela defendeu o cinturão dos meio-médios por cinco anos até perder para Yang e agora está aposentada dos ringues, mas ainda segue como treinadora.

— Com esse tipo de apoio de peso, muita expectativas se tem sobre essa jovem ômega. O que sabemos sobre ela Mark?

— Uma jovem prodígio, vemos muitos atletas migrando de outras categorias para o MMA, como Yang que veio do sanshou, mas Nora já começou treinando para o MMA na academia Xiao-Long.

— Talvez a inexperiência seja um fator hoje, porque ela competiu pouco, já Morgan era wrestling e já participou de diversas competições e agora vai se aventurar no MMA.

— Essa é uma das lutas que eu mais estou ansioso para ver essa noite.

Todos esses comentários ficavam para a transmissão de TV e Nora foi alheia tudo, eles chegaram na frente do octógono onde as últimas preparações seriam feitas para a entrada na gaiola. Yang ajudou a ômega a tira o moletom e a calça, ficando em seus trajes de luta, um top branco e um short curto de cor rosa, suas luvas acolchoadas já estavam colocadas.

— Você vai ficar bem, você vai conseguir. — A alfa loira reiterou na tentativa de dá a ela um último incentivo, Nora assentiu e Yang colocou o protetor bucal dentro da boca dela.

Nora se virou para o assistente técnico da arena fazer a inspeção, ele deu um rápido exame se certificando que não havia nenhuma irregularidade e depois passou um pouco de vaselina em seu rosto. Assim, ela foi liberada para entrar na gaiola e a ruiva foi, Morgan já estava lá dentro fazendo seu último aquecimento.

— Nora? Nora? Chega aqui! — Yang gritou da borda do octógono no momento que o juiz já se preparava para iniciar a luta. — Lembra do que eu te disse, não deixa ela montar em você! Não importa o que aconteça, não deixa ela montar em você!

A ruiva assentiu e virou para cumprimentar sua adversária que se erguia mais alta que ela, Morgan usava top e short azul e tinha seu cabelo preto amarrado para trás.

— E aí, ômegazinha, preparada para levar uma corsa?

— Você está? — Nora provocou de volta.

— Preparadas? Começar em… um… dois… três, lutem! — O juiz se afastou dando espaço para as duas lutadoras. 

Se sentindo confiante sobre a ômega pequena e novata, Morgan avançou agressiva para cima de Nora na tentativa de finalizar a luta rapidamente, mas o que a mulher beta não sabia era que Nora era muito boa em manobras de evasão. A ruiva se esquivou e saiu do alcance de todos os golpes dela, os jabs ficavam no vácuo e seus chutes apenas encostava nas pernas da ômega de forma pouco efetiva.

Ao perceber que sua estratégia não estava funcionando, Morgan recuou e diminuiu o ritmo passando a estudar melhor os movimentos de sua oponente, ficou claro que acerta Nora seria difícil, a ômega se movia muito rápido por todos os lados, a tornando um alvo quase que impossível de acertar.

Faltava 30 segundo para o primeiro round terminar e Nora levou uma advertência por falta de combatividade, depois de finalizado Yang já estava ficando preocupada, as duas estavam praticamente empatadas, mas em caso de empate mesmo, ela sabia que os avaliadores escolheriam o lutador que mais procurou a lutar e que foi mais ativo, no caso, ela estava contando que Morgan estava na frente.

Yang entrou no octógono junto de Arslan e Yatsuhashi para dar a assistência a Nora. 

— Você foi bem, ela não acertou nenhum golpe cheio em você. — A alfa loira disse. — Mas precisa avançar mais, tentar encaixar alguns contra-ataques.

— Ela abre muito a guarda com aqueles jabs lançados, tenta acertar ela de baixo para cima. — orientou Arslan enquanto dava uma garrafa de água para ela.

— Ou um chute girando, ela é mais fraca do lado esquerdo. — disse Yatsuhashi.

— E não esquece aquilo, não deixa ela levar a luta para o chão.

— Entendi. — Nora se levantou, o segundo round estava preste a começar.

Morgan voltou com a mesma estratégia, certamente se julgando na dianteira, por que mudaria algo se estava vencendo? Mas Nora tentou seguir as orientações que ouviu, ela continuava se esquivando, mas mantinha a proximidade e tentava encaixar alguns contra-golpes. E ela conseguiu acertar um bom soco ascendente no queixo de Morgan a fazendo cambalear para trás, Nora ouviu a voz de Yang gritar em algum lugar “Não para! Ataca ela!”, a ômega avançou se aproveitando do momento de fraqueza de sua adversária e avançou lhe apresentando seu golpe característico.

— Uoooooooou! — Yang comemorou quando as costas de Morgan baterem contra a grade e Nora a encurralou com seus “punhos do trovão”, a beta nada pôde fazer a não ser levantar os braços para se proteger enquanto recebia uma saraivada frenética de socos rápidos da ômega ruiva.

O público que assistia gritou empolgado.

— Isso! Se ela continuar assim, vai finalizar! — Yatsuhashi falou animado.

— Não vai dá tempo. — Arslan lamentou olhando para o relógio, e assim que ela terminou de dizer aquilo o juiz anunciou o encerramento do segundo round.

Infelizmente Nora não conseguiu o nocaute técnico, mais alguns segundos e a luta já poderia ter terminado.

— Ótimo golpe! Você foi incrível. — Yang disse oferecendo uma garrafa de água para ela.

— Ela é resistente. — Nora comentou sem fôlego.

— Ela é durona mesmo, mas olha, você assustou ela, depois disso, ela vai pensar duas vezes antes de chegar em você.

— Você ganhou de lavada nesse round, continue nesse ritmo que a luta vai ser sua! — Arslan falou.

— Isso mesmo, você achou o caminho, joga ela contra as grades! — disse Yatsuhashi.

 — Você tá pronta? — Yang perguntou e Nora balançou a cabeça em afirmativo. — Você consegue, você tá indo muito bem, aposto que impressionou os jurados com aquele seu último golpe, agora vai lá e arrasa! 

Nora sorriu confiante, suas forças renovadas, ela colocou o protetor bucal e foi de volta ao centro do octógono. 

— Você só deu sorte! — Morgan cuspiu as palavras, mas os olhos dela estavam meio assustados isso só inflamou ainda mais o ego de Nora.

— Minha sorte deu direto na sua cara, que azar o seu. — Ela provocou de volta e o rosto de sua oponente se enfureceu.

— Em um… dois… três… lutem! 

Pela primeira vez, Nora foi a primeira a atacar impulsionada por sua confiança a ômega avançou se aproveitando da hesitação da adversária e de seu cansaço. E as posições se inverteram, agora era Morgan se defendendo, fazendo o possível para se afastar dos golpes, chutes e socos de Nora, mas nem de longe a beta era rápida o bastante e os ataques da ômega cada vez mais entravam em sua defesa, Morgan teve de recuar cada vez mais até suas costas estarem novamente contra as grades. 

— Eeeh! Isso ai! Acaba com ela! — Yang gritou do lado de fora empolgada, tudo sairia bem, com aquela boa atuação, certamente Nora deixou Morgan muito para trás no placar. 

Mas então algo deu muito errado. Yang viu quando Morgan se abaixou segurando as pernas de Nora e puxou derrubando a ruiva no chão. 

— Não! — Foi sem acreditar que Yang viu Nora bater as costas no chão e Morgan se jogar em cima dela a dominando rapidamente. — Sai daí! Sai de presa! 

Foi inútil, Morgan era especialista na luta de chão, ela passou os braços pelo pescoço de Nora que ainda fez a tentativa de se virar, mas a beta a prendeu com braços e pernas em uma chave muito bem executada, a ômega, restava tentar inutilmente soca a beta para ver se ela a soltava de debaixo dela. 

— Separa! Separa! — O árbitro disse ao fim do terceiro e último round. 

Pelo menos não terminou com um nocaute por estrangulamento, mas foi muito perto disso, agora o resultado era incerto, por mais que Nora tenha ido bem, uma derrubada e uma imobilização conta muitos pontos a favor de Morgan. Tanto que a beta saiu comemorando. 

— Que droga, tanto que eu disse para você não deixar ela montar em cima de você! — Yang reclamou quando Nora saiu do octógono. 

— Aconteceu tão rápido… — Se justificou. 

— Hey! — Foi a vez de Yatsuhashi bater no ombro de Yang chamando atenção da loira. 

— Não fique se sentindo para baixo, garota, você foi muito bem, tem boas chances. — Arslan reiterou. 

— Verdade, você deu aquela vacilada no final, mas você ainda tem chance. — Yang disse mesmo sabendo que era pouco provável. 

O juiz chamou as duas lutadoras de volta ao centro do octógono para anunciar o resultado. 

— E a vencedora é…. Morgan Coin por dois rounds a um! 

Morgan comemorou e a decepção de Nora foi evidente. 

— Droga! Foi aquela queda! Que porra! — Yang ralhou irritada. 

— Segura tua onda, Yang! — Arslan disse vendo Nora se aproximar. — Ela precisa de apoio agora. 

Yang balançou a cabeça jogando sua irritação de lado, a primeira coisa que ela fez foi abraçar Nora que acabou chorando em seu ombro, ela escondeu o rosto para disfarçar. 

— Você foi incrível, sério foi demais. Lembra que é sua primeira vez, você impressionou mesmo, por mais que não tenha vencido. 

— Você acha mesmo? — Ela perguntou recuando para trás. 

— Acho sim. — Yang limpou com seus dedos os olhos dela e exalou mais do seu cheiro e o efeito calmante foi imediato. 

—Você lutou muito bem, a decisão da vitória dela foi por pouco, tenho certeza. — falou Yatsuhashi.

— Sim, não perca a esperança ainda, garota. — Arslan disse. — Haverá muitas outras oportunidades para você.

A ômega sorriu recuperando-se da decepção da derrota. 

— Nora? — Uma voz gentil e baixa chamou e eles viraram para ver quem era.

— Ren? Você veio! — Nora disse e o garoto beta sorriu.

— Sim, eu sabia que era importante para você. — Ele disse e Yang se afastou de sua aluna para deixá-la ir até o novo namorado.

— Sim. — Nora sorriu, mas logo uma expressão abatida surgiu em seu rosto. — Mas eu perdi.

— Eu acho que você foi muito bem, tenho certeza que muitas portas se abrirão para você. — Ren afirmou seguro do que dizia e claro que injetou uma nova carga de ânimo em Nora.

— Da próxima vez, eu vou acabar com ela! — A ômega socou o ar toda empolgada.

— É assim que se fala! — Yang concordou. — Da próxima vez você consegue.

— Iludindo sua putinha, Yang? — A voz debochada veio de algum lugar ao seu lado, Yang sabia quem era, então ela se virou já sentindo seu sangue ferver.

— O que foi que você disse, Mercury? — Sua voz saiu carregada, ela fechou seus punhos e seu cheiro ficou inegavelmente mais forte e dominante. — Repete aí o que você acabou de dizer!

— Ah, desculpe, esqueci que você gosta de chupar nó, ou será que gosta mais de comer rabo de beta? — Mercury riu de seus insultos.

Yang trincou os dentes e já estava bem perto de partir para cima dele quando Yatsuhashi se colocou entre eles.

— O que você quer, Mercury? 

— Só vim da uma sondada e ver a sua cara de fracasso, loirona! 

—  O cinturão na minha sala diz outra coisa!

— É só uma questão de tempo até ele ter outro dono! — Mercury apontou para a própria cintura.

— Só nos seus sonhos! — Yang rosnou, Mercury era um alfa extremamente irritante que competia na mesma categoria que ela.

— É isso que veremos! — Mercury rosnou de volta. — Não vou perder de novo para um alfa de nó-frouxo que come porra! 

— Do que você me chamou? — Yang foi segurada por Yatsuhashi e Arslan ficou entre eles.

— Já chega, Mercury, vá embora! — Ela disse imperiosa, sendo a alfa mais velha ali, foi fácil se impor, Arslan já estava com seus 35 anos nas costas.

— Eu vou, mas logo vamos nos encontrar de novo, loirona! Ali! — Ele apontou para o octógono. — E eu vou mostrar como um alfa de verdade tem de ser! Comendo o seu rabo na porrada!

Ele se virou e desapareceu no interior da arena deixando todo o grupo desconcertado.

— Ele estava te ameaçando, ou dando em cima de você? — Nora perguntou meio confusa.

Todos viraram em sua direção e Yang engasgou:

— Que nojo! Prefiro beijar a bunda de um gambá do que ele!

 

~**~

Mercury encontrou seu treinador no corredor.

— Então, como foi? — Ele perguntou quase hesitante, o homem alfa muito grande se virou para encará-lo com olhos duros e postura rígida.

— Você exagerou, garoto. — Hazel respondeu com uma voz grave e retumbante.

— Como assim? Você me disse para intimidá-la, e foi isso que eu fiz!

Hazel soltou um suspiro:

— Na verdade você parecia mais um moleque inseguro com todos aqueles xingamentos. — Mercury pareceu confuso ao ouvir aquilo. — Você só a deixou irritada e não intimidada.

— Mas eu…

— Vamos, antes que você faça mais alguma merda.

— Droga! — murmurou Mercury seguindo o alfa mais velho.

 

~**~

 

— O seu chai, senhorita. — Uma garçonete ômega deixou a xícara com o chá vermelho ao lado de Blake.

— Obrigada. — Ela respondeu levantando os olhos só por um instante do seu notebook para sorrir para a atendente. 

— Mas alguma coisa?

— Não, qualquer coisa, nós chamamos você, Cherry. — Velvet respondeu por ela, a ômega que era sua colega de quarto estava sentada a sua direita de costas para o vidro da frente da cafeteria, seu notebook também estava aberto na sua frente e um copo grande de cappuccino em suas mãos.

— Então, você vai me dizer com quem você tá falando? — Blake perguntou para a amiga ômega.

— Estou falando com você. — Ela respondeu.

— Você entendeu o que eu quis dizer, falando de está saindo. — Blake reiterou. 

O rosto de Velvet corou um pouco e ela desviou o olhar.

— Não é ninguém. 

— Eu ainda vou descobrir quem é essa pessoa misteriosa. — prometeu Blake e assim que disse isso, seus olhos capturam um borrão vermelho passando atrás do vidro que Velvet estava encostada. — Parece que a Ruby chegou.

A ômega se virou e viu a garota entrando, Ruby usava um casaco vermelho com um capuz, atrás dela, estava uma outra ômega de cabelo ruivo alaranjado e sardas no rosto.

— Olá, pessoal! — Ruby cumprimentou e imediatamente foi abraçar Blake. 

— Saudade de você! — A beta sorriu retribuindo o abraço. 

— Oooh, também estava, e Yang me deu o livro, eu amei! 

— Quem bom, se senta ai com a gente! — Blake disse. — Você e sua amiga? — Ela olhou para a ômega atrás de Ruby.

— Ah sim, obrigada. Blake e Velvet, essa é minha amiga Penny, Penny, essas são minhas amigas Blake e Velvet. — Ruby jogou os braços para cima contente. — Sejam todas amigas!

— Olá, é um prazer conhecê-las. — Penny disse.

— É um prazer te conhecer também. — Velvet sorriu. — Vamos pedir algo para vocês. — Ela chamou a garçonete a volta enquanto Ruby e Penny se sentavam.

— O que vocês vão querer beber? — Blake perguntou.

— Eu quero um mocha! — Ruby disse.

— Boa! Quero um também! — Penny acompanhou. 

A garçonete foi trazer os dois cafés. 

— Por que estão trabalhando aqui? — Ruby perguntou olhando os papéis e os computadores em cima da mesa.

— Tinha um rato lá em casa! — Blake disse.

Ruby olhou confusa para ela.

— Pois é, a Blake jura que viu um rato no banheiro, agora ela se recusa a entrar lá. — Velvet riu.

— Eu sei o que eu vi, além do mais, o síndico disse que ia dá um jeito! — retrucou Blake.

Ruby riu dela, Blake tinha fobia de ratos.

— Você não tinha um gato? — Ela perguntou.

— Bem, sim, mas ele ficou na casa dos meus pais. — respondeu Blake.

— Deveria ir buscá-lo, talvez ele sinta sua falta. — Penny disse otimista.

— É uma boa ideia, por que não vai ver o seu gato, Blake? — falou Velvet olhando de soslaio para a colega beta enquanto bebia um gole de seu café.

— Não, e você sabe o porque não. — Blake foi firme, a garçonete chegou com os dois mocha de Ruby e Penny.

— Blake… — O tom de Ruby era acusador. 

— Ruby, para, aqui não! — Blake colocou um ponto final no assunto. — Eu não quero ver meus pais.

— Bem, talvez você não tenha muita escolha. — Ela disse e Blake a olhou curiosa. — Eu vim te trazer isso! — A ômega puxou um envelope e entregou para a amiga beta.

Blake o analisou por um segundo, era todo branco, mas tinha um desenho de um pássaro segurando uma rosa em seu pico e as iniciais R e S. Ela levantou uma sobrancelha para a amiga e acabou abrindo um sorriso já suspeitando, estava escrito: Você está sendo convidado para o casamento de Raven e Summer, sua presença, será nosso presente.

— Isso é um convite de casamento? — Velvet perguntou e Blake só balançou a cabeça confirmando. — Quem vai casar?

— As minhas mães! — respondeu Ruby animada.

— Mas elas já não estão juntas? — Velvet ficou confusa.

— Sim, juntas, mas não casadas, tipo, não oficialmente e todas essas coisas. — Ela explicou.

— Aaah, entendo, isso é tão fofo.

— É mesmo, casamentos são fofos. — Penny disse.

— Eu não entendo, por que essa decisão agora? Ainda mais para tão perto, vai ser daqui a quatro meses, em pleno inverno!  — Blake perguntou intrigada.

— Não pode demorar muito, senão, mamãe pode casar com um barrigão! 

— O que? Você está querendo dizer que Summer está grávida? — O choque no rosto de Blake foi evidente.

— Ainda não, mas elas já estão fazendo os preparativos. — Ruby explicou empolgada. — Mamãe me ligou ontem, ela disse que fez um ninho gigante e já está sentindo o pré-calor chegando.

— Isso parece promissor. — comentou Velvet.

— Você está bem com isso, Ruby? Quer dizer, você é assexual do tipo que tem nojo de sexo, não é mesmo? — Blake perguntou com uma preocupação genuína na voz.

— Eu não ligo, eu e Yang estamos na casa do tio Qrow para deixar nossas mães com privacidade. A gente sabe que as coisas podem ficar bem loucas quando um alfa e um ômega marcados entram no calor ao mesmo tempo.

— Ah, sim, com certeza é uma loucura adulta. — Velvet sorriu um tanto provocadora e Blake deu um pequeno tapa em seu braço para ela não fazer comentários de duplo sentido. — Desculpe, Ruby, são suas mães, me desculpe, isso foi grosseiro.

— Ah, tudo bem, aprendi a conviver com as pessoas dando tanta importância a isso, lá em casa, especialmente.

Blake lhe deu um sorriso acolhedor e passou a mão pelo cabelo dela de forma carinhosa. 

— Aliás, Velvet, se tiver tudo bem, queria combinar com você para que você fizesse as fotos do casamento, você é única fotógrafa de confiança que eu conheço. — Ruby falou.

— Faz tempo que eu não fotografo casamentos, por mim tudo bem, posso te mandar o orçamento depois. 

— Muito obrigada. — Ruby sorriu para ela. — E Blake, é importante que você saiba que a mamãe quer que a Senhora Kali celebre a cerimônia.

— Ah, claro. — Blake soltou um suspiro desanimado.

— Você ainda vai, não é? — Ruby fez sua carinha triste para ela. — Vai ser lá em casa, nada grande, só família e amigos próximos! Você tem de ir, você é como da família! 

Blake revirou os olhos:

— Tá bom!

— Viva! — Ruby deu um pulo para frente e abraçou Blake em um aperto de urso. — Vou reservar um pedaço de bolo só para você!

 

~**~

 

Blake e Velvet já estavam voltando para casa pelas ruas do centro da cidade.

— Me pergunto como Yang deve está se sentindo agora, as coisas devem está complicadas para ela. — Blake comentou.

— Por causa do casamento? — Velvet pareceu confusa.

— Também, teve essa confusão com a Weiss.

— E você não teve nenhuma culpa. — A ômega sorriu provocadora.

— Para! Você sabe do que eu estou falando.

— Sim, sim, dessa paixão doida que ela tem. — Velvet disse mais séria. — Deve ser bem difícil ter de conviver com alguém que pode nunca retribuir seu amor.

— Não alimente esperança, a Weiss não gosta de alfas. — Blake comentou ácida.

— Bem, eu não contaria totalmente com isso.

— O que você quer dizer? O que está sabendo? — Blake franziu o cenho para ela.

— Nada.

— Você está cada vez mais misteriosa, Velvet. — O celular de Blake tocou e ela o puxou desbloqueando a tela, logo uma expressão preocupada surgiu em seu rosto. — Oh não.

— O que houve? — Velvet se preocupou também. 

— Foi Yang, de novo, parece que alguém gravou um babaca a xingando, que horrível.

— Você vai escrever sobre isso?

— O que você acha?

 

~**~

 

Weiss estava desfrutando de seu merecido ócio criativo deitada em sua cama, tomando uma taça de vinho e trabalhava um pouco em seu notebook, parando de vez em quando para dar uma olhada em suas redes sociais. Foi quando uma publicação chamou sua atenção, uma das pessoas que ela seguia publicou uma notícia que aparentemente estava se espalhando pela rede, um caso de ofensa por homofobia dirigida a um alfa.

Infelizmente, por pior que fosse o preconceito contra ômegas que ficavam com outros ômegas, as coisas ainda eram piores para alfas que ficavam com outros alfas, havia tantos padrões que alfas deveria seguir para ser legitimados alfas que acabava criando verdadeiros monstros. Ômegas homodinâmicos sofriam assédio, eram sexualizados e reduzidos a objetos usáveis e depois descartáveis, alfas homo geralmente sofriam era com agressão, chacota, seu status de alfa era deslegitimado simplesmente por não estarem por aí sendo babacas ou viris o bastante. 

Por mais que Weiss entendesse a posição privilegiada que alfas tinham, ela ainda se simpatizava por aqueles alfas fora do padrão que sofriam diariamente com a cultura alfista em sua sociedade. Aquela notícia que ela acabara de ver seria mais uma, se a vítima em questão não fosse alguém conhecido.

“Campeã de MMA, Yang Xiao-Long, sofre injúria homofóbica de rival fora dos ringues, confira o vídeo feito no local.” 

Weiss ainda hesitou por um instante antes de clicar para ver, presenciar o preconceito nu e cru sempre mexia um pouco com seus sentimentos, mas ela seguiu de qualquer forma. A cena que ela viu foi muito mal feita, provavelmente de um celular, o local estava bastante escuro e a imagem tremida e desfocada, mas deu para reconhecer Yang com seu cabelo loiro muito chamativo, um alfa grandalhão estava meio que segurando ela como se Yang fosse atacar alguém a qualquer momento, Weiss viu o agressor, um alfa magro de cabelo cinza azulado que gritava palavras feias para a namorada de seu amigo Neptune.

A pessoa que compartilhou a publicação ainda fez um texto sendo solidária a Yang e dizendo como era importante a atitude dela em se assumir em um meio tão alfista. Weiss não pôde deixar de concordar, ela se lembrou das palavras que  Yang disse no programa do Oz sobre ter se assumido pandinâmica dentro de um ambiente muito alfista. De repente, Weiss percebeu o que ela quis dizer naquela hora, aquele vídeo poderia ser uma demonstração das coisas que Yang tinha de ouvir por não ser uma alfa heterodinâmica em um local onde virilidade significava tudo.

Ela voltou a ter aquele mesmo sentimento de simpatia pela alfa, queria saber ser Yang estava bem, sem pensar no que estava fazendo, Weiss puxou seu celular e procurou pela letra Y em sua extensa lista de contatos, ela abriu o aplicativo de mensagem e enviou:

 

Weiss: Eu vi a notícia sobre o que aconteceu, você está bem?

Visto às 23:20

 

Para sua surpresa, Yang visualizou e começou a digitar sua resposta praticamente no mesmo instante.

 

Yang: Yep! Relaxa! Não foi nada demais. 

Visto às 23:21

 

Weiss relaxou um pouco com a confirmação, mas antes que ela pudesse digitar mais alguma coisa, uma nova mensagem da alfa chegou.

 

Yang: Aah, brigada por se preocupar.

Yang: Isso foi importante pra mim. Quer dizer… estou feliz que vc se importe o bastante para se preocupar comigo.

Visto às 23:21

 

Weiss piscou algumas vezes para a tela, aquilo foi… fofo? Ela balançou a cabeça para limpar seus pensamentos.

 

Weiss: Eu não acho que “não foi nada”, aquele sujeito te ofendeu, se quiser, posso falar com minha advogada para ela entrar com um processo. O que me diz?

Visto às 23:22

 

Daquela vez, demorou quase dois minutos para a resposta chegar, a ômega viu a indicação que Yang estava digitando, mas quando a mensagem chegou era muito curta para o tempo que se passou.

 

Yang: Obrigada por oferecer, mas não precisa.

Visto às 23:24

 

Weiss ficou pensando sobre aquilo, seria orgulho alfa em não aceitar ajuda? Seria porque Yang queria resolver com seus próprios meios, entendendo isso como, bater daquele sujeito no ringue? Decidindo que não era justo ficar presumindo as coisas sem saber, Weiss resolveu perguntar, apesar de ter pouca esperança de receber uma resposta totalmente honesta.

 

Weiss: Por que não?

Visto às 23:25

 

Yang: Vc ficou ofendida por eu ter recusado?

Visto às 23:25

 

Weiss: Não, só fiquei curiosa para saber o motivo de você não querer processar aquele sujeito.

Visto às 23:26

 

A alfa passou um bom tempo digitando, daquela vez, a resposta não foi curta.

 

Yang: Eu já conheço ele, não vale a pena isso, sabe? Ele é um babaca sem jeito, não vale a pena da trela! Na hora fiquei de cabeça quente, não consigo ignorar, mas tô tentando melhorar isso em mim. Não só por mim, mas pelas pessoas à minha volta, minha aluna estava lá e viu tudo logo depois de perder uma luta e uma vaga no circuito e eu fiquei lá brigando com o idiota do Mercury que só veio me provocar. E eu fui tão idiota por agir assim.

Yang: Desculpe, acabei falando muito. Não quero te incomodar com meus problemas.

 Visto às 23:28

 

Weiss: Vc sabe que isso não muda o fato de o que ele fez foi errado, não é?

Visto às 23:30

 

Yang: Sei, mas se eu fosse processar todos que já me chamaram de nó-frouxo, metade dos lutadores da liga estariam com um processo. LOL

Visto às 23:30

 

Weiss: Yang, isso é horrível! Vc vive em um ambiente muito tóxico!

Visto às 23:31

 

Novamente a ômega viu a indicação que Yang estava digitando durante um bom tempo e a mensagem que chegou foi curta, ela só podia imaginar que a alfa havia escrito e apagado sua mensagem diversas vezes.

 

Yang: Eu sei, brigada por se preocupar, eu vou ficar bem ;)

Visto às 23:33

 

Por algum motivo, Weiss se sentiu triste por ela ao ver aquela situação.

 

Weiss: Se precisar de algo, pode me chama.

Visto às 23:34

 

Yang: ♥ 

Visto às 23:34

 

 Weiss  pensou em como Yang havia mudado em seu conceito nas últimas semanas, primeiro, quando se conheceram, ela se deixou levar pelas aparências e os estereótipos, ela foi rápida em pensar na loira como uma brutamonte fanfarrona, mas conforme a convivência junto com Neptune foi aumentando, a alfa se mostrou alguém gentil, divertida e sensível. Quando Neptune estava a pressionando para fazer outra turnê, Yang ficou ao seu lado, quando Oz perguntou sobre a tenebrosa candidatura de seu pai, a alfa ficou do seu lado novamente. E ela ainda estava tentando processar toda aquela situação com a tatuagem. Óbvio que Weiss se sentira ofendida e incomodada com a frase estúpida, mas Yang havia demonstrado tanto arrependimento e consciência com tudo que um certo sentimento de admiração crescia nela. Talvez Yang realmente fosse uma ótima pessoa, até agora não deu motivos para pensar o contrário.

Weiss foi dormir decidida que tentaria ser amiga de Yang, a loira alfa parecia valer pena o esforço para conhecê-la melhor e fazer amizade. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Preço da Fama" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.