Yang podia sentir suas roupas grudentas pelo suor que cobria seu corpo todo, suas pernas já ficando pesadas a cada passo ligeiro que ela dava, mas ela não se importava, ela estava feliz demais para se importar com o cansaço ou com quantas voltas ela já havia dado no quarteirão. Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo e apesar da manha chuvosa e acinzentada do outono, Yang estava usando roupas de corrida bastante curtas, uma camisa simples amarela e um short folgado preto, em seus ouvidos, seu inseparável companheiro de corrida, seus fones de ouvido, que naquele instante tocava uma música bem alegre para espelhar seus sentimentos atualmente.

— Estou com minha mente fixa em você! Estou com minha mente fixa em você! — cantou alto toda eufórica enquanto balançava os braços de felicidade, sem perder o ritmo da corrida. — Mas vai levar dinheiro! Um bocado de dinheiro! Vai levar muito dinheiro! Para você fazer a coisa direito, baby!

Ela passou por uma senhora idosa que estava passeando com seu cachorro, ambos usando capas de chuva azuis que pareciam bem fofas na dupla, Yang sorriu para eles:

— Bom dia! — cantarolou e continuou com sua música. — Vai levar tempo! Um bocado de tempo precioso! Vai levar paciência e tempo, ummm. Para fazer isso, fazer isso, fazer isso, fazer isso, fazer isso! Para fazer isso direito, baby! Estou com minha mente fixa em você! Estou com minha mente fixa em você!

A senhora pareceu se assustar com sua atitude espontânea e exagerada, mas logo se recuperou e sorriu dizendo um “Bom dia” que Yang não ouviu porque já estava correndo para longe.

— Estou com minha mente fixa em você! Estou com minha mente fixa em você! E desta vez eu sei que é real! Os sentimentos que eu sinto…. Eu sei que se eu começar a pensar no assunto! Eu sei que eu realmente posso conseguir!

Yang virou a esquina já perto da casa de seu tio, ela simplesmente pulou as grades que formavam a pequena cerca de entrada e delimitavam o espaço com os vizinhos, no centro da cidade as casas eram do meio do século e muito próximas uma das outras, uma cerca era indispensável. Ela adentrou o pequeno jardim da casa de tijolinhos vermelhos geminada, deu uma girada sentindo as poças de água molhando seu tênis de corrida.

— Estou com minha mente fixa em você! Fixa em você! Estou com minha mente fixa em você! FIXA EM VOCÊ!

Ela abriu a porta lateral que dava direto na cozinha e viu Amber na frente do fogão preparando o café da manhã.

— Bom dia, Yang, vejo que acordou de muito bom humor hoje. — Ela sorriu a olhando de lado, ela era uma mulher beta bem simpática, outra pessoa poderia ter ficado brava por Yang está incomodando os vizinhos, especialmente por ela e Ruby serem visitas em sua casa.

— Só um pouco. — Yang sorriu radiante. — Deixa eu te ajudar ai.

— Acho melhor você ir tomar um banho. — A esposa de seu tio disse olhando para suas roupas encharcadas.

— Verdade, volto logo. — Yang correu escada a cima pulando dois degraus por vez e rapidamente entrou no banheiro que ficava do final do corredor.

Enquanto a água fria caia em seu corpo quente, Yang não se importou com o desconforto, a música ainda ecoando em sua cabeça como um jingle que pregou em seus ouvidos:

— Mas vai levar dinheiro! Um bocado de dinheiro! Vai levar muito dinheiro! Para você fazer a coisa direito, baby! Vai levar tempo! Um bocado de tempo precioso! Ter paciência e tempo, ummm… Para fazer isso, fazer isso, fazer isso, fazer isso, fazer isso! Para fazer isso direito! Estou com minha mente fixa em você! Estou com minha mente fixa em você!

Ruby abriu a porta de seu quarto, ela ainda estava de pijama e tinha o cabelo bagunçado e remela nos olhos.

— Que barulho é esse? Quem tá cantando uma hora dessas? — Ela murmurou para si mesma esfregando os olhos. — Yang? Não pode ser…

— Estou com minha mente fixa em você! Estou com minha mente fixa em você! — Yang saiu do banheiro com o cabelo ainda pingando água e quase caiu no chão de susto quando encontrou sua irmãzinha a encarando com os braços cruzados e um sorriso besta no rosto. — Hey! Oi, Ruby! O que faz aqui? — Ela perguntou ainda assustada.

— Nada mais, e você, tá fazendo o que? 

— Só tomando uma ducha, vou descer e ajudar a Amber com o café da manhã. 

— Nem vem, Yang! Eu ouvi você cantando. 

— Ah, isso? — Yang riu nervosamente e coçou a parte de trás de sua nuca. — O que eu posso fazer, essa música grudou na minha cabeça! 

— Sério? Tentando mentir para mim? Para mim? Vou ficar ofendida. 

Yang riu tentando disfarçar, no fundo ela sabia que era inútil. A alfa era irritantemente transparente quando se tratava de seus sentimentos. 

— Qualé, Ruby? Uma pessoa não pode ficar de bom humor sem receber uma tonelada de desconfiança? 

— Você tava toda irritada e chata esses dias, agora tá ai toda alegre cantando e acordando a vizinhança? Qualé? Me conta o que aconteceu! 

— O que? Não aconteceu nada! 

— Mentira! Mentira! Por que você tá mentindo para mim? — Ruby acabou levantando a voz. — Ontem você chegou espumando pela boca por causa do Mercury, nem jantou! Agora tá assim? Me conta o que aconteceu, Yang! 

— Ruby, para! Você tá fazendo muito barulho. — A alfa tentou conter a agitação de sua irmã, mas foi tarde, elas ouviram uma porta abrindo e um muito sonolento Qrow saiu de lá. 

— O que está havendo? Por que todo esse barulho logo cedo? — Ele disse esfregando as mãos nos olhos. 

— A Yang não quer-

Ruby foi subitamente cortada quando Yang colocou a mão sobre a boca da ômega impedindo ela de terminar sua frase. 

— Nada não, tio! A gente vai ali conversar e já descemos para o café. — Yang arrastou Ruby até o seu quarto e fechou a porta atrás dela.  

— Qualé, Ruby! Você tem de ser mais discreta! — Yang disse depois que estavam as sós.

— Eu que tenho que ser mais discreta? Você correu o quarteirão cantando! Suuuuper discreto! — Ruby revirou os olhos para a irmã e cruzou os braços.

— Ah, tudo bem, já entendi seu ponto.

— Me conta o que te deixou assim? Tá me matando de curiosidade aqui!

— Tá legal! Eu conto. — Yang mal conseguia se conter de excitação, ela sabia que o ideal era não contar para ninguém, mas sua empolgação e felicidade era tanta que ela não resistia. — Você tem razão, ontem eu tava muito mal, quer dizer, tava com vontade de socar a parede imaginando a cara do Mercury, mas aí eu recebi uma mensagem, e você nem pode advinha de quem era. — Os olhos de Yang brilhavam de expectativa. — Vai! Tenta adivinhar!

— Hum… num sei… do seu namorado? 

O sorriso de Yang se desfez:

— Não! Eu… — De repente ela se lembrou que um pouco antes na noite passada, Neptune havia lhe telefonado e eles se falaram, ele perguntou se ela estava bem e se queria passar a noite no apartamento dele, mas Yang o dispensou dizendo que não queria estragar sua noite com seu humor ruim, o rapaz beta ainda tentou argumentar, mas a alfa acabou sendo um tanto ríspida com ele. — Na verdade, eu acho que dispensei geral ele ontem. — Yang se sentiu sem jeito e envergonhada.

— Por que? — Ruby pareceu confusa.

— Eu… sei lá… não tava muito afim… eu acho.

— Hum… — Sua irmã ômega colocou o dedo no queixo pensativa. — Então de onde veio toda essa sua felicidade? Quem te mandou mensagem?

— A Weiss! — Yang deixou escapar mais rápido e entusiasmada do que ela pretendia.

— Oooooqueeeee?! Weiss te mandou uma mensagem? Não acredito!

— É verdade! E ela estava toda preocupada comigo! Ela estava preocupada co-mi-go! — Yang repetiu para ressaltar ainda mais sua euforia pela situação.

Ruby piscou com o rosto completamente neutro.

— Qualé! Isso não é incrível? — Yang perguntou sem acreditar que sua irmãzinha não estava animada com aquilo.

— Beeeem… sim, acho que sim, mas deixa eu ver se entendi uma coisa… — Ruby tomou um pouco de distância dando alguns passos para trás. — Você dispensou seu namorado por que não estava com humor, mas então recebeu uma mensagem da Weiss e ficou toda animada automaticamente? 

Yang sentiu sua garganta fechando e ela engoliu a seco:

— Falando assim parece ruim.

— Yang! Pelo amor de Deus! Até eu que não me interesso nenhum pouco por relacionamentos românticos entendo que tem alguma coisa errada nisso!

— Eu… — Ela de repente se sentiu uma pessoa horrível. — Eu nunca menti dizendo que não gostava dela.

Ruby viu a expressão abatida no rosto da irmã e imediatamente foi abraçá-la, Yang envolveu seus braços ao redor dela e encostou sua cabeça no cabelo de Ruby sentindo o cheiro doce e floral que ela tinha, Yang se sentiu instantaneamente melhor.

— Eu não sei bem o que fazer. — Ela sussurrou contra o cabelo dela e Ruby se afastou sorrindo para ela.

— Você quer pedir conselho amoroso justamente para mim?

Yang riu suavemente. 

— Mas você parece tão sábia.

— Até parece mesmo. — Ruby riu se divertindo com a afirmativa, a única vez que Ruby esteve com alguém foi com um rapaz chamado Oscar no ensino médio, foi até interessante por um tempo, mas só serviu para Ruby perceber que seu interesse nas pessoas não passava de amizade, ela não sentia atração sexual ou romântica. — Não sei dizer o que você deve fazer, Yang, mas sei dizer que o que você tá fazendo não parece certo. Quer dizer, parece que você não está sendo honesta com ninguém.

Yang se afastou desvencilhando seus braços de Ruby.

— Eu sei, mas não sei como agir, eu não queria magoar ninguém e… eu não queria me afastar de Weiss.

— Talvez ela entenda se você contar a verdade. Quer dizer, você é uma pessoa fantástica, quem não ia querer ficar perto de você?

— Agora você está sendo ingênua, Ruby. — Yang sorriu para o otimismo da irmã.

— Eh, talvez, eu gosto de pensar no melhor das pessoas e não acho que Weiss seja uma má pessoa.

— Não é. — Yang se apressou em confirmar. — Eu descobri várias coisas sobre ela ultimamente, que ela é viciada em café, que odeia a Neon Katt, dá para acreditar? E eu que achava que essa rivalidade era invenção da imprensa! — O sorriso da alfa loira se desfez em uma careta preocupada. — Mas ela tem um temperamento forte também, se ela achar que eu sou uma otária, ela nunca mais vai olhar na minha cara, isso eu posso garantir. 

— Mas, Yang…

— Se ela souber? Não quero nem ver! Ela dirá que eu me aproximei dela com segundas intenções! Que eu sou uma alfa “predadora” que caça ômegas! Vai dizer que eu usei o Neptune! Vai-

— Yang?! — Ruby a chamou interrompendo-a. — Não é exatamente isso que você está fazendo?

Yang parou atordoada. Ela estava realmente fazendo aquilo?

— Eu… — Ela não sabia o que responder.

— Garotas? — A porta do quarto abriu e Qrow colocou a cabeça para fora. — O café tá na mesa, venham logo.

— Tamo indo, tio. — Ruby falou se virando para sair, ao chegar na porta ela se virou para Yang. — Sei lá, só dizendo, pensa direitinho nisso, ok?

— Obrigada. — Yang murmurou de volta.

— Você vai ficar bem? Eu vou ter de sair para a loja depois, mas se quiser, podemos conversar a noite.

— Eu vou ficar bem, obrigada, Ruby. — Ela se forçou a dá um sorriso. 

~**~

Yang decidiu que não estava valorizando seu namorado de forma correta e que em vez de ficar se sentindo um lixo por causa de toda aquela situação das mensagens, ela resolveu fazer algo a respeito, passar mais tempo com ele e curtir o namoro. Eles saíram para jantar, foram ao cinema, Yang até levou ele para o kartódromo e eles correram em karts.

Agora eles só estavam curtindo a noite de sábado no apartamento de Neptune enquanto assistiam a uma série medieval que era a preferida de Yang.

— Tem algo de errado com esse episódio. — Neptune disse quando os créditos subiram, ele estava sentado no chão com as costas apoiadas no sofá de sua sala, Yang, que estava deitada na frente dele levantou a cabeça para o beta.

— O que está errado?

— O episódio acabou e eu não vi ninguém sendo estuprado.

Yang riu alto e Neptune envolveu mais seus braços ao redor dela encostando seu nariz em seu cabelo.

— Você não deveria me fazer rir depois de comer tanto. — Yang chutou uma caixa de comida chinesa para longe, havia muitas delas ao redor deles no chão, foi sua janta.

— Desculpe, vai dormir aqui hoje?

— Hum… é uma boa, a cama do quarto de hóspedes da casa do meu tio não é exatamente o que eu chamaria de a mais confortável.

— Que bom.

— Amanhã poderíamos sair para dar uma curtida, talvez aquela boate? — Yang propos.

— É uma boa ideia, apesar de não tá muito do clima para isso.

— De boas, vamos pensar em um rolê mais suave.

Neptune riu.

— Boa.

~**~

Yang foi a primeira a acordar, como era domingo, ela não tinha treino marcado, ela foi até a cozinha do Neptune prepara um café da manhã bem leve, para compensar as calorias extras que ela comeu na noite anterior, mesmo sabendo que precisaria de vários dias com a alimentação controlada para compensar realmente tudo.

Ela começou a cortar uma banana dentro do copo do liquidificador, depois foi a vez dos morangos, Yang já estava com a caixa de leite de amêndoas na mão quando ouviu a campainha tocar. Ela estranhou e correu para ir abri a porta, quando abriu, tomou um susto.

— Weiss?! O que faz aqui? Quer dizer, bom dia. — Yang só se lembrou dos bons modos tardiamente, parecia que seu cérebro ficava todo embaralhado quando a ômega de cabelo alvo estava por perto.

— Bom dia, Yang, que bom ter te encontrado por aqui.

— Hã? — A alfa teve de se afastar quando Weiss simplesmente entrou sem a menor cerimônia. — Você queria me ver?

Weiss andou até o meio da sala e olhou em volta:

— Cadê o Nep?

— Ele…

— Dormindo! — Ela mesma se respondeu adivinhando. — Típico, você sabia que o dia se torna 25% menos produtivo quando você não acorda cedo?

— Hãaaa… hum… — Yang nem sequer estava realmente tentando articular uma resposta, toda sua consciência foi arrastada para a figura de Weiss.

Ela estava usando um short de academia bem curto deixando suas longas pernas expostas, mesmo dali, Yang podia dizer que apesar da aparência delicada, eles eram fortes, pernas de uma bailarina.  Na parte de cima, uma jaqueta de poliéster branca estava com o zíper todo aberto deixando o top esportivo azul dela mostrando boa parte de seu abdômen magro e liso. 

Yang engoliu a seco.

— Eu… eu acho que você deve ter razão. — Ela enfim respondeu recuperando um pouco de sua dignidade.

Yang voltou para a cozinha que ficava aberta para a sala, então, não ajudou muito a evitar o olhar curioso de Weiss sobre ela.

— Quer dizer, faz todo o sentido não é? Quanto mais cedo você acorda, mais coisas pode fazer. — A alfa disse torcendo para não soar tão estúpida quanto lhe parecia, ela colocou o leite no copo do liquidificador e puxou o pote de aveia. — Você quer algo? Um shake pós-treino, talvez? Você acabou de vir da academia, não é? 

— Obrigada pela oferta, sim acabei de vir da academia. — Weiss se aproximou se encostando na bancada da cozinha. — Seu shake é vegano?

A alfa se virou, ela não esperava aquela pergunta. Em sua mente ela rapidamente repassou todos os ingredientes que ela costumava usar, o único que tinha origem animal era mel que Yang normalmente usava para adoçar. Ela agradeceu mentalmente por ainda não ter colocado o mel no shake.

— Sim, é vegano. — respondeu aliviada.

— Então eu vou aceitar.

— Não sabia que você era vegana. — Yang comentou colocando algumas colheres de iogurte na mistura.

— Em transição. — respondeu Weiss. — Já sou vegetariana há muitos anos, e agora estou tentando fazer a transição para o veganismo.

— Entendi. — Yang se concentrou em seu preparo, mas estava difícil com ela sentindo os olhos de Weiss em suas costas, quando ela terminou de bater, pegou dois copos e os encheu entregando um na bancada na frente da ômega.

— Obrigada. — Ela agradeceu estreitando um pouco seus olhos para ela. — É normalmente isso que você come pelas manhãs? Engraçado, achei que por causa de sua profissão você teria uma dieta bem mais calórica.

— Isso depende muito da ocasião, sabe. — Yang ainda estava se sentindo um pouco deslocada na frente de Weiss. 

— O que você quer dizer com isso? 

Ela imaginou que o assunto era tedioso demais, então ela não entendia o porque da ômega popstar está a olhando com tanto interesse. 

— Bem, se estou em semana de pesagem, ai eu passo a fazer uma dieta bem magra, bem magra mesmo, se é semana antes de uma luta, ai minha alimentação realmente fica bem pesada, para recuperação pós luta também. 

— Você vai lutar novamente? 

— Não! — Yang riu. — Eu mal me recuperei da luta anterior. 

— Sério? — Weiss parecia genuinamente intrigada. 

— Demora algo em torno de dois meses para uma recuperação completa, isso se não tiver lesões sérias, tipo, dedos quebrados, o que na verdade é bem comum de acontecer. 

— Então você não luta com tanta frequência quanto eu imaginei. 

— Não, geralmente se faz 3 ou 4 lutas por ano na liga, mas do que isso, seria loucura. 

— Entendi. — Weiss enfim tomou um pouco de seu shake. — Isso está bom. 

— Obrigada. — Yang ficou estranhamente contente só por ela ter dito que seu simples shake era bom. 

— Me conta mais sobre como funciona essa liga. 

Yang piscou sem acreditar. 

— Você… você quer mesmo saber? 

— Claro! Me conta. — Ela encostou os cotovelos na bancada e lhe olhou em expectativa, Yang tentou ver qualquer sinal de brincadeira em seu rosto, mas não achou nada. 

— Certo, bem, é um pouco complicado de explicar para quem é de fora. Mas basicamente a gente tem três campeonatos, o fãshow, o master e o liga principal. 

— Qual a diferença e em qual você luta? — Weiss a incentivou a continuar. 

— A fãshow na verdade é uma alegoria, lá as lutas na verdade são encenadas, tem fantasias estranhas e bizarrices, tudo para entreter o público que vai mais para rir do que qualquer outra coisa. 

— Tipo, luta livre dos filmes de comédia? 

— Isso, isso mesmo! — confirmou Yang. — A master é o campeonato dos mais velhos, eles se aposentaram da liga principal e vão para o master se assim desejam continuar lutando, mas não conseguem mais ser competitivos no principal. 

— Entendi, e você luta no principal, eu suponho? — adivinhou Weiss. 

— Sim, na liga principal tem três cards, o card baixo, com lutadores recém-chegados, eles geralmente estão no final do ranking. O card médio, com lutadores bons, mas não chega o primeiro card, o Star-10, composto pelos 10 melhores lutadores do ranking de cada categoria. — Yang explicou. — É tudo uma questão de ascensão, você passa pela peneira, se entrar, chega no card baixo, se for bem, sobe para o médio, aí conforme vai vencendo lutadores em posição mais alta que a sua, você vai subindo. Tem caras que sobem muito rápido, já chegam desafiando lutadores em boas posições e tomam os lugares deles. 

Yang tomou uma parte de seu shake em um gole, e quando voltou a olhar para Weiss, a ômega ainda estava prestando atenção esperando ela continuar a falar. 

— Tudo é dividido por categorias de peso. Peso leve, de 55 a 65 quilos. Peso meio-médio, de 65 a 75 quilos. Peso médio, de 75 a 85 quilos. Peso meio-pesado, de 85 a 95 quilos, e por fim, peso-pesado que é de 95 quilos a 105 ou mais. 

— E não há separação entre alfas, betas e ômegas? 

— Não, só o seu peso é levando em consideração. 

— As lutas só acontecem por desafio dos lutadores? 

— Nem sempre, as vezes os empresários que combinam as lutas, tem vezes que a comissão da liga faz uma proposta de desafio e fica a cargo dos lutadores aceitar ou não. 

— Você deve receber muitos desafios, não é? — Weiss sorriu e Yang imediatamente se sentiu sem jeito. 

— Nem tanto, minha última desafiante foi a Vega, bem, agora ela sabe que foi uma má ideia. — Yang riu e só depois percebeu que a sua piada era bem idiota. 

— Você é do tipo que gosta de se gabar, eu vejo. — Weiss levantou uma sobrancelha. 

— Desculpe, não foi a intenção. 

— Não, você tem de ter orgulho de suas conquistas. 

— Isso eu tenho! Tem um corredor lá em casa que eu guardo todos meus troféus e medalhas. 

— Eu também! — Ela disse de repente. — Montei um armário com todos os prêmios que eu ganhei e uma parede com os discos de ouro e platina que eu recebi. 

— Eu sei! Lembra quando a Olivia Galton falou que você não era tudo isso e deu mó polêmica? Aí você respondeu postando uma foto onde você estava sentada com um monte de prêmios ao seu redor e uma parede cheia de discos de ouro atrás de você. Foi demais, sua cara era a melhor! — Yang disse toda animada ao lembrar daquilo. 

De repente ela percebeu que Weiss estava a olhando meio estranho. 

— Como você sabe disso? Aconteceu a um anos atrás. 

Yang percebeu seu belo deslize. 

— Ah, bem, você sabe, é que eu, meio que… Gosto do seu trabalho e te acompanho a um tempo. — Ela confessou completamente sem jeito. — Pelas redes sociais, sabe, essa sua foto viralizou. — Yang imediatamente se amaldiçoou por não ter pensando em uma desculpa melhor, claro que não era uma completamente mentira, mas não era uma completa verdade também. 

— Ah, entendo, eu realmente tenho muitos seguidores e a imprensa nunca larga do meu pé. — Ela deu de ombros para o súbito nerviosismo de Yang e puxou seu smartphone do bolso da jaqueta. — Eu gostava de correr na orla sabe, aqui perto, mas era tão estressante com os paparazzis o tempo todo no meu encalço, agora só uso a academia aqui do prédio. 

— Que chato isso, esse é o bairro mais caro da cidade justamente por causa da orla da praia e você não pode usufruir disso. 

— É uma pena mesmo, apesar do meu apartamento ter uma vista maravilhosa. — Weiss enfim levantou os olhos da tela do aparelho telefônico e sorriu. — Qualquer dia desses você deveria ir lá, posso marcar um dia com os amigos para ficamos na piscina. 

— Está me convidando para um rolê com seus amigos? — Yang não acreditava no que ouviu. 

— Sim, não vejo problema, você é namorada do meu melhor amigo e é uma pessoa agradável. 

— Isso… Isso… é muito legal de sua parte. — Yang engoliu a seco, Weiss parecia tão adorável ali sentada elegantemente no branquinho em suas roupas de ginástica e sorrindo de forma tão amigável. — Weiss, eu… 

— O que está havendo aqui? 

As duas viraram para ver um Neptune bem ranzinza às olhando, ele estava com o cabelo bagunçado e usava apenas uma cueca, obviamente que era uma aparência de quem caiu da cama e não teve tempo de se arrumar nem minimamente. 

— Bom dia dorminhoco. — Weiss o cumprimentou achando divertida sua aparência bagunçada. 

— Bom dia dorminhoco. — Yang também entrou na brincadeira e repetiu o que Weiss falou sorrindo. 

Neptune estreitou os olhos olhando entre as duas. 

— O que vocês estão fazendo? — Ele perguntou. 

— Café da manhã? — disse Yang e ele fez uma careta. 

— Alguém tá mal humorado. — Weiss falou se levantando. — Eu e Yang estávamos conversando, ela estava me explicando como funciona as lutas que ela participa. 

— Mas você não gosta de luta. — Neptune cruzou os braços. 

— Verdade, mas não custa nada ter um conhecimento mínimo a fim de tópico de conversas informais. 

— Hã? — Yang ficou confusa com aquela fala. 

— Eu quis dizer que estava tentando fazer amizade. — Ela explicou. 

— Ah, certo! Sim, a gente conversa com os amigos até sobre coisas que a gente nem curte muito. — A alfa completou. 

— Por que isso agora? — Neptune permaneceu com os braços cruzados e a cara fechada. 

— Nossa, que desconfiança. — Weiss desdenhou. — Nós não temos assunto em comum, então é natural escolher algum para uma conversa. 

— Você tá tentando se aproximar da Yang? — Ele deu alguns passos na direção dela. 

— Hey! Oh, vai com calma aí! — Yang exclamou. 

— E qual é o problema nisso? Não podemos ser amigas? — Weiss falou já irritada com atitude irracional do amigo beta. 

— Você nunca se interessou antes.

— Você está com ciúmes? De mim? Justamente de mim? — Weiss franziu o cenho praticamente ofendida. 

— Eu… — Neptune se interrompeu, ele olhou para a amiga ômega e depois para Yang que estava olhando sem compreender o que estava acontecendo. — Desculpe, eu… eu perdi a cabeça aqui por um instante. Eu… não sei o que houve, o que deu em mim? 

Yang deu a volta na bancada rapidamente e chegou ao lado dele. 

— Ei, tá tudo bem, ok! — Ela o consolou. — Weiss, desculpe por isso. 

— Tudo bem, talvez seja melhor vocês conversarem agora. — Ela disse. — A gente se fala depois, Neptune, e vamos ter uma longa conversa sobre esse seu ciúme absurdo. 

Ele não respondeu e Weiss saiu porta afora. 

— O que foi isso? — Yang perguntou depois que ela saiu. 

— Eu não sei, o jeito que vocês estavam… eu… 

— Qualé, primeiro a Neon, agora a Weiss? Você vai agir assim toda vez que um ômega tiver perto de mim? 

— Você acha que minha insegurança é loucura? Então me diz que você não se sente nenhum pouco atraída por elas! Fala isso, Yang! Fala isso para mim! — Ele exigiu. 

 — Eu sou pandinâmica, Neptune, eu me sinto sexualmente e romanticamente atraída por pessoas, independente do gênero ou da dinâmica. — Yang respondeu bem séria. — Eu já fiquei com alfas, com betas e ômegas, homens, mulheres e pessoas não-binárias, para mim, nada disso importa. 

Neptune ficou a olhando por um minuto. 

— Eu sei, mas você é um alfa, não está mais inclinada a se atrair mais por ômegas?

Yang soltou um suspiro. 

— Deixa eu esclarecer uma coisa. Sim, é verdade que biologicamente falando, todo alfa é afetado quando um ômega no cio está por perto, de forma que nosso corpo reage sem a nossa vontade e somos atraídos para eles, você é um beta, nunca vai saber a sensação de estar o calor. É simples horrível! 

— Fazer sexo selvagem descontroladamente é horrível?

Yang se irritou com aquilo:

— As coisas não são como você vê nos filmes pornôs! As pessoas zombam achando que deve ser bom ficar com o pau duro durante horas e transar quinze vezes em um dia, mas te garanto que não é! Uma ereção tão prolongada acaba inevitavelmente sendo extremamente dolorosa, e fazer sexo tantas vezes é desgastante demais. É por isso que hoje em dia cada vez mais alfas e ômegas se entopem de inibidores de calor e procuram tem relacionamento com betas. O Cheiro de ômegas é o mais atraente? É! Os alfas ficam inclinados para eles? Sim! Mas isso não significa que todo alfa quer ter um relacionamento com um ômega apenas por ser um ômega! 

— Isso tudo é para dizer que você não quer um ômega?

— Não! Você entendeu tudo errado. — Yang já estava se sentindo impaciente. — O que eu estou querendo dizer é que eu não vou te trocar por um ômega só porque é ômega, eu gosto de pessoas e não ligo para isso! Então não precisa agir assim toda vez que tiver um ômega por perto. Sem falar… — Yang apertou os olhos para ele. — Você não deveria tratar a Weiss dessa forma, ela só estava sendo gentil.

Neptune abaixou a cabeça envergonhado.

— Eu até consigo entender que você não confie em mim. — Yang falou de uma forma mais compressiva. — Nos conhecemos a pouco tempo, mas poxa, a Weiss é sua amiga, se você não pode confiar nela, vai confiar em quem?

— Você tem razão, eu fui tão idiota. — Ele se aproximou e envolveu seus braços ao redor de Yang. — Você me perdoa? Por favor. Eu vou me comportar.

A alfa pensou que já era a segunda vez que eles tinham problemas devido ao ciúme de Neptune, será que aquilo acabaria sendo uma ocorrência comum? Ela o olhou em seu rosto culposo e arrependido.

— Claro, vamos esquecer isso.

~**~

Yang foi até a mesa de centro da sala de Neptune, ela havia deixado seu telefone ali para carregar durante a noite, ela ligou o aparelho e imediatamente a tela ganhou vida com diversas notificações, a maioria vindas de suas redes sociais, ela ia passar os olhos rapidamente, mas uma das primeira notificações chamou sua atenção e colocou um sorriso em seu rosto:

“Weiss Schnee está seguindo você”