Em seu lugar escrita por Aislyn


Capítulo 21
"Malfeito feito"


Notas iniciais do capítulo

Mês que vem esse capítulo ia completar um ano que estava pronto... XDDD.



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O aparelho de som ligado na sala àquela hora da manhã não chamou tanta atenção quanto as latinhas de cerveja em cima da mesa de centro. Encontrar Mikaru deitado de qualquer jeito na cama também foi uma surpresa e tanto para Katsuya, principalmente ao se aproximar e notar as mudanças em seu visual. O que ele havia feito na noite passada? Uma festa?

 

Inclinou-se sobre o corpo dele, passando os dedos de leve por seus cabelos, abrindo um sorriso divertido. Não tinha ficado ruim… exceto pelo fato que ele parecia um panda, já que a maquiagem dos olhos havia borrado. Afastou a mão ao vê-lo remexer e resmungar, dando sinais que logo acordaria, imaginando que desculpa Izumi ia inventar para o que havia feito. Ele e Takeo entraram em acordo sobre abordar os dois para que contassem a respeito daquela troca e explicassem o que aconteceu de verdade, pois já tinham certeza que os namorados haviam trocado de lugar de alguma forma.

 

— Bom dia… – Katsuya murmurou se sentando na ponta da cama, notando que o outro rapaz havia ficado quieto novamente, mas não voltou a dormir visto que iniciou uma massagem na têmpora – Dormiu bem?

 

— Minha cabeça dói… – a resposta veio num resmungo doloroso, deixando Katsuya com a consciência pesada ao pensar que ia abordá-lo para descobrir a verdade. Izumi não parecia estar em condições de conversar.

 

— Acredito que esteja com ressaca. Eu vou ver se tem algum comprimido pra você.

 

— Ressaca? Como se eu costumasse beber…

 

Mikaru sentou-se no colchão com calma, a mão servindo de apoio para a cabeça que parecia querer explodir a qualquer instante. Piscou lentamente, tentando se acostumar com a claridade, sem entender aquela ardência nos olhos. Levantou-se soltando mais resmungos pelo caminho até o banheiro, parando no meio do percurso e olhando para a porta do quarto. Katsuya estava ali um instante atrás? Observou o cômodo ao redor com atenção, reconhecendo sua cama, seu armário e todos os outros móveis. Apressou-se até o closet, parando em frente ao espelho e suprimindo um grito.

 

— O que aquele desgraçado queria com isso?! – estava de novo em seu próprio corpo, mas não com sua aparência usual. Seus olhos tinham um contorno escuro e seu cabelo tinha algumas mechas de outra cor que não existiam ali antes. Ao levar a mão até o rosto, notou as unhas pintadas, para seu desespero.

 

— Acho que exagerou um pouquinho Izumi-san. – Katsuya comentou ao se aproximar com um copo de água numa mão e um comprimido na outra, parando no lugar ao receber um olhar ameaçador. Nunca tinha visto o amigo de ressaca, mas parecia que ele ficava de mal humor nesse estado.

 

— Eu não sei que tipo de fetiche estranho é esse em ficar me chamando pelo nome de outro ou se isso significa que vocês tem um caso, mas eu agradeceria muito se não me chamasse pelo nome daquele vocalista de merda.

 

— Mikaru? – sem sorrisos gentis, sem hesitação na escolha de palavras, o olhar decidido… era mesmo ele. Não era?

 

* * *

 

Hayato espreguiçou lentamente, virando para o outro lado da cama e abraçando o travesseiro que havia ali, aspirando o perfume tão semelhante ao de Takeo. Sabia que era fruto da sua imaginação e saudades que sentia do namorado, pois se a cama de Mikaru realmente tivesse o cheiro do guitarrista, era melhor ter uma conversa muito séria com os dois.

 

Ficou deitado um longo instante, pensando em tudo que andava acontecendo durante aqueles dias, sem a menor vontade de sair da cama para encarar o mundo lá fora. Sabia que precisava retirar a maquiagem e o esmalte antes que alguém aparecesse para visitar Mikaru, mas estava tão frustrado que na noite anterior não se importou em jogar tudo para cima em troca de ser ele mesmo por um tempo.

 

O cheiro de café fresco e bolo assado invadiu o quarto, fazendo-o se sentar alarmado. Katsuya havia chegado? Esqueceu que ele tinha a chave e podia entrar e sair quando quisesse. Correu para fora da cama, se trancando no banheiro e revirando o armário à procura de um removedor de esmaltes, parando qualquer nova ação ao notar sua imagem no espelho. Passou as mãos pelo contorno do rosto, apertando as bochechas, o nariz e bagunçando os cabelos, tentando confirmar se o que via refletido era o mesmo que podia tocar.

 

— Eu voltei… – o cheiro do travesseiro não era um sonho!

 

Saiu do banheiro animado, parando no meio do quarto e olhando ao redor, sorrindo ao ver cada móvel no lugar e o espaço ao seu lado na cama ainda bagunçado. Decidiu conferir o restante do apartamento, passando pelo corredor, abrindo as portas da sala de música e do quarto de visitas para ter certeza que era mesmo sua casa, deixando a sala e a cozinha por último. Foi recebido no final do corredor por um dos gatos, que miou satisfeito enquanto se esfregava em suas pernas, mas Hayato sabia que teria tempo para mimar o felino depois. Ele queria mais uma confirmação.

 

Parou no batente da porta da cozinha, apreciando os movimentos de Takeo enquanto ajeitava a mesa para o café, ignorando qualquer bom senso e se jogando sobre ele, abraçando-o pela cintura.

 

— Hei! Que animação é essa? – Takeo sorriu divertido, dispensando-lhe um cafuné antes de afastá-lo, estranhando aquela atitude. Mikaru não era dado a arroubos de alegria e não gostava de vê-lo fingindo ser Hayato. Era melhor tirar aquela história a limpo o quanto antes, como havia combinado com Katsuya, para que ninguém ficasse magoado.

 

— Feliz em te ver.

 

— Você me vê todos os dias. Vem, o café está pronto.

 

Hayato encarou-o indignado com a resposta seca, até se lembrar que era possível que Takeo estivesse tratando Mikaru daquela forma distante para evitar passar a ideia errada. Precisava provar que era ele mesmo.

 

— Está chateado comigo? – Izumi sabia que Mikaru andava afastando e evitando toques para não dar brechas a Takeo, mas ele também podia ter feito algum estrago mais sério durante aqueles dias que não se falaram. Apesar que quem fez coisas erradas foi ele, pintando o cabelo e maquiando Mikaru. Ele ia ficar possesso quando acordasse e visse as mudanças.

 

— Hm? Não, não estou. Não diria chateado, mas não é legal quando escondem algumas coisas de mim.

 

— E eu escondi? – Hayato desviou o olhar ao sentir um toque em sua perna, dessa vez não conseguindo ignorar o segundo gato, já que era Junai, o seu preferido, pegando-o no colo, para surpresa de Takeo.

 

— Junai?! – Takeo olhou do gato para o rapaz à sua frente, não sabendo qual dos dois chamar de traidor. O gato por estar no colo de Mikaru ou o amigo por tê-lo amansado. Então algo estalou em sua cabeça – Você tem certeza?

 

— Certeza do que? – Hayato encarou o namorado sem entender, recebendo de Junai uma lambidinha no rosto, que logo se acomodou melhor em seus braços, ronronando baixinho.

 

Takeo deu a volta na mesa, colocando as mãos no rosto de Hayato e puxando-o para um beijo urgente, gemendo satisfeito ao ser correspondido. Há quanto tempo não se aproximava assim do namorado? Há quanto tempo sem abraçá-lo de verdade?

 

Nem Junai parecia incomodado de estar sendo pressionado entre os dois, talvez por também estar sentindo falta do dono.

 

* * *

 

— Mikaru?

 

— O que? – Mikaru imaginava o que se passava pela cabeça de Katsuya, entendia a confusão causada pela troca. Ele mesmo estava com dificuldades em acreditar que estava de volta, além de ter medo de comemorar antes da hora. Pegou o remédio que foi oferecido, praguejando por aquela dor de cabeça infernal. Como Izumi tinha coragem de beber na situação em que se encontravam? Aquele idiota baixou a guarda e o deixou vulnerável. Voltou o olhar para Katsuya novamente, estranhando o modo como era encarado – Por que está sorrindo?

 

— Ah, não é nada. – Katsuya deu de ombros, mas não se preocupou muito em esconder o sorriso – Estou feliz por você estar bem. Fiquei preocupado ontem.

 

— Sei… – Mikaru devolveu o copo, o olhar recaindo na própria mão, torcendo o nariz numa careta – Consegue alguma coisa pra tirar isso, por favor?

 

— Claro, posso pegar removedor no mercado. Quer que traga alguma coisa pra comer também?

 

— Hmm seria bom… – Mikaru caminhou pelo closet, olhando enviesado para as roupas novas dispostas ali, separando um de seus ternos preferidos. Queria se sentir ele mesmo de novo e bem vestido, se possível.

 

— E para o cabelo?

 

— Ah… acho que vou precisar de uma profissional… – suspirou frustrado, temendo que aquilo fosse demorar para reverter.

 

Olhou novamente para Katsuya, estranhando o silêncio e aceitação. Há um instante atrás ele parecia querer fazer perguntas, mas nada disse. Pelo modo como foi chamado antes, Mikaru tinha certeza que Katsuya havia descoberto a troca. Quando será que isso aconteceu? Quando ele percebeu que não era o verdadeiro ali? Podia se sentir feliz por aquilo? Pelo namorado ter notado a verdade? Isso mostrava que ele o conhecia bem…

 

Sobressaltou-se ao sentir um toque um sua face, erguendo o olhar para o namorado. E se Katsuya estivesse decepcionado? Ele teve a chance de ter alguém gentil e carinhoso por perto e a perdeu logo em seguida.

 

— Eu vou tomar um banho… – murmurou mais para si do que para o namorado, desviando o olhar mas sendo impedido de prosseguir quando Katsuya entrou na sua frente, bloqueando a porta.

 

— Eu senti sua falta…

 

Mikaru encarou-o em dúvida sobre o que responder, já que também não tinha certeza sobre o que o ouviu dizer.

 

— Eu sempre imaginei como seria fazer algumas coisas com você, mas não da forma como aconteceu. Eu pude testar coisas diferentes por esses dias e isso me fez ter certeza que eu quero fazer de novo, mas com você, quando você quiser e se sentir à vontade.

 

— Não sei do que está falando… – Mikaru resmungou amuado, contornando-o para entrar no banheiro.

 

— Mas eu acho que sei o que está pensando. – Katsuya se virou para acompanhar o percurso do namorado, puxando-lhe a mão de leve – Eu não queria que fosse diferente do que é agora. Eu gosto de como levamos as coisas, de verdade.

 

— Se você diz…

 

— Talvez você prefira como estava antes… você estava com ele…

 

— Retire a última frase. – Mikaru pediu em tom autoritário, se aproximando e o abraçando – É exatamente aqui que eu gostaria de estar, com você.

 

— Se você diz… – Katsuya repetiu sua fala, rindo baixinho enquanto correspondia ao abraço, pois sabia que era verdade. Mikaru nunca diria aquilo só para agradá-lo – Obrigado por ser sincero.

 

— Não sei do que está falando. – e soltou-o a seguir, dando-lhe as costas e entrando no banheiro, enfim fechando a porta.

 

* * *

 

— Não acredito que usou o Jun para ter certeza que era eu. Não sabe me reconhecer sozinho?

 

Após o café da manhã o casal se acomodou no chão da varanda, onde jogaram um cobertor e várias almofadas para deitarem juntos. Aqueles acampamentos eram rotina, mas também um momento especial entre eles.

 

— Claro que eu sei! Mas com a ajuda dele foi mais rápido. Eu teria que perguntar algo que só você sabe e que não contaria pro Mikaru.

 

— Nós trocamos bastante informação… ele fingiu bem que era eu?

 

— Sim, ele foi muito bem. Levando em conta que fingiu ser você quando está azedo. – Takeo sorriu de canto, recebendo um puxão de orelha.

 

— Isso não foi legal da sua parte! – Hayato resmungou amuado, mas logo a curiosidade se fez presente – Quando notou que não era eu?

 

— Hm… eu não notei que era você ou ele porque não imaginei uma troca, mas percebi que você estava estranho sem motivos. Levando em conta a data que me falou, foi mais ou menos uma semana depois. Você não costuma ficar tão distante. – e o abraçou para mostrar o tipo de proximidade a que se referia.

 

— Entendi… mas isso é suspeito. Levando em conta que Mikaru gosta de você, imaginei que ele fosse se aproveitar mais.

 

— Ele gosta da minha companhia, não que eu fique colocando as mãos nele. Um abraço de vez em quando ele tolera, mas se eu ficasse pendurado o dia todo como faço com você, imagino que surtaria.

 

— Melhor pra mim. – Hayato deu de ombros, se aconchegando mais no abraço. Havia sentido saudades de ficar assim com o namorado – Você sentiu minha falta?

 

— Tem dúvidas quanto a isso? – Takeo encarou-o indignado – É claro que sim! Tinha você por perto mas não podia abraçar e nem beijar. As conversas não rolavam do mesmo jeito… Eu não te trocaria por ele, sabe disso, não é?

 

— Só queria ter certeza. Acha que alguma coisa vai mudar entre a gente? O Mikaru e eu? Não sei se isso pode fazê-lo me odiar mais, por ter ficado no meu lugar, ou se ele pode ter visto algo de forma diferente…

 

— Se está preocupado, devia conversar com ele. Acha que mudou algo em você? O odeia mais que antes ou algo assim?

 

A pergunta ficou no ar um instante, enquanto Hayato pensava na situação. Ele viu um outro lado de Mikaru que não conhecia. Sua casa, sua vida pessoal, como analisava o mundo à volta dele. Não podia negar que alguma aprendizagem ele iria tirar daquela experiência.

 

* * *

 

Mikaru estava sentado entre as pernas de Katsuya, olhando o programa na televisão mas sem prestar muita atenção ao que passava. Segurava em uma mão um onigiri enquanto a outra era segurada entre os dedos do namorado, que tentava tirar aquela tinta preta, sem muito sucesso em não deixar escorrer pelo restante dos dedos, manchando-os no processo.

 

— Nunca imaginei que esmalte fosse tão difícil de tirar. Fico com pena da minha mãe só de lembrar que ela faz isso várias vezes no dia.

 

— Ela deve ter alguma técnica pra facilitar… – Mikaru encarou os dedos, ainda contrariado com a aparência que tinham. Agradecia muito a oferta do namorado para retirar aquilo, ou já teria arrancado as unhas fora, só por ter que olhá-las.

 

— Bem possível… como está se sentindo? – Katsuya mudou de assunto, visto que o namorado parecia mais relaxado do que quando o encontrou pela manhã – A cabeça melhorou?

 

— Sim, a dor passou. Só estou contrariado com o que aquele idiota fez.

 

— Não devia brigar com ele. Tenho certeza que essa situação foi difícil pra vocês dois.

 

— Hm… claro. Enquanto eu tive que fazer todo o trabalho na cafeteria ele ficou de folga em casa! Queria que ele tivesse ido pra empresa no meu lugar também, nem que fosse somente um dia.

 

— Acha que ele não conseguiria lidar com os problemas de lá?

 

— Tenho certeza que não! Tive que desmarcar várias reuniões, adiar três projetos e cancelar o início de uma construção. Kojima estava ficando louca por não conseguir falar comigo e ter que repassar os problemas por e-mail.

 

— Você continuou trabalhando a distância… – Katsuya encarou-o admirado, lembrando o dia que trouxe o trabalho da faculdade para Izumi olhar. Mikaru realmente nunca deixava nada para fazer depois. Era bem possível que quando voltasse para a empresa no dia seguinte, as coisas estivessem praticamente todas encaminhadas.

 

— O que pude fazer por e-mail, eu fiz. Passei todas as instruções que achei necessárias. Só não pedi para Kojima trazer os papéis para assinar porque não consegui reproduzir minha letra. Por algum motivo desconhecido a assinatura saía estranha.

 

— Entendi… Bom, se você precisar de alguma ajuda na empresa e for algo que eu possa fazer, é só avisar.

 

— Você quer me ajudar? – dessa vez foi Mikaru quem o encarou admirado e surpreso. Katsuya nunca se ofereceu para ajudar em nada da empresa que ele administrava e também negou a oferta para trabalhar por lá. Aquilo era um avanço. Ou talvez fosse outra coisa – Aconteceu alguma coisa enquanto eu estive fora?

 

— Hm? Não, nada estranho. Só achei que eu pudesse ser útil pra você, dividir o trabalho pra não te sobrecarregar, terminar mais rápido… Ficar perto de você…

 

Katsuya havia passado praticamente um mês ao lado de alguém que pensou ser o namorado, tentando aproveitar as novas situações que surgiram, mas incomodado com algumas das mudanças. Agora que sabia que não era o verdadeiro, ele queria repor o tempo perdido. Sem falar que algo andava martelando sua mente desde que confirmou a troca: ele havia beijado Izumi. Não de verdade, mas o amigo no corpo do namorado. E foi apenas um roçar de lábios! Aquilo podia ser considerado traição? Mikaru ficaria chateado se descobrisse? A consciência pesava de tal forma que queria compensar o namorado.

 

— Eu aceito a ajuda.

 

E selou o compromisso com um beijo.


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Notas finais do capítulo

Só mais dois! Obrigada a todos que acompanharam até aqui!



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