Em seu lugar escrita por Aislyn


Capítulo 20
Análise de consciência


Notas iniciais do capítulo

Só mais três capítulos pro final TOT
Mas não fiquem tristes, temos 'Outro alguém' a caminho e que já começou a ser postada! Não é continuação dessa, mas tem meus bebês, aprontando como sempre.
Aguardem e boa leitura!



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O apartamento estava submerso na penumbra quando Takeo finalmente retornou para casa, a pouca luz que adentrava pelas janelas vinha das ruas, mas ele conhecia o caminho o suficiente para não precisar acender nenhuma. Passando pelo corredor, viu uma luz iluminando o final, mostrando que Hayato estava no quarto e ainda acordado. Sabia que o namorado havia se sentido bem durante a tarde pois perguntou quando ligou há pouco mais de uma hora atrás, avisando que atrasaria graças a um engarrafamento no caminho.

 

Ele precisava jantar e tomar um banho, mas estava exausto. A correria para o trabalho entre passar na cafeteria e se preocupar com o namorado e o amigo conseguiram desgastá-lo. Ele gostava de ir até o café, gostava do ambiente, das pessoas, mas tinha noção da sua falta de prática para aquele trabalho. Foi-se o tempo em que ele trabalhou num balcão e cuidar da papelada combinava bem mais com Mikaru, além de Hayato ter aprendido rápido.

 

Jogou-se no sofá com um suspiro cansado, pensando o que poderia fazer para comer, quando o cômodo se iluminou, forçando-o a fechar os olhos, mas um instante depois tudo voltou ao estado anterior.

 

— Sabia que não tinha imaginado o barulho da porta. – Mikaru caminhou até o sofá, sentando próximo à cabeça de Takeo e erguendo-a para colocar em seu colo – Você está bem?

 

— Sim, tudo bem. Só cansado. Tive que dar uma aula extra porque um dos alunos vai viajar semana que vem e perguntou se podia adiantar pra hoje. Ele só podia ter avisado antes, mas como eu já estava por lá… – qualquer outra reclamação que viria foi silenciada ao sentir dedos brincando em seu cabelo, fazendo-lhe um cafuné.

 

Takeo ronronou baixinho, satisfeito com o carinho que ganhava. Se não estivesse desconfiado dessa troca maluca, diria que Hayato estava de volta, mas uma parte de sua mente, que veio lá do passado, lembrou-o que Mikaru também sabia ser carinhoso quando queria. Além do mais, se fosse o namorado ali, teria ganhado um beijo também.

 

— Tem comida pronta. Quer que traga pra você? – Mikaru questionou baixinho ao ver o amigo tão quieto, imaginando que ele adormeceria ali mesmo se não o motivasse a levantar.

 

— Acho que acabei de ouvir um anjo cantando. – Takeo abriu os olhos, sorrindo de canto e encarando o homem acima de si, imaginando se ele mentiria para a próxima pergunta – O que você fez pra mim?

 

— Na verdade, eu pedi pra entregar. Você disse pra não fazer esforço, fiquei descansando. Mas o seu banho fui eu que preparei.

 

— Hmm acho que alguém está tentando me mimar… – sorriu satisfeito, se levantando – O que eu faria sem você?

 

— Quem sabe… – na verdade, Mikaru sabia e muito bem que o amigo podia fazer tudo sem ele. Só estava tentando amenizar sua sensação de inutilidade. Até a cafeteria podia ser guiada sem ele por perto. Izumi já sabia bem o que fazer por lá – Mas você está se virando muito bem e hoje até cuidou do café. Era o mínimo que eu podia fazer em troca, já que é culpa minha você estar sobrecarregado.

 

— Hei, que conversa é essa? Não é culpa sua. – Takeo puxou-o para se levantar, envolvendo-o num abraço – Tenho certeza que não pediu pra ficar doente ou pra alguma coisa estragar na cafeteria.

 

— Mas você acabou sendo obrigado a cuidar de tudo sozinho.

 

— Tem coisas que não dá pra gente prever. Então não é culpa sua, entendeu? Além do mais, é pra isso que estamos juntos. Não é só para aproveitar os momentos bons, é pra ajudar quando um precisa do outro.

 

— Você é sempre assim ou está tentando me agradar também?

 

— Hei! É claro que estou tentando te comprar com palavras bonitas! Estou conseguindo?

 

— Hmm… sim. Totalmente.

 

Mikaru sabia que Takeo era gentil e cuidadoso com as pessoas que ele se importava, mas não ao ponto de puxar toda a responsabilidade para si. Imaginava que ele iria focar no que fosse mais importante pra ele e depois, se tivesse tempo, cuidaria do restante, mas acabou fazendo tudo que havia para aquele dia; cuidou dele, da cafeteria e do próprio serviço, além de ter comentado no telefone que foi visitar Izumi.

 

Não tinha como não admirá-lo, apesar que tinha noção que o sentimento não parava aí. Lá no fundo, ele ainda gostava de Takeo, bem mais do que devia ou considerava certo. Por diversas vezes, imaginou que teria uma nova chance com ele, não por fazer algo para merecer, mas por achar que o atual namorado não o fazia feliz.

 

O que se provou um grande engano durante aqueles dias.

 

O olhar triste do amigo era notável quando o afastava e evitava seus toques, e principalmente quando não lhe sorria de volta. Pelo que conhecia da relação deles, além do que descobriu nas conversas com Izumi depois, mesmo cada um tendo sua vida particular, eles costumavam ficar perto um do outro sempre que possível. Trocando carinhos, sentando próximos, conversando amenidades. Mikaru não havia conseguido fazer aquilo. Não por não gostar daquele tipo de contato, mas porque sabia não ser certo alimentar esperanças de uma aproximação para depois cortar da pior forma possível. Alimentar as esperanças dele, não as de Takeo. Se manter perto do amigo sem ser da maneira que desejava não o satisfazia, além de ser errado. Se pudesse escolher e voltar ao passado, gostaria de ter aproveitado aquela relação do jeito certo e na hora certa. Por agora, ele sabia para onde queria voltar, e não era para os braços de ninguém que pertencia ao seu passado, mas alguém que estava muito presente nos dias de hoje.

 

* * *

 

Hayato passou a tarde em completo tédio. Tirando a companhia de Katsuya pela manhã e a visita de Takeo logo em seguida, ele não teve mais nenhuma outra novidade. Preparou um almoço leve, tendo a certeza de prestar atenção em qualquer ruído externo, para não ser pego desprevenido fazendo algo que Mikaru normalmente não faria.

 

No início da tarde recebeu uma ligação de Katsuya, perguntando como estava e se precisava de alguma coisa, mas seu tom de voz pareceu inseguro e quando Hayato o pressionou, ele disse que não poderia voltar para sua casa pois os pais o incumbiram de cuidar da irmã que precisaria de carona para resolver algumas coisas no centro da cidade. O rapaz até insistiu para que ele fosse junto por se preocupar com sua saúde, mas Hayato não queria outra amostra de proteção extrema. Preferia ficar em casa, se lembrando da visita de Takeo e lamentando não poder aproveitar como sempre faziam.

 

Quando começou a escurecer e Hayato imaginou já ter feito tudo que podia na casa, desde ver filmes até ler livros ou mudar alguns itens de decoração de lugar, decidiu que precisava de um pouco de ar fresco. Não conhecia bem a região mas viu uma konbini por perto quando o motorista o levou pra casa, e não faria mal sair pra comprar um sorvete ou só pra olhar a vizinhança.

 

O que Hayato não esperava era encontrar algo na loja que chamasse sua atenção. Mikaru já estufou o peito diversas vezes para dizer que não gostava de maquiagem nem nada do tipo, mas a coleção de hidratantes no banheiro desmentia aquilo, mostrando o quanto era vaidoso e nada tiraria isso da cabeça de Hayato. Além do mais, estava no corpo dele tempo o suficiente para notar que aquele loiro não era de todo natural. Mesmo que fosse difícil perceber, uma pessoa acostumado a tingir os cabelos reconheceria de longe uma raiz que começava a crescer.

 

Como será que ele ficaria de cabelos escuros?

 

Pegou um tonalizante em tom chocolate, afinal não queria nada permanente ou difícil de retirar, caso contrário Mikaru ia brigar muito com ele. Colocou também um pote de sorvete, luvas e um pincel na cesta, além de outras coisas que acreditou serem necessárias. Queria ter uma noite como ele mesmo, fazendo coisas que gostava, sem medo de ser descoberto.

 

Ao retornar para casa, tratou logo de ajeitar a raiz do cabelo, assim como algumas mechas, envolvendo-as em papel até darem o tempo de lavar. Selecionou algumas músicas da banda para ouvir e cantar junto enquanto pintava as unhas de preto, decidido a dar a Mikaru um tratamento digno de um integrante de uma banda de rock. Passar ao menos lápis nos olhos estava na lista do que fazer a seguir.

 

A verdade de tudo é que Hayato não queria mudar o corpo de Mikaru, mas sim ter o seu de volta. Queria retornar para casa, abraçar o namorado, se jogar em sua cama ou então sentar na varanda com os gatos no colo. Não queria mais sentir na pele os olhares enviesados, a falta de proximidade com os funcionários e amigos, ter que depender de estranhos para sair de casa e chegar ao trabalho. Acima de tudo, queria voltar a ser ele mesmo para tratar Mikaru de forma mais gentil, ser mais responsável com seu trabalho para não sobrecarregar o amigo, fazer os colegas de trabalho notarem que o empresário era uma boa pessoa, um pouco ranzinza e mal humorado, mas muito trabalhador. Precisou ouvir Katsuya dizer que gostava do namorado exatamente do jeito que ele era para só então tirar da cabeça a ideia de que Mikaru era frio no relacionamento.

 

Jogou-se na cama após enxaguar os cabelos e tomar um banho, procurando um pouco de coragem para se levantar e secar os fios, mas sentia-se tão esgotado de tudo. Encontrou o celular que Mikaru usava no trabalho após revirar a gaveta da mesa de cabeceira e, ao ligá-lo, encontrou inúmeras ligações perdidas e e-mails sem resposta. Não queria nem imaginar o quanto ele teria que trabalhar para repor os dias que ficou fora. Mais do que nunca, Hayato precisava dar conta do serviço da cafeteria e, se lhe fosse permitido, queria tentar ajudar no serviço que acumulou da empresa do amigo, em partes, por sua culpa.

 

* * *

 

Ambos foram dormir aquela noite pensando um no outro. No quanto julgaram mal, em como tentaram corrigir o relacionamento alheio, como criticaram as atitudes como profissionais e pessoas. Não queriam se encarar no dia seguinte como melhores amigos que se entendiam totalmente, mas com o mínimo de respeito que cada um merecia.


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Notas finais do capítulo

Continua... ^^
Espero que estejam gostando!



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