Em seu lugar escrita por Aislyn


Capítulo 22
Comunicação e compreensão


Notas iniciais do capítulo

Betando o capítulo, notei a data de término de escrita dele... o capítulo completou um ano que está pronto e arquivado XD~

Ah, e esse é o penúltimo ok?! Digam adeus a essa história! ♥
Mas nos veremos nas próximas!



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Kojima, a secretária de Mikaru, ligou para Hayato pela manhã, repassando a informação que recebeu do chefe de que a reforma da cafeteria estava terminada e que poderiam voltar com as atividades normalmente. Também o deixou responsável por avisar os funcionários e distribuir os horários temporários para aquele dia, que seria voltado para a limpeza e organização.

 

Izumi estranhou receber a ligação indireta, mas imaginou que Mikaru quisesse manter um pouco de distância por algum tempo, talvez por se sentir desconfortável pela situação que passaram. Ele mesmo ainda se sentia estranho, vez ou outra conferindo em algum espelho a própria imagem, para ter certeza que era ele.

 

Após confirmar com toda a equipe a escala que fariam, tratou de se trocar para ele mesmo ir trabalhar. Sentia falta de andar pela cafeteria, tocar o piano para os clientes, mas também queria saber como ficaria sua relação com os funcionários. Sabia que era reversível, mas no fundo tinha uma pontinha de receio de Mikaru tê-lo deixado com uma imagem ruim, o que se mostrou injustificado ao cumprimentar todos na chegada, sendo recebido de volta com sorrisos animados. Conversou um pouco com cada um que encontrou pelo salão, tirando dúvidas, confirmando tarefas a serem feitas e falando sobre amenidades. Apesar da sujeira deixada pela reforma, o local parecia exatamente como era antes e precisava agradecer Mikaru e sua equipe por isso.

 

Takeo surgiu perto do horário de almoço, dizendo que teria a tarde livre e oferecendo ajuda para a organização, mas Hayato o arrastou para o escritório, pois precisava de alguém para lançar as notas fiscais, serviço que o guitarrista executou com um bico enorme, demonstrando sua contrariedade.

 

— Takeo, você falou com o Mikaru por esses dias? – Hayato questionou após olhar o celular, esperando a resposta de uma mensagem que parecia não querer chegar.

 

— Hm… não. Desde que voltaram ao normal. Por quê?

 

— Ele não responde minhas mensagens.

 

— Precisa tratar de algo importante? – Takeo parou o serviço, se espreguiçando enquanto esperava a explicação do namorado, que parecia desconfortável com alguma coisa – E se você mandou muitas de uma vez é bem possível que ele esteja ignorando.

 

— Eu fico imaginando o que está passando na cabeça dele, se está chateado comigo, se não gostou de algo que fiz no lugar dele… Me sinto culpado por algumas coisas, porque analisando agora, foi errado.

 

— Vejamos: você mudou o guarda-roupa, o cabelo, a aparência, deixou ele impossibilitado de trabalhar, ficou perto do namorado dele em tempo integral…

 

— Está me fazendo sentir muito melhor! – Hayato comentou em tom ácido, mas logo voltou a atenção à sua preocupação – Será que Katsuya vai ficar chateado comigo também? Por não ter contado pra ele?

 

— Duvido muito. Foi ele quem me ajudou a confirmar a troca e mesmo assim nunca falou mal de você. Além do mais, não é você que sempre fala o quanto ele é bonzinho? Por que acha que agora iria te tratar mal? – Takeo salvou o trabalho, se afastando um pouco do computador para se sentar ao lado do namorado – Ele vai vir pro turno da tarde, não é? Fale com ele.

 

— Vou fazer isso. Preciso pedir desculpas. Só que ainda estou preocupado com o Mikaru.

 

— Ele deve estar colocando o serviço da empresa em dia. E como tudo está encaminhado por aqui, deve demorar pra aparecer.

 

— Você não consegue falar com ele? Pedir pra passar aqui mais tarde?

 

— Talvez… mas imagino que ele esteja com vergonha; por fingir ser você e esconder de mim, pelas coisas que você fez no lugar dele, por ter escondido do próprio namorado também. Vamos dar um tempo pra ele.

 

— Tudo bem… eu vou esperar mais um pouco.

 

* * *

 

A equipe da manhã terminou o serviço de limpeza mais rápido do que haviam previsto e talvez devessem isso ao fato de estarem de volta aos seus empregos. As fofocas de que a sociedade terminaria, que o mal humor era referente às brigas entre os sócios e que a reforma era apenas uma desculpa para demitir a todos foram por água abaixo.

 

— Izumi-san chegou sorrindo e cumprimentando todo mundo. Acho que as coisas voltaram ao normal. – comentou um dos funcionários, recebendo acenos de concordância.

 

— Ele trabalhou bastante esses últimos tempos, deve ter se sobrecarregado. – completou Miura, lembrando da conversa que teve com o patrão dias atrás – E ele não parecia bem quando fui visitá-lo, deve ter ficado doente com toda essa agitação.

 

— Com aquele carrasco pegando no pé dele o dia todo, quem não fica doente?

 

— Se está falando de Kazunari-san, não acho que ele seja o problema aqui. Os dois trabalham juntos há alguns anos, devem saber lidar com os defeitos um do outro.

 

— Miura defendendo o carrasco? Está ganhando um aumento pra isso?

 

— Não, não estou. – a moça revirou os olhos, decidida a confiar na palavra de Izumi e tentar dar uma chance ao outro chefe. Não achava que ele iria mentir, mas também não tinha certeza sobre ter coragem de encarar Mikaru – Mas se ele fosse tão ruim, talvez nem Shiroyama-san gostasse dele.

 

Como que esperando aquela deixa para entrar, a porta da cozinha foi aberta, assustado o grupo que ajeitava o local.

 

— Que susto, Katsuya! Achamos que fosse o carrasco!

 

— Você não ficou com a turma da tarde? – Miura se adiantou para mudar o rumo da conversa, decidida a não deixar mais rumores surgirem até confirmar pessoalmente.

 

— Não, me pediram pra cobrir o horário de almoço e o começo da tarde pra ajudar na troca de turno. No salão parece que está tudo pronto pra funcionar. Vão abrir para os clientes a tarde?

 

— Ainda não sei sobre isso… Vou falar com Izumi-san e volto pra repassar como ficamos.

 

Katsuya agradeceu internamente a oferta de Miura, pois não estava com muita vontade de encarar Izumi. Lidar com Mikaru foi mais fácil do que imaginou, mas talvez porque não contou a ele tudo o que aconteceu durante aquela troca maluca. Além disso, uma parte de si tinha medo que Hayato contasse. A ideia de que havia ‘namorado’ o amigo por um tempo o atormentava.

 

Não demorou muito até a moça voltar ao salão, informando que todos poderiam almoçar e que a cafeteria continuaria fechada até que estivesse tudo realmente pronto. Como Katsuya fora escalado para cobrir aquele horário, ele ficaria na loja para receber algumas mercadorias que chegariam em breve, além de conferir o estoque, para o caso de terem esquecido de pedir algum produto.

 

Para Kurosaki, ver os colegas saindo da cafeteria um a um não foi muito motivador. Estava sozinho, com Izumi trabalhando no andar de cima e rezava para que ele continuasse por lá.

 

Olhou de relance para as janelas da gerência, pegando a prancheta com os papéis que Miura o entregou, decidido a trabalhar e se distrair para que o tempo passasse logo. Conferiu a lista de produtos que chegaria, comparando com o que já tinham em estoque, anotando num bloco à parte o que seria necessário encomendar depois caso fosse em pouca quantidade.

 

— Que garoto trabalhador! O orgulho da nossa cafeteria!

 

Katsuya sobressaltou com a chegada de Shiroyama, encarando o guitarrista com desagrado, mas também alívio. Se ele estava ali, então não ficaria sozinho com Izumi.

 

— Você é muito barulhento, Takeo-san. Me perdi na contagem.

 

— Hei! Está brigando comigo?! – Takeo encarou-o indignado, mas sabia quando chamavam sua atenção com razão. Ele não costumava se conter nas brincadeiras.

 

— Ele está certo, koi. Você está atrapalhando o serviço dele.

 

Ao ouvir a segunda voz se aproximando, Katsuya congelou no lugar. Suas preces não foram feitas do jeito certo e teria que encarar o vocalista bem antes do esperado. Ou talvez andar com Mikaru o tenha feito pegar um pouco de seu tão falado azar.

 

— Alguma das entregas já chegou?

 

— Não… ainda não. – Katsuya desviou o olhar para a prancheta, fingindo conferir algum produto para evitar que o assunto prolongasse.

 

— Precisa de ajuda na conferência? Eu já terminei o que tinha pra fazer e Takeo também está livre.

 

— Não, tudo bem, obrigado. Falta pouco pra terminar. Vocês podem ir almoçar também, se quiserem. Eu fico de olho.

 

— Você está me evitando. – Hayato apontou o que lhe era óbvio, arrancando uma risada de Takeo e um olhar assombrado de Katsuya.

 

— Tão sutil… nem parece aquela criatura fofa que sempre oferece ajuda. – Takeo deu a volta no balcão para pegar café, ainda rindo com a ousadia do namorado. Hayato podia ser bom ouvinte e conselheiro, mas às vezes tinha a delicadeza de um ogro. Ele não podia ser perfeito, não é?

 

— Não estou evitando… só não sei sobre o que conversar…

 

— Conversaram muito nesse último mês, não é? – Takeo sorriu de canto, voltando a se sentar ao lado do namorado, deixando Katsuya mais envergonhado que antes.

 

— Você não está ajudando, Takeo. – Hayato encarou-o de soslaio, mas sabia que tinha culpa em toda aquela situação – Na verdade, eu quem deveria me desculpar e estar com vergonha de falar com você, já que menti durante todo aquele tempo. Mas vamos falar disso em outra hora, quando estiver mais à vontade.

 

O suspiro aliviado de Katsuya provou que aquela era a decisão certa para o momento. Teriam tempo para conversar depois, já que o rapaz não ia fugir. Imaginava que Mikaru se encontrava na mesma situação, mantendo distância não só pelo trabalho acumulado, mas também por estar com vergonha. Era melhor deixar que os dois tomassem a iniciativa na aproximação.

 

* * *

 

O café ia encerrar o expediente em pouco tempo, mas ainda atendia os últimos clientes, vindos de outros estabelecimentos que também fechavam a noite e passavam ali em busca de um lanche ou um pouco de café para se manterem acordados e aquecidos até chegarem em suas casas.

 

Mikaru evitou o local por três semanas, recebendo informações sobre os negócios através de Shiroyama e do namorado, mas tentou ao máximo não se envolver muito nos assuntos, já que o seu próprio serviço estava atrasado. Esperava que aquele fosse o último dia em que teria que trabalhar até tarde, mas só teria certeza que tudo estava em ordem quando falasse com sua secretária na manhã seguinte, contudo, sabia que agora podia voltar a um ritmo menos desgastante.

 

Parou na entrada do salão, olhando ao redor por um instante antes de escolher um local próximo à janela, com intenção de ficar somente o suficiente para garantir que tudo ia bem sem ele. Sabia que sua presença não era tão necessária ultimamente, além de não ser muito desejada também, mas sentia que precisava estar ali um pouco. Pegou um livro na mochila, abrindo na página marcada enquanto apoiava as costas contra a parede, gostando do clima tranquilo de fim de expediente. O ambiente quase não tinha ruídos, apenas algumas conversas espaçadas e era aconchegante. Devia aproveitar mais daquela forma.

 

— Boa noite!

 

O cumprimento o pegou desprevenido, obrigando-o a sentar direito num pulo, erguendo o olhar para ver quem o abordava.

 

Miura.

 

— Boa noite… – era hora de ver até onde ela iria. Ele havia induzido àquilo, mas não imaginou que a moça fosse se aproximar na primeira oportunidade.

 

— Aceita um café pra aproveitar a leitura? Ou talvez um chá? – a moça apertava os dedos de leve, tentando conter o nervosismo.

 

— Ah, não precisa. Está quase na hora de fechar. Só passei pra ver como estava o movimento após tantos dias fechado por conta da reforma.

 

— Veio pra falar com Izumi-san?

 

— Não. Foi só uma pausa na saída do trabalho. – talvez não tivesse sido uma boa ideia fazer aquela visita. Podia ir direto pra casa descansar, sem causar desconforto em ninguém.

 

— Hmm… um chá, então. Ajuda a relaxar e dormir melhor.

 

Mikaru observou-a se afastar, sem entender aquela última afirmação. Não costumava manter muitas conversas informais, exceto com o namorado ou Takeo, mas até para as trocas de farpas com Izumi, aquela havia sido estranha para seus padrões. Deu de ombros, cansado demais para tentar entender onde a moça queria chegar, voltando a atenção para a leitura.

 

Miura se apressou até o balcão, um pouco nervosa mas também otimista. Havia conseguido iniciar uma conversa casual com o patrão e ele havia respondido da mesma forma. Não que o assunto tivesse sido grandioso, mas ele não pareceu irritado por ter sido interrompido e nem a dispensou de maneira grosseira, como imaginou que pudesse acontecer.

 

Colocou um pedaço de bolo e uma xícara de chá numa bandeja, respirando fundo antes de caminhar com ela pelo salão. Era só uma entrega de pedido, como tantas outras que já havia feito. Não tinha nada de mais no gesto. Ela ia conseguir! E repetiu aquelas frases em sua mente até chegar à mesa, depositando o conteúdo na frente do empresário, agradecendo por não ter derrubado nada no colo dele.

 

— Espero que goste. – mas ao invés de se afastar após a entrega, como faria com um cliente qualquer, ela permaneceu por ali, esperando algum tipo de resposta.

 

Recebeu um agradecimento após o primeiro gole de chá, mas não era só isso que esperava. O problema maior que notava era não ter um assunto em comum, mas Miura ainda não queria desistir.

 

— O que está lendo? – questionou após um instante, vendo-o fechar o livro e virar a capa em sua direção.

 

— É um romance.

 

Aquilo a pegou desprevenida. Quem ia imaginar que aquele homem lia aquele gênero? O pior é que romance não era seu forte também. Não sabia como prosseguir.

 

— É tão chocante assim que eu leia histórias de amor? – Mikaru questionou após ver o olhar de surpresa na face de Miura. Aquilo já era esperado.

 

— Ah… um pouco, sim… Imaginei que lesse coisas sobre sua área de trabalho…

 

— Eu leio esses na empresa. Não que eu acredite em amor, mas tem uma pessoa que acredita e eu quero ver se entendo melhor o outro lado usando isso aqui.

 

Miura entendeu o que a expressão ‘peixe fora d’água’ queria dizer porque era assim que se sentia, abrindo e fechando a boca, mais perdida do que estava no começo da conversa. Era muito para digerir em pouco tempo. Kazunari-san estava conversando com ela, falando sobre livros de romance e ainda deu a entender que tinha uma pessoa especial por trás de tudo. Se ela pensou que as surpresas haviam terminado, ele ainda a convidou para se sentar, dando liberdade para que ela tratasse sobre qualquer outro assunto.

 

Mikaru não era nada do que havia pensado. Claro, era reservado e quieto, mas não era sem educação ou ríspido como imaginou e nem a tratou como se fosse inferior. Ele a encarava nos olhos enquanto falava e aquilo causou certo incômodo, mas também mostrou que ele prestava atenção nela e em tudo o que dizia.

 

Por fim, conseguiu se desculpar por não ter comentado dos problemas na cafeteria durante a reunião de algum tempo atrás e também agradeceu aquela oportunidade de conversar.

 

Ao se afastar da mesa, Miura sabia que tinha uma nova missão pela frente. Precisava fofocar sobre a conversa que teve. Talvez não mudasse o ponto de vista dos colegas, mas os deixaria curiosos para tentarem também.


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Notas finais do capítulo

Beijinhos ^.~



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