Em seu lugar escrita por Aislyn


Capítulo 18
Apagões e descobertas


Notas iniciais do capítulo

Aquele título digno de anime que esfrega o spoiler na cara XDDD



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Como bom estrategista que era, Mikaru pensou em todas as possibilidades que estavam ao alcance, tudo que podia usar a seu favor para não se entregar e ainda sair ileso daquela situação. Não podia estragar o piano, mas também não queria se machucar usando o gato e estava evitando mentir para o amigo. Mesmo que estivesse usando Izumi para as mentiras, sentia que isso o distanciava de Takeo.

 

As horas foram passando e nenhum plano parecia bom o suficiente. Cogitou sair para dar uma volta, mas não estava com seu carro, então não podia ir muito longe e nem voltar muito tarde. Transporte público estava fora de cogitação.

 

Passou tanto tempo procurando uma saída, que se sobressaltou ao ouvir a porta sendo aberta, só então notando que a tarde havia ido embora. Takeo voltou e ele não tinha uma desculpa. Queria se esconder num buraco como nunca quis antes na vida. Observou-o passar pelo corredor, possivelmente indo em direção ao quarto ou ao estúdio.

 

Àquela altura, seu coração batia descontrolado e, caso estivesse no próprio corpo, era possível que um ataque de pânico se iniciasse. Pelo menos agora conhecia a sensação de nervosismo, sem o risco de parar no hospital.

 

Esperou na sala por mais alguns minutos, olhando ressabiado para o corredor, temendo o momento que veria Takeo passar por aquela porta, pedindo-o para tocar. Não podia fazer aquilo! Não ia conseguir lidar com o amigo. Apertou a frente da camisa com força, como se tentasse puxar algo que apertasse seu peito. Não sentia falta de ar, mas era um desespero tão grande…

 

Mikaru levantou-se de súbito, decidido a contar parte da verdade. Ia simplesmente dizer que não podia tocar. Ponto final. Não costumava se justificar e não era agora que estava num corpo diferente que ia começar a dar satisfações. Izumi havia dado aquela liberdade em uma das conversas e faria aquilo do seu jeito.

 

Caminhou até o estúdio, mas estava vazio. A luz do quarto estava apagada, mas mesmo assim foi até o outro cômodo, conferindo que também estava vazio. A porta que levava até a sacada estava fechada, então ele também não estaria ali. Virou as costas para sair, pensando que o guitarrista talvez tivesse voltado para a cozinha sem que ele notasse, mas um barulho vindo do banheiro da suíte chamou sua atenção, levando-o até lá.

 

— Sh- Takeo?

 

— Sim?

 

— O que está fazendo no escuro? – Mikaru ligou a luz, para encontrar o amigo usufruindo da banheira. Nu. Apagou a luz sem pensar duas vezes.

 

— Tomando banho e relaxando. – o guitarrista riu divertido e Mikaru se perguntou se aquela era uma atividade frequente. Sabia que Takeo era excêntrico, mas não imaginou o quanto – Quer entrar também?

 

— N-não… eu tomo banho depois. – Mikaru ia sair do cômodo para dar privacidade ao amigo, mas o que veio a seguir o fez ficar no lugar.

 

— Ahhhh…. você está me frustrando, sabia? – Takeo resmungou se afundando na banheira, tocando os lábios na água e fazendo bolhas, na atitude mais infantil que conseguiu expressar no momento – Eu queria passar um tempo juntos, mas você só me chuta pra longe…

 

— Você só chega perto querendo sexo. Às vezes preciso de um tempo pra mim.

 

— Assim você me ofende, Hayato. Alguém de fora pensar isso eu até tolero, mas você sabe que não é assim. Nunca forcei nada, nem quando te pedi em namoro. Sempre esperei o seu tempo. Se você fala ‘não’ eu me afasto na hora. Eu sei que você também fica de saco cheio com as minhas brincadeiras, mas eu respeito você.

 

— Sinto muito… é que ultimamente você parece mais insistente que o normal e eu ando me sentindo cansado. – Mikaru chegou ali com a intenção de dizer que não poderia ajudá-lo com o trabalho e agora se sentia culpado por tê-lo magoado novamente. Não acertava nenhuma!

 

— Hm… por isso seria bom você vir pra cá. Eu posso te fazer massagem, a gente fica jogando conversa fora, podemos pegar um vinho. Você vai relaxar também. – Takeo tentou soar persuasivo e galante, mas logo emendou para não deixar margem às dúvidas – E não, não pretendo fazer sexo, ok? Pode relaxar agora ou tem alguma coisa que não quer me contar? Está chateado comigo?

 

— E tem como ficar? – se sentia envergonhado. Conhecia-o há tantos anos e mesmo assim o julgou mal por um momento – Posso lavar seu cabelo?

 

— Sério? – conseguia sentir o olhar de Takeo sobre si, mesmo na penumbra, acompanhado de seu tom de voz divertido – Claro!

 

Pegou o shampoo e o condicionador, colocando ao lado de seus pés no chão enquanto se sentava na borda da banheira. Izumi havia proibido banho junto, mas não havia dito nada a respeito de dar banho nele. Molhou os fios ruivos com cuidado, distribuindo o produto e iniciando uma massagem, e então tudo apagou.

 

* * *

 

Sentou-se na cama com um pulo, o olhar desnorteado percorrendo todo o ambiente à volta, sem ter noção de onde estava.

 

— Finalmente… você quase me mata do coração!

 

Takeo levantou-se da poltrona posicionada ao lado da cabeceira da cama, sentando no colchão à sua frente, lançando-lhe um olhar preocupado, os dedos acariciando sua face de leve.

 

— Eu… o que…

 

— Você desmaiou. Comentou comigo que estava cansado, mas não imaginei que fosse tanto. Como se sente?

 

— Estou bem. Acho que cochilei sem ver.

 

— Não mente pra mim, por favor. – Takeo se aproximou mais, envolvendo-o num abraço – Eu sou o cara que faz as piadas aqui. Preciso que você seja sincero.

 

— É que está acontecendo tanta coisa ao mesmo tempo… o problema na cafeteria, o serviço que vai acumular, além dos problemas que já tenho pra resolver por lá… – mas o pior de tudo era aquela troca. E sobre aquilo ele não podia desabafar.

 

— Não devia tentar resolver tudo sozinho. Já disse que pode contar comigo quando precisar. Eu não fico muito tempo no café, mas posso mexer na minha agenda pra ajudar um pouco. É isso que acontece quando se sobrecarrega.

 

— Desculpe…

 

— Vamos tentar de novo? – Takeo se afastou, erguendo-lhe o rosto para encará-lo nos olhos – Como se sente?

 

— Esgotado.

 

— Ah, muito bem! Bom saber disso. Próxima pergunta: consegue se levantar? Vamos pro hospital?

 

— Não precisa, é sério. – Mikaru segurou-lhe a mão, rezando para que o amigo não forçasse. Não queria ser internado – Só quero descansar um pouco, aqui na cama e com você por perto.

 

— Tem certeza? Pode ser só estresse e cansaço, mas e se for algo mais grave? Não é melhor garantir que está tudo em ordem?

 

— Tenho… acho que tenho. – emendou ao notar o olhar reprovador – Vamos esperar mais um pouco. Estou bem agora, mas se eu me sentir mal de novo, nós vamos. Prometo.

 

— Teimoso… eu não gosto de fazer o papel de responsável aqui, sabe? É você quem puxa a orelha.

 

— Vou me lembrar disso.

 

— Certo. Eu fiz a janta enquanto estava dormindo, quer comer um pouco? – Takeo levantou-se do colchão, estendendo os braços na direção do namorado – Posso te levar até lá, ou prefere que traga aqui?

 

— Eu posso ir andando…

 

— E eu quero te mimar! O que vai ser?

 

Mikaru sorriu envergonhado, estendendo os braços para ser levado. Devia deixar Katsuya fazer aquilo algumas vezes, pensou enquanto se acomodava no colo de Shiroyama.

 

* * *

 

Só depois de ver a melhora na aparência do namorado e colocá-lo para dormir de novo é que Takeo respirou aliviado. Voltou para a sala, pegando o celular e indo se acomodar na varanda, tomando o cuidado de fechar a porta ao passar. Não queria correr o risco de ser ouvido e aquilo não podia ser tratado por mensagem.

 

Alô?

 

— Aconteceu uma coisa muito estranha agora a noite. – Takeo olhou rapidamente para dentro do apartamento, conferindo se estava sozinho – Hayato apagou do nada. Ele se negou a tocar o piano mais cedo, manteve distância quando eu cheguei do trabalho e veio com um monte de desculpas sem sentido pra se manter longe. Achei que ele ia inventar mais alguma pra não tocar depois do jantar, como tínhamos combinado, até pensei que o desmaio fosse fingimento, mas analisando agora, acho que ele se pressionou demais e não aguentou.

 

Realmente estranho… porque aqui aconteceu quase a mesma coisa, mas já tem algumas horas. Mikaru desmaiou, mas logo voltou a si, um pouco desnorteado, mas fora isso pareceu bem.

 

— Você está com ele?

 

Sim, estou. Achei melhor não deixá-lo sozinho. Mais cedo pedi pra ele me ajudar num trabalho da faculdade. O mesmo que ele me ajudou uns meses atrás. Ele não deu nenhum sinal de ter se lembrado das questões e nem pegou pra resolver na hora. Mikaru nunca deixa trabalho pra depois.

 

— E com a memória que ele tem, era de se esperar que ele lembrasse…

 

Isso mesmo. Ah, mais uma coisa! Eu não tinha reparado com atenção antes, mas Izumi-san tem a mania de ficar cutucando o lábio, não tem?

 

— Sim, ele fica puxando quando está nervoso. Mikaru está fazendo isso?

 

E com bastante frequência. – Katsuya estava preocupado mas também aliviado por não ser algo de sua cabeça. Takeo estava passando pelos mesmos problemas com Izumi – Durante uma conversa a tarde, eu dei a entender que ele está diferente e Mikaru insinuou algo sobre não ser ele mesmo.

 

Conversaram mais algum tempo, comentando outros pequenos detalhes que antes deixaram passar, mas que agora ficava visível conforme observavam com atenção. Ambos concluíram que os namorados estavam com as personalidades trocadas. Se Hayato e Mikaru estavam conscientes disso é que não sabiam ao certo.

 

— Ah, só mais uma coisa, Katsuya… posso fazer uma pergunta pessoal?

 

Não vai implicar comigo de novo, vai?

 

— Talvez… – o guitarrista riu baixinho, fazendo silêncio durante um instante para causar suspense – Mikaru não gosta de apelidos, mas usa com algumas pessoas em especial, como eu. Ele é um dos poucos que me chama de Shiro. Agora me diga, você tem um também?

 

E se tiver?— resmungou amuado, sem nenhuma intenção de contar qual era.

 

— Bom, enquanto estava dormindo, Hayato chamou um nome e não era o meu. Quer adivinhar qual era?

 

Katsuya não respondeu de imediato, mas um nome lhe veio à mente. Não tinha como Izumi nem Takeo saberem, afinal Mikaru só usava quando estavam sozinhos. Nenhum dos dois havia contado ao casal de amigos. Nem seus pais sabiam! Ele por achar especial e querer guardar somente para si e Mikaru por vergonha de contar aquele tipo de coisa em público. Se Takeo havia descoberto, então era Mikaru quem estava com ele, e não só as personalidades dos dois que estavam trocadas.


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Notas finais do capítulo

Aí você me pergunta - Mas é uma história de comédia, isso está ficando tenso! Cadê a piada do capítulo? E eu lhe digo: Imagina Takeo saindo da banheira, correndo, com a cabeça cheia de espuma pra socorrer o namorado. Sem mais.



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