Em seu lugar escrita por Aislyn


Capítulo 16
Abdução - parte I


Notas iniciais do capítulo

Quase 3 meses depois... '-'

Minhas notas no capítulo passado foram ignoradas, ou os fantasmas não aprenderam a psicografar -q
Aí tem que continuar pelos poucos que ainda acompanham (ou não...).

Boa leitura!



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Depois de toda a correria na cafeteria, além dos momentos de tensão em casa com a investida de Katsuya, Hayato decidiu tirar o restante da tarde e o dia seguinte para descansar, só saindo para ir à cafeteria acompanhar o começo da reforma. Fazia muito tempo que não deitava para dormir sem hora de levantar, mas por esses tempos não estava conseguindo aproveitar o sono. A cama de Mikaru era confortável, mas não era a sua. Não tinha o namorado do lado para dormir abraçado e os travesseiros extras nunca poderiam ocupar aquela vaga.

 

Com as forças renovadas e a cabeça fresca e no lugar, Hayato começou a se incomodar com o silêncio. Katsuya não havia ligado ou mandado mensagem, coisa que fazia todos os dias, às vezes até mais de uma vez ao dia, e Mikaru também não havia entrado em contato. Não devia ter acontecido nada sério, caso contrário teria sido avisado, por outro lado, sabia que ninguém gostava de incomodar Mikaru a não ser que fosse realmente necessário.

 

Pegou o celular do empresário e discou para o próprio número, se acomodando no sofá enquanto esperava ser atendido, bem lá no fundo torcendo para Takeo atender novamente a ligação.

 

O que você quer?

 

— Se fosse o Katsuya ele teria percebido que não sou eu. Isso é jeito de atender o telefone, Mikaru?

 

Ele te liga essa hora da manhã e do meu celular? Além do mais esse é o horário que ele está trabalhando.

 

— Que azedo… Ele não me liga, mesmo porque eu também estaria na cafeteria. Mas poderia ser outra pessoa ligando.

 

Eu sei olhar o nome no visor.— Mikaru apontou o óbvio de má vontade – Aparece um ‘Loiro Aguado’ na tela. Sem falar que você não recebe muitas ligações, então só estou ignorando todas.

 

— Desculpe por isso. Eu devia ter trocado o nome, mas sempre me esqueço. E você também não recebesse muitas ligações… Imaginei que o pessoal da sua empresa não te desse sossego.

 

O celular corporativo está desligado, caso contrário você já estaria louco. Eu sempre desligo quando saio de lá, e como trocamos durante a noite, você não o ligou novamente.

 

— Ah… bom saber. E como andam as coisas por aí?

 

Tranquilas, na medida do possível. Shiro parece chateado comigo. Ele tentou me pressionar pra tirar respostas. Achou estranho a situação que nos viu no café. Tive que mentir pra ele.

 

— Mas não brigaram, não é? Acha que dá pra concertar?

 

Sim, acredito que sim. Talvez você consiga mais facilmente quando voltar. Ele não gostou de saber que nós dois fizemos uma aposta. E aproveitando, se ele perguntar, confirme essa história, não precisa dar detalhes. Só fizemos.

 

— Entendi. E já que estamos falando dos namorados, Katsuya não é fácil, hein!

 

— Em que sentido?

 

— Quando eu cheguei em casa, ele me abordou todo preocupado pra saber como eu estava, comprou o almoço pra gente e quando a situação acalmou, ele me abraçou por trás, insinuando que estávamos sozinhos.

 

— Ele o que? E aquela história de cada um em um canto do sofá?! Eu te avisei pra não baixar a guarda! Achei que estivesse mantendo a distância!

 

— Eu estava! Estou! Por isso disse que ele não é fácil! Achei que ele fosse mais comportado, mas veio com sussurros pra cima de mim e…

 

Izumi, fique longe dele!

 

Hayato arregalou os olhos mas depois tentou conter o riso, pois não esperava aquele tipo de reação de Mikaru. Pelo menos tinha comprovado que ele gostava mesmo de Katsuya.

 

— Eu estou tentando. Vou me esforçar mais de agora em diante! E vo-

 

Droga, Shiro chegou.— e desligou sem se despedir.

 

* * *

 

Mikaru jogou o celular de lado, pegando a revista que antes estava no colo, começando a ler uma notícia qualquer. Por pouco não continuou a conversa, correndo o risco de deixar Takeo ouvir o que falavam. Não escutou quando ele abriu a porta, mas por sorte estava atento e conseguiu ver a sombra de uma movimentação na entrada.

 

— Cheguei! Como foi a manhã? – Takeo se jogou no sofá ao lado do namorado, pegando-lhe a mão e encarando-o com um sorriso. Talvez a história de abdução não fosse tão absurda assim. Conseguiu ouvi-lo brigando quando adentrou o apartamento e, pior, gritando o próprio nome no processo. Alguma coisa estava mesmo errada.

 

— Foi tranquila. Nada de mais. – Mikaru tentou sorrir de volta, mas estava se forçando tanto ultimamente, que sentia as bochechas doendo. Não aguentava mais aquela rotina – E você? Como foi o trabalho?

 

— Foi bom. Ah, aproveitando o momento! Pode me ajudar com um arranjo?

 

— Arranjo? Acredito que sim.

 

— Ótimo! Vem comigo! – Takeo levantou num pulo, puxando o namorado junto no processo, arrastando-o até a sala de música que haviam improvisado em casa – Uma amiga da escola vai tocar numa apresentação, mas está achando um trecho meio confuso e errando muito. Ela sabe que você também toca piano e me perguntou se não podia ajudar. O que acha?

 

— Ah… agora? – oh, merda! Era daquele tipo de arranjo que ele estava falando?! Não aprendeu a tocar nem flauta quando estava no fundamental e era o instrumento básico que pediam nas aulas de música! Não por falta de interesse, mas por já ter problemas respiratórios. Estava bem encrencado.

 

— Ia fazer alguma outra coisa? – Takeo encarou-o pedinte e cheio de expectativa, mas Mikaru sabia que não podia ceder. Na verdade não podia tocar!

 

— Não, mas é que está desafinado. Não toquei por esses dias, a cafeteria estava tomando tempo… talvez precise praticar um pouco antes…

 

— Você está sendo modesto! Mas afiná-lo seria bom. Então mais tarde? Depois do jantar?

 

— Ah, sim! Claro! Acho que está pronto até lá. – se dependesse dele, até mais tarde teria uma desculpa melhor – Não tem mais aulas hoje?

 

— Só mais uma, mas ainda tenho tempo e como é perto, resolvi vir revisar um material. – Takeo pegou o celular, conferindo as horas e digitando algo rapidamente, devolvendo o aparelho ao bolso – A aluna já confirmou por mensagem.

 

Mikaru sorriu sem graça, apenas acenando e concordando para os comentários. Fingiu estar mexendo no piano por um instante, como se fosse mesmo começar a afiná-lo, torcendo para que Takeo não demorasse a sair e, quando aconteceu, voltou apressado para a sala para ligar para Izumi.

 

Oi, Takeo já saiu? Quanto ao Katsu, eu-

 

— Ele quer que eu toque piano!

 

Droga…— aquela simples afirmação explicava muita coisa. Mikaru estava muito ferrado e ele também.

 

— O que eu faço? Pensei em arrebentar algumas cordas e-

 

Não! — Hayato gritou desesperado, lamentando o estado em que encontraria seu instrumento – Faça qualquer outra coisa, mas fique longe do meu piano!

 

— Que outra coisa? Shiro quer que eu toque hoje à noite! Disse que é pra ajudar uma colega de trabalho ou algo assim.

 

Isso! Use isso de desculpa, reclame com ele, finja que está com ciúmes dessa colega!

 

— Mas eu não estou! Só quero tirar meu pescoço da forca! Se fosse para discutir por algo assim eu  deveria ter feito quando ele deu a notícia.

 

Droga… verdade… — Hayato beliscou o lábio, andando de um lado para o outro – Vejamos… diga que isso o incomodou a tarde toda e só agora achou melhor falar a respeito, para não atrapalhar o serviço dele. O que acha?

 

— E se ele não cair na conversa e não brigar? Ele pode confirmar que a moça é casada ou sei lá, e não dar corda pra discussão. Se eu estragar o pia-

 

Não!

 

— Eu te compro um novo depois!

 

Eu disse não! Se tem um pingo de consideração pelo seu relacionamento com o Katsuya e pela amizade com o Takeo, você não vai por as mãos no meu piano!

 

Mikaru não sabia até onde podia levar aquela ameaça à sério, mas prezava muito a amizade com Takeo e também gostava do namorado, mais do que se permitia assumir.

 

— Eu vou contar a verdade pro Shiro…

 

Junai!

 

— O que?

 

Junai, o meu gato. Você disse que ele te estranhou da outra vez que se aproximou. Brinque com ele de novo quando Takeo estiver por perto. Mas não o machuque, entendeu?

 

— Ele vai acabar comigo!

 

Você só precisa ganhar uns arranhões nas mãos.

 

— Tem noção do quanto isso dói?

 

É isso ou aprender a tocar. Quer que eu vá te dar uma aula?

 

— Por que não contar a verdade? Shiro está desconfiado de algo…

 

Pensei que tivesse vergonha de estar no meu lugar. Vamos tentar não contar, por enquanto. Assim não precisa se expor.

 

— … ok, obrigado. – Mikaru agradeceu a contragosto, mas realmente não queria que o vissem daquela forma.

 

Estar no lugar de alguém que não gostava, onde poderiam zombar e rir de si era deprimente e vergonhoso. Queria evitar, se fosse possível e estava conseguindo até agora, então por que não tentar mais um pouco? Seria doloroso, poderia se machucar a sério e deixar o gato bastante irritado consigo, mas era isso ou tocar. Contar a verdade não era uma opção.


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Notas finais do capítulo

Continua...



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