Liawë escrita por Vaalas


Capítulo 5
Capítulo V ― Freya


Notas iniciais do capítulo

nem vou comentar meu atraso, porque né ajsdnajnda.
boa leitura



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― Sinto que as coisas tenham que ser assim. ― falei, embora não fosse uma verdade completa ― Você poderá voltar para casa assim que meu emissário retornar de Froster. Ele lhe escoltará com segurança até a fronteira, para evitar que isso ― apontei para seu ombro ― se repita.

O elfo inclinou-se para frente, as mãos presas por algemas de gelo, e cuspiu aos meus pés. Recuei para longe e continuei, ignorando-o.

― Não lhe faltará comida nem segurança aqui. E tentarei... ― trinquei os dentes ― bem, tentarei deixar esse quarto o mais quente possível.

Ele me olhou com zombaria por baixo das mechas de cabelo dourado que caíam em seu rosto. Havia tanta vaidade e orgulho em elfos, mesmo que houvesse conhecido poucos até então. Quase conseguia ler seus pensamentos, claros em sua expressão: ele não queria nada que viesse de mim.

― Liawë. ― disse, antes que eu me retirasse do quarto. ― Só queremos a árvore, nossa árvore. Fique com os Dedos, com o palácio e com sua vida. Apenas devolva Liawë.

Virei-me para ele, sentado na beira do colchão. Os cabelos dourados embaraçados e compridos, na altura do ombro, os olhos de um verde musgo cheios de dias de sol e calor, com orvalho e grama e campos abertos cravados no canto da boca. Ele não entendia nada, e eu não podia culpá-lo. Não podia culpá-lo por não entender como as coisas funcionavam naquelas terras.

― Vejo-o mais tarde.

Saí e fechei a porta atrás de mim, deixando-o sem respostas. Antes de virar o corredor, no entanto, derreti as suas algemas e as camadas de gelo que prendiam suas botas ao chão ― não havia perigo nenhum com ele onde estava.

Na hora do jantar, pedi a um espectro de uma represa há muito congelada que guiasse-o até a sala de refeições. Não havia como encontrar saída em meio ao labirinto que era o interior cavernoso dali, então sabia que ele não teria como fugir ― ele também parecia saber.

Quando sentou-se do outro lado da mesa, com uma linha rebelde pendendo dos lábios, pedi que trouxessem a comida. Coxas de cordeiro com molho de laranja, tortas de carne de pombo com gengibre, bandejas de legumes salteados e jarros com cerveja preta e vinho. Havia bandejas com bolo de limão e doce de cereja, meus preferidos.

Encarei-o, esperando que se servisse, mas o elfo não moveu um músculo para fazer o que quer que fosse. Servi-me de uma taça de vinho.

― Meu nome é Freya, não Bruxa de Gelo. ― contei-lhe, mais para quebrar o silêncio do que para qualquer outra coisa. ― Não sou bruxa do que quer que seja, pra ser sincera. Não bebi do sangue de ninguém, nem cacei sereias ou lancei feitiços para enfraquecer a magia do Sul. Sequer construí uma barreira em torno da sua árvore, ou Liawë, como vocês parecem chamá-la. Se a magia dela não alcança vocês, a culpa certamente não é minha.

Silêncio. Ele não iria dar trégua, a raiva contida brilhando em seus olhos.

― Ela nasceu nessas terras, sabe. Pertence ao inverno, ao norte apenas.

― É a nossa árvore sagrada há milênios ― finalmente alguma reação. ― Mesmo com a magia enfraquecida, recebíamos seu poder até cinquenta anos atrás, até a sua chegada. Três elfos antes de mim vieram até aqui e a confrontaram. Nenhum deles retornou. A culpa disso certamente não é sua também? ― estremeci ― Que fim tiveram eles, Bruxa?

Beberiquei o vinho da taça e senti meus olhos pesarem levemente. Aquele coração frio dentro do meu peito pareceu se apertar.

― Morreram. Eu os matei. ― olhei para a palma da minha mão e desejei que o gelo recuasse. ― Eles tocaram em mim, ou estiveram por perto quando meu poder se desequilibrava. Não desejei matá-los, mas o fiz, e peço perdão por isso e nada mais. ― levantei o rosto para encará-lo e suspirei. ― Tudo o que eu toco eu devolvo à terra de Arwan, filho do sol. Tudo o que eu toco eu transformo em gelo, e todos os elfos antes de você cometeram o erro de me deixar tocá-los.

Houve um momento de silêncio que parecera uma eternidade, apenas ele me encarando e eu o encarando de volta. Estava frente à frente com um ser imortal, com uma magia no sangue diferente da minha. Era milenar, antiga como o continente, hereditária e brilhante. Eu reconhecia seu poder, sabia que era forte. Ali, porém, eram os Dedos. As Terras Frias, minha terra e terra de meu deus. Aqui tudo que nasce do gelo é mais forte, mais bruto e mais poderoso.

Levantei-me da cadeira.

― Não há veneno, feitiços ou o que quer que seja na comida, então você deveria comê-la. Deixarei algo no seu quarto para você cuidar... disso ― apontei com o queixo para seu ombro, onde sabia que a mordida do lobo latejava sob as vestes de manga. ― E amanhã cedo lhe levarei até Liawë, para que você entenda um pouco mais do que lhe disse.

O elfo me encarou duramente quando me retirei da sala ― levando comigo nada mais que um pote de doce de cereja ―, mas, novamente, ignorei-o. Não havia o que fazer com ele enquanto não pudesse mandá-lo embora, e, pela primeira vez em quase duas décadas, havia um ser feito de calor para conversar, por mais que ele fosse feito de vaidade, orgulho e teimosia.

Eu um dia fora filha do verão como ele, embora às vezes esquecesse disso. Levei uma colher do doce de cereja aos lábios, enquanto andava pelos corredores, e notava que tudo era diferente quando eu ainda sentia o frio.


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Notas finais do capítulo

Se alguém ainda lê isso, saiba que vou postar um capítulo novo todo dia agora dausdnajnsd E vou programar, caso meu computador quebre de novo. Só para não correr riscos.



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