Through Outsider's Eyes escrita por Mychelle_Wilmot


Capítulo 3
Nyota Uhura


Notas iniciais do capítulo

Gente, não desisti dessa história não viu haha, mas o progresso está sendo devagar.



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Nyota Uhura amava seu trabalho, mesmo em seus momentos mais estressantes.

Ela amava a oportunidade de conhecer tão de perto o desconhecido, amava a ideia de ser a pessoa a abrir uma linha de comunicação entre a Federação e uma nova cultura. Trabalhar na Enterprise era um sonho, e todos os dias traziam novos desafios que eram bem recebidos por Nyota.

Mas mesmo amando sua rotina de trabalho, Nyota sabia apreciar um dia de folga quando eles vinham.

E esse dia em particular veio em boa hora. A nave havia passado por missões difíceis nas últimas semanas, e não havia um único membro da tripulação que não estivesse esgotado e em necessidade de um tempo livre. Nyota havia visto até mesmo o Comandante Spock parecendo estar menos estoico do que o normal, e certamente aquilo parecia um sinal de alerta.

Talvez o Capitão houvesse notado isso e também se sentido alarmado, pois não muito tempo depois ele anunciou uma licença geral em um planeta a apenas algumas horas de distância, para alívio geral de todos a bordo.

Foi assim que Nyota se encontrou onde estava agora; caminhando tranquilamente pelas ruas do planeta, usando as roupas civis que tão raramente usava, Christine a seu lado.

Christine também estava fora de seu uniforme, usando um vestido verde com detalhes azuis, enquanto Nyota usava um vestido floral em tons de rosa e preto. Ela estava feliz ao seu lado, feliz de um modo que ela não vira a amiga ser a muito tempo, e a visão fazia um peso se levantar do peito de Nyota.

Para ajudar a melhorar ainda mais seu humor, o planeta onde estavam era ótimo para um dia de folga. O planeta era na verdade uma colônia habitada predominantemente por humanos e Andorianos, que haviam preparado uma bela recepção para eles que incluía comida fresca - o que era uma benção depois de meses comendo alimentos de um replicador - e um comércio local, ministrado em maioria pelos Andorianos, mas com a participação de alguns humanos também.

Para completar ainda mais, além da parte urbana havia uma área com florestas e rios e vasta vegetação, livre de substâncias venenosas ou animais perigosos.

Nyota não se importaria em passar uma semana ou duas ali. Ou um mês.

Não que ela achasse que a folga duraria tanto assim, mas ela estava disposta a conseguir o máximo de tempo livre que pudesse.

Elas estavam passeando no comércio local, sem estar a procura de algo específico quando elas ouviram um som familiar.

— Acho que está vindo de lá - Christine apontou para uma barraquinha, e elas seguiram a direção do som.

Para o encanto de Nyota, ela estava certa; no centro da barraquinha havia alguns gatinhos terrestres ainda filhotes, de várias cores diferentes.

— Eles são adoráveis - Christine estava sorrindo, e se abaixou um pouco para vê-los melhor - Qual é a idade deles?

— Eles têm 60 dias - respondeu o homem que estava na barraca - A castração de algumas gatinhas de um dos colonos falhou, e o resultado foram esses filhotes aqui.

— Vocês estão doando todos? - Christine perguntou, já agradando a cabecinha de um deles.

— Dentre esses aqui, sim. Vamos ficar com alguns, mas infelizmente não podemos ficar com todos. Poderia causar desequilíbrio com os outros animais nativos do planeta, não podemos arriscar - o homem disse em tom de desculpas.

Christine olhou para Nyota, um olhar em seu rosto que ela logo reconheceu; era um indisfarçado afeto, uma imediata afinidade com os felinos que Nyota podia simpatizar, pois ela também se apaixonara pelos gatinhos.

Elas não podiam levar muitos, é claro; pets nem sequer eram moradores bem vistos em naves estelares, mas o Capitão Kirk podia ser um homem leniente e Nyota sabia que ele permitia pets se eles ficassem restritos aos alojamentos ou em companhia de seus donos.

Nyota também olhou para Christine, sorrindo um pouco; seria bom adaptar sua vida para ter um novo companheiro de quatro patas.

 

***


       – Eu não tenho certeza se deveríamos ter pegado esse terceiro gato - Christine disse - Não deveríamos dar um gato de presente para alguém sem saber se a pessoa quer ter um.

Nyota e Christine estavam de volta na nave; elas haviam decidido que cada uma pegaria um gatinho. Nyota sabia que os outros logo seriam adotados, pois parte da tripulação já olhara para a direção dos gatinhos com interesse.

Nyota escolhera um lindo filhotinho macho e cinzento, e Christine escolhera uma gatinha branca; elas haviam pego os animaizinhos e estavam prontas para voltar para nave, quando Nyota tivera uma ideia.

Havia um único gatinho preto entre os filhotes, e Nyota se lembrou da vez em que aquele estranho senhor encontrara a Enteprise no século XX, juntamente a sua gata - o modo como disseram que o senhor Spock parecera se entrosar bastante com o animal. Aquela gata era muito parecida com esse filhotinho, e Nyota não pode tirar a ideia de presentear seu colega com um companheiro.

— Eu sei, mas perguntar acabaria com a surpresa - Nyota justificou para Christine - Eu não faria isso com outra pessoa, mas eu sei que o senhor Spock vai ser sincero o bastante para me dizer se ele não quiser essa responsabilidade. Se for o caso, eu posso ficar com ele também - Nyota disse, olhando para o gatinho dormindo tranquilamente dentro da caixinha de transporte; ela já havia deixado o seu gatinho cinza dentro de seu alojamento, assim como Christine havia deixado a sua em seus aposentos.

Christine balançou a cabeça, não concordando totalmente, mas vendo que Nyota estava certa sobre Spock não fazer questão de poupar os sentimentos de ninguém para ser sincero.

— Você sabe onde ele está? - Christine acabou por perguntar.

— Eu perguntei para o tenente Hawk enquanto você foi levar sua gatinha para seu quarto, e ele disse que o senhor Spock estava nos seus aposentos, junto com o Capitão.

— No meio da nossa licença? - Christine perguntou, erguendo as sobrancelhas.

Nyota deu de ombros.

— Cada um com seus hábitos.

Christine sorriu um pouco, e Nyota ia comentar que aquilo nem era tão estranho para o senhor Spock quando ela se lembrou da conversa que tivera com Pavel, e que não mencionara para Christine, e ela riu.

— Isso me lembra de algo que o Pavel me falou no mês passado.

— Por quê? - Christine perguntou.

— Ele esteve naquela missão de campo com o Capitão e o Comandante Spock, onde eles foram atacados, e ele me disse que observou os dois de perto. E ele me disse… que ele acha que o Capitão e o Comandante estão envolvidos.

Christine ergueu as sobrancelhas.

— Envolvidos?

— Sim, romanticamente envolvidos - Nyota balançou a cabeça - Eu disse pra ele que era uma ideia absurda, mas ele parece estranhamente convencido para mim.

Nyota riu um pouco diante da insistência do amigo, mas quando ela se virou para Christine, viu que ela parecia pensativa.

— Eu não sei se é uma ideia tão absurda assim.

Nyota subitamente parou de andar, uma expressão chocada em seu rosto.

— É claro que é absurda! Christine, por favor.

Christine franziu a testa.

— Eu só quero dizer que eu entendo porque o Pavel pensa assim. Pessoalmente, eu vi algumas interações entre eles que me fez pensar que há mais que amizade entre os dois. Por que você acha que seria uma ideia tão absurda assim?

— Bem, pra começo de conversa, estamos falando sobre Spock. Ele não é conhecido por ser um galã, Christine. E o Capitão é humano, e pelo que conheço de Vulcanos, eles são bastante rígidos na escolha de um parceiro.

— A mãe do Spock é humana - Christine cruzou os braços.

— Mesmo assim - Nyota balançou a cabeça - Mesmo que tudo isso não importe para ele, eles são o topo da nossa cadeia de comando na nave. Há regulamentos proibindo esse tipo de romance entre oficiais da importância deles, e eu não vejo o senhor Spock ignorando esse tipo de regra tão fácil.

Christine deu de ombros.

— Romances proibidos tem seu charme.

Nyota revirou os olhos. Não que ela não concordasse com o sentimento ou que ela se importasse com o que o Capitão e o Comandante faziam nas horas vagas; ela só achava que Spock não compartilharia da mesma opinião.

Elas voltaram a andar, e quando elas se encontraram na frente dos aposentos do Comandante. Christine apertou a campainha, enquanto Nyota segurava a caixa com o gatinho.

Não demorou para que a porta fosse atendida.

— Tenente, Enfermeira. Posso ajudá-las?

Fora Spock que atendera a porta. Ele tinha em seu rosto sua habitual expressão neutra, mas havia algo de diferente nele; ele estava sem uniforme, usando apenas a camiseta preta usada embaixo do uniforme.

Nyota ficou muda por alguns instantes – não era comum ver Spock daquele jeito.

— Tenente? - Spock voltara a perguntar.

— Sim, me desculpe senhor - Nyota disse, se recuperando do choque - Eu só… eu estive na superfície do planeta até agora, e eu queria dar ao senhor um presente, se o senhor desejar.

As sobrancelhas de Spock se ergueram em sua testa; ele parecia intrigado.

— Vocês podem entrar - Spock ofereceu, abrindo espaço para elas entrarem.

Nyota entrou, Christine muda a seu lado; Spock entrou também, a porta se fechando atrás dele.

No quarto estava também o Capitão. Ele estava sentado a uma pequena mesinha, um tabuleiro de xadrez 3D a sua frente.

— Uhura, Chapel - o Capitão as cumprimentou com um sorriso amistoso - Está tudo bem? O que trás vocês aqui?

— Sim, senhor - Nyota disse - Viemos trazer um presente ao senhor Spock, se ele aceitar.

— Eu admito estar curioso em saber por que eu hesitaria em aceitar um presente, Tenente. Seria desnecessariamente indelicado da minha parte.

Spock estava diante delas agora, olhando curiosamente para a caixinha nas mãos de Nyota.

— Por que não é um presente ordinário, que não dará trabalho ao senhor. Não hesite em me dizer se será um problema.

Nyota entregou a caixinha para Spock, e ficou atenta para as expressões dele.

Embora sempre houvesse muita neutralidade na maneira que Spock se apresentava, havia alguns maneirismos de expressão que Nyota se acostumara a ver em seu rosto e que ela via agora, com suas sobrancelhas erguidas e a boca levemente aberta.

— Spock, o que é? - o Capitão disse, se levantando.

Spock abriu a caixinha de transporte, e tirou o gatinho de dentro dela. O gatinho havia acordado agora, e bocejou quando Spock o pegou em seus braços.

— Admito que ele é adorável - o Capitão disse - Onde você o achou, Tenente?

— Na colônia, havia um morador doando alguns gatinhos - Nyota explicou - Eu adotei um e Christine também, e eu me lembrei daquela missão que tivemos no século XX, e daquela gata que ficou por algum tempo com o senhor Spock. Eu imaginei que talvez o senhor pudesse querer ter a experiência completa.

Nyota se virou então para Spock, sorrindo um pouco diante da cena; o gatinho já ronronava contente em seus braços. Spock olhava para ele com aparente fascinação, até erguer seus olhos novamente para Nyota.

— Eu… agradeço, Tenente. E realmente, eu tenho certa fascinação por esse animal, mas eu devo confessar não estar completamente certo se eu sou capaz de cuidar de um felino em tempo integral. Eu nunca cuidei de um animal terráqueo, e eu não tenho certeza se sou capaz de fazê-lo.

Nyota tentou não demonstrar estar desapontada, pois afinal ela realmente preferia que o Comandante fosse sincero, mas antes que ela pudesse falar que não tinha problema, o Capitão se manifestou.

— Se o problema for esse, Spock, eu posso ajudá-lo. Meu irmão teve um gato por alguns anos, e eu entendo alguma coisa sobre eles.

Spock se virou para o Capitão.

— Jim, você está certo? Eu não gostaria de me impor.

— Você não está se impondo, Spock, eu estou oferecendo. E eu já simpatizei com ele.

O Capitão deu um largo sorriso, e Spock visivelmente relaxou, segurando melhor o gatinho em seus braços.

— Nesse caso, eu agradeço, Jim. Estou certo que será uma experiência fascinante.

O Capitão sorriu, e olhou para Spock, que também estava olhando para ele. Eles continuaram a se encarar, olhando um nos olhos do outro e parecendo se esquecer completamente que não estavam sozinhos.

Nyota olhou para Christine, que arqueou uma sobrancelha; ela sabia que ambas estavam se lembrando da conversa que tiveram minutos atrás.

O Comandante finalmente parecera se lembrar de que elas estavam no quarto, e virou-se para Nyota.

— Eu agradeço ao seu presente, Tenente. Ele será muito bem vindo.

— De nada, senhor - Nyota sorriu - Espero que vocês se deem bem.

Nyota, Christine e Spock começaram a andar em direção a porta, o gatinho ainda aninhado a Spock.

— Eu também espero que sim.

Spock abriu a porta e elas se despediram; antes da porta fechar, Nyota viu o Capitão andando na direção de Spock, ainda sorrindo.

Christine não dissera nada, nem Nyota; diante do nível inesperado de intimidade que ela acabara de testemunhar, ela estava reavaliando tudo o que ela pensara saber sobre seus oficiais comandantes.

Mas mesmo enquanto ela pensava e tentava encaixar tudo em sua cabeça, ela sorria um pouco; era sempre bom ver o amor vencendo barreiras que ela julgava serem impenetráveis.


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Notas finais do capítulo

Eu geralmente gosto de me manter fiel aos acontecimentos do canon, mas quebrei minha própria regra pra acrescentar gatinhos... é uma boa causa, não? :-)



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