Through Outsider's Eyes escrita por Mychelle_Wilmot


Capítulo 2
Pavel Chekov




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/708473/chapter/2

Servir a bordo da Enterprise era sem dúvidas a experiência mais excitante da vida de Pavel.

Os comentários a respeito da Enterprise sob o comando do .Capitão Kirk começaram quando Pavel era ainda um cadete. Ele se lembrava de seus colegas mais velhos e até alguns professores comentando sobre o primeiro comando de James Kirk, da fama de competência do misterioso Spock. A maior parte de seus colegas mais jovens sonhava em ter uma oportunidade de servir na nave.

Pavel também sentia certa fascinação pela nave. Seus quase impossíveis relatórios de missões, as histórias que ele ouvia sobre as aventuras de James Kirk fazia ele constantemente imaginar como seria servir especificamente sob esse capitão.

Quando Pavel teve a sorte de ser designado para servir na Enterprise, suas expectativas não foram frustradas. Muito pelo contrário; suas ambições de cadete não poderiam competir com a realidade diante de seus olhos.

O que lhe surpreendera, no entanto, foi à genuína camaradagem e amizade entre os tripulantes.

Todos eram ótimos profissionais, claro. Todos eram sérios e competentes em suas funções, mas no meio do profissionalismo havia espaço para amizade e alegria.

Isso fora uma preocupação que tivera a princípio - que talvez a tripulação fosse próxima demais, que talvez eles fossem fechados demais para abrir um espaço para um novato como ele. Mas isso logo se provou ser uma preocupação infundada, pois Pavel fora recebido de braços abertos por todos, especialmente por Hikaru e por Uhura.

Sendo assim, Pavel não conseguia pensar em um melhor início para sua carreira. Ele estava em uma das melhores naves da Frota Estelar, provando a todos e a si mesmo suas habilidades e ao lado de pessoas que ele já considerava amigas; sua vida era boa.

Mas mesmo a melhor das vidas tem suas dificuldades. Pavel sentia falta de seus amigos que ficaram na Terra, sentia falta de comer alimentos frescos, ele ainda tinha dificuldade para dormir naturalmente, desacostumado ao tempo dentro de uma nave, e ele tinha que passar várias horas semanais trabalhando ao lado do Comandante Spock.

Não era que Pavel não gostasse do senhor Spock. Era excelente trabalhar com ele, seu profissionalismo impecável, e para Pavel ele parecia ser alguém agradável o bastante de seu próprio modo; o problema de Pavel era que o senhor Spock o intimidava bastante.

Pavel sabia que era uma apreensão irracional. O senhor Spock jamais fora hostil com ele, bem pelo contrário, mas Pavel ainda não podia evitar se sentir hesitante quando eles trabalhavam sozinhos.

E agora, a cada segundo que passava, Pavel estava percebendo que essa hesitação também existia em missões de campo.

— Alferes, devo pedir novamente para que evite se distrair. As circunstâncias não são ideais.

— Desculpe, senhor.

Era para ser uma simples missão de verificação da superfície em um planeta não povoado. Era uma missão de rotina, apenas o Capitão, o Comandante Spock e Lenore – Tenente Atalar -, além do próprio Pavel.

Eles realmente já deveriam saber a essas alturas que missões de rotina não existiam na Enterprise.

Após apenas alguns minutos na superfície, eles descobriram que o supostamente despovoado planeta era na verdade povoado por formas de vida gasosa. Ou… algo parecido. Era difícil para Pavel dizer; ele não estava acostumado a ser perseguido por nuvens.

Mas perseguido ele foi, e não só ele como todos os outros membros da equipe. As formas de vida soltavam algum tipo de líquido tóxico, o que eles descobriram quando o Capitão fora atingido por um desses jatos, que rasgou sua camisa e formou imediatamente uma ferida feia em seu braço.

A partir dali o caos se instaurara; Pavel e Lenore tentaram atirar nos gases, e o único resultado que tiveram foi deixá-los ainda mais furiosos do que já estavam.

No meio do pandemônio, o grupo de separou para terem mais chances de sobrevivência, e de algum modo ele e o senhor Spock acabaram fugindo para o mesmo lado, sem nenhum sinal do Capitão ou de Lenore.

Seus comunicadores não estavam funcionando nem para chamar a nave ou mesmo para se comunicarem entre si, e apesar de aparentemente eles terem despistado os gases, Pavel quase podia sentir que eles ainda estavam ao redor.

Dizer que a situação deles não parecia promissora era não apenas redundante, mas estúpido.

Pavel estava assustado e um tanto estressado, e o Comandante estava calado, ainda mais sério do que o normal diante da gravidade da situação. Sem ter mais ninguém por perto, Pavel demorou longos minutos para fazer a pergunta que estava na ponta de sua língua.

— Senhor Spock, o que nós vamos fazer?

Spock não hesitara em responder.

— Nossa prioridade é localizar o Capitão e a Tenente Atalar, Alferes. Somente após estarmos em contato com toda a equipe podemos planejar alternativas de escapar da superfície do planeta.

Pavel permaneceu em silêncio; ele não via como conseguiriam localizar fácil o Capitão e Lenore em um planeta com uma superfície obviamente vasta.

Ele estava preocupado com o Capitão, é claro, mas ele não podia deixar de se sentir um pouco mais preocupado com Lenore – afinal eles eram amigos, desde os tempos de academia, e Lenore era uma novata na nave. Pavel não queria que a primeira missão de campo dela fosse a última.

— É improvável que o Capitão e a Tenente tenham conseguido se afastar mais do que nós conseguimos, Alferes. O Capitão está ferido, e a Tenente certamente teve seu progresso freado para ajudá-lo – o Comandante Spock disse, quase como em resposta direta a seus pensamentos - Eu prevejo que eles tenham buscado abrigo em algum lugar não muito diferente das cavernas que nós nos abrigamos.

Diante da menção das cavernas que eles se abrigaram por alguns minutos, Pavel quase sentiu falta delas - ao menos elas eram um abrigo certo e seguro, bem diferente da oposição direta que eles enfrentavam agora.

— Contanto que aqueles gases assassinos não apareçam de novo, é um bom plano, senhor.

— Temo que seja nosso único plano, Alferes - o senhor Spock disse, sem olhar para ele - Então é irrelevante ponderar em possibilidades fora do nosso alcance.

Pavel não tinha certeza se concordava - ele sempre gostou de reclamar, especialmente sobre coisas fora de seu alcance - mas ele achou melhor não comentar nada; o Comandante sabia ser duro se necessário, e Pavel não quis arriscar ser repreendido em um momento daqueles.

Mas apesar das dúvidas de Pavel, em alguns momentos eles confirmaram que o Comandante estava realmente certo. Perto da entrada de uma caverna estreita estava o Capitão Kirk e Lenore. O Capitão estava sentado no chão, debruçado sobre Lenore, que estava desacordada.

— Capitão! Você está bem? E Lenore, o que aconteceu com ela?

— Mais devagar com as perguntas, Alferes - o senhor Spock disse, passando por Pavel e indo até o Capitão - Jim, o que aconteceu?

O Capitão fez uma careta de dor, provavelmente por ter forçado o braço machucado; sem esperar que eles pedissem, Pavel fora até eles e cuidadosamente segurou Lenore, enquanto o senhor Spock ajudava o Capitão a se levantar, não conseguindo deixar de notar que a ferida em seu braço ainda sangrava.

— Tivemos que sair correndo o mais rápido possível - o Capitão começou - E ficou mais fácil depois que achamos essa caverna.

— E o que houve com a Tenente Atalar?

Pavel aguardou com expectativa o que o Capitão iria dizer, seu coração palpitando.

— Houve deslizamento de algumas rochas na caverna, e eu estava no caminho - o Capitão disse, sua voz mais baixa do que o normal - Eu não as vi, mas a Tenente viu. Ela me empurrou pra fora do caminho, mas acabou ferida.

Entrando um pouco em pânico, Pavel procurou alguma ferida em Lenore, algum sangramento maior. Felizmente, ele só achou alguns arranhões no rosto dela e sujeira - o ferimento era provavelmente mais leve do que o esperado.

Mesmo assim, ele se ajeitou melhor no chão para que a cabeça dela ficasse sobre o seu colo até ela acordar, ou até seus oficiais comandantes decidirem o que fazer - Pavel não se importava de ficar esperando enquanto isso.

Distraído com seus próprios pensamentos e preocupações, Pavel demorou a perceber que o Capitão e o Comandante estavam conversando.

— … você deve perceber que você não deve se responsabilizar pelos atos da Tenente, Jim. Especialmente atos heroicos como esse.

— Ela podia apenas ter gritado para eu sair do caminho. Agora ela está ferida, não sei quão gravemente, em um planeta hostil, onde não temos comunicação com a nave, e é tudo minha culpa.

— Após tantos anos convivendo com humanos, minha conclusão é que vocês não pensam claramente na hora do perigo, Jim. Não culpe a si mesmo. Eu duvido que a Tenente vá culpá-lo, e você também está ferido.

Pavel olhou para o chão, se sentindo um pouco estranho por estar testemunhando aquela conversa. Ele sabia que o Capitão e o senhor Spock eram amigos próximos - todos na nave sabiam disso - mas ouvir uma conversa particular, mesmo que sem querer, era estranho para ele.

— Isso não é nada, Spock.

Pavel não precisava estar olhando para o senhor Spock para saber que ele não acreditou - nem ele mesmo acreditou, considerando o pequeno gemido de dor vindo do Capitão.

— Seu braço vai precisar de atenção médica o quanto antes. Infelizmente, eu não posso saber quando esse logo chegará; estamos sem contato com a Enteprise.

— Spock… sempre há uma alternativa, nós dois sabemos disso. O que podemos fazer?

— Eu aprecio essa confiança, Jim, mas no momento estou sem ideias. Acredito que nossa única chance é tentar remodular nossos comunicadores, mas não sei ao certo como proceder.

A frase fez Pavel franzir um pouco a testa. A ideia de remodular comunicadores lhe soava familiar, quase como quando…

Pavel arregalou os olhos ao se lembrar, sabendo que aquela memória poderia muito bem salvar a vida deles.

— Senhor Spock, eu sei o que fazer! - Pavel disse em um impulso, erguendo a cabeça com um sorriso que se congelou quando ele olhou para o Capitão e o Comandante.

O Comandante Spock estava segurando o braço do Capitão não apenas com uma, mas com as duas mãos, uma suportando o peso por baixo enquanto deixava os dedos da outra tocarem levemente o local ao redor da ferida, como que examinando o estrago.

Não havia nada de errado com o gesto em si, mas a proximidade com que eles estavam sentados surpreendeu Pavel. A proximidade, e a quantidade de contato que Spock estava permitindo - não apenas permitindo, mas oferecendo; não era comum para o senhor Spock (ou qualquer espécie de telepatas que se comunicava por toque) permitir contato por um tempo tão prolongado.

A cena deixou Pavel tão confuso que ele se esqueceu do que estava falando, e só se lembrou quando o Capitão limpou a garganta.

— Se importa em dividir conosco então, Chekov?

— Sim, sim, desculpe, Capitão. Quando o senhor Spock falou sobre remodular comunicadores, me lembrou de um jogo que fazíamos na Academia.

— E no que consistia esse jogo, Alferes?

Pavel notou que o Comandante havia se afastado um pouco e havia tirado suas mãos do braço do Capitão Kirk, mas tentou não ficar encarando dessa vez.

— Nós tentávamos desmontar equipamentos como tricorders e comunicadores e tentávamos transformar eles em objetos mais primitivos, como rádios comuns, pensando em situações como essa. Era um bom modo de passar o tempo em algumas aulas de engenharia.

— Sua ideia, eu presumo? - o Capitão Kirk perguntou, estreitando um pouco os olhos.

— Sim, Capitão! Mas foi baseado em um jogo inventado por astronautas russos.

Pavel prendeu um sorriso, vendo o Capitão se esforçar para não revirar os olhos.

— Presumo que o senhor queira dizer que sabe como remodular um comunicador em algo útil para nós nesse momento? - o senhor Spock perguntou, uma sobrancelha arqueada.

— Ah sim, Comandante! Eu posso transformar eles em um rádio primitivo, primitivo o suficiente para não ser bloqueado pelo que quer que esteja bloqueando os comunicadores, mas que pode ser captado pela Tenente Uhura.

— Essas são ótimas notícias, senhor Chekov. O que você vai precisar para isso?

Pavel abriu a boca para responder, mas nesse momento ele sentiu que Lenore começou a se mexer.

— Lenore! Você está bem?

— Tenente, como você se sente?

Diante de sua pergunta e da pergunta do Capitão Kirk, Lenore ficou alguns segundos confusa, mas se recuperou depressa e começou a levantar.

— Eu estou bem, mas minha cabeça está doendo.

— Seus atos foram heroicos e apreciados, Tenente - o Comandante disse - Mas tome mais cuidado no futuro, para não sofrer o mesmo destino que você impediu que outra pessoa tivesse.

— Vou manter isso em mente, senhor - Lenore disse, com uma careta.

Vendo que ela parecia bem, Pavel sentiu um peso levantar de seu peito, e foi com muito mais entusiasmo que ele se virou para seus comandantes oficiais.

— Lenore pode me ajudar, senhores. Nós fomos colegas de classe.

— Ajudar com o quê, Pavel? - Lenore perguntou baixinho, olhando do Capitão para ele.

— A desmontar os comunicadores para a construção de um rádio primitivo, Tenente. Será nossa tentativa de comunicação com a nave.

Diante da explicação do senhor Spock, Lenore pareceu entender do que falavam.

— Eu entendo, senhor. Vou fazer o possível para ajudar.

— Certo - o Capitão disse - Vocês dois cuidem disso, então. Spock e eu vamos continuar tentando contato com a nave.

— Sim, senhor - Pavel e Lenore responderam ao mesmo tempo, e sorriram um para o outro.

Nos próximos minutos, Pavel ficou quieto, concentrado no trabalho que ele e Lenore faziam - mas em alguns momentos, ele não pode evitar lançar alguns olhares na direção do Capitão e do Comandante, e o que ele viu fez Pavel ter considerações que ele nunca tivera antes.

É claro que ele já sabia que o Capitão e o Comandante trabalhavam bem juntos - eles eram um dos duos mais competentes de toda a Federação - mas ele nunca tinha reparado nos detalhes do entrosamento entre eles. Ele também voltou a reparar na proximidade com que eles ficavam um do outro, ou o modo como um tocava o outro quase sem pensar, como em instinto… como se eles sempre fizessem isso. Isso e mais.

Franzindo a testa, Pavel continuou seu trabalho. Relacionamentos românticos entre dois oficiais no topo da cadeia de comando não eram bem vistas; Pavel não tinha certeza, mas achava que uma relação assim poderia até ser proibida. Ele tinha dificuldade em ver o senhor Spock indo contra um estigma tão grande.

Ele levantou novamente seus olhos; o Capitão estava ainda sentado ao chão, o Comandante ao seu lado. Eles estavam mexendo com seus próprios comunicadores, e o Capitão estava praticamente se apoiando contra o Comandante, que não esboçava desconforto nenhum com isso.

Pavel deu um pequeno sorriso; por outro lado, o simples fato do senhor Spock estar numa nave da Federação e não numa Vulcana, e de ter uma mãe humana já o tornava de certa forma um rebelde… não que ele jamais falar isso na frente do Comandante, claro.

Dando o ajuste final no seu agora rádio primitivo, Pavel deu um sorriso para Lenore e começou a tentar iniciar contato com Uhura, dando um pequeno sorriso ao pensar em qual seria a reação da tenente quando ele contasse para ela sobre suas novas desconfianças.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sei porque eu criei uma personagem original para esse capítulo, mas só sei que ela apareceu do nada e não quis saber de sair, haha

Comentários são sempre apreciados!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Through Outsider's Eyes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.