Embora ela não estivesse ciente disso, Christine fora a primeira pessoa a perceber conscientemente a tensão que existia entre o Capitão e seu primeiro oficial.

Apesar de não ter uma convivência tão direta com eles, a percepção dela fora mais rápida devido aos sentimentos que ela ainda nutria pelo Comandante Spock; como ela estava mais atenta ao comportamento dele em relação a ela, ela também estava mais atenta ao comportamento dele em relação a outras pessoas.

E naquela ocasião, fora impossível não notar o que estava bem diante de seus olhos.

Christine estava na enfermaria naquela ocasião, sozinha com só mais alguns enfermeiros - o Doutor McCoy havia ido para a superfície de Vulcano com o Capitão e o Comandante Spock, e ninguém da nave havia ainda recebido notícias sobre o que estava acontecendo.

Christine estava, naturalmente, preocupada - embora ela não soubesse todos os fatos do que estava acontecendo, ela sabia que o Comandante corria um sério risco de vida.

Ela gostaria de saber mais sobre a situação, de estar preparada para quando ele voltasse, mas a verdade é que Vulcanos ainda tinham muita relutância em compartilhar fatos médicos e anatômicos sobre eles com o resto da Frota Estelar, e o resultado era esse - ignorância em fatos médicos que Christine gostaria de ter dominância.

Christine teve tempo para meditar tudo isso, considerando que não havia internos na enfermaria e de que nenhum tripulante passara por lá. Christine estava até entediada, até o momento em que o doutor se transportou novamente para a nave… trazendo consigo um ensanguentado e desacordado Capitão Kirk.

— Doutor, o que aconteceu? - Christine perguntou, preocupada, se aproximando deles e tentando determinar o estado do Capitão. Ela sentiu que empalideceu quando não conseguiu detectar uma respiração nele.

— Senhorita Chapel, eu vou explicar tudo, eu prometo. Mas agora, por favor, só faça o que eu disser.

Fora o tom cansado, um pouco desesperado do Doutor que fez Christine não hesitar e deixar as perguntas para depois. O estado do capitão parecia estar crítico, afinal.

Ela trabalhou rápido ao lado do Doutor McCoy, os movimentos dele um pouco mais balançados do que o habitual, mas logo o Capitão reagiu, e lentamente começou a abrir os olhos.

— Spock… Bones? O que aconteceu?

Diante dos olhares inquisitivos que recebera, o Doutor McCoy se rendeu e começou a explicar o que havia acontecido.

Christine teve a certeza de que o doutor estava omitindo vários detalhes para ela, mas ela não se importou terrivelmente com isso - o que ele falou foi suficiente para fazê-la entender o que aconteceu.

Enquanto o Capitão já se levantava diante dos protestos do doutor, Christine não pode deixar de pensar no senhor Spock, e em como ele deveria estar nesse momento. Havia sua mente voltado ao seu estado normal? Havia ele percebido o que acontecera, ou estaria ele achando que o Capitão estava realmente morto?

Christine teve suas respostas pouco tempo depois, quando Spock em pessoa apareceu na enfermaria.

Enquanto ela observava o doutor tentando explicar a situação e o senhor Spock o interrompendo a todo instante, Christine não pode deixar de observá-lo.

Christine nunca havia visto ele daquele jeito. Seus ombros estavam curvados, seus olhos não olhavam realmente nos do doutor. Sua habitual expressão de indiferença e neutralidade não estavam presentes; só havia derrota estampado em seu semblante.

Era triste vê-lo daquele modo. Não parecia certo que alguém que se apresentava de modo tão inexpressivo como o senhor Spock carregasse tanta tristeza em seus ombros, Christine sentiu seu próprio coração palpitar em simpatia.

No entanto a miséria do Comandante não durou muito; o Capitão não o deixou sofrer por muito tempo, e logo apareceu diante dos olhos de Spock.

— Jim!

Ela não pode deixar de sorrir diante da cena. Por um instante ela achou que Spock fosse abraçar o capitão, pelo modo como ele quase o ergueu do chão. E o sorriso em seu rosto…

Christine nunca vira nada parecido com o alívio, com a pura alegria daquele sorriso.

Quando o doutor pediu que ela se retirasse, Christine se sentiu um pouco irritada, querendo saber mais sobre o que acontecera - mas ela entendia que era um assunto delicado entre eles, que simplesmente não a envolvia.

Sozinha com seus pensamentos, Christine não pode deixar de rever novamente em sua mente a reação de Spock ao rever o Capitão. Fora tão emocional, de uma maneira que ela jamais vira o Comandante ser. A felicidade em seu rosto, o jeito que ele dissera o nome do Capitão de um modo quase carinhoso, do modo que ela sonhou que um dia Spock pudesse se referir a ela.

Christine franziu um pouco a testa diante daquele pensamento. Era realmente esse o modo como ela imaginava Spock nos momentos em que ela permitia-se ter tolos devaneios sobre ele? Spock sorrindo para ela, segurando-a em seus braços, falando com ela com uma ternura que podia ser detectada por qualquer um?

Não foi preciso muita reflexão para que Christine percebesse que sim, era o que ela sonhara; todas as coisas que ela acabara de testemunhar Spock fazendo… para o Capitão.

Christine estava ciente de que ela talvez estivesse lendo demais naquilo, e projetando seus próprios sentimentos. Talvez não houvesse nada entre eles além de pura amizade; certamente não seria estranho que um homem reagisse daquela maneira diante do alívio de ver seu melhor amigo vivo.

Não seria estranho para um homem humano, mas para um Vulcano… era no mínimo suspeito.

Balançando a cabeça, Christine voltou para suas obrigações. Embora parte dela se sentisse triste de que Spock não tivesse se apaixonado por ela, a outra parte estava feliz de saber que Spock não passaria a vida sem experimentar a riqueza que um amor bem vivido podia trazer para uma vida.

Capitão Kirk era um homem de sorte, e Christine só esperava que ele estivesse ciente disso.