O Labirinto escrita por Bia de asa


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Quando comecei a escrever O Labirinto planejei como um conto dividido em três partes: O Labirinto do pesadelo, O Labirinto da angústia e O Labirinto da morte. Planejei cerca de cinco capítulos cada e, ainda nesse contexto, hoje postarei o último capítulo da primeira parte. A segunda parte vem com mais seis capítulos e a terceira ainda estou escrevendo. Espero que estejam gostando. Até.



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Depois de eu explicar seis vezes a Castiel a utilidade dos Bluetooth como GPS, ele finalmente entendeu, mas não pareceu ter fé de que meu plano ia dar certo.

    — É melhor do que sair procurando sem rumo — tentei convencê-lo.

    — Ainda estamos sem rumo. — Ele desanimou.

    — Por que você não acredita que irá dar certo?

    — Por que isso é bizarro!

    — Não é bizarro.

    Tirei meu celular do bolso e conectei meu dispositivo a Aiko como fazia a cada dois minutos. Veio o aviso: “Falha na conexão. Verifique se o outro dispositivo está com o Bluetooth ativado”.

    Li a mensagem novamente e parei de andar. Era isso mesmo ou estava lendo errado?

    — Castiel — murmurei, mas ele ouviu.

    — O quê? — Ele fitou o celular em minhas mãos. — Não me diga que você enviou uma música a Aiko? — ele disse com escárnio.

    — Mais ou menos. Olha.

    Lhe mostrei o aviso na tela do celular.

    — Qual a novidade dessa vez?

    — Aqui diz: “Verifique se o outro dispositivo está com o Bluetooth ativado”.

    — E?

    — Antes dizia: “Verifique se o outro dispositivo está na área de alcance”. — Sorri. — Estamos perto.

    — Me deixa ver se entendi. Agora seu celular diz que o Bluetooth do Aiko está desligado, mas não diz que está fora de alcance.

    Seu rosto se iluminou e ele me lançou um olhar travesso. Logo compreendi e saímos correndo pelo corredor que se estendia.

+++

— Aiko! — Já era a terceira vez que eu gritava seu nome, mas ele não respondia. Meu celular não dizia que ele estava longe, mas então onde ele estava?

    — Julia! — Castiel também tentava encontrar alguém, mas sem resultado.

    — Traída pelo Bluetooth — resmunguei derrotada.

    — Você ouviu isso? — Castiel perguntou.

    — Isso o quê?

    Fizemos silêncio e meus ouvidos captaram um grito ao longe.

    — Parecia o Henrico! — eu disse.

    — Pela esquerda, vamos!

    Dessa vez Castiel foi à frente, correndo. Não foi preciso ir muito longe para ver meus outros amigos em apuros.

    O corredor no qual entramos era frio, muito frio e escuro. Enxerguei o rosto de Henrico com a luz da lanterna. Ele estava paralisado de medo.

    — O que aconteceu com ele? — perguntei, mas a pergunta ecoou e se perdeu no corredor de pedras. Não recebi respostas.

    Corri o olhar por Aiko e Julia. Eles deixaram a lanterna cair, arregalaram os olhos e ficaram com cara de pânico.

    — Castiel...

    Castiel estava ao meu lado com a mesma expressão.

    — O que aconteceu com você? — Minha voz falhou.

    Seu pior pesadelo.

    — Quê?

    Podia jurar que alguém havia falado comigo. O labirinto teria vida?

    Meu corpo foi arremessado contra a parede esquerda por uma força invisível. O muro de pedras atrás de mim se quebrou e eu caí em um buraco escuro.

    Atingi o chão frio e meu braço direito doeu. Devia tê-lo quebrado na queda. Puxei a respiração e o ar faltou. O teto parecia distante, mas essa distância diminuía a cada segundo. As paredes andavam em minha direção. O espaço se estreitava e eu ainda não conseguia respirar.

    Estava em um cubo comprimido. Não conseguia mais ficar de pé e meus pulmões imploravam por ar. O teto tocou minhas costas e pressionou meu rosto no chão. Parecia que a escola sobre o Labirinto havia desabado e os escombros caíram tudo sobre mim.

    Todos os meus ossos estavam se quebrando e fiquei completamente sufocada.

    Morri pela segunda vez.

+++

Acordei com um sobressalto. Meus olhos ardiam, mas meu corpo não doía. Olhei para meu braço direito procurando uma fratura, um osso exposto, mas eu estava aparentemente bem. Meus amigos começaram a despertar aos poucos.

    — Escuro... Muito escuro — murmurou Henrico se sentando.

    Quando todos acordaram, nos encaramos.

    — Minha bunda está queimando — foi tudo o que eu disse.

    — A minha também — disse Julia.

    Um pensamento me ocorreu. Quando acordei ao lado de Castiel da última vez, o chão também estava quente. Mas quando reencontramos Henrico, Aiko e Julia, estava bem frio. Meu consciente tirou uma conclusão.

    — Está de dia — falei. Todos me olharam. — Quando o Labirinto está quente, significa que é dia. E a noite ele fica frio.

    — Como o deserto — concluiu Aiko.

    — Se for assim — começou dizendo Castiel. — Estamos aqui há dois dias.

    — Será que nossos pais estão nos procurando? — Julia perguntou.

    — Minha mãe deve estar maluquinha — respondi. — Tínhamos que parar nessa droga de Labirinto perto das férias! Tenho certeza que aqui não neva.

    — Eu não duvido de mais nada.

    Agarrei minha mochila e tirei um pacote de biscoitos e uma garrafa de água. Não comia nem bebia há um dia e meu corpo me castigava por isso.

    — Viu só! — Henrico exclamou apontando para meu lanche. — Eu disse que não era má ideia trazer comida!

    — Do que você está falando? — perguntei.

    — A Julia disse que era desnecessário eu trazer um lanche para o Labirinto, mas eu não fui o único!

    — Eu não trouxe nada — declarou Julia com melancolia.

    — Toda a minha comida acabou ontem — falou Aiko. — Dividi com a Julia.

    — E eu dividi com o Castiel. — Olhei de soslaio para Castiel e pude perceber que ele sorriu.

    — E como vocês nos encontraram? — questionou Julia.

    — Através do Bluetooth. — Ergui meu celular como se fosse um troféu.

    — Bluetooth?

    Expliquei a eles meu magnífico Sistema de Posicionamento Global ativado por Bluetooth e todos ficaram incrédulos.

    — Annie, você é um gênio!

    Henrico me deu um abraço apertado.

    Castiel ficou calado. Queria jogar na cara dele que todos tinham achado minha ideia excelente menos ele, mas ele já estava ouvindo a aprovação do GPS Bluetooth então resolvi deixar pra lá.

    Juntos, nos levantamos e começamos a andar. Eu, como sempre, na frente.

    — Pessoal — chamei. —Liguem seu Bluetooth. Assim vai ser melhor localizarmos uns aos outros.

    — Certo — eles responderam em uníssono.

    Sei lá, mas, de repente senti que irradiava liderança. E com esse espírito, meus amigos deveriam estar esperando da Cabeça um plano brilhante.

    Um belo plano que cairia muito bem seria o nosso plano de voltar para casa, mas, pelo o que eu via, parecia um plano impossível.

    Levei um susto quando nossas lanternas novamente se apagaram.

    — Ah, não — resmunguei. — Outro ataque de um monstro de concreto.

    Esperamos por sofridos segundos a presença de qualquer ser maligno, mas o corredor ganhou iluminação própria.

    — Bem, é melhor voltarmos — sugeri. — Esse corredor é sinistro.

    Mas quando viramos, tinha uma parede bloqueando a antiga passagem.

    — Estamos presos — Aiko falou com medo na voz.

    Sim.

    Dessa vez eu realmente tinha ouvido uma voz no Labirinto.

    — Foi apenas eu ou vocês... — Castiel disse.

    — Eu ouvi — afirmei.

    — Eu também — Julia também confirmou.

    — O Labirinto está falando com a gente.

    Certifiquei-me de que dessa vez ninguém havia sumido e se nossas mochilas ainda estavam conosco.

    — Depois desse acontecimento anormal, vamos... — Não completei minha fala.

    Quando formamos novamente nossa fila (já falei que eu estava na frente?) nos vimos diante de uma placa neon pendura no teto com as seguintes palavras escritas:

    ENCRUZILHADA DA ANGÚSTIA.


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Notas finais do capítulo

Amanhã postarei mais, mas desacelerarei o ritmo das postagens enquanto escrevo a terceira parte.



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