A Elfa Escarlate escrita por Koda Kill


Capítulo 5
Prédios abandonados e caricias proibidas


Notas iniciais do capítulo

O mafioso foi cativado pela nossa elfinha, será que eles vão se apaixonar?



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Miguel nos guiou, sem entender muita coisa, abrindo caminho pela multidão e desviando dos bêbados. Saímos por uma porta estreita e estávamos em uma viela suja e escura quando Ava agarrou meu pulso.

— O que está fazendo? Temos que sair daqui! – Insisti sem folego. Minha cabeça martelava na área do galo.

— Espera! O que foi que aconteceu? – Falou Ava olhando de soslaio para Miguel que não estava entendendo nada. Ele se afastou um pouco ainda ofegante da corrida.

— Um cara me beijou! – Sussurrei gritando. Ava revirou os olhos. – Isso é sério Ava!

— Luna! – Disse agarrando meus braços. – Se acalma. Foi só um beijo. Um beijo não quer dizer nada. Você se apaixona por qualquer cara que beija?

— Não, mas...

— Então para de ser careta! – Disse ela irritada.

— Ah me desculpa se estou a noite inteira tentando evitar que a gente morra! – Gritei. Miguel nos olhou confuso e eu tentei me acalmar o suficiente para voltar a falar baixo. – Isso é uma péssima ideia! Vamos embora daqui.

— Eu não vou a lugar nenhum. Para de ser estraga prazeres Luna. – Bufei indignada. Não conseguia nem raciocinar direito de tanta raiva. – Nós viemos aqui para nos divertirmos.

— Não, você me arrastou até aqui. – Ela revirou os olhos e cruzou os braços decidida. - Ótimo! Fique ai e morra sozinha! – Gritei novamente. Ava pegou na mão de Miguel e o levou de volta pela porta. Chutei uma lata de lixo com força. O que só piorou minhas 2394824 milhões de dores pelo corpo. Inferno!

— Hey!

— AAh! – Gritei assustada. Yuri chegou correndo de uma vez pelo outro lado da viela e me dando um mega susto. Coloquei a mão no peito.

— Desculpa. – Falou sem jeito passando a mão no cabelo. – Não quis te assustar.

— Isso não está acontecendo. – Sussurrei fechando os olhos. Ele se mexeu desconfortável.

— Me desculpa por.... Hum.... Te beijar. – Apenas o encarei. Estava exausta.

— Certo. – Falei sem olhar em seus olhos azuis. Por que ele tinha que ser tão charmoso? – Eu tenho que ir para casa. – Falei saindo da viela para a avenida. Ele me acompanhou.

— Eu posso te levar. – Encarei-o desconfiada.

— É longe. – Ele deu de ombros e colocou as mãos nos bolsos.

— Se não quiser tudo bem, te vejo por aí então. – Disse ele voltando para a boate. Droga...

— Espera. – Que merda. Se a Ava não se matasse com essa história eu mesmo me encarregaria do serviço. Ela me paga por me meter nessa. Mas talvez ela estivesse um pouco certa sobre eu ter surtado demais. Então tentei respirar fundo e levar as coisas na boa. – Eu aceito a carona. – Falei emburrada. Ele gargalhou e começou a andar até o estacionamento. O segui de uma distância segura. Se eu sentisse o seu perfume embriagante de novo poderia ter ideias malucas.

— Você é sempre tão estressada assim? – Perguntou ele com um sorriso torto brincalhão que fazia meu coração dançar frevo de ponta cabeça.

— Você sempre sai beijando e lambendo as pessoas? – Devolvi venenosa. Eu não estava conseguindo lidar com tanta informação e frustração juntas. Massagear as têmporas não estava ajudando. Eu precisava muito de álcool no momento, mas sabia que era impossível. Minha mente não parava de pular e pensar nas milhões de leis que eu estava quebrando e em como eu seria dolorosamente morta. Inferno. O que é isso Luna? Estou captando ciúmes? Estou captando muita vontade de ser trouxa? Ah não, são só tendências suicidas mesmo. O que está acontecendo... Yuri fez uma careta e ficou sem jeito.

— Touché. – Disse ele parando próximo de uma moto. Sua jaqueta de couro devia ter sido um indicio, mas eu não estava conseguindo captar muitas coisas aquela noite.

— Você quer ir... nessa coisa? – Perguntei engolindo seco. Nunca me dei muito bem com engenhocas humanas. Problemas élficos.

— Você quer a carona? – Perguntou ele meio irônico arqueando as sobrancelhas. Que vontade de estapear essa cara de tão linda. Ele não podia ser humano.... Tentei me aproximar pra tentar captar algo, mas parecia um humano como outro qualquer e me aproximar foi uma péssima ideia.

— Certo. Touché.  – Eu estava à beira de um ataque de nervos. Minha respiração estava ofegante, meus olhos não paravam quietos. Eu tinha consciência de que ele me encarava, mas não conseguia nem olhar em sua direção. Estava ao ar livre, mas me sentia sufocada. Me apoiei na moto tentando respirar fundo. Yuri me entregou uma coisa preta que parecia vagamente um elmo. O que eu deveria fazer com aquilo? Tentei lhe devolver, ele apenas pegou e enfiou na minha cabeça e prendeu uma fita embaixo. Iriamos guerrear?

— Vamos dar uma volta, conheço um lugar. Ajuda a esfriar a cabeça. – Ele me encarou intensamente enquanto eu ponderava. Medo absurdo de motos? Confere. Possibilidade de morrer? Confere. Ficar sozinha com um humano sedutor? Claro, porque não? Parece mesmo uma ótima ideia. É por isso que eu sai correndo no mesmo instante e nunca mais voltei. Ou pelo menos era isso que eu deveria ter feito. Era o que qualquer ser com o mínimo de raciocínio logico e inteligência faria. Vamos dizer que foi por causa da pancada na cabeça que eu peguei o capacete e o coloquei. Para prevenir futuras batidas, é claro. Apenas por isso.

Subi na moto sem jeito atrás dele. Era estranho e meio desconfortável e definitivamente eu não sabia manter o mínimo de equilíbrio em cima daquilo. Quando ele ligou a moto e começou a sair do estacionamento quase cai de costas da garupa. Soltei um gritinho sufocado tentando evitar que minhas mãos tremulas me soltassem. Respira fundo, você vai ter que voltar para casa em cima disso.

— Segura na minha cintura. – Falou ele me olhando pelo retrovisor. Eu já estava perto demais para o meu gosto, minha coxa roçava na calça jeans dele enviando pequenos choques e palpitações. – A não ser que prefira cair. – Brincou ele rindo da minha cara de pavor. Eu já estava suando frio quando escorreguei para perto dele e segurei sua barriga sem jeito.

Ele era quente, muito quente. Seu perfume era ainda mais embriagante que álcool. É tipo a droga da burrice. Ele acelerou e eu me encolhi, puxando-o mais para perto. Parecia que eu estava caindo na horizontal. Eu poderia estar em casa agora polindo minha espada. Poderia estar num plantão na guarita norte. Poderia até mesmo estar, nesse exato momento, comendo alguma coisa saborosa da máquina de gostosuras da cantina. Mas eu estava na garupa de uma moto pequena demais. Mas isso não seria problema se eu não estivesse morrendo sufocada e engasgada com o meu próprio cabelo. Eu tentava desviar de um lado para o outro, mas onde quer que eu fosse lá estavam os fios desgraçado investigando todos os orifícios do meu rosto.

Quando a moto finalmente parou estávamos mais ou menos no meio do nada. A única coisa que existia por ali era um prédio abandonado cheio de grafites e pichações. Não parecia muito seguro. Tentei sair de cima da moto sem parecer um elefante manco, mas como sempre minha graciosidade élfica se escondeu debaixo do quinto dos infernos de onde nunca saiu.

— Gosto de vir aqui quando estou com muita coisa na cabeça. – Disse enquanto despenteava seus cabelos ao tirar o capacete. – Do telhado dá para ver a cidade quase toda. E ninguém mais anda por essas bandas. As vezes a turma vem beber aqui também. – Contou enquanto eu o seguia subindo as escadas. Nossos passos ecoavam pelas paredes amplificando a sensação da sua presença. Eu não fazia ideia de porque ele me deixava tão nervosa e desconfortável. Tentei desatolar o vestido que teimava em subir me deixando ainda mais exposta do que eu já estava. Aquilo era uma nova definição de apertado.

Quando chegamos no último andar ele puxou a trava que bloqueava a porta e a segurou para eu passar. Era bem alto realmente. Devido ao nervosismo nem mesmo tinha percebido quanto tempo passamos subindo em silencio. O telhado era amplo, plano e espaçoso. Algumas cadeiras espalhadas, várias garrafas de bebidas rolavam pelo chão. Um vento frio e gostoso fazia cocegas na minha pele. O cansaço, o álcool, a queda, meus nervos.... Tudo levava a um cansaço extremo que estava puxando meu corpo pra baixo. Quando havia sido a última vez que eu tivera um tempo de descanso? Não conseguia lembrar direito.

Yuri se abaixou próximo de o que deveria ter sido algum tipo de engenhoca humana e abriu um isopor tirando duas garrafas de cerveja. Ele as abriu e me ofereceu uma. Aceitei por educação e pelo desespero por qualquer gota de álcool que ajude a acalmar meus nervos. Eu o segui até a beirada do prédio e nos sentamos lado a lado com as pernas balançado nos azulejos do prédio. Tentei virar a cerveja de uma vez, mas o gosto não era nada agradável. Yuri riu e continuou encarando o horizonte.

— De que tipos de problemas você está tentando fugir, Luna? – Perguntou ele com certa tristeza e curiosidade na voz. Olhei para os meus próprios pés meio vacilante.

— No momento de você. – Falei sendo sincera.

— Acho que não está dando muito certo. – Riu ele e fui obrigada a rir junto. Ou talvez ainda fosse o álcool fazendo efeito.

— Acho que não. – Concordei bebendo o resto da cerveja. Sua mão esbarrou na minha enquanto ele se ajeitava e meu coração saltou tão alto que a cerveja escapou das minhas mãos. Observei-a cair por todos os andares até se espatifar no chão. Yuri entornou a sua e fez o mesmo em solidariedade. Eu olhei em seus olhos azuis e sorri meio sem jeito.

— Você parece triste – Disse ele me encarando. Eu não sabia muito bem o que responder então apenas sorri sem jeito. – Eu sei que não deveria ter.... hum, te atacado. – Disse fazendo uma careta. – Eu acho que só entendi errado e não costumo errar com esse tipo de coisa.

— Tudo bem. – Eu queria lhe dizer que ele não tinha errado. Que eu queria mesmo. Nesse momento exato, era tudo que eu queria. Mas era errado, eu não podia. Eu sentia uma vontade tão grande de toca-lo que era difícil pensar o logico. É como se alguém tivesse apertado aquele botão gigante vermelho dizendo NÃO APERTE que desligou meu cérebro. Como se por vontade própria meus dedos se enroscaram nos dele. Parecia que meu coração ia sair pela boca. Ele encarou nossas mãos juntas por um tempo e apertou os dedos.

— Você não faz muito sentido sabia? – Perguntou ele sorrindo. Soltei uma gargalhada involuntária.

— Você está longe de saber.

— Então não me conte nada, vamos apenas guardar nossos segredos, sim? - Seu rosto quase pareceu sombrio naquele momento. Tive vontade de perguntar algo e saber mais. Mas não podia contar os meus. Era melhor não saber. Então, apenas o encarei intensamente.

Sabe quando você está de dieta e alguém chega com sua comida favorita e mais calórica de modo que é impossível resistir? Aí você se convence de que vai ser só um pouco e vai compensar comendo menos depois, mas é impossível parar. Yuri era isso para mim. Eu queria mais. Era difícil controlar. Eu nunca tinha sentido esse tipo de impulso por ninguém. Eu sentia que ele também tentava se controlar. Era inevitável. Ficamos parados de mãos dadas em silencio por algum tempo. A única coisa que eu conseguia escutar era a batida do meu coração e os barulhos que o vento fazia. Minha pele se arrepiou. Yuri puxou o meu rosto pelo queixo com a mão livre e olhou nos meus olhos.

— Posso te beijar agora? – Pediu ele quase que em suplica. Eu estava ofegante de nervosismo e vontade. Eu mal conseguia formular uma resposta inteligível com ele tão próximo de mim. Era impossível resistir. O cansaço tirava o resto das minhas forças contrarias. Apenas confirmei com a cabeça. Ele parecia meio temeroso e se aproximou devagar, era quase uma tortura sentir seus lábios tão próximos, roçando nos meus. Sentir sua respiração na minha nuca e seus dedos nos meus cabelos. Ele me puxou bruscamente nos centímetros finais, como se não suportasse mais prolongar aquilo. Eu não conseguia pensar em mais nada. Nenhuma frase, nenhum pensamento. Só... Mais.

Ele me puxava com urgência procurando chegar ainda mais próximo do que era possível pelas leis da física. Seu toque, seu cheiro, sua boca. Eu estava completamente fora de controle. Era como se nada mais importasse, apenas ter mais. Meu lado animal e irracional havia assumido o controle. Eu mal conseguia respirar. Não sabia onde terminava eu e começava ele. Yuri me puxou para uma das cadeiras que haviam por ali. Não era de bom tom cair de vinte andares enquanto nós nos pegávamos.

Como se apenas estar ali já não fosse mortal o suficiente. Luna, ele é humano. Lembra? Lembra? Por favor, se lembre. Eu implorava para mim mesma. Ele buscava mais quando empurrei seu peito. A respiração ofegante, olhos semicerrados, lábios vermelhos, seu aperto na minha cintura e seu olhar suplicante. Era como uma droga. Fechei os olhos e tentei recuperar meu folego. Ele começou a beijar o meu pescoço e morder o meu queixo tentando jogar fora o ultimo resquício de juízo que restava na minha cabeça. Eu o empurrei novamente contra a cadeira e evitei seus olhos confusos.

— Não posso fazer isso. – Falei me afastando do seu abraço.

— Fiz algo errado? – Perguntou ele sem entender e ainda tentando recuperar o folego. Neguei e coloquei as mãos na cabeça sem saber ao certo o que fazer. – O que houve?

— Eu Não... – Mordi a língua antes de deixar escapar algo comprometedor. – Não posso falar. – Encarei-o com tristeza. Ele parecia frustrado e confuso. Como se não soubesse o que quebrar primeiro.

— Certo. Guardar os segredos – Disse ele passando as mãos pelo cabelo com nervosismo. 

— Desculpa. – Pedi sem jeito.

— Só me diga uma coisa, existe outra pessoa?

— Não. - Ele sorria frustrado sem entender nada e olhava para o céu. Me sentei ao seu lado e coloquei minha cabeça no seu peito. O barulho do seu coração batendo era viciante. Tudo nele era viciante. Parecia a música mais bonita e mais relaxante que eu já havia escutado, mesmo que estivesse tão acelerado quanto o meu. Um remédio para dormir não teria um efeito tão potente. Meus olhos pesaram e minha vista escureceu. A exaustão tomou conta e antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, adormeci no calor daqueles braços.

Yuri, o bratva

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Notas finais do capítulo

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