A Elfa Escarlate escrita por Koda Kill


Capítulo 4
Desajuizada na base da pancada


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/377234/chapter/4

Andei despreocupadamente até a mesa dos rapazes. Eles, muito entretidos e distraídos pela embriagues, mal notaram minha aproximação, mas eu estava lá. Parei ao lado de um garoto de olhos castanhos que ria sem parar chegando a dobrar-se em dois enquanto conversava com outros dois animadamente. Apenas um dele me encarava com certa curiosidade. Um cara de cabelos tão brancos ou mais que os meus e olhos azuis esverdeados desconcertantes. Quase me distrai lhe encarando. Fiquei ali apenas esperando o momento certo, tentando evitar o olhar do cara de cabelos brancos. Então, em um momento de tontura e falta de traquejo o rapaz que arremessava as facas pendeu para trás. Tomei a faca da sua mão e analisei discretamente seu peso.

— Opa! Nunca falaram que é perigoso brincar com facas? – Perguntei apontando a pequena adaga para seu rosto. O moreno estava no mínimo surpreso, não pela minha presença ali, mas por ter sido pego desprevenido. O grupo de caras urrou e chacoalhou a mesa em que estavam. Não pude evitar de sorrir. – Desculpe, mas o que estava tentando fazer? – Perguntei com um ar de superioridade enquanto tentava me fazer ouvir pela música.

— Olá princesa, melhor me devolver isso antes que se machuque. – O grupo gargalhava. Sorri com candura e estendi a faca, segurando-a pela ponta do cabo. O moreno estendeu a mão, porem segundos antes de seus dedos se fecharem sobre o cabo deixei a faca cair propositalmente e peguei com a outra mão.

— Opa! Acho que o único propenso a homicídios ou suicídios aqui é você. – O rapaz me olhou com raiva e irritado para o grupo de amigos que faziam um estardalhaço tão grande que as pessoas ao redor já começavam a se incomodar.

— Princesa, não me maltrate assim. – Ele enfatizou se aproximando e tentando me intimidar. – Olhe estamos em um jogo de apostas aqui, por mais que queira cuidar do seu garanhão pode deixar que me garanto. – Ele piscou para mim.

— Ah um jogo de apostas? Eu gostaria de tentar. – Falei lhe entregando as facas e me demorando um pouco mais que o necessário entre suas mãos. O rapaz me olhou sorridente. – A garota aqui quer tentar! – Ele apontava para mim e gritava para o grupo que correspondia à altura. – Deixa eu te ensinar com se joga belezinha. – Ele segurou meu quadril com possesividade. Opa. Me desvencilhei com graça, uma raridade, e coloquei a mão em seu peito.

— Não precisa anjo, eu já fiz a lição de casa. – Disse retribuindo a piscadela. – Proponho uma aposta. Eu contra você. – Os outros dois caras que arremessavam sentaram fingindo um pouco de decepção.

— O que eu ganho se você perder? – Perguntou maliciosamente.

— Escolha o que quiser. – Mais gritos ensurdecedores por parte dos seus amigos, exceto o de cabelos brancos.

— Ok, ok. – Disse ele silenciando a mesa. – Se eu ganhar você é minha por uma noite.

— E se eu ganhar? – Os garotos sorriram como se fosse algo impossível, entreolhando-se com piadas internas. Aceitei as risadas de bom grado.

— Farei tudo o que quiser, por uma noite.

— Parece justo. – Concordei enquanto analisava o alvo de soslaio. Apertei sua mão firmando o trato e encarando-o. Com a minha mão livre, no entanto, joguei a faca no centro do alvo sem nem piscar. Os amigos do garoto me encaravam incrédulos. O garoto ainda nem tinha percebido.

— Quer começar? – Perguntou.

— Perdão, era para esperar? Eu já joguei. – Falei indicando o alvo e segurando a risada. Até que eu estava mesmo me divertindo. O moreno não tão sensual e bêbado não aceitou a jogada. Disse que não estava olhando e que tinha sido armação. Aceitei novamente de bom grado. Um dos amigos me estendeu outra faca. Um pouco mais pesada. Joguei-a para cima algumas vezes para me acostumar. – Não pisque agora garotão. – Arremessei com precisão, novamente acertando o centro.

— Isso não é justo! – Disse. – Você mentiu sobre ser boa nisso.

— Mas eu não falei nada sobre isso. – Falei rindo.

— Tudo bem você ganhou. – Disse com as mãos para cima. – Sou todo seu. – Disse com um olhar maldoso.

— Não vai nem tentar?

— Não. – Disse ele rindo. Na minha opinião ele não se importou muito em perder nesses termos. Os amigos ainda incrédulos repetiam a história entre si. Sai arrastando o garoto, que agora se sacudia no ritmo da música. Dei algumas voltas até encontrar Ava com toda aquela maldita áurea perfeita dela.

— Hey, - Chamei animada. – Arranjei um escravo. – Ela, apenas diminuindo o ritmo da dança me encarou confusa e risonha. O moreno apenas se balançava atrás de mim enquanto mordia os lábios concentrado na música.

— O que? Como assim?

— Ele perdeu uma aposta e agora é meu por uma noite. – Expliquei. Virei-me para o rapaz. – Como é mesmo seu nome?

— Miguel. – Falou ele.

— Certo, Miguel. Um escravo chamado Miguel. – Falei gargalhando. Tomei mais um gole da minha bebida. – Bom ele é todo seu se você quiser. – Miguel não tirava os olhos de nós. E dançava de maneira, como devo dizer.... Convidativa. Talvez ele não estivesse tão bêbado quanto eu havia imaginado. Ava me olhava incrédula, mas parecia aprovar.

— Miguel. – Disse ela tentando soar brava e autoritária. – Você me pertence agora. Vamos dançar! – Ele riu e puxou-a pela mão. Eu apenas fui me afastando lentamente de volta para a parede onde eu estava encostada. Dançar realmente não era minha praia. Jogar adagas? Muito mais a minha cara. Infelizmente durante o trajeto minha bebida acabou. O que significa que teria que aguentar até o final da noite, sóbria. Até que ali não era de todo desagradável, mas definitivamente eu preferia não estar ali. Eu estava com saudades do meu quarto. Depois de passar uns dias dormindo na patrulha a coisa não estava muito boa para mim.

Minhas costas estavam doloridas, e eu sentia falta da minha cama. Estava cansada, exaurida. Só queria me enrolar numa bola e chorar. Porém, pelo bem de Ava era melhor que eu ficasse ali. Eu só espero que ela canse logo de todo esse fedor, desse calor e dessa música ensurdecedora. Comecei a me arrepender de ter dado meu escravo. Isso a distrairia bastante. Talvez por horas. E o pior era o risco. Já pensou se ela acaba se apaixonando por um humano? Seria um desastre, uma catástrofe. Ela sofreria muito. Nós, elfos, temos os sentimentos muito aguçados. Sentimos tudo em dobro, em triplo. Qualquer paixonite toma proporções estratosféricas. Seria ruim.

Não podemos nos envolver com humanos. Interagir, tudo bem aceitável. Mas nada além. Se um dia descobrirem sobre nós mais do que eles acham que inventaram seria o nosso fim. E todos sabem que depois da idade média nossa raça decresceu drasticamente e agora buscamos apenas coexistir. Claro que somos muito mais fortes que meros humanos. Mas estamos em número muito menor. Os humanos se reproduzem como coelhos. Coelhos famintos. Na nossa sociedade um nascimento é coisa rara.

Eu tenho que ficar de olho. Pronta para interferir se eu detectar qualquer sinal de paixão. Eu não deixaria que Ava estragasse sua vida por causa de um mero humano. Não mesmo. Nem que eu tivesse que matar o cara. E não estou falando isso por que gosto dela. Não.... Nem pensar. Simplesmente seria horrível ter que me adaptar a outra colega de quarto. Mas tudo bem por que até agora sem sinal de paixonites. Sem sinal de frisson ou coisas do tipo.

Se bem que eu não estava vendo sinal de nada. Porque na verdade aquele ambiente estava me sufocando um pouco. Eu estava agoniada. Queria ir embora de uma vez. Aquele lugar me dava arrepios pela quantidade de coisas ruins que poderiam acontecer. Estava com um mau pressentimento. Resolvi sair para tomar um ar. Respirar algo próximo de um ar puro pelo menos. Tentei não perder contato visual com os dois, mas isso mostrou-se impossível. Tinha humanos demais ali. Todos apertados num canto só. Quando finalmente consegui sair da multidão, meio tonta, tropecei num copo de cerveja e cai de cara no chão. Que delícia. Maravilha. Como se respirar esse ar cheio de fumaça de todos os tipos não fosse porqueira o suficiente.

Sentei, tentando fazer com que minha cabeça parasse de girar. Talvez a bebida e o cansaço tenham ajudado a piorar a situação. Minha vontade era de continuar sentada ali.

— Ei você está bem? – Perguntou uma voz masculina ao longe. Talvez por conta da música. Estava meio confusa por bater a cabeça e não soube responder por uns bons instante. O garoto pegou minha mão e passando seu braço pelas minhas costas me ajudou a levantar. Era o cara da mesa. De cabelos brancos. Gemi pelo galo que latejava na minha cabeça, mas este foi engolido pela música alta. Encarei a rapaz ainda tentando entender o que estava acontecendo. Tudo que eu via era toda aquela fumaça, luzes e corpos suados dançando a nossa volta. – Foi uma queda e tanto. – Falou ele. Ele falou aquilo com um sorriso de lado tão lindo. Eu só conseguia pensar que mãos fortes me sustentavam, olhos azuis me encaravam e que estávamos estáticos no meio da massa dançante.

— Eu estou bem. – Ele sorriu e eu fiquei meio tonta de novo. Meu coração ainda estava super acelerado da adrenalina e das dores que pareciam ter se animado com o galo e resolvido aumentar todas juntas.

— Melhor pegar gelo.

— Estou bem. - Reafirmei. Alguém o chamava e pulava perto do bar. Ele se virou sorridente na direção do outro rapaz. Eu sabia que tinha que me mover, rápido. Mas minhas pernas não obedeciam. Talvez pela combinação: Noites sem dormir + Termino do namoro + Hans + Fumaça suspeita + Música alta demais + Luzes que me cegavam + Cheiro ruim + Queda + Sufoco. Talvez porque eu queria ficar mais um pouco com o garoto. Tentei forçar meu corpo para trás, mas tudo que eu consegui foi me desequilibrar e quase cair de novo. Mas ele me segurou de novo. Mais próximo do seu corpo dessa vez. E eu gostei muito de sentir esse calorzinho. Fiquei corada e sem folego. Balbuciei uma desculpa sem jeito que foi engolido pela música. Ele sorriu arrepiando minha pele e me ofereceu o gelo. Dispensei com a mão. Estava tonta demais. Ele então pousou o gelo na bancada do bar e segurou minha mão, pela segunda vez, mas desta vez ele não tentava me levantar, ele tentava dançar comigo. Uma dança lenta. Mas não estava tocando musica lenta. Então eu não entendia. Não entendia e isso me apavorava. Mas eu não estava agindo por conta própria agora. Ai meu deus que perfume bom.

Minha chance de fugir estava perdida e para piorar eu não estava nem ai pra isso. Seus lindos olhos azuis estavam grudados nos meus de uma maneira quase intima. Ele falou algo que não pude compreender e me inclinei para perto, quase deitando minha cabeça no seu peito.

— Meu nome é Yuri. – Sussurrou.

— Luna. – Falei um pouco alto demais. Acho que eu estava passando mal.

— Luna. – Repetiu ele saboreando a palavra. Tive vontade de fazer o mesmo. Mas em voz alta eu não me permitiria, por isso fiz na minha cabeça. E tinha um gosto maravilhoso.  – Pensei que estivesse com o Miguel. – Falou curioso. Estava sem jeito, mas eu não me importava. Tente apontar para Ava na pista de dança. Porem minha sorte de sempre não me ajuda. Não consegui terminar o movimento por que alguma criatura dos esgotos me empurrou com força com o corpo me jogando ainda mais contra ele. Bati com a boca no seu queixo e senti um gostinho de sangue. Agora eu só queria me enfiar num buraco no chão. Porra. Está bom já universo. Já deu por hoje viu?

— Droga. – Falei lambendo os lábios e tentando estancar o sangue. Ele riu da minha cara. Que maravilhoso, pensei sarcástica. – Apresentei ele para uma amiga. Não estava interessada. – Falei com raiva. Ele sorriu novamente.

— E em quem estava interessada? – Perguntou ainda agarrado a minha cintura.

— Nas adagas é claro. – Falei sincera. Ele gargalhou.

— Gosta de armas? – Confirmei com a cabeça. - Eu e meus amigos costumamos sair e fazer jogos idiotas com armas.... Você podia ir qualquer dia desses.

— Seria legal.

— Está se sentindo melhor?

— Acho que ainda está sangrando. – Falei lambendo o machucado nos meus lábios.

— Deixa eu ver. – Disse segurando meu queixo para ver o machucado. Então ele lambeu meu lábio devagar e roubou um beijo. De repente, sem aviso. Eu vou matar.... Caramba que lábios macios. Que sensação estranha de calor e adrenalina. Eu não conseguia me mexer. Estava entregue. Ele começou a descer pelo meu pescoço, mordendo de leve e então lambeu minha orelha. Me afastei chocada, voltando à realidade. As orelhas dos elfos eram algo extremamente.... Erótico e íntimo. É um humano Luna. No que diabos você está pensando? Sai daí, agora!

— Eu tenho que ir. – Gritei me desvencilhando de suas mãos que tentaram me segurar e segurando minhas orelhas.

— Espera, desculpa! – Comecei a fugir pela multidão em direção à Ava. Graças aos meus treinos e meu sangue eu conseguia escapar com muito mais facilidade que Yuri. Ele tentava me alcançar, mas estava sendo retardado pela massa. Esbarrei em Ava.

— Luna?! – Ela saldou, então viu minha cara. – O que aconteceu?

— Temos que sair daqui, agora! Agora, agora, agora. – Virei-me em direção ao humano, ele ainda tentava me alcançar. – Miguel me tira daqui! Rápido! Pela porta dos fundos!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai o que acharam? Comentem!