_Seth, você acha que... –começou Isami, mas eu a interrompi.

_Depois você fala. –disse friamente.

Naquele momento, eu estava mais sério do que jamais tinha estado. Afinal, essa seria a primeira impressão que teríamos dos outros tributos e dependendo de quem fosse eu teria que manter uma atenção especial nesses jovens.

Primeiro apareceram os tributos Carreiristas dos Distritos 1 e 2. Não era novidade que a aparência deles fosse bonita e orgulhosa. Eles provavelmente deveriam ter andado de casa em casa do seu Distrito pedindo os votos dos moradores para eles. A menina do 1 e o rapaz do 2 aparentavam ser os mais orgulhosos dali. A garota deveria ter uns 17 anos, ela era alta e loira, com olhos castanhos que quase alcançavam uma cor avermelhada e que transmitiam puro perigo dentro deles. Ouvi alguém dizendo o seu nome: Cecil Bladerlake. Quanto o rapaz do 2, ele era musculoso e aparentava ser forte. Também era um pouco loiro, um pouco moreno assim como a menina do seu distrito. Se não me engano, seu nome devia ser Jeffy Lotumar.

Depois da aparição dos Carreiristas, vi os tributos do 3 e do 4. Para dizer a verdade, nenhum dos tributos masculinos me interessou realmente, ambos pareciam um tanto comuns, um tanto normais, nada que poderia se destacar realmente como um forte adversário vinha deles. A garota do 3 também parecia normal, como se não soubesse direito porque estava ali. Quase que cochilei quando o garoto do 4 subiu no palco. Pensei seriamente em dormir naquele momento, mas quando estava prestes a fechar meus olhos, ouvi um nome que me assustou.

_O tributo feminino do Distrito 4 é... Kendra Yadien.

Pulei do sofá quando ouvi o primeiro nome da minha mãe. Só o pensamento de vê-la na arena já me era espantoso. Quando vi a garota do 4, finalmente me acalmei um pouco. Ela tinha 16 anos, seu rosto, mesmo com um pouco de sardas, era bonito e seus olhos castanhos esverdeados, misteriosos. Seu cabelo castanho era longo e um pouco ondulado, mas parecia seco e desgastado, provavelmente graças as águas do Distrito 4. Ela, sim, era alguém que poderia ser perigosa. Nunca confiei demais em pessoas misteriosas. Seu corpo parecia resistente, principalmente seus ombros. Ela devia ser uma boa mergulhadora. Mesmo que naquele instante parecesse mais assustada do que perigosa, eu sabia. Sabia que assim como eu, ela tentaria de tudo para vencer na arena e voltar pra casa.

O distrito 5 apareceu logo em seguida, mas não me dei ao trabalho de analisá-los, pois não me pareceram muito perigosos.

Quanto ao 6, realmente me surpreendi ao ver um rapaz alto e pálido aparecer no palco com uma expressão séria e fria. Ele olhava para a multidão como se quisesse matar todos ali, como se toda a população do seu Distrito tivesse cometido um erro grave, cometido uma traição. Ouvi alguém da TV dizer o seu nome: Titus Melavisk.

O tributo feminino do mesmo Distrito apareceu. Por um momento, pude ver os olhos de Titus perdendo um pouco a voracidade e ganhando uma expressão de surpresa. Mas essa expressão logo sumiu e o olhar frio reapareceu. A menina era uma garota bonita. Ela tinha os olhos e o cabelo castanhos e também tinha a pele um pouco pálida. Se ouvi direito seu nome era: Lotus Marison.

Depois vieram os tributos do 7. O rapaz de lá me pareceu fraco. Sem muitos músculos, magrelo, mas saudável. Deveria ser filho de uma classe mais rica, visto as roupas que usava. Tinha uns quinze anos, mas não passava de um bebê chorão que olhava a platéia, aterrorizado. Nem me importei em procurar saber seu nome.

Olhei para o lado encontrando os olhos atentos e sérios de Isami observando a TV. Por alguma razão, ela parecia um pouco séria e pálida naquele momento. Por um leve instante me perguntei no que ela estaria pensando, mas minha atenção novamente se voltou a TV.

A mulher da Capital (por incrível que pareça, era mais estranha que Angelina) então citou o nome da garota do Distrito 7.

_... Elainor Kartson!

Diante dos meus olhos eu a vi surpreso. A tal Elainor tinha o cabelo longo castanho que se encontrava solto naquele momento. Seus olhos eram assombrosamente escuros e ela usava roupas pouco chamativas (o contrário de como as crianças geralmente se vestiam no Dia da Colheita). Deveria ter uns 15 anos. Quando subiu no palco, ela não mostrou nenhuma reação. Apenas olhou para cima e respirou fundo. Me peguei interessado por ela e esse seu tipo de personalidade. Ela era mais misteriosa do que Kendra e seu corpo também mostrava ser persistente. Diferente de alguns tributos, era difícil dizer o que ela estava pensando naquele momento. Mordi os lábios. Eu sentia que de alguma forma que ela seria um problema na arena.

Depois vieram os tributos do 8 e do 9. Nada muito desafiador para mim.

E então veio os do 10. Um rapaz alto, forte, loiro com algumas mechas escuras no cabelo apareceu diante da multidão quando seu nome foi citado. Seu corpo parecia tão resistente quanto ao de Jeffy, mas o rapaz aparentava ter um rosto mais maduro. Tinha uns 18 anos, o mais velho de todos os outros tributos até então. Assim que ele subiu no palco pareceu um pouco nervoso, preocupado com algo que era difícil saber naquele momento. Seu nome era Trevis Odiwe.

Segundos depois a mulher da capital pegou o segundo papelzinho e leu em voz alta.

_A representante feminina do Distrito 10 é... Lily Odiwe.

Arregalei os olhos quando vi uma garotinha da idade de Isami aparecer na multidão. Ela tinha os mesmos olhos que o rapaz e parecia tão ingênua quanto Isami. Então era isso que Trevis tinha medo! Sua provável irmã iria aos Jogos com ele.

A expressão dos dois era pálida, tanto da pequena Lily quanto do resistente Trevis. Mesmo que eles tentassem se manter firmes, era impossível esconder o impacto que aquilo os tinha proporcionado. Por um momento, me lembrei de Marcel. De sua expressão preocupada e confusa. De seu pedido. E por um instante fiquei mais aliviado por ter sido eu o tributo escolhido para esses Jogos e não ele.

“Dois irmãos numa mesma arena. Um contra o outro. Qualquer relação que eles têm só deixa as coisas mais interessantes para a Capital.” Pensei inconformado.Não importa se para sobreviver eles têm que matar um ao outro. Não importa o quanto eles tentem escapar vivos, a morte virá para, pelo menos, um deles. Não importa o sofrimento que eles, ou melhor, que nós, os tributos, temos na arena. Nenhum sentimento importa quando se trata dos Jogos. Tudo o que importa é o sangue, o entretenimento daqueles idiotas da Capital. Daqueles sangues-frios que não conseguem ver o sofrimento que estão causando aos Distritos. Que não conseguem enxergar o que se passa em Panem nesses últimos 25 anos!

Naquele momento, senti nojo. Nojo dos Idealizadores, nojo da Capital, nojo de tudo que tivesse a ver com os Jogos Vorazes... inclusive eu. Afinal, eu fazia parte daquilo este ano. Eu seria a próxima atração desses Jogos. Só de pensar nisso, o meu nojo aumentava cada vez mais me deixando mais tenso em poucos minutos. Levantei do sofá e fui para a porta em silencio.

_Seth? –ouvi a voz de Isami me chamar.

_Eu vou dormir. –disse evitando olhar seus olhos azuis penetrantes.

Abri a porta da sala e atravessei o corredor me dirigindo a minha cabine. Assim que entrei, tranquei a porta e deitei cansado na cama. Tudo o que eu queria fazer agora era dormir. Dormir e tentar ignorar a situação dos tributos do 10. Era irritante pensar que eu seria o oponente deles. Que talvez, eu fosse o responsável por matá-los.

Mas eles tinham que morrer para que eu pudesse viver. Esse era o único jeito de vencer o Massacre e voltar para casa. Eu tinha que ignorar meus sentimentos. Minha humanidade. Minha consciência. E assim me tornar algo semelhante aos Carreiristas: uma máquina de matar.

Senhoras e Senhores, eu os apresento o Primeiro Massacre Quaternário. O lugar onde todos nós morreremos de um jeito ou de outro! Pensei comigo mesmo antes de adormecer.