O Resplandecer Da Luz escrita por Ninguém


Capítulo 11
Cap. 9 A vida de um morto não é fácil (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem...



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A vida de um morto não é fácil (parte 2)

Eros já havia se metido em muitas confusões em sua curta vida de 17 anos. Era até normal para um garoto que entra na adolescência, ficar na sala da diretora enquanto espera por seus pais, por mau comportamento ou alguma traquinagem...

No entanto, agora o rapaz estava em uma confusão totalmente diferente das que estava acostumado. Por coincidência, ele também fora levado para uma sala e tinha toda a atenção do diretor do hospital, juntamente com os seguranças que lhe abordaram, a gorda que estava mais calma, porém ainda estava pálida de medo, e outra mulher, cujo nome era Isabela.

Isabela estava de pé em frente à mesa do diretor Humberto, explicando a situação desde o início, explicando como podia, é claro. Por que não fazia sentido algum.

Isabela e Celina (a gorda de camiseta roxa) viajavam tranquilas para Jundiaí, no interior de São Paulo quando, de repente, um homem surgiu na rodovia, aparecendo literalmente do nada. Celina, que estava dirigindo o carro, não conseguiu frear a tempo, atropelando o homem.

- O carro passou por cima dele Sr. – Isabel dizia a Humberto, um homem de postura reta e olhos cansados, com alguns cabelos grisalhos que mostravam que já estava beirando os 60 anos. – Nós não tivemos culpa... Ele apareceu do nada, simplesmente entrou na frente do veículo...

O diretor escutava a história, olhando para Eros de vez em quando. Os olhos cansados do homem ficavam ainda mais evidentes depois do absurdo que estava escutando.

-... nós não fugimos! – Isabela se mantinha firme, embora mostrasse um pouco de nervosismo. – Socorremos o homem e chamamos o resgate...  temos testemunhas, se quiser... falamos com a policia, com os bombeiros e com os paramédicos... e como esta cidade era a mais perto o trouxeram para cá e nós viemos juntos.

- E ele estava morto! – Celina falou alto apontando para Eros, que continuava sentadinho na cadeira da sala do diretor, pensando que tudo isso fora culpa de um tamanduá.

Todos olharam para a gorda e depois para Eros.

- Num sei não... ele me parece bem vivo. – disse um dos seguranças em tom de deboche.

- Cale-se Eduardo. – disse Humberto com uma voz grossa e autoritária. – E leve a moça até o Dr. Luís e diga a ele para lhe dar um calmante leve.

O segurança do hospital acompanhou Celina até a porta e seguiu com ela para fora.

Depois disso, houve alguns segundos de silêncio com todos os membros restantes da sala se encarando.

- Ok. – Humberto disse, juntando as duas mãos. – Obviamente houve um mal entendido... este rapaz me parece muito bem para alguém que foi atropelado...

- E declarado morto! – Isabela interrompeu. – Os paramédicos e o legista declararam isso! Nossa! –Isabela levou à mão a testa. – O...o... ombro e parte da mandíbula estavam destroçados... Celina vomitou na hora que viu, e eu não consigo tirar aquela imagem da cabeça...

Humberto manteve a postura reta e suspirou.

- E entendo. Deve ter sido traumático, mas senhorita... Não pode ser o mesmo homem que está aqui diante de seus olhos.

- Eu sei! Eu sei! Parece loucura... mas é ele! Tenho certeza!

Humberto bufou, então voltou-se para Eros.

- Rapaz, qual é o seu nome?

- Carlos. – Eros respondeu devagar, ainda buscando na mente uma maneira de fugir dali.

Os olhos de Humberto fixaram-se no garoto.

- Está de jaleco e... descalço... tenho certeza que não é um dos médicos daqui... É um estagiário?

Aproveitando a deixa, Eros concordou com a cabeça.

- E onde estão seus sapatos? É uma transgressão grave andar sem vestimenta adequada em um hospital.

Eros engoliu seco.

- Eu sei, é que... foi uma brincadeira bem sem graça dos outros estagiários... eles pegaram meus sapatos...

Os três na sala fitaram Eros, não acreditando em sequer uma palavra dele.

- Será que sou só eu que está percebendo que ele está mentindo? – disse Isabel convicta.

Humberto cruzou os braços a frente do corpo.

- Obviamente esse rapaz está mentindo. É claro que ele não é o homem que você atropelou, a questão é... Quem é você e o que faz no meu hospital?

Eros não sabia o que fazer, se não falasse nada eles o levariam para a os policiais, se falasse a verdade, o trancariam num hospício, e se fosse para mentir... teria que ser uma mentira muito boa.

- Hã... eu... – nenhuma ideia vinha à mente do jovem. – eu... eu... ok! Me desculpem... meu nome é Carlos e eu sou... um conhecido de uma das enfermeiras daqui... bem... sou mais do que um conhecido... se é que me entendem. – Eros arqueou as sobrancelhas a fim de fazer os três ali na sala acreditarem na mentira que desenvolvia as pressas. – O problema é que... ela não está... não está... devidamente solteira...

-É o amante de uma enfermeira casada? – Isabel perguntou logo de cara, já entendendo o raciocínio.

- Bem... – Eros deu de ombros. – Eu sou novo, mas não tão novo assim... o fato é que o marido dela veio fazer uma visita e eu tive que me esgueirar por aí como podia... para escapar sem ser notado... percebam que nem tive tempo de pegar minhas roupas... estou usando um jaleco que achei por aí.

- Estava num encontro romântico com uma de nossas enfermeiras em pleno horário de expediente... – Humberto dizia. – Pois bem, quero o nome dela.

- Não! – Eros respondeu logo de cara. – Por que eu faria isso? Irá prejudicá-la... Ela tem filhos e precisa desse emprego.

- Ele está mentindo! – Isabel quase gritou.

- Pra mim parece uma história bem convincente e real... – o segurança que havia ficado na sala deu sua modesta opinião, pensando que já passara por um aperto parecido.

- Mas não é! – a mulher mantinha-se firme. – Escute... Eu sei que é maluquice, que é um absurdo... mas estou dizendo que é ele! O morto! O defunto! O presunto! O cadáver!

- Qual é, diretor. – Eros sorriu se aproximando da mesa. – Olhe bem pra mim... pareço com alguém que foi atropelado? Essa pobre moça está com os nervos em frangalhos, como a amiga... está me confundindo... Obviamente nem preciso dizer que mortos não andam nem falam... no cinema é possível, mas aqui é vida real, né?

Eros e Isabela encaravam Humberto, como se fossem dois advogados tentando convencer um juiz.

Humberto por fim, se levantou, ajeitou a gola da camisa pólo e disse:

- Matheus... acompanhe esses dois ao necrotério... veja se o legista da escala está disponível e mostre o presun... digo, o cadáver a esta moça, para que fiquei claro de uma vez por todas. Depois acompanhe Carlos até o local onde ele largou suas roupas e então o escolte até a saída. Hã... Carlos... serei direto... não quero ver seu rosto dentro deste hospital nunca mais, entendeu? Caso contrário, chamarei a polícia.

- Tem minha palavra. – Eros disse de imediato, se bem que agora sua mente se preocupava em como não parecer que ele saiu de um saco preto, e sim, de um lugar fechado onde estava dando uns amassos... No mesmo lugar em que evidententemente deveriam estar as roupas que não existiam.

***

- Sumiu? – Matheus perguntou para o legista, que comia um sanduiche ao lado de um cadáver aberto.

- Não sumiu. – respondeu o homem relaxado. – O Estevão, ou qualquer outro enfermeiro, deve ter levado para a outra área, afinal estávamos esperando que algum parente viesse para identificar o corpo.

O segurança conversava com o legista próximo a uma mesa de autopsia, enquanto Eros e Isabela ficavam perto da porta a uns seis metros de distância, um encarando o outro com estranheza.

- Eu sei que é você... não pode me enganar... sou advogada, eu engano as pessoas e nunca o contrário. – ela sussurrou, com os braços cruzando a frente do busto.

- Aham... – Eros estava mais preocupado em ser reconhecido, por isso se mantinha de costas para os dois – Acho que você precisa é de um homem.

Isabela arregalou os olhos surpresa.

- Como disse?

- É isso que ouviu. – Eros também sussurrava. – Será que não podia ter deixado esse assunto de lado, tinha que insistir, tinha que afobar... Você precisa é relaxar, mulher... Tá precisando de um homem forte, com uma vitalidade intensa que lhe dê um pouco de relaxamento.

Quando Isabela pensou em reagir ao insulto, ela pensou no que o garoto havia dito.

- Espera... você...você... – a mulher arqueou as sobrancelhas e descruzou os braços apontando para o rapaz. – você acabou de concordar que é mesmo o homem que atropelamos...

- Sou inocente até que prove o contrário... Você não é advogada? Deveria saber disso.

Mesmo sem falar nada, Isabela ficou pálida, relutando em crer em algo que ela estava afirmando com tanta convicção até poucos minutos atrás.

Então Isabela se virou e Eros também, ao ver que o segurança e o legista estavam vindo até eles.

- O corpo deve ter sido levado para outro lugar. – disse Matheus – Parece que precisa de um tempo para ser reconhecido por alguém...

O legista que estava comendo seu sanduíche olhou para a face de Eros e pendeu a cabeça para o lado, numa expressão de dúvida.

- Hei... é você. – ele sorriu.

- Conhece ele? – Matheus perguntou para o Dr. que encarava Eros.

- Claro que conheço... eu fiz a autopsia dele há algumas horas... e esse aí é meu jaleco... espere... – o legista olhou para trás, onde o corpo imóvel e morto deveria estar, depois para Eros, para trás de novo, então para seu sanduíche, e logo foi ao chão, desmaiando aos pés do segurança.

- Eu te disse!!! Eu disse!!! – Isabela estava apontando para Eros. – Esse aí é o cara que atropelamos... é o cara... – sua face foi ficando branca, o sangue desaparecendo do rosto. – É o cara... morto...

Seus olhos se reviraram antes dela desmaiar também, caindo por cima do legista.

Matheus estava num necrotério com duas pessoas desmaiadas aos seus pés, olhando para um garoto que deveria estar morto, ou isso, ou a mulher e o legista andaram usando o mesmo tipo de droga.

Os dois ficaram se encarando por alguns segundos, nenhum deles fazia ideia do que fazer agora.

Só permaneceram em total silêncio analisando um ao outro.

- Então... – Matheus falou quebrando o gelo. – Você é o que? Um zumbi?

Eros arqueou as sobrancelhas.

- Não acho que seja... – Eros não fazia ideia de como proceder naquela situação.

- Mas está morto. – O segurança foi direto.

O garoto deu de ombros.

- Estou vivo agora. Mas realmente estava morto há algumas horas. Sabe – o jovem cruzou os braços. – fico pensando que é bom que os mortos não voltem à vida com frequência... dá trabalho demais... chama muita a atenção... vida de morto não é fácil... – Eros sorriu, sem graça. – Eh... foi mal o trocadilho... 

- Não tem problema. – Matheus suspirou. – Você não vai...  sair por aí comendo cérebros... vai?

- Não. Com certeza não. Você não vai chamar a policia... vai?

- Não. Não ganho bem o suficiente para ser trancado num manicômio por ver e falar com mortos. Por isso é melhor dar o fora daqui agora.

Eros sorriu, mas agora era um sorriso de felicidade e alivio.

- Obrigado cara... é sério... obrigado.

- Não me agradeça... Essa é de longe a situação mais esquisita que já vivi em toda minha vida, mas não vou ficar pensando ou temendo... simplesmente vou fazer igual ao meu segundo casamento... vou ignorar.

Eros não deu muita atenção ao que o segurança disse, não fazia sentido e o garoto estava muito agradecido pela chance de escapar ileso daquela furada em que se meteu.

- Antes de ir. – Matheus o parou. – Pode me dizer como é o outro lado?

Eros pendeu a cabeça para o lado pensando.

- Bem... – o garoto fez uma careta. – Sabe aquela história de que há cem virgens te esperando no paraíso? Pois é... Tudo verdade. Mas não espalha por aí não, por que pode chamar a atenção de muito marmanjo tarado.

Dizendo essa besteira, Eros saiu correndo pelos corredores brancos do hospital em busca de uma saída do prédio, e daquela situação


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Notas finais do capítulo

Para quem achar que Eros foi um tanto machista... me desculpem, afinal, ele é um pouco infantil mesmo... Mas isso irá mudar quando ele conhecer a... ops! Nada de spoilers!
Espero que tenham gostado e até o próximo.



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