Botei a carta no quarto de Josh, sobre a mesa de cabeceira e sai da casa. Algo me dizia que meus pais sabiam demais sobre essa história. Vou ficar um tempo em minha casa, para ver se descubro algo. Ah, mais uma pergunta: Fantasmas dormem?

Não, não dormem. Eu tentei, mas atravessei a cama. Passei a madrugada andando pelas ruas úmidas, devido ao frio, mas eu absolutamente não conseguia sentir nada. O que está acontecendo? Não vejo a hora de Josh acordar e responder minha carta. Tornei a voltar para minha casa, parece que meus pais estavam conversando.

- A alma dela...Onde está? – Perguntou meu pai. – Ela já partiu?

- Não, não é possível...Ela deve estar presa num submundo...Nem viva nem morta... – Respondeu minha mãe.

Sobre o que se tratava isso afinal? Eles estão falando de MIM?

- Ah, não! Mas Nicole, querida...Isso seria possível? Ela poderia estar aqui...Agora... –Falou meu pai, olhando para os lados, movimentando os braços, como se estivesse procurando alguém invisível. E eu acho que estava. Esse alguém era eu.

- Aqui, Herbert deu esse olho de vidro, para nós a detectarmos...Ele falou que tem possibilidades... – Disse minha mãe, entregando uma esfera incrustada de ouro nas bordas.

- Mas quando que ele ...? –Perguntou meu pai, analisando o objeto.

-Ele falou só comigo, sabia que você não iria ficar bem se soubesse... Ponha querido...Ele deixou uma caneta, é o único meio dela se comunicar... – Falou minha mãe, botando as mãos na boca, receosa.

Meu pai pegou aquele pedaço de vidro e colocou-o no olho direito. Ele girou a cabeça pelo quarto, a minha procura. Ele parou, olhando bem no lugar onde eu estava, e deu um grito, deixando o olho de vidro cair no chão, e quebrando.

-Nicole, ela...Ela está aqui, perto do armário! –Falou meu pai, apontando em minha direção.

Eles me descobriram...Seria isso uma coisa boa?

- Ora, Alberto, não tem jeito! Você quebrou o olho, não sabemos se ela ainda está aqui... Liza, Liz, querida, você está aqui? Se estiver, escreva algo com sua caneta...-Falou minha mãe, olhando para o armário.

Achei melhor não fazer o que ela pedia. Sai do quarto, correndo. Estava na hora de ver se o Josh respondeu minha carta. Cheguei na casa dele, e Josh ainda estava dormindo. Fiquei lá pelo que se pareceram horas, apreciando ele dormir. Ele era a única pessoa que realmente se importava comigo, tinha que dar um sinal de vida...Ou não...Ele acordou, abriu a carta, e ficou a analisando, tentando ver se reconhecia a letra. Com tinha escrito em letras de forma, pois estava cansada de escrever, ele não notou. Apenas procurou uma caneta e começou a escrever:

“Quem é você? Bem, não tenho mesmo nada a perder...É complicado, uma amiga minha, ficou um tempo sem ir ao colégio, e parece que bem, ela morreu, mas os pais dela continuam mantendo-a dentro de casa...”

Fiquei realmente impressionada em como ele pode confiar em mim mesmo sem saber. Ele escreveu o que realmente estava acontecendo, e como não revelou nomes, não havia perigo algum...Josh deve ter pensado: “Se essa pessoa botou a carta aqui, deve ser alguém próximo, ou só minha mãe, querendo conversar misticamente (A mãe de Josh é psicóloga)...” Depois que ele terminou de escrever, foi a lanchonete requisitada, colocou a carta no envelope, em baixo da mesa 4 e partiu. Eu fiquei lá, pensando naquela conversa estranha dos meus pais...