P.O.V Liza

Eu e Josh entramos numa espécie de tubo de vidro... Algo como túnel de hamsters... Uma coisa realmente apertada. Senti-me puxada para baixo, mais ou menos como fora naquele estranho buraco negro... Um tipo de sucção... Meus pés não se atreveram a tocar o chão daquela coisa. Finalmente, parei de ser puxada, e meus pés aterrissaram no chão duro, e pelo impacto, eu desabei. É, parece que tínhamos chegado no lugar onde as Trevas habitava.

P.O.V Josh

Antes de sair do “tubo”, percebi algo semelhante a uma forma de bolinho, dentro do tubo e mostrei para Liza. Ela disse que isto não estava lá quando a gente entrou. Finalmente chegamos. Ou, parecíamos ter chegado. O lugar era úmido, muito mal iluminado, tinha apenas candelabros e esqueletos por todo o lugar. Agora, como nós falaríamos com o Espírito das Trevas? Havia neblina, muita dela.

- Hey, vamos atravessar! – vociferou Liza, me dando um susto devido ao eco e ao silencio.

Botei o braço na frente dela para bloqueá-la.

- Está. Fácil. Demais. – falei, pausadamente.

De repente, um estranho ratinho passou. Ele corria em direção a neblina, desesperado. Quando adentrou, seu pequeno corpinho foi atirado a metros de distancia, e o rato caiu, sem vida. E agora, como faremos para passar? Eu e Liza trocamos olhares desesperados, nos perguntando no silencio, como faríamos para passar. Foi ai que eu ouvi.

P.O.V Liza

Não sei se era só eu, mas ouvia uma respiração asmática vindo da neblina. Será...? Será que era o...

- QUEM SÃO VOCES, E O QUE QUEREM? – falou a voz, ainda com a neblina tapando seu corpo. Ainda dava pra perceber que a coisa estava se aproximando.

- VOCE SABE QUEM NOS SOMOS. QUEREMOS RESPOSTAS! – falei, sem rodeios. Queria demorar o menos possível, para acabar com a agonia de Herbert perder seu emprego.

- AH... QUEREM É? EU DAREI AS RESPOSTAS... MAS GOSTARIA DE ALGUMA COISA EM TROCA... - vociferou a voz, chegando ainda mais perto.

- Aceita dinheiro? – perguntou Josh, visivelmente nervoso. – É só o que temos...

Não houve resposta. Apenas uma risada gélida, que me fez ficar arrepiada.

- Não aceito dinheiro. Apenas ALMAS. Ou algo que as deixe aprisionada aqui, comigo. Quanto mais almas, a minha fome se sacia. Algum sacrifício? Não NECESSARIAMENTE precisa ser um de vocês aqui... Pode ser alguém na Terra...

Era só o que faltava. Teríamos de fazer um acordo com o Espírito... Mesmo que indicássemos uma pessoa... Quem garante que ele ia cumprir?

- E qual a nossa garantia? – perguntei firme.

- GARANTIA? – falou a voz, e agora dava para ver seu dedo preto, raquítico, aparecendo no meio da neblina. – ORA, MENINA TOLA, VOCE ESTÁ FAZENDO UM TRATO COM A MORTE! NÃO TEM GARANTIA, É UMA COISA QUE NÃO TEM CERTEZAS, SABE...

- Uma. Nos de o direito de uma pergunta e lhe daremos a alma que quer. – negociou Josh, que agora parecia mais confiante.

- CERTO... O QUE EU TENHO A PERDER? SE VOCES NÃO CUMPRIREM O TRATO, VÃO FICAR PRESOS PARA SEMPRE AQUI, MESMO... ESSES PASSES SÓ SERVEM, SE EU DEIXAR VOCES SAIREM. AH, QUE CARA É ESSA, LIZA QUERIDA? SEU GUARDIAO, O HERBERT, NÃO LHE FALOU ISSO, EH? TOLINHO. – disse a voz, agora muito mais perto. Podia ver a neblina se mover, de acordo com sua respiração. Se é que aquela coisa respira.

Os tubos por onde nós entramos se solidificaram, ficaram pretos, e se fecharam. Engoli seco, e perguntei:

- Por quê? Porque você me persegue? Não só a mim quanto a Josh, minha família...

- POR QUÊ? VOCE JÁ SE PERGUNTOU POR QUE SEUS PAIS RECEBERAM UM TREINAMENTO ESPECIAL CASO VOCE MORRESSE?

Espantei-me. Que treinamento o Espírito falava?

- AH, ESQUECI...VOCE PERDEU A MEMORIA, NÃO É?

- N-Não fuja do assunto. – hesitei. - Quero que você responda a minha pergunta.

- TE PERSIGO, PORQUE VOCE NASCEU, DESTINADA PARA A MORTE.

- Como assim? – insisti confusa.

- UMA PERGUNTA. QUERO A ALMA. ESTOU PERDENDO A PACIENCIA, LIZANDRA...

Eu e Josh discutimos quem iria ser. Seria duro, mas teria de ser.

- Quem escolhemos foi Danna. Danna Gryter. Você pode apagar a memória de todas as pessoas que conheceram ela? Digo... Apagar Danna da memória das pessoas entende...

- CERTO. VOCES TAMBÉM NÃO LEMBRARÃO MAIS ELA. 3,2,1...

E uma coisa prateada apareceu agora na mão, que podia ser vista inteira em meio à neblina. Presumi que era uma alma, que, agora, eu não conseguia me lembrar.

- E porque meus pais foram treinados para a situação de caso eu morrer? Isto é comum por aqui? Eles sabiam que eu iria passar por isso tudo?

- MOCINHA CURIOSA... VOCE ME CHAMA A ATENÇÃO SABIA... SERIA UMA PRECIOSIDADE SE VOCE FICASSE... TERIA TODAS AS RESPOSTAS QUE QUERIA... O TRATO FOI UMA ALMA UMA PERGUNTA. ACABOU SUA COTA.

Por alguns instantes pensei em ficar. Mas me lembrei de minha mãe... Como ela ficaria sabendo que eu estou nas trevas? Mesmo que eu tenha as respostas... Com quem vou compartilhá-las...?

-M-Muito tentadora, a sua proposta, mas acho melhor irmos embora...

- JÁ VÃO? – repetiu o Espírito, que agora, via-se quase nitidamente seu corpo esquelético e suas roupas sujas e rasgadas. Ele acenou com a mão, e os tubos que tinham se solidificado e ficado negros voltaram ao normal. Respirei aliviada.

Mas cantei vitória antes demais. De repente, um sorriso maligno surgiu naquele rosto esquelético, e, com mais um aceno, surgiu algo semelhante à metade dragão e metade escorpião. Josh segurou minha mão com toda a força e nós corremos até o tubo. Botamos as pedrinhas que Herbert tinha nos dado na forma que Josh me mostrou, antes de desembarcamos. Por centímetros Josh não foi capturado. O bicho, por pouco, não arrancou a cabeça de Josh. Nós dois, ao mesmo tempo fomos projetados para cima. Olhei para minha roupa, e percebi que estava queimada, e um pouco chamuscada por uma cuspida de fogo do dragão-escorpião. Finalmente, voltamos à sala branca, e foi de fato um alivio. Mal podia esperar para contar tudo que descobrimos que fizemos...