P.O.V Liza

Mas cantei vitória antes demais. De repente, um sorriso maligno surgiu naquele rosto esquelético, e, com mais um aceno, surgiu algo semelhante à metade dragão e metade escorpião. Josh segurou minha mão com toda a força e nós corremos até o tubo. Botamos as pedrinhas que Herbert tinha nos dado na forma que Josh me mostrou, antes de desembarcamos. Por centímetros Josh não foi capturado. O bicho, por pouco, não arrancou a cabeça de Josh. Nós dois, ao mesmo tempo fomos projetados para cima. Olhei para minha roupa, e percebi que estava queimada, e um pouco chamuscada por uma cuspida de fogo do dragão-escorpião. Finalmente, voltamos à sala branca, e foi de fato um alivio. Mal podia esperar para contar tudo que descobrimos que fizemos...

- Ah meu Deus, eles estão vivos! – falou Herbert, disparando para me abraçar e depois, abraçar Josh.

- E então? Descobriram algo? – perguntou Thalles, sem se levantar de sua cadeira.

- Sim. Ele disse que me persegue porque eu nasci “destinada” para a morte. Que história é essa? – perguntei confusa.

Herbert bateu na própria testa e sussurrou algo como: “Eu devia ter pesando nisso, me esqueci...”.

- Bem... O circulo. O símbolo da alma com vida é um circulo. Quando nosso corpo morre, não aparece nada, mas quando nossa alma morre, somos marcados por um circulo e uma barra dentro, como se houvesse sinal de vida, entende? Só que você, Liza, já nasceu com o sinal da “morte”, o que não é comum. Então, eu me ofereci para ser seu guardião e não deixar nada de ruim acontecer com você... Mas aconteceu... E eu não devia ter deixado. Desastrado do jeito que sou Thalles, antes mesmo de você “morrer” decidiu tomar uma medida da precaução: Treinou seus pais para o inevitável: O Espírito das Trevas levar você. – explicou Herbert, extasiado.

- Que tipo de treinamento? – interrogou Josh.

- Sabe pra que eles não passem mal se, do nada, a alma sair do corpo de Liza... O treinamento foi em vão... Lamento... Seus pais tinham se separado, antes de apagarmos sua memória. – intrometeu-se Thalles. – Certo agora, você já tem todas as respostas que precisa. Vou apagar sua memória.

- NÃO! – berrou Herbert. – Tenho uma solução, e não vai apagar a memória de ninguém AQUI, e sim devolvê-la.

- DEVOLVER? NEM PENSAR... – manifestou-se Thalles.

- Escute minha proposta: Devolva a memória de Liza e Josh e deixe-os ficar aqui, trabalharem no G.P, ai não vai botar nossa identidade em nenhum risco, e eles vão estar felizes, sabe. E então, o que me dizem?

A ideia até que era boa. Mas e quanto minha mãe e meu pai?

- Não é ruim, a sua ideia... Mas e meus pais? – perguntei. – Quero dizer, eles podem sentir saudades, ou dar com a língua nos dentes, entende?

- Olha Liza, a escolha é sua. E do Josh, é claro. Mas se vocês quiserem viver como jovens comuns, fazendo de conta que nada disso aconteceu, eu mando vocês pra Terra. Mas saiba que o Espírito sempre vai achar você uma preciosidade...

Ele tem razão. Eu não sou uma adolescente comum. Nem perto disso. Eu NASCI destinada a isso. Mas isso sou EU. Não vou sacrificar a vida normal de Josh.

- Olha Josh, acho que eu vou ficar não quero que você se prejudique...

- Liza, estamos juntos nessa, entendeu? Se você for ficar, eu vou ficar. – falou Josh, me abraçando. Ele estava trocando a própria mãe só pra ficar comigo?

- Thalles...? O que acha da minha ideia? – perguntou Herbert, esperançoso.

- Os pais. Dos dois. Ainda vão saber de nossa existência... – falou Thalles, pensativo.

- Eu sei, pensei bastante nisso, sabe? E se a gente apagasse a memória dos pais deles também? Tudo bem para vocês, pessoal? – falou Herbert, com um olhar de dar dó.

Se a minha mãe ia esquecer-se de tudo, ela ia esquecer que eu era filha dela... Ela ia esquecer-se do treinamento... De absolutamente tudo... Ah... Bem, se eu estava destinada a isso, mas cedo ou mais tarde eu teria de fazer essa escolha, certo?

- Olha, quando mais cedo eu assumir esse posto, melhor. Eu aceito. – falei, sem hesitar.

Josh segurou minha mão e fez que sim com a cabeça. Nós dois sorrimos.

- Não representa perigo... Certo. Eu topo. – falou Thalles, e eu Josh e Herbert começamos a comemorar.

Olhamos para um aparelhinho e passou um mini-filme na minha mente: Eu e Josh, eu numa lanchonete; eu achando uma caneta no sofá da casa de Josh; eu indo visitar meu pai com Josh; Josh na festa, com uma garota que ao cheguei a reconhecer, mas era bonita; Josh acariciando meus cabelos diante de meu corpo na cama do meu quarto...

Quando finalmente, o filme acabou, eu e Josh nos olhamos por um tempo. Em seguida nos beijamos, e foi inevitável sair lagrimas dos meus olhos.

Então era isso. Agora, eu e Josh éramos dois ADOLESCENTES INVISIVEIS.