Capcom Vs Snk: Jogo de Adulto escrita por Andras


Capítulo 5
05 Um Novo Relâmpago




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Capítulo 5

–Um novo relâmpago-

Quatro corpos estavam caídos no deque do navio: Terry; Andy; Joe e Vega. Quatro corpos estavam de pé, porém inertes e praticamente em choque com aquela situação. Sakura cai de joelhos: Não conseguiu ser rápida o suficiente para ajudar Dong Hwan quando ele precisou. Não conseguiu segurar Rock e impedir que suas mãos ficassem empapadas de sangue. Sangue também havia nas mãos de Bonne Jenet: era seu próprio sangue, arrancado por aquele maníaco espanhol que Rock quase havia matado. Não se sentia tão mal assim havia muito tempo. Não se sentia tão incapaz havia muito tempo, realmente. Em pior estado se encontrava Jae Hoon. Os ombros arqueados denotavam o quão abatido estava o rapaz. Apesar de Dong Hwan ser seu irmão mais velho, Jae sempre sentiu que deveria protegê-lo a qualquer custo, pois sabia que seu irmão também pensava dessa forma. Apesar de serem totalmente diferentes, os dois eram muito unidos, sendo os dois lados de uma mesma moeda.

Eles haviam dedicado horas para procurar o rapaz, na esperança de que ele estivesse vivo, sem nenhum êxito. Eles já estavam exaustos das batalhas ininterruptas, e a busca só os deixou em estado pior. Depois de alguns minutos de silêncio que pareciam horas, uma voz sem forças finalmente se pronuncia, quase em um sussurro:

—Precisamos...—De início, Bonne Jenet não chamava muita atenção, o esforço que fazia então para falar era enorme. —Precisamos aportar! —Sua voz agora conseguia a atenção de seus companheiros. —Temos que levar Terry e os outros para um hospital! —Apenas Sakura parecia reagir ao apelo da amiga, levantando-se.

—Rock! —A jovem japonesa alcançava o ombro do rapaz com suas mãos, mas ele ainda não se levantava, apenas abaixando o rosto, evitando o olhar da garota. —ROCK! Precisamos nos levantar!

—Jae... —Bonne repousa sua mão no ombro do rapaz, que afasta o toque da amiga, levantando-se.

—Temos que aportar... —Ele diz, dando esperanças para a loira. —...eu preciso voltar para casa! —O anúncio do rapaz não passa desapercebido por ninguém daquele grupo. O peso desse anúncio também não podia ser ignorado.

—Jae! —Bonne tinha a voz embargada por lágrimas que ela se recusava a deixar escaparem. —Não podemos nos separar! Não vê que estamos sendo caçados?

—Eu preciso ir para casa, Bonne! Meu irmão acabou de...—Por mais forte que fosse, Jae Hoon não conseguia pronunciar aquela palavra.

—Jae... —Sakura tentava ponderar com o rapaz. —...Nós não achamos um corpo. Dong Hwan ainda pode estar vivo!

—Você está tentando me consolar? —A voz do rapaz se arrastava, cansado, derrotado. —Ou estão tentando consolar a si mesmos? —Agora, a pacífica voz ganhava um contorno cruel, num misto de frustração e raiva.

Sakura e Bonne ficam sem reação. Não estavam realmente magoadas com Jae Hoon, conseguiam compreender de onde estava vindo aquele rompante. Ainda assim, ficam sem palavras ao ver o outrora sereno lutador de Taekwondo cerrando os dentes em fúria. Rock Howard, por sua vez, finalmente se levanta e caminha na direção do amigo, percebendo uma única forma de libertar a si mesmo e a Jae Hoon daquela frustração.

—ROCK! —Sakura se espanta ao ver o loiro desferir um soco no rosto de Jae Hoon. Ao preparar um segundo golpe, eles vêm a reação do lutador de Taekwondo, dando um giro para escapar e acertando Rock com um chute. Os dois tomam distância, passando a mão em seus novos ferimentos.

—É isso então, Jae? —Rock diz, ensandecido. —É assim que vamos honrar Dong Hwan? —Ele acerta mais um soco, num movimento desengonçado. —Eu vou ter que agir que nem um iditoa? Que nem ele faria se te visse nesse estado?

—Cala a boca, Rock! Cala a boca! —Jae acerta um soco, dispensando de técnica, dispensando a razão. Rock cambaleia, logo voltando a atacar novamente. Os dois trocavam golpes até que Rock vai ao chão. Sua energia estava praticamente zerada. Seu corpo mal havia aguentado se colocar de pé naquela altura. Sakura faz menção de intervir, mas é impedida por Bonne:

—Sakura, deixa eles.

—Mas Bonne...

—Eles precisam disso...a gente precisa disso.

Jae Hoon sobe sobre Rock, puxando sua camisa e preparando mais um soco, mas se detém ao ver o olhar do rapaz. Não haviam lágrimas, mas elas não eram necessárias. Os sentimentos de Jae: aquela fúria, aquela frustração, eram completamente compartilhados por Rock.

—Eu também queria... —Rock precisa juntar bastante fôlego para conseguir falar. —Eu também queria ter feito mais! Eu também queria que Dong Hwan estivesse aqui! Droga! Ele era insuportável, Jae! Ele sempre saía do caminho dele pra implicar comigo! Merda! Ele era meu amigo, Jae! Era um dos poucos que eu podia chamar assim! Se ele nos visse agora, você acha mesmo que ele ia nos perdoar?! Ou você acha que ele ia ameaçar a gente com socos débeis e nos mostrar que o que a gente precisa fazer é achar os desgraçados que estão atrás da gente, e dar um jeito para que nunca mais eles façam alguém sofrer do jeito que estamos sofrendo agora?

—Rock... —Jae larga o loiro, seu amigo. Seus olhos enchem de lágrimas, mas elas não os abandonam. Ele cobre o rosto com as mãos, ao que Bonne surge, confortando-o com um abraço. Logo Sakura faz o mesmo, sendo acompanhada por Rock. Aquele peso parecia que nunca os abandonariam, mas sentiam que o mais produtivo -no momento, pelo menos- era vestir aquele peso, carregá-lo com eles até o fim daquele pesadelo. Em memória de Dong Hwan.

Eles finalmente aportam, em silêncio. Vega tinha sido amarrado pela tripulação do navio, sendo preso num dos quartos, da mesma forma que Freeman. Os dois não acordariam tão cedo. Enquanto a embarcação é ancorada no porto, o grupo de lutadores consegue ver luzes azuis e vermelhas se movimentando em sua direção. Talvez fosse o cansaço, talvez aquela situação como um todo os deixaram desatentos, de todo modo eles demoram muito para perceber que se tratava da polícia, e mais ainda para reagir e lembrar que Bonne havia, afinal de contas, roubado aquele navio.

Não demora muito para eles se verem cercados pelas viaturas. Não havia muito o que fazer, e os quatro apenas levantam as mãos ao ar, mostrando não serem hostis. Uma mulher toma a dianteira da batida policial e caminha até os lutadores, sendo recebida com um sorriso de Sakura, e olhares curiosos de Jae, Rock e Bonne.

—Chun Li?! —A menina diz, abraçando a lutadora em seguida.

—O que você está fazendo aqui, Sakura? —A mulher chinesa de cabelos castanhos, presos em dois coques próximo as suas têmporas diz, genuinamente surpresa. Usava um terno e saia azuis, mas não parecia fazer parte realmente da polícia. Aquela postura e espírito podia ser facilmente percebido por Jae, Rock e Bonne como o de uma lutadora. E uma de alto nível.

—É uma longa história, Chun Li. —A menina diz, parecendo muito cansada, mas tão nervosa que suas frases emendavam umas nas outras, num único fôlego. —Esse é o Rock Howard, e o Jae Hoon. E aquela é a Bonne. A gente estava numa boate quando Vega nos atacou, junto de um outro assassino. Depois disso, o mentor do Rock apareceu, mas ele parecia não estar muito bem. No final das contas ele nos atacou também, e viemos parar aqui. Um amigo nosso foi gravemente ferido pelo Vega, e caiu no mar. Não conseguimos encontrá-lo em lugar nenhum.

—Fica calma. —O tom de voz de Chun Li era reconfortante, e ela aperta um pouco mais o abraço. —Nós vamos ver o que conseguimos fazer. —A agente da Interpol meneia com sua cabeça para um dos policiais, que estava ouvindo a história.

—E o que vocês estão fazendo aqui? —Rock pergunta, desconfiado.

—Vocês não foram os únicos a serem atacados. Kyo Kusanagi foi gravemente ferido num combate com um lutador de Muay Thai chamado Adon e um ninja conhecido apenas por Geki. Além disso, Ken Masters, um amigo meu, está desaparecido, e um dos últimos a vê-lo foi você, Rock Howard. — Chun Li observava o rapaz com um olhar julgador. Ela cruza os braços, dizendo em seguida: —Achamos muita coincidência que você estava aqui no mesmo momento em que um navio roubado deu as caras.

—Escuta, moça, eu fui atacada também. —Bonne intervém, mostrando-se ainda estressada com a situação. —Sei que não foi certo roubar esse navio, e provavelmente minha ficha criminal não vá me ajudar, mas estava numa situação de desespero. O navio tem estragos, eu posso pagar por eles. Mas eu não vou ficar ouvindo acusações aos meus amigos enquanto vocês ainda tem que interrogar um espanhol psicótico para descobrir que droga é essa que tá acontecendo com a gente! Sem contar que tem três pessoas feridas que precisam de atenção, e um desaparecido. —Ela olha para Jae, que parecia estar mais determinado do que momentos atrás. —Então vamos fazer o que é mais importante primeiro, e depois a gente se preocupa com aquilo que não é prioridade, tá certo?

Chun Li abre um sorriso, genuinamente surpresa com a atitude da pirata. Ela ordena que alguns policiais escoltem Jae e Rock até o hospital, enquanto a ambulância levaria Terry, Andy e Joe. A lutadora conduz Sakura e Bonne até o seu carro, se encarregando de levar as duas até o hospital. Aquela história ficava cada vez mais interessante.

—Desculpe se fui grossa, Bonne Jenet. —Chun Li diz, enquanto dirigia. —Mas tente entender meu lado: eu não posso deixar de verificar nenhuma das minhas suspeitas.

—Eu sei. Desculpe também. —A loira diz, relutante. —Eu só estou de saco cheio de ser atacada. E também... —Ela hesita, chegando a engasgar em suas palavras. Por um lado queria falar de Dong. Por outro, achava que evitar falar disso poderia ser benéfico de alguma forma. Ela suspira, optando por não falar do amigo perdido. O silêncio impera por alguns instantes, até que Sakura se manifesta:

—Então, por que vocês decidiram se tornar lutadoras? —Pra garota, fazia todo sentido perguntar aquilo naquele momento. Nunca teve a chance de fazer essa pergunta a Chun Li, e também estava impressionada com as habilidades de Jenet.

Chun Li e Bonne riem, de leve. Por um momento, a inocência da jovem havia lhes contagiado, quebrando aquela tensão que havia tomado conta desde a luta na boate. Era tão genuína a vontade dela de aprender mais sobre os lutadores que via e nos quais se inspirava, que as duas mulheres que lhe acompanhavam agora regojizavam-se num espírito de nostalgia, reminiscente de tempos melhores ou talvez mais simples.

—Eu treino artes marciais desde criança. —Chun Li diz, sorrindo. A imagem do templo de Kempo tomava conta de sua mente, o que a faz suspirar em saudades. —Foi influência de meu pai, que me fez treinar Tai Chi Chuan, depois complementei com Sanda. E quando era adolescente fiquei tão viciada na adrenalina que acabei treinando Tae Kwon Do, Karatê e até mesmo Capoeira.

—Cacete! —Bonne diz, abismada. —Você é tipo uma máquina de guerra, mulher! —Chun Li ri, não podia fingir que aquelas palavras não lhe deixavam feliz. Tinha muito orgulho do tanto que treinou para chegar até aquele lugar, e, com certeza, aquelas eram as memórias pelas quais tinha maior carinho.

—E você, Jenet? —Sakura pergunta.

—Tédio. —Ela diz, encabulada. —Boa parte foi por tédio mesmo. Eu lembro que estava numa dessas festas de alta sociedade, e um almofadinha veio tentar me impressionar com as habilidades dele. O garoto era uma vergonha para todos os praticantes de Savate, e a arrogância dele só o deixava mais detestável. Acho que de início eu só quis aprender pra mostrar que eu era capaz de ser melhor do que um sujeitinho irritante qualquer. Acabou que eu gostei tanto que eu desenvolvi minha própria variante de Savate. Então acho que a gente tem isso em comum, Chun Li. Depois que eu experimentei a adrenalina, eu não quis mais parar.

—É, eu bem tinha reparado que sua versão do Savate era diferente, Bonne. —Sakura diz, num tom de voz estranhamente analítico. —Você tem uma fluídez maior nos movimentos, como se sua postura e abordagem fossem algo menos rígido do que costuma ser no Savate. E também inclui mais golpes de mão aberta.

—Não enrola, menina! —Bonne diz, instigante. Estava admirada com a análise de Sakura, mas a jovem já tinha atiçado sua curiosidade. —O que te fez começar a lutar?

—Então... —Ela começa, ainda um pouco inibida. Não achava sua história tão interessante quanto a das companheiras de artes marciais, mas não havia muito para onde correr, afinal de contas. —Eu sempre procurei algo pra preencher minha vida, algo que me realizasse. Era um dia como outro qualquer. —Ela tinha um sorriso largo estampado em face, ao lembrar daquele dia. —Quando eu vi Ryu enfrentar Sagat no torneio mundial. A luta foi tão intensa, qualquer um dos dois parecia que poderia ganhar o combate. Eu lembro que a primeira coisa que reparei foi na incrível tenacidade de Sagat, no quanto ele dedicava tudo de si em cada golpe. Era pura energia. A segunda coisa que reparei foi no quanto Ryu era o extremo oposto: Ele parecia contido em cada movimento, como se estivesse se controlando. E foi aí que alguma coisa clicou na minha cabeça, porque no instante seguinte, Ryu havia liberado uma quantidade absurda de energia num punho ascendente. Ele não estava realmente se controlando, sabe? Ele sabia que Sagat era mais forte do que ele, sabia que não poderia desperdiçar energia com golpes fúteis. Então ele conservou energias para tentar vencer num golpe decisivo. Quando eu vi aquilo, eu decidi que a primeira coisa que ia fazer era aprender o Shoryuken.

—E como foi isso? —Chun Li a interrompe. Aquilo lhe era interessante tanto pelo ponto de vista de lutadora, como do ponto de vista policial. Não conseguia evitar, toda pessoa que ela conhecia, acabava fazendo um fichamento mental com toda a informação que pudesse conseguir.

—Nada fácil. Levei muito tempo até entender como concentrar e conservar a energia. Ryu, depois de muito tempo, me explicaria que o nome disso é Ki. Assisti todas as lutas que podia de Ryu e do amigo dele, o Ken. O que me atrapalhou um bocado, porque os dois executam a técnica de forma diferente.

—É verdade. Ken, de alguma forma, consegue concentrar o Ki no punho de modo que ele se materializa em forma de chamas.

—Não é só isso. —Sakura diz, interrompendo a investigadora. —Ken costuma retrair mais o punho, e no primeiro movimento do Shoryuken ele se agacha um pouco mais do que Ryu, que parece fazer uma forma mais tradicional do Shoryuken. Isso acaba dando uma velocidade maior nos movimentos seguintes, e ainda por cima ele acrescenta o ki em forma de chamas. Enquanto Ryu dominou como um mestre o Shoryuken, Ken o alterou e tornou algo ainda mais eficiente. É incrível, né?

—É...incrível. —Chun Li estava espantada. Sabia que Sakura era um prodígio, principalmente por lutar tão bem, sendo tão jovem. Agora ela finalmente entendia de onde vinha toda a força da jovem. Essa capacidade de analisar as técnicas era ainda mais impressionante do que a sua capacidade de reproduzi-las.

—Eita! —Bonne ria, abraçando a Sakura. —Você também não é mole não, hein, menina? Parece que eu vou ter que ralar muito pra ser impressionante que nem vocês duas!

—Eu não diria “muito”, Jenet. —Chun Li diz, num tom confiante, dando uma olhada na dupla de jovens lutadoras pelo retrovisor. —Já vi você lutando, e sempre tive a vontade de te desafiar. Quem sabe quando esse problema tiver sido resolvido?

—Desafio aceito, “detetive”! —A loira pisca, apontando com o indicador para sua desafiante.

Os carros chegam ao hospital, o trio Fatal Fury é removido da ambulância com cuidado, sendo acompanhado por Rock, Sakura, Bonne e Jae. Eles são levados para a unidade de tratamento intensivo, dado o aparente grave estado de seus ferimentos. Os jovens lutadores são obrigados a esperar nos corredores.

—Vocês parecem mais tranquilas. —Jae diz, num tom de voz ainda entorpecido. —Isso é bom. Eu queria pedir desculpas, por minha grosseria. Sei que só queriam ajudar.

—Relaxa, Jae. —Bonne diz, repousando sua mão no ombro do rapaz. Ele sorri com o apoio da jovem. —Lembre-se do que o Rock falou: a gente não vai deixar isso barato. Estou com vocês até o final!

Aquela ida ao hospital tinha sido um alento para o grupo, que ainda tinham alguns ferimentos para tratar. A maioria era superficial, mas ainda tinham os ferimentos causados por Vega, que requeriam um pouco mais de atenção. Bonne precisou de uma sutura na mão, o que a deixaria fora de combate por algum tempo.

Chun Li havia acompanhado todo o atendimento aos jovens lutadores, ocasionalmente trocando conversa com Sakura, que parecia bem mais tranquila com a companhia da lutadora. Rock havia esperado por um bom tempo até Chun Li se afastar para tornar a falar com Sakura. Aquela mulher realmente o intimidava, o que não envergonhava em nada o rapaz. Todo lutador conhecia a fama e a extensão das habilidades da agente da interpol.

—Ei, como você está? —Ele pergunta, curioso para saber o que tinha melhorado o humor da amiga.

—Um pouco melhor. Chun Li é o tipo de pessoa que consegue tranquilizar qualquer um, sabe?

—Ela me dá medo. —Sakura quase engasga, tendo que conter sua risada. Rock percebe, e acaba rindo também. —É sério, que mulher imponente! Achei que depois de enfrentar Terry, Andy, Joe, Freeman e Vega, a gente ainda ia ter que sair na mão com aquela máquina de guerra! —Sakura desata a rir imediatamente, principalmente pelo fato de Rock usar o mesmo termo que a Bonne. Os dois se apoiam na parede do corredor, lado a lado. O silêncio daquela vez era algo confortável. Sakura desliza para se aproximar do amigo, aninhando a cabeça no ombro do rapaz, que engole a seco.

—Sinto falta do Dong. —Ela diz, desolada. Aqueles momentos com Rock, Chun Li e Bonne eram muito bons para fazê-la se distrair, mas no momento em que desaceleraram, ela sentia novamente aquele pesar.

—Eu também.

—Você lidou muito bem com o Jae, mesmo que tenha sido de forma pouco ortodoxa.

—Precisávamos de controle. Eu preciso de controle. —Ela abraça o braço dele, apertando-o contra seu rosto.

—Você é mais forte do que se dá crédito, cara. —A voz abafada de Sakura tinha um efeito apaziguador na mente do jovem artista marcial. —Mas quando precisar de ajuda pra se controlar, pode contar comigo, entendeu?

—...entendi! —Ele diz, hesitante.

—E nada desse papo manjado de querer resolver tudo sozinho pra proteger seus amigos! —Agora ela o encarava diretamente, com um olhar acusador. —A gente tá nessa juntos, ouviu?

—Ei, quando você tá certa, está certa!

—Estou mesmo!

—E temos que celebrar, porque isso é bem raro!

—Ei! —Ela dá um soco no braço dele, que ri. Ela sorri, satisfeita. Aquele momento de serenidade era recebido pela dupla de braços abertos. Depois de tanta frustração, tanta luta, sentiam que mereciam um pouco de descanso. Ambos pareciam exaustos, suas cabeças pendiam pesadas quando o cansaço finalmente parecia alcançá-los. Eles quase adormecem em pé, naquele mesmo corredor, quando um estrondo os assusta, despertando-os imediatamente.

—Que barulho foi esse? —Rock diz, incrédulo. Sabia exatamente o que era esse barulho, tinha ouvido ele não fazia muito tempo. Não esperava ouvi-lo tão cedo.

—Será que vem tempestade por aí? —Sakura parecia tão incomodada quanto o amigo. Um novo trovão podia ser visto iluminando as janelas e a porta da entrada do hospital. Os dois imediatamente correm para o lado de fora, sendo acompanhados de perto por Bonne e Jae. Viam alguém lutando do lado de fora do hospital, e essa pessoa guiava relâmpagos na direção de seu inimigo com chutes acrobáticos. O sangue do quarteto gela imediatamente. O tempo parecia ter sido suspendido junto do salto daquele lutador, que materializava mais um trovão em seu golpe. Aterrissando, o homem de roupas brancas e cabelos curtos num tom vívido de laranja destruía qualquer esperança que aqueles quatro possuíam. Era um estudante, podiam perceber ao reparar que a roupa branca que vestia era uma espécie de uniforme. Usava óculos, e tinha um ar tranquilo enquanto lutava, mesmo que parecesse estar em desvantagem. Sakura logo o reconhece:

—Kyosuke? —Ela grita, distraindo momentaneamente o rapaz, que é atingido por um forte soco. Sakura e Rock conseguem finalmente ver o agressor: cabelos escuros, um uniforme escolar azul. Luvas de combate vermelhas. Sakura tinha enfrentado aquele rapaz no mesmo dia em que conhecera Rock.

—Sakura! —O rapaz se recompõe após o golpe recebido. —Batsu está descontrolado!

—Isso de novo? —Rock diz, incomodado. Ele tira suas luvas do bolso, abre os zíperes de sua jaqueta, enquanto caminha na direção de Kyosuke. —Vamos nocautear o rapazote e falar com a detetive, ruivo! —Rock salta adiante, atacando Batsu com um chute giratório. O descontrolado rapaz consegue se esquivar já que Rock ainda não estava com suas forças totalmente recuperadas, mas é pego em seguida por um ataque surpresa de Kyosuke.

—Obrigado pela ajuda. —O ruivo diz, sério. —Vamos acabar com isso! —Ele parece concentrar energia em suas mãos, ao que Rock o imita. Os relâmpagos que ele carregava aceleram na direção de Batsu, que consegue saltar para o lado, esquivando. Repetindo a estratégia de Kyosuke, o loiro lança duas ondas seguidas de seu ataque tradicional, o Reppuken, que atinge o seu despreparado adversário.

Sendo arremessado para trás, Batsu fica completamente indefeso aos ataques de Kyosuke, que decide terminar aquele combate com uma combinação de golpes com a mão aberta alternando com chutes energizados por seus relâmpagos. O jovem vai ao chão, desacordado. Kyosuke senta-se ao lado do amigo, suspirando aliviado:

—Você disse “isso de novo”, não disse? —Ele pergunta a Rock, que estende a mão para ele se levantar. —Pode me explicar o que está acontecendo?

—Fomos atacados também. E não somos os únicos. Aparentemente boa parte dos lutadores estão ou sendo caçados por outros lutadores ensandecidos, ou estão sendo os caçadores ensandecidos. Você deu sorte de ter parado aqui.

—Eu vi os carros da polícia. Estou lutando e fugindo de Batsu já tem algumas horas. Achei que pudessem me ajudar.

—Eles podem, nós podemos também. Meu nome é Rock.

—Kyosuke. Kagami Kyosuke. Ei Sakura. —Ele cumprimenta a garota, que se aproximava.

—Você tá legal, Kyosuke?

—Eu vou sobreviver. Então vocês foram atacados também, é?

—É. Tem sido alguns dias terríveis. Vamos levar o Batsu lá pra dentro, conversamos melhor de lá. Chun Li, uma agente da interpol e amiga nossa está lá dentro também. Ela está investigando essa loucura que tá nos seguindo.

—Está em ótima companhia então, Sakura. —Kyosuke diz, enquanto eles levantavam Batsu e o carregavam para dentro do hospital.

Chun Li estava voltando ao corredor, com um copo de café na mão, quando vê os jovens entrando, carregando Batsu. Sabia quem eram os dois novos rapazes, dado uma série de eventos que tomaram conta do colégio que frequentavam, e por eles terem tomado parte recentemente do circuito de lutadores de rua. Achava um tanto perigoso o lema deles de defender a escola mesmo de problemas que certamente caberiam à polícia, mas admirava também a inocência e ingenuidade juvenis que moviam aqueles rapazes. A agente da interpol conversa bastante com Kyosuke, pegando todos os detalhes da perseguição que sofrera por seu amigo. O jovem ruivo revela a importante informação de que ele estava junto de Batsu no momento em que ele perdeu o controle. Os dois treinavam amistosamente, até que uma energia incômoda começa a emanar próxima de Batsu, como se o tentasse. Essa energia finalmente toma controle do rapaz, o que o faz atacar seu amigo.

—Com certeza houve alguma influência externa. Aquela energia não surgiu sozinha para tomar posse de Batsu. —Kyosuke diz a Chun Li, enquanto tomava um chá.

—E seria coincidência demais tantos outros lutadores serem possuídos de forma similar e atacarem outros lutadores. Um amigo meu atacou um dojo em Second Southtown, nos Estados Unidos. Pelo que a polícia informou, ele capturou os dois mestres da academia.

—Isso é assustador. Quem seria capaz de controlar tanta gente assim?

Chun Li não responde. A ideia que tinha lhe aterrorizava constantemente. Conhecia aquele padrão, aquela abordagem era tão familiar que a lutadora tinha calafrios só das lembranças que tinha. Se fosse quem ela estava pensando, ele tinha se tornado ainda mais poderoso do que da última vez em que o tinha enfrentado, para ser capaz de controlar uma série de lutadores sem nem mesmo precisar entrar em contato direto com eles. Poderia M. Bison ser o responsável por essa trama? Além disso, porque controlar alguns lutadores e não todos? Uma série de perguntas tomava conta da agente, e sua preocupação se tornava cada vez maior.

A noite corria sem maiores problemas para o restante do hospital. Sakura, Rock, Jae e Bonne tinham recebido Kyosuke e conversado com o rapaz por um bom tempo. “A dádiva da juventude.” Chun Li pensava, enquanto caminhava para o quarto do hospital onde Terry, Andy, Joe repousavam.

Os cinco jovens lutadores dormiam enfurnados na sala de descanso para os funcionários. Não era a situação ideal, mas não era como se aquilo fosse os incomodar. Tinham passado por tanta coisa que o sono vinha fácil. Para a maioria pelo menos. Rock Howard tinha dormido algumas horas, mas sonhos terríveis o impediam de descansar de forma adequada.

Já era manhã, pelo visto. O relógio na parede indicava que já passavam das seis da manhã. O rapaz levanta, cauteloso para não acordar nenhum dos seus amigos. Ele percebe Sakura encolhida, parecia com frio. Sua jaqueta logo repousa sobre a jovem, enquanto ele caminhava para a recepção.

Rock tenta encontrar um médico ou talvez a Chun Li, para saber se tinham alguma notícia sobre Terry e seus amigos. Uma das recepcionistas conversa amigavelmente com o jovem, repassando as informações que ela tinha. Era uma fã de Terry, e garantia ao rapaz que seu mentor tinha passado uma noite tranquila, e que não corria nenhum risco. Provavelmente acordaria em breve, inclusive. O rapaz suspira aliviado, abaixando a cabeça.

—Fico feliz que ele esteja bem. —Rock diz, mais para si mesmo do que pra recepcionista. Mal havia percebido um homem de terno e gravata ao seu lado.

—Estou orgulhoso de você, filho. —Aquela voz rouca. Aquele tom de voz que era impossível identificar se era sincero ou uma provocação. Rock arregala seus olhos, levantando o rosto lentamente, sem poder acreditar no que ouvia. Ele encara aquele homem como se estivesse vendo um fantasma, não era possível que Gesse Howard estivesse na sua frente naquele momento. —Pude ver que realmente se tornou um lutador de valor.

—G...Geese! —O garoto diz, assim que sua voz para de falhar.

—Precisamos conversar, Rock. —Geese estava acompanhado de Billy Kane, que parecia se deliciar com a confusão do jovem Howard. —Essa brincadeira precisa acabar! Agora!

Continua no capítulo 6


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