Aracnídeo: Sangue Perdido escrita por Gabriel Souza, WSU


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

A história se aproxima de seu clímax.



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— Quem foi que falou que ela podia se reunir com a gente? — Rafael questionou frio enquanto fitava Andressa. No início, a presença de Andressa não lhe era um incômodo, era até bom porque com ela Jonas parecia estar se tornando mais responsável, alguém mais ciente de que o mundo não gira em torno dele, porém após a traição da garota não conseguia aceitá-la de volta, nada tirava da cabeça dele de que ela estava ali apenas para traí-los novamente.

— Rafa... — Jonas começou a falar, mas também tinha suas dúvidas sobre a garota, ele tentava não pensar nisso devido à proximidade que os dois tinham. Talvez, se não fosse Andressa abandoná-lo pela revolução, eles poderiam estar juntos, agora, Jonas estava mais inclinado para Serena, que se abria cada vez mais com ele.

— Olha — A garota se levantou — Eu não vim aqui para ser acusada por um idiota que não pode fazer nada a não ser conversar por um fone de ouvido — Fitava Rafael com raiva — Eu vim aqui para resolvermos nosso problema maior: Bernardo, Cassandra e os outros estão se preparando, o exército deles irá atacar a cidade essa semana, ou seja, é melhor estarmos preparados — olhou ao redor, as únicas pessoas com poderes naquela sala eram ela, Jonas, Serena e Enrique, uma equipe muito pequena para lutar contra um exército extremamente poderoso — E com certeza mais bem servidos, somos muito poucos — virou-se para Jonas, ela sabia de suas histórias na Frente Unida — Porque não chama os seus amigos? Eles podem ajudar

— Não dá — Jonas respondeu cabisbaixo — Eu não tenho o contato de metade deles, a outra metade está indisponível — Lembrou-se de sua melhor amiga do mundo heroico – A Karen tem seus próprios problemas, tudo o que ela conseguiu fazer foi me mandar um novo traje e um aparelho estranho que eu não sei mexer, mas segundo ela será muito útil — Seu professor não tão bem disciplinado também não poderia ajudar — O Soldado... depois do Rio, sumiu do mapa.

— Droga — Rafael bateu com o punho na mesa, as circunstâncias estavam contra eles — E aquele detetive e aquela agente, não poderiam ajudar? — Comentou esperançoso.

— Eles fazem parte de quem eu não tenho o contato — Jonas encontrava-se cada vez mais sem opções e desesperado, não sabia como lidar com tudo aquilo, talvez fosse imaturo demais para aguentar tanta pressão.

— Conheço uma galera de fora da cidade, eles podem ajudar — Andressa comentou — Mas ainda assim estaremos em menor número de forma gritante.

Serena que estava calada apenas observava a situação, já havia passado por uma chamada revolução pouco tempo antes e havia ido para Recife justamente para superar os problemas implicados. Infelizmente ela se viu no meio do fogo cruzado novamente,  tinha medo do que poderia acontecer.

— Não importa — Enrique comentou encostado à uma parede — Eu me dou bem com desvantagem numérica.

Jonas sentiu uma pontada de raiva, não conseguia perdoar Enrique, ele matara a sangue frio um adversário que já não lhe apresentava nenhuma ameaça. O único motivo dele permitir que o espadachim estivesse ali, era Andressa.

— A questão não é essa. — Andressa repreendeu-o — Existem inúmeras vidas além da nossa, vidas que temos que proteger.

— Além do que, não estamos aqui para matar — Jonas fitou Enrique nos olhos que respondeu apenas com um sorriso — Os corrompidos não são os caras maus, eles só seguem uma ideia errada, os poderes de Bernardo tem os influenciado à muito tempo. Se nós os fizermos pensar claramente, temos uma boa chance de diminuir os adversários e aumentar os aliados, com isso, melhor solução e menos FERIDOS — Ele deu ênfase na palavra feridos novamente fitando Enrique.

— Você acha mesmo que vai conseguir dar um fim à isso sem mortes? — Enrique questionou calmo, gostava de provocar Jonas.

— Acho não. Eu sei que podemos.

— Certo. — O espadachim se desencostou da parede, o que fez Rafael e Beatriz ficarem apreensivos — E como planeja fazer isso, pacifista?

— Eu tenho uma vaga ideia.

 

 

 

***

 

A traição de Andressa não era algo impensável, porém Bernardo ainda não conseguia acreditar que a garota a qual ele tratara como uma irmã mais nova à tantos anos, havia acabado de lhe trair no momento mais importante de suas vidas.

— Afogando as mágoas? — Cassandra estava à porta, suas feições sérias combinavam com sua pele morena e marcada de cicatrizes.
Bernardo saiu de perto do espelho e se voltou à Cassandra, a luz amarelada do quarto causava um efeito visivelmente atraente em sua pele.

— Apenas refletindo — Se aproximou da líder da outrora facção rival e agora nova aliada na busca pela realização do sonho corrompido — Sabe, uma coisa que sempre me foi uma incógnita é o seu passado, o que lhe fez ser quem é?

Naquele momento ambos estavam bem próximos um do outro e se fitavam com olhar de seriedade.

— Cansou de falar sobre si e agora aprendeu a ouvir? — Cassandra questionou com um sorriso malicioso no rosto, porém não encontrou resposta do padre, aquele não era o momento para brincadeiras com ele.

— Tudo bem — Ela refletiu suas memórias — Você sabe que eu nunca tive dúvidas de que não era normal, antes mesmo de saber sobre a existência de corrompidos — Bernardo assentiu — Havia um cara, forte, alto, apaixonável. Seu único problema era uma máscara que ele usava. Segundo ele, seu rosto havia sido queimado acidentalmente por um corrompido, termo que ele me ensinou, por conta disso a máscara se fazia necessária para ele, sem ela, sentiria dor extrema.

Cassandra tocou o rosto de Bernardo e uma pequena e solitária lágrima escorreu por sua face.

— Ele se aproximou de mim e de minha família, se tornou um membro da família para ser mais exata. Me convenceu a me encontrar com outros como eu, os corrompidos e, foi isso que eu fiz, procurei e recrutei dezenas de pessoas como nós, criamos um grupo de autoajuda e assim prosseguimos por quase dois anos — Sua voz falhou, as memórias seguintes eram dolorosas, ainda que, após tantos anos, ela agradecia que elas existiam para molda-la.

— Até aquela noite... Se lembrava nitidamente do incidente, havia sido o dia mais marcante de sua vida — Eu tinha me atrasado para uma reunião do grupo, o cara da máscara havia pedido para eu pegar algumas coisas para ele e isso me atrasou. Foi ao chegar lá que eu encontrei o corpo de todos mortos, menos o dele, que nunca mais me apareceu.

A história de Cassandra era de certa forma similar à de Bernardo que começava a entender sua parceira.

— Foi ele quem fez aquilo? — Questionou.

— É o que tudo indica — Cassandra continuava melancólica — Porém, isso não importa mais, o que importa é que ali eu prometi a mim mesma que aquilo não se repetiria, sobre o corpo de meu pai eu jurei lutar para acabar com os responsáveis — Fez uma pausa — Todos aqueles que nos odeiam, são responsáveis por isso. — concluiu.

— Eles são — Bernardo beijou Cassandra que o jogou contra o sofá.

 

 

 

***

 

— Certo — Serena andava com Jonas, estava meio receosa com tudo o que estava acontecendo, era como se tudo se repetisse em torno dela — Então, aquela era a sua ex?

Jonas sorriu, mesmo sem a habilidade de poder sentir os sentimentos alheios ele poderia saber que Serena estava insegura em relação à Andressa.

— Se você quer chamar assim — Ele levantou ambos os braços se espreguiçando — Eu e Andressa éramos muito próximos, é verdade, até ficamos algumas vezes, mas nunca assumimos algo sério, algo como e eu e você agora — Serena fez uma careta e Jonas percebeu que talvez aquela não fosse a melhor analogia à ser feita — Bem, não precisa se preocupar, eu confio nela — Fez uma pausa e olhou sorridente para a ruiva à seu lado — Mas confio mais em você.

Serena sorriu, mas ainda estava em conflito, sentia-se ameaçada não apenas por Andressa, como também por toda a situação.

— Ei — Jonas chamou sua atenção — Não precisa se unir à nós se não quiser — Ele se sentou num banco junto à Serena — Eu sei que você passou por muita coisa, ainda que eu não saiba exatamente o que, então, não precisa se meter em algo que só lhe trará mais dor — colocou sua mão sobre a da garota — Acredite, te machucar é a última coisa que eu quero.

Serena se inclinou e repousou sua cabeça sobre o ombro de Jonas, queria se sentir um pouco mais confortável e acolhida, e dada à repentina e profunda intimidade que eles haviam desenvolvido, ela se sentia confortável em buscar esse apoio no garoto.

— Eu sei — Ela respondeu enquanto assistia duas crianças correrem através da praça — Mas é que, eu passei por tanto, que passei à duvidar de minha própria força, de minha capacidade de me relacionar e... de alguém realmente se importar comigo sem ser um completo babaca.

Jonas passou sua mão entre os longos cabelos ruivos de Serena, quem passasse diria que eles eram um jovem casal aproveitando um dia alegre juntos, e Jonas queria com todas as forças que aquilo fosse a realidade deles. Serena havia rapidamente se tornado o principal motivo para ele querer o fim do embate contra Bernardo e os outros, queria poder relaxar e pedir a garota em namoro, tendo como única e principal preocupação a resposta dela.

— Eu posso ter sido um babaca um dia, posso ainda ser hoje, mesmo que não queira admitir, mas eu realmente me importo com você e é por isso que não vou te obrigar a nada. Você merece fazer suas próprias escolhas e ficar longe disso.

Serena se desencostou de Jonas, não precisava de seus poderes para saber que o que ele falava era vindo realmente do coração. Ela o fitou por alguns segundos e sorriu, deixando o garoto confuso até ela lhe dar um selinho.

— Eu lutarei ao seu lado, é a única forma de superar o meu passado e de ficar bem comigo mesma. Além disso, isso também é a minha escolha.

Jonas sorriu.

— Você é mais forte do que pensa. — comentou.

— Você também. — ouviu como resposta.

 

 

***

 

A multidão jazia à espera, dezenas de pessoas que seguiam cegamente à um líder que os manipulava dia após dia com o uso de seus poderes. Claro que esse líder acreditava que fazia o certo, ainda assim, havia criado uma seita fanática e poderosíssima com o uso de sua habilidade especial e, isso, era preocupante para a sociedade.

— Chegou o dia — murmurou consigo mesmo, deu alguns passos à frente e subiu ao palco ficando de frente para a multidão, todos unidos por um só objetivo.

— Já fazem anos que eu venho sonhando com este dia — Sua voz ecoou por toda a área, crianças, adultos e idosos se amontoavam, todos querendo ouvir o que o Padre Bernardo tinha a falar — O dia em que nos uniríamos contra a opressão, esse dia é hoje.

Gritos foram ouvidos da multidão, todos estavam ansiosos para o que aconteceria, foram anos sofrendo e meses de treinamento para a chegada daquele momento. Bernardo os guiara até aquele fatídico dia como um verdadeiro profeta, tudo o que eles queriam agora é dar um fim ao deserto de sofrimento.

— Vocês conhecem a minha história — Bernardo recomeçou — A maioria ao menos, todos sabem que eu sofri, mas o que importa aqui não é só o meu sofrimento, é o sofrimento de vocês também, sei que cada um de vocês, não importando a idade ou o sexo, tem uma história tão triste quanto a minha para contar. Talvez seja isso que signifique ser um de nós, ser alguém com um passado corrompido, cheio de sofrimento e dor — Fez uma pausa em seu discurso enquanto andava de um lado ao outro — Um passado! — repetiu — Um passado... cheio de sofrimento... o passado agora é história, devemos lutar hoje, no presente para um futuro melhor, para o nosso futuro.

As pessoas aplaudiam e gritavam em meio à assobios, após tantos meses influenciando aquela população com seus poderes, Bernardo não precisava mais se dar o trabalho de usar seus poderes.

— Vocês sabem que após a morte de minha amada — Uma lágrima lutou para escorrer pelo rosto de Bernardo, a lembrança de Letícia ainda era bastante dolorosa — eu peregrinei através do país. Infelizmente, a imensa maioria dos locais onde vivem corrompidos são como essa nossa comunidade, simples, pobre e abandonada, com os habitantes largados à própria sorte. — As pessoas se mostravam sérias — Isso poderia desanimar qualquer um, é verdade, porém me deu mais forças pra corrigir esse problema de nosso povo, me fez ter mais sede de lutar por nossos direitos.

Uma chuva rapidamente começou.

— Olhem — Bernardo sorriu — Até o céu se emociona em um dia como esse — Podia ser uma analogia bem batida, mas era algo totalmente plausível de se falar quando se tem as habilidades de Bernardo, cada palavra que ele falava tinha mais poder de convencimento do que qualquer humano comum, os maiores fascistas da história invejariam sua habilidade.

— Tudo o que importa agora é reclamar nosso direito. Lutaremos até o fim, irmãos!

Os corrompidos gritaram como espartanos antes de uma guerra, todos estavam preparados para o que estava por vir, diferentemente do resto da sociedade.

 

 

***

 

O celular tocou despertando Jonas que dormia em seu sofá, se sentou e pôde ver que já haviam três chamadas perdidas além de uma dezena de mensagens de Rafael.

Abriu o celular e ao ler se levantou de súbito, o amigo havia mandado imagens de vários pontos da cidade onde corrompidos se aglomeravam e causavam confusão, a revolução havia começado e ele não estava preparado.


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Notas finais do capítulo

A revolução chegou haha



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