Aracnídeo: Sangue Perdido escrita por Gabriel Souza, WSU


Capítulo 14
Capítulo 13




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O grupo estava reunido na casa de Jonas, sua mãe havia saído da cidade para resolver questões familiares e ele, sozinho, tinha a liberdade de convocar uma reunião às pressas em sua casa.

— Achei que a revolução só fosse começar no sábado — Rafael fitava Andressa, não confiava na garota.

— Ele deve ter adiantado, provavelmente para que nós não estivéssemos prontos ainda — concluiu Jonas antes que Andressa pudesse se pronunciar em autodefesa, ele sabia que provavelmente Bernardo, temendo vazamento de informações por meio de Andressa e Enrique, adiantou o início de seu movimento popular violento.

— Isso é mais que óbvio — Enrique examinava sua Caliburnus, estava ansioso para enfrentar os exércitos de Bernardo e Cassandra — A questão é, vamos perder tempo aqui discutindo... — Se levantou e colocou a espada em suas costas, estava pronto para sair — ou vamos fazer alguma coisa útil?

— Ele tem razão — Beatriz comentou — Até eu que sou impotente numa situação dessas, sei que a melhor coisa que poderíamos estar fazendo agora é lutar contra o padre.

— Ele não é padre — Rafael comentou rápido.

— Você tem razão, não podemos perder tempo desconfiando ou acusando os outros — Jonas olhou para seu melhor amigo e Andressa, por fim sua atenção se dirigiu à Enrique — Precisamos nos unir se quisermos vencer esta batalha.

Enrique sorriu.

— Ótimo, o que está esperando?

— Andressa — Jonas se voltou à corrompida que massageava o braço — Sei que seus amigos ainda não chegaram, tente entrar em contato com eles e posteriormente vá até onde Cassandra e seus principais soldados estiverem, conto com você — A garota assentiu e saiu do cômodo pegando seu celular para tentar entrar em contato com seus antigos parceiros e novos apoios contra a revolução de Bernardo.

— Enrique — Jonas se voltou para o espadachim — Sei que você quer se divertir e essas coisas, então vá para onde tiver uma maior concentração de ataques, sua velocidade e habilidades podem ajudar a segurar os ataques enquanto os reforços de Andressa chegam. — Enrique assentiu e se preparou para sair, porém antes ouviu um último pedido do Aracnídeo — e por favor, não mate ninguém.

— Pode deixar — Foi a última coisa que Jonas e os outros ouviram antes do espadachim sair em meio à um relâmpago.

— Isso, foi demais — Rafael comentou alegre atraindo os olhares sérios do restante do grupo — Foi mal.

— Serena... — Jonas se voltou para a garota de cabelos ruivos que estava ao seu lado, ele ainda não se sentia confortável em envolvê-la em tudo aquilo.

— Não precisa se preocupar — Serena via o medo e receio aflorarem em Jonas e tentava reconfortá-lo sem o uso de seus poderes para tal — Eu sei me virar sozinha.

Jonas assentiu antes de se voltar para seus dois melhores amigos, ambos não tinham nenhum poder e nem sabiam lutar, eram apenas amigos e confidentes de Jonas.

— Vocês já sabem, fiquem aqui e nos informem de qualquer coisa — Ele apontou para um pequeno fone de ouvido acoplado em sua máscara que estava sobre a mesa — Podemos nos comunicar por aquilo, os outros também levaram os seus.

Rafael e Beatriz assentiram, ainda que não admitindo o quanto estavam nervosos com toda a situação, porém Jonas sabia como eles se sentiam, Bia ficava mais calada e reclusa nesses momentos, seu lado tímido aflorava ainda mais. Já Rafael se tornava sério e por vezes rabugento, como ele estava sendo em relação à Andressa.

— Tudo bem — Jonas pegou sua máscara e a colocou, seu uniforme estava novinho em folha — Quero que saibam que eu amo vocês — ajustou a roupa para não ficar desconfortável — e vocês são demais.

Deu um sorriso e se despediu de seus amigos saindo pela janela direto para o terraço.

— Aonde pensa que vai sozinho? — Uma voz feminina chamou a atenção do herói aracnídeo que se voltou para a garota que ele gostava cada vez mais.

— O que está fazendo aqui em cima? — questionou.

— Eu disse que sei me virar sozinha. Não disse que te deixaria sozinho — Serena sorriu e se aproximou do Aracnídeo pegando em seu braço — Vamos, eu posso te ajudar.

Jonas mesmo que receoso aceitou a ajuda de Serena que lhe abraçou pelas costas e logo em seguida se segurou nele.

— Olha, eu sei que você não tem o costume de carregar pessoas nas costas — Ela o abraçou forte, em parte porque seu corpo queria aquilo, e em outra parte porque temia escorregar assim que o Aracnídeo saltasse e lançasse a primeira teia — Mas por favor tenha cuidado para não me derrubar.

Jonas sorriu e antes de saltar falou:

— Relaxa, eu não te solto nunca mais.

 

 

 

***

]

Enrique chegava ao centro da cidade onde uma multidão de corrompidos atacava a população, o espadachim sabia que aquilo era provavelmente uma distração arquitetada por Cassandra e o padre. Mas pelo menos, como havia sido enviado até ali, poderia se divertir.

— Parece que o menininho dos raios voltou — Uma voz familiar soou atrás de Enrique que não conseguiu desviar de um soco no rosto — Depois de nos abandonar e matar o Renato, eu já estaria longe se fosse você — A voz aguda de Fenrir, o lobo, se direcionava a Enrique.

— Eu nunca fujo — Enrique se levantou retirando sua espada das costas — Mas recomendo que você o faça.

Uma explosão de raios e Enrique já estava atrás de um ensanguentado Fenrir, a espada havia feito um corte profundo no braço do lobo corrompido.

— É o melhor que pode fazer? — Fenrir questionou se voltando novamente à Enrique, o corte se cicatrizava com uma velocidade absurda.

— Estou só começando.

 

 

***

 

A multidão corria para todos os lados, Serena tentava manter-se centrada longe de toda a imensidão de sentimentos negativos como medo e ódio que afloravam das pessoas abaixo, seu único foco naquele momento era ajudar Jonas e os outros a acabar com aquela confusão.

— O que o Soldado faria? — Jonas murmurou consigo mesmo enquanto balançava-se no ar, sua feição era séria.

— O Fantasma? — Serena questionou fazendo Jonas relembrar que não estava sozinho, estava tão perdido em pensamentos e dúvidas internas que havia esquecido que a levava consigo.

— Ele mesmo — girou no ar com cuidado para não derrubar Serena e caiu sobre o terraço de um prédio baixo — Ele tem seus problemas — correu até a beirada e saltou em seguida disparando uma teia num helicóptero de um dos canais que reportavam a situação emergencial — Mas é um soldado, como diz o nome, ele saberia o que fazer agora. — Jonas se desprendeu da fina linha de teia e entrou em queda livre por alguns segundos, Serena se segurava forte em seu corpo — Queria que ele estivesse aqui — Novamente se balançava, desta vez indo em direção à um outdoor em cima de uma loja de ferramentas — Ele e os outros é claro.

Serena mantinha-se calada naquele momento, não conhecia o Soldado ou o restante da Frente Unida a qual Jonas tanto admirava, para ela, depois das histórias que ouvira por ele, eles eram um bando de malucos, que se uniram em prol de um bem maior na confusão que ocorreu meses antes no Rio de Janeiro, porém para ele, eram pessoas com quem tinha criado algum tipo de laço especial.

— Esse não é o melhor momento para se lamentar, né? — Jonas voltou a falar quando os dois já estavam de pé sobre um terraço, ambos observavam a movimentação frenética nas ruas abaixo, Bernardo havia criado uma verdadeira confusão.

— Eu não sou a melhor pessoa para responder isso — Serena também estava cercada de dúvidas internas, um medo frequente de Jonas se mostrar como Arthur, seu ex, ainda existia, mesmo que mínimo. Porém seu maior medo era perdê-lo como ela perdeu sua antiga vida — Mas acho que nunca se existe um momento certo para lamentação. Mas tudo bem, todos temos com o que nos lamentar — Serena afastava seus pensamentos negativos de sua cabeça, ela não sabia se existiam momentos certos para lamentação, mas com certeza, aquele não era um momento para ela se lamentar, aquilo não ajudaria em nada — O que importa é crescer com os nossos erros e falhas.

Ela tentava crer naquilo que falava, era uma forma de não se martirizar por algo que não fosse culpa dela.

— É, pode ser. — Jonas fitava as ruas — Vamos — Esticou sua mão até Serena de forma convidativa para que ela voltasse a se segurar nele — Temos uma revolução para parar.

— Já prevejo as aulas de história do futuro — A voz de Rafael inundou os ouvidos de Jonas e Serena, eles esqueceram-se que estava com os fones ligados — Mais uma revolução ou revolta no Brasil que sofreu forte repressão. — Sua risada era mais audível do que Jonas esperava.

— Merda — Jonas apertou um botão em seu fone, movimento repetido por Serena para que assim eles pudessem continuar a ouvir pelo aparelho, mas suas vozes não fossem captadas, a menos que eles apertassem novamente o botão.

Serena deu uma leve risada.

— Vamos sim — Se segurou com força em Jonas que assumira um semblante mais leve — Só não pensa em besteira de novo enquanto eu estou agarrada em você.

Jonas sorriu.

— Pode deixar — Saltando novamente para as ruas.

 

 

 

***

 

— Vamos Andressa — Cassandra caçoava enquanto se aproximava da corrompida de cabelos negros que jazia no chão — Isso é tudo o que você tem? Umas descargas elétricas, chamas inúteis e golpes fracos? — A morena pegou Andressa por seus longos cabelos erguendo-a até seus olhos se encontrarem.

— Não... — A voz fraca de Andressa era quase inaudível — Ainda tenho — Juntava suas forças, podia sentir os diferentes tipos de energia do meio — um pouco mais — Em uma explosão muscular Andressa acertou o meio dos peitos de Cassandra fazendo-a voar e bater contra uma parede.

Andressa ofegava após o último golpe, manipular energia era algo que lhe causava um pouco de cansaço, gerar ou transformar energia, era muito mais desgastante. Jonas havia formulado uma hipótese de que toda vez que ela criava energia, ela estava na verdade transformando sua própria energia, derivada das diferentes reações químicas ocorrentes em seu corpo, naquilo em que ela desejava. Ela nunca teve tempo para tentar comprovar ou refutar essa ideia.

— É assim que eu gosto — Uma sorridente Cassandra atravessava a rua indo em direção à Andressa — Vamos, mostre-me do que é capaz.

Andressa relaxou e diminuiu a energia gravitacional ao seu redor, para assim, saltar com extrema facilidade por cima de Cassandra que acabou por atingir um carro prata.

— Pode vim — Fitava os soldados de Cassandra que se amontoavam ao redor delas, sabia que aquilo seria uma luta longa e complicada — Se achar que não dá conta, chama seus amiguinhos também.

— Um ou dois te ajudando deixariam a luta justa? — Cassandra tentava acertar seus socos em Andressa que escapava graças à sua capacidade de acumular energia cinética em torno de si — Admita garota — Acertou um gancho de esquerda no queixo de Andressa — Você está só adiando a sua derrota.

Andressa rolou no chão e recuperou a postura para segurar um chute forte de Cassandra.

— Talvez — respondeu — Mas se eu perder — girou a perna de sua adversária e logo em seguida acertou uma cotovelada em sua rótula esquerda — Não serei a única derrotada.

— Não — Cassandra exclamou quando seus seguidores tentaram interferir na batalha que as duas corrompidas travavam — Eu cuido dela — Seu desejo era de matar Andressa com as próprias mãos. — Vão, ataquem as forças armadas, sigam com o plano.

Andressa observava os seguidores de Cassandra se dispersando, ela poderia tentar parar um ou outro, mas não sabia se conseguiria manter uma luta contra mais de um adversário naquela situação, seu corpo não resistiria muito mais tempo enfrentando uma oponente como Cassandra, contra mais oponentes então, ela não teria chance alguma.

— Alguém na escuta? — ativou o fone em seu ouvido enquanto Cassandra se recuperava — Estou enfrentando Cassandra em Madalena — saltou para escapar de uma rajada de energia liberada por Cassandra, aquela era uma habilidade que ela desconhecia — Os seguidores dela foram atacar o exército — rolou para não ser acertada novamente — Eu acho.

Andressa segurou o braço de sua oponente que em seguida acertou-lhe uma joelhada voraz na altura do estômago. Ela sentiu seu café da manhã querendo sair.

— Clamar por ajuda não lhe salvará — Cassandra liberou mais uma rajada de energia acertando Andressa com força, a garota girou no ar e caiu em cima de um carrinho de cachorro quente.

— Eu não pedi ajuda — tentou se levantar, porém a perna de sua adversária jazia sobre seu corpo.

— Adeus Andressa — Cassandra concentrava uma energia amarela na palma de sua mão, seria o golpe final contra Andressa que jazia praticamente derrotada e sem forças.

— Adeus Cassandra — Andressa fechou seus olhos e expandiu a energia que estava na mão de Cassandra, se era energia ela poderia manipular e foi isso o que ela fez criando uma pequena explosão que atingiu ambas.

 

 

 

***

 

— Ali — Jonas apontou para Bernardo que estava no meio da avenida Alfredo Lisboa, em frente ao memorial de justiça de Pernambuco.

Para a infelicidade de Jonas e Serena, Bernardo não estava sozinho, estava acompanhado de pelo menos duas dúzias de outros corrompidos, todos aparentemente poderosos o bastante para surrar o casal.

— Aqui, onde vocês dizem ser o local de resguardo da justiça, é onde começarão a conhecer o significado da verdadeira justiça — Bernardo falava de frente para um Cameraman assustado, suas pernas tremiam — A justiça... — Ele sorria — Está chegando e ela é impiedosa.

Antes que Jonas ou Serena pudessem fazer algo o Cameraman foi decapitado por um corrompido com braços de diamante.

— Droga — Jonas socava a beirada, não conseguia segurar seus impulsos de raiva, mesmo sabendo que aquilo poderia liberar um lado indesejável seu — Esse desgraçado...

— Você me odeia? — A voz de Bernardo pegou Jonas e Serena de surpresa.

— Como você... — Serena tentou falar, mas foi silenciada por um golpe sorrateiro do corrompido conhecido como Gyges, um homem que tinha como principal habilidade, a invisibilidade, o mesmo poder que o anel misterioso do diálogo socrático “A república” dava ao seu portador de mesmo nome.

— Seu filho da... — Jonas foi agarrado pelas costas por Lionel que se enrolara em seus braços e pernas impedindo-o de se movimentar.

— Jonas... — Bernardo se aproximou calmamente, o sorriso em seu rosto irritava cada vez mais ao Aracnídeo — posso ver o ódio crescente em seus olhos.

— Você... — Jonas tentou se soltar, porém sem sucesso, Lionel era mais resistente do que aparentava.

Bernardo não parava de sorrir, a vantagem estava ao seu dispor.

— Estou apenas sendo aquilo que você disse que eu era, uma semente de ódio — pegou Jonas pelo pescoço, se sentir superior ao homem que conseguira separar Andressa dele e de seus ideais era algo gostoso para ele — E eu resolvi semear em você. Com sucesso. — largou o Aracnídeo a quem voltou às suas costas — Para mim e para meu povo você não passa de um mero inseto, algo que apenas incomoda, mas que podemos dar um fim assim que quisermos. — distanciava-se calmamente.

Jonas sentia Lionel apertar-se cada vez mais contra si, Agatha, a corrompida dos poderes magnéticos é quem se aproximara dele e tocara sua testa, pronta para finalizá-lo ao primeiro sinal do padre.

— Última chance, Aracnídeo. Vai unir-se à revolução, ou irá morrer como um traidor de seu povo?

Jonas fechou seus olhos, sentia suas garras e presas querendo crescer e lutava contra isso, sabia que aquilo era o que Bernardo queria, provar que ele era incapaz de seguir com aquilo que defendia. Jonas não poderia desistir de seu lado humano naquele momento, ou tudo seria em vão.

— Você já sabe a minha resposta — Aracnídeo saltou num forte impulso que fez Lionel escorregar de seu corpo e o fez sair da mira de Agatha — Eu não vou desistir tão fácil assim — Se colocou em posição de batalha, uma dica que havia recebido do Temerário e da agente Trap após ele ser pego várias vezes desprevenido enquanto treinavam.

— Você nunca aprende — Bernardo saltou do terraço e fugiu do local junto de uma corrompida com a habilidade de voar.

Antes que o Aracnídeo pudesse ir atrás deles foi puxado violentamente por Agatha que o atraíra com seus poderes.

— A gente ainda não acabou — Agatha e mais meia dúzia de corrompidos se mostravam preparados para enfrentar o Aracnídeo.

— Concordo — Serena respondeu surgindo nas costas da corrompida que não conseguiu se defender a tempo de levar um golpe forte na cabeça e apagar.

Jonas sorriu.

— Nós dois contra seis — saltou para o lado da garota ruiva — Acha que temos chance?

— 100 %

— Ótimo — Os dois avançaram velozmente, não sabiam as habilidades de seus adversários e nem queriam saber, quanto mais rápido eles conseguissem dar um fim àquela luta melhor. Por conta disso Serena correu pela esquerda se protegendo de ataques com campos de forças invisíveis, contra-atacando com rajadas de energia.

Pela direita Aracnídeo saltava para escapar de ataques direcionados a ele enquanto devolvia redes de teia como uma forma de tentar retardar cada vez mais seus inimigos.

— Jo.. Arac! — Serena gritou após ser atingida com força na barriga e girar no ar, porém logo em seguida acertar com força exagerada seu agressor que voou para fora do prédio, Aracnídeo entendeu a mensagem e lançou uma teia na direção do corrompido que por muito pouco não caiu do prédio.

— Essa foi por pouco — comentou enquanto lutava contra duas corrompidas — Não podemos matar ninguém — pulou e caiu sobre os ombros de suas inimigas, em seguida saltou de cima delas, forçando a clavícula de ambas que gemeram de dor.

— Sabe — Serena criou um escudo em volta de si para não ser queimada após uma onda de calor ser liberada contra ela — Não é legal ver o cara com quem você está saindo — desfez o escudo e atirou mais uma rajada de energia certeira — fazendo outras garotas gemerem.

— Foi mal — Jonas deslizava no chão para dar uma rasteira no mais alto de seus adversários — Mas posso dizer que aquele não foi o tipo de gemido que você invejaria — prendeu os pés de seu adversário com teia e os puxou com força, fazendo cair com extrema violência no chão — Quanto maior o tamanho, maior a queda — olhou para Serena e a viu sufocar Lionel com uma espécie de campo de força quase invisível.

— Não sabia que você tinha um campo de força — comentou se aproximando da garota.

— Não sabia que alguém conseguia enxergá-lo — Serena respondeu se voltando para Jonas que tinha olhos azuis naquele momento — Seus... olhos.

Jonas percebeu na hora o que Serena quis dizer e fechou os olhos enquanto tentava controlar sua respiração, uma das inúmeras formas de tentar se manter calmo e sereno.

Reabriu os olhos que haviam retomado a habitual coloração castanha, porém, dessa vez ele não conseguia ver o campo de força que Serena havia criado em torno de Lionel.

— Você foi demais — Se aproximou pegando Serena pela cintura e dando-lhe um beijo rápido — Vamos, ainda não acabou.

 

 

 


***

 

Enrique se via cercado, estava no centro de toda a confusão e gostava daquilo, seu sangue fervia de emoção.

— Estão esperando o quê? Ataquem! — exclamava. Sua espada brilhava forte.

Ao seu redor, vários corrompidos receosos, sabiam que detinham a vantagem numérica, ainda assim, tinham medo de enfrentá-lo, as lendas sobre o espadachim relâmpago já circulavam à tempos entre as comunidades corrompidas. Esse era um dos fatores da confiança exacerbada que tinha, na revolução quando ele se uniu à ela, agora, que ele era o oponente, todos tinham medo de ser o primeiro a atacar, principalmente após verem Fenrir, um dos corrompidos mais fortes, caído no asfalto.

Enrique apertou o cabo da espada.

— Tudo bem, eu começo então — O familiar som de um relâmpago que lhe dá alcunha foi ouvido, Enrique então começou seu duelo contra os dezenas de corrompidos que o cercavam com uma velocidade absurda.

— Ele é rápido demais — Um corrompido de cabelos alaranjados exclamou antes de ser atingido pela Caliburnus, seus companheiros tentaram então se defender de velozes ataques, porém sem sucesso.

— Congelem esse desgraçado — Um deles exclamou.

Dois corrompidos com habilidades de criocinese, ou seja, redução da energia cinética dos átomos, investiram contra o espadachim numa tentativa de retardá-lo, o que inicialmente obteve sucesso.

— Isso — Um corrompido de uns 40 anos comemorou enquanto corria para cima de Enrique afim de dar-lhe um soco.

— Amadores — Enrique liberou uma rajada elétrica de sua espada acertando o corrompido que queria lhe acertar, girou e saltou para fora do alcance dos criocinéticos.

— Não recuem — Um corrompido que Enrique conhecia muito bem liderava mais uma investida contra ele. Adrian, seguido de Albérico e outros quatro corrompidos corriam em sua direção — Agora! — exclamou lançando Albérico na direção de Enrique que girou acreditando estar se esquivando do corrompido pirocinético, no entanto, caindo numa armadilha e escorregando em gelo.

— Ótimo — Adrian comemorava enquanto levantava Enrique com um braço e o socava com o outro — Não é tão durão assim agora, é?

— Talvez — Enrique respondeu em meio à uma descarga elétrica — Mas você eu tenho certeza de que não é.

 

 

 

***

 

Uma forte dor de cabeça lhe afligia, um zumbido irritante também rondava seus ouvidos, levantou-se lentamente, lutando contra a dor, e observou a área ao seu redor totalmente devastada, carros capotados, pessoas jogadas ao chão e um enorme buraco com raio maior de 20 metros.

— Andressa? — A voz de Jonas chamava pelo fone — Tudo bem aí?

— Tudo — Tentava recuperar totalmente os sentidos.

— O que aconteceu aí? Rafa falou que ouve uma explosão. Onde você tá?

— É, Cassandra e eu lutamos, acho que exageramos. — Seu tom estava meio leve, Jonas sabia que o objetivo dela era fazer ele não se preocupar com ela. Afinal, ela odiava que alguém sentisse pena ou qualquer sentimento parecido para com ela.

— Tudo bem. Só tenha cuidado.

Andressa caminhou para fora da cratera, não sabia se aguentaria continuar lutando por muito mais tempo, eram quatro contra um exército, as chances estavam contra eles.

— Tomarei — respondeu melancólica.


***

 

— Tudo bem — A voz de Rafael soava nos ouvidos de Jonas que corria pelas ruas de Recife se defendendo de ataques cada vez mais poderosos de corrompidos que o odiavam, detestavam a população e que com certeza brigariam entre si para matá-lo — Eu sei que você e Serena estavam bem próximos da prefeitura à uns 15 minutos atrás e eu os fiz sair de lá — Jonas já previa o que Rafael falaria a seguir — E se eu lhes dissesse que Bernardo está no velho edifício onde a principal figura política da cidade deveria estar?

— Eu diria que você nos atrasou — Serena respondeu enquanto era perseguida por três corrompidas pirocinéticas.

— Foi mal.

— Tudo bem — Serena respondeu enquanto criava um campo de força que cercou suas stalkers.

— Tanto faz — Aracnídeo escalava um prédio o mais rápido que podia, estava apressado, após tanta confusão, ele chegara à conclusão de que a única forma de parar aquele caos seria parar seu líder, de uma forma ou de outra — Serena, você cuida delas por mim?

— Claro — As três corrompidas tentavam destruir o campo com rajadas de calor — Estou logo atrás de você.

— Certo — Aracnídeo saltava para outro prédio e logo em seguida disparou uma teia no alto de um museu — Bia, você falou com Andressa?

— Sim — A garota respondeu — Os amigos dela chegaram, estão ajudando-a contra a líder de um grupo aliado ao padre.

— Cassandra — Aracnídeo murmurou— E Enrique, como está a situação dele?

— Aquele cara é um monstro — Rafael comentou — Eu achava que conhecia a fúria dos deuses jogando God Of War, isso até conhecer esse cara, ele tá arrebentando no centro.

— Imagino — Jonas estava preocupado, sabia que Enrique era um aliado, mas tinha medo de que ele matasse alguém em combate, pois, além dele não aprovar que alguém botasse fim a vida de outra pessoa.

Seus adversários naquele momento, não eram seus inimigos, eram apenas pessoas confusas, cegas pelo ódio e medo, guiadas por um psicopata que se aproveitou da situação para guiá-las em uma missão doentia.

Espero que esteja tudo bem por lá, pensou.

 

 


***

 

Grande parte dos revoltosos corrompidos que ainda estavam de pé se concentravam em torno da prefeitura, todos reunidos em nome de seu líder, Bernardo de Alcântara. O padre dos renegados, daqueles que cresceram na escuridão, mas que finalmente poderiam ver a luz da esperança.

— Esse é o dia meus irmãos, o dia de nossa libertação. — Bernardo estava em êxtase, o momento ao qual ele sonhara sua vida inteira havia chegado, estava tomando as rédeas da sociedade, moldando-as para que seu povo prosperasse — Hoje começa a elevação corrompida sobre o resto da sociedade, sobre aqueles que nos deixaram à sua margem — O povo estava eufórico, o mundo podia ainda não ser o idealizado por eles, porém, aquele dia seria o gêneses de tudo — Quem deu-lhes o direito de se postarem acima de nós? Quem disse que nós devemos nos contentar com as periferias e os restos? Ninguém! Eles até nos chamam de corrompidos, uma palavra tão pejorativa, mas tudo bem, talvez sejamos mesmo corrompidos, mas se somos, alguém nos fez isso, e eu lhes digo quem: A sociedade, a sociedade corrompe o homem.

— Que pena — Uma figura fantasiada estava de pé em cima da carreta de um caminhão — Mas eu acho que é você quem tem ideais corrompidos — lançou uma teia no peito do padre — E não é no bom sentido.

Aracnídeo puxou com força o padre que se chocou violentamente contra o caminhão. A multidão corrompida então se voltou contra o Aracnídeo. Homens, mulheres, crianças e idosos, todos voltados para um único inimigo, um adolescente vestido numa fantasia amarela.

— Qual é gente — Aracnídeo saltou do caminhão, disparou uma teia e pousou em frente à prefeitura. Ele não tinha a mínima chance contra toda uma comunidade de corrompidos furiosos — Vocês...

Antes que o vigilante conseguisse falar o que desejava, se viu preso em uma armadilha, um campo de força semelhante, porém mais poderoso, do que aquele que Serena fazia o cercava, nas quatro extremidades daquela barreira haviam quatro corrompidos, eles uniram suas habilidades para criar um escudo enorme e impenetrável.

— Você não aprende nunca? — O padre já havia se recuperado e caminhava para próximo à barreira — Você é um homem, não pode contra nós — Bernardo dá uma breve gargalhada — Quando Andressa me contava que você era egocêntrico eu não imaginava que chegasse à esse ponto, quem você pensa que é?

Aracnídeo socou, em vão, a barreira.

— Eu que pergunto, quem você pensa que é? Um novo Moisés?

— Não — Um ponto da barreira se abria, por ele alguns corrompidos furiosos adentravam o espaço a qual o Aracnídeo fora confinado — Não sou tão bonzinho assim.

Após meia dúzia de corrompidos entrarem e cercarem o Aracnídeo o povo gritou, todos esperavam ansiosamente o espetáculo que veriam.

— Conhece o coliseu? — Bernardo questionou retoricamente — Acho que sim.


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