CAPÍTULO XXIV

MOLLY WEASLEY II

[31/03/2018]

Heeeeeeeeeey, Cass!

Eu pareço feliz, né? Mas eu não estou. Não mesmo. Eu to surtando! E não é por algo bom do tipo: “Eu vou ir no show da Taylor Swift!”

Você não está entendendo nada, I know. Então, vou explicar.

Toda essa minha loucura começou na festa do pijama que a Selena e Marlee deram. Eu contei a você que íamos fazer a “noite das garotas”, contudo não havíamos decidido o dia nem o lugar. Porém, dia 23, Selena chegou toda contente na nossa rodinhas de amigos. Ela disse: “Meus pais vão viajar e só voltam dia 02, então, o que vocês acham da festa ser lá em casa? Pode ser dia 30?”. E nós, claro que confirmamos.

Confesso que estava um pouco ansiosa para a festa. Digo, eu lembrava das que nós fazíamos n’A Toca, não era muito bom. Sempre acabava com perguntas do tipo: “de quem você gosta?” ou em algum desafio. No meu interior, eu sabia que isso acontecer. No fundo, eu só estava com medo de falar de quem eu gostava. Falar, em voz alta, para todas ouvirem, era admitir que eu gostava dele, era tornar aquilo real.

Dia 30 chegou muito rápido e eu não estava tão bem. Bella estava distante e quando conversávamos, ela só sabia falar do “Lyz”, aquele amigo do Louis. Eu me sentia traída, Bella conversava com ele. Ela não devia fazer isso! Se eu não gosto dele, ela também não pode gostar. Simples. Mas nããão, ela virou amiguinha dele e só sabe falar que ele é legal, que ele faz bem pro Louis. Caramba, nós tínhamos outros assuntos. Já não basta ela ficar longe de mim, agir como se tivesse fugindo, ainda faz isso? Estou decepcionada com a Arabella. Muito decepcionada.

Bom, eu e as meninas - acredito que tu lembre delas - combinamos de nos encontrar as 20hrs, em frente a pracinha que havia perto de nossas casas.

Após nos encontrarmos, fomos para a casa das meninas - Selena e Marlee. Lembra que elas são meio-irmãs, né? Sei que não falo muito delas, mas você deve lembrar. Lá, corremos para o quarto de Selena. Pois como Marlee disse: “é melhor ser no da Lena, é mais organizado e fofinho. Meu quarto é todo bagunçado!”

A noite foi divertida, Cass. Cantamos Katy Perry, fiz um cover de Taylor Swift, porque eu gosto dela. Dançamos, rimos, vimos filme, comemos doces. E então, a pior parte da festa começou: as perguntas.

Estávamos sentadas no chão, com várias almofadas ao nosso redor, quando Elizabeth - aquele demônio em forma de gente - falou: “vamos brincar de verdade ou verdade?” e todas as outras meninas concordaram. Eu só fiquei em silêncio, esperando Deus me levar. Odiava aquele jogo, era pior que “verdade ou consequência?”, pois nesse tu só tinha uma opção: sofrer.

Emma riu e correu para pegar uma garrafa. Minutos depois, estávamos sentadas em um círculo, esperando o inferno começar.

Elizabeth, por ter dado a ideia, foi a primeira a girar a garrafa.

“Arabella X Emma”

Arabella sorriu de um jeito tão maléfico que eu cheguei a ficar com pena da Emma.

— Eu sei que você tá’ comprometida, vai casar com o seu primo e tal, mas isso não significa que você não pode ficar com outros. Então, de todos os garotos da nossa aula de filosofia, com qual você ficaria?

— Eu te odeio, Arabella!

— Ai, Emma, para de frescura. - Marlee pegou uma bala. — Fala, você não vai morrer por isso. E, bem, o que acontece aqui, fica aqui. Né, meninas?

— Com certeza. - Dissemos em uníssono.

— Okay. - A garota suspirou, derrotada. - Bruce Griffin. Ele é tão bonitinho!

Nós começamos a fazer “huuum” para ela. De fato, Bruce era bonito. Além de ser um dos melhores alunos da turma.

— Agora, eu giro! - Emma pegou a garrafa. - Selena para Marlee!

— Marlee, maninha, você ainda cheia de segredos. Não deixa ninguém mexer no seu celular. O que você tanto esconde?

— Lena, minha querida irmã, saiba que a vingança é um prato que se come cru. Bom, eu conheci um carinha aí, somos só amigos, okay? Mas conversamos bastante. Ele é uns três anos mais velho.

— Safada! - Gritou Arabella, rindo.

Aquele jogo seguiu por muito tempo e eu estava me achando sortuda, nem eu, nem Arabella haviamos sido “interrogadas”, até aquele momento.

— Aaaah, finalmente! - Marlee bateu palmas. - Eu pergunto para a Bella.

— Tenha piedade de mim, Marlee. Eu te imploro!

— Acho que não. - A garota ri. - Bella, qual o nome do garoto que você gosta?

Arabella se mexe, desconfortável.

— Bem… - Ela suspirou. - Eu não gosto de garotos.

Eu a olhei. Como assim? Bella é lésbica? Porque ela nunca me contou? Por isso ela se distanciou? Eu estava cheia de perguntas.

Emma foi a primeira a pergunta.

— Então, você é lésbica? Como descobriu isso?

— Bom… - Arabella tomou um pouco de seu refrigerante. - Eu tenho essa amiga, sabe? Nós passamos muito tempo juntas e eu comecei a reparar mais nela. Do mesmo jeito que vocês reparam num garoto, quando o acham bonito, quando começam a gostar dele, entendem? - Balançamos a cabeça, respondendo que “sim”. - Então, quando gostamos de alguém, reparamos em tudo nessa pessoa. Nas manias, nos gostos. Não é só atração, só vontade de ficar. É algo mais. E eu comecei a sentir isso. Eu queria estar com ela o tempo todo, comecei a sentir ciúmes dela. Mas não um ciúmes de amiga, um ciúmes de namorados. - Arabella respirou fundo. Eu só a olhava, sem entender nada. Tudo o que passava pela minha cabeça era: “quem é essa garota? Porque eu me importo? E porque ela não me contou? Eu sou sua melhor amiga!” - Quando percebi que estava gostando dela, fiquei confusa. Então, resolvi falar com a minha mãe. Ela disse que eu poderia ser lésbica, que eles aceitariam. Mas que eu deveria ter certeza, pois poderia estar enganada. - Ela suspirou e mexeu nos cabelos. - Sem saber como descobrir, resolvi ficar com uma garota. Eu gostei, gostei bastante e fiquei com mais uma. Foi aí que eu percebi que não gostava de garotos, eu só ficava com eles por ficar. Eu não sentia atração por eles, não sentia nada. Mas com as meninas é diferente. Eu me sinto completa quando estou com elas, quando fico com alguma, quando as beijo. Eu gosto de garotas, é isso.

As nossas amigas apenas sorriram.

— Isso foi tão lindo! - Selena abraça Arabella. - Saiba que nós não temos problemas com isso. Você fica com quem quiser, faz o que quiser. A vida é sua. E eu fico muito feliz em saber que você se descobriu, que você se aceita. É tão bom quando isso acontece.

Marlee bocejou.

— Sim, sim. Foi lindo, emocionante. Nós não vamos deixar de ser sua amiga por causa disso, mas agora vamos dormir, porque eu to quase morrendo de sono.

E foi isso que fizemos. Ou era o que deveria fazer. Havia perdido o sono, muitas perguntas sem respostas. Fiquei lá, em silêncio, olhando a escuridão do quarto, quando alguém levantou e saiu. Percebi que era Arabella e resolvi ir atrás dela.

Bella havia ido na cozinha, tomar aguá.

— Bella? - Chamei.

— Molly, acordada ainda?

— Não consegui dormir.

Bella sentou em uma das cadeiras e me olhou.

— É, eu também. Fiquei pensando… - Ela olhou para o copo. - Você ficou quieta. Não disse nada. Isso me deixou paranoica.

Sentei ao seu lado e a olhei.

— Eu estou confusa. Não entendo.

— O que você não entende?

— Por que não me disse? Por que se distanciou de mim? Eu sou sua melhor amiga, Arabella! Você devia ter me contado. Não era para eu descobri isso através de um jogo!

Bella me olhou, ela parecia triste. Aquele olhar dela, aquele olhar acabou comigo.

— Eu fiquei com medo, Molly. Sei que você aceita, que por você, tá tudo bem. Mas eu fiquei com medo de você… Sei lá, achar que não devia mais ser minha amiga. Eu não sei! Eu estava confusa, eu precisei me distanciar para entender o que estava acontecendo. Foi aí que me aproximei do Lyz. Sei que você não gosta dele, que se sente traída, mas ele é gay. Ele me entende, sabe? Eu me senti bem conversando sobre isso com ele.

— O Lysander? Logo ele? Okay, sem julgamentos. Eu estou magoada? Estou. Tu me conhece, Bella. Sabe que eu nunca te deixaria, nunca deixaria de ser sua amiga. Pelo amor de Deus, Bella, eu te amo mais do que tudo nesse mundo. Tu é a minha melhor amiga. Tu é tudo pra mim. Sabe que poderia ter falado comigo, eu não ia brigar, te deixar ou o caralho a quatro. Eu estou bem magoada, mas eu te entendo.

— Desculpa, Molly. Eu tive medo…

— Eu sei, também sentiria. Por isso, não vou ficar louca. Eu aceito, tu precisou recorrer a outra pessoa que não era eu. Tudo bem. Mas, agora diga-me, essa garota é a Charlotte, né?

Bella pareceu chateada, como se eu tivesse falado algo errado.

— Você é tão lerda as vezes… Mas, dessa vez você acertou. Essa garota é a Char. Só que, ela não gosta de meninas. Então, é algo meio platônico. Não vou dizer que superei, porque não fiz isso. Contudo, não vou insistir em algo que sei que não tem futuro.

Não falei nada, só a abracei.

— E, Molly, nenhuma pergunta foi feita a você.

— Eu sou tão sortuda. - Comecei a rir.

— Mas não se livrou de mim. Diga-me, de quem você gosta?

Naquele momento, eu paralisei. Quando ela falou aquilo, eu só conseguia pensar em uma pessoa.

— Eu odeio dizer isso, eu não sei como percebi isso só agora. Mas você estava certa: acho que eu gosto do Louis.

Ela riu, mas parecia um riso triste.

— Eu sabia! Você vai contar pra ele?

— Bella, até dois segundos atrás, eu nem tinha certeza dos meus sentimentos por ele. Então, vamos com calma.

Depois da nossa conversa, fomos para o quarto. Eu consegui dormir, contudo, hoje eu passei o dia pensando no que foi dito. Bella era lésbica, teve medo de me contar e eu, bem, eu descobri que gosto do Louis. Meu Deus, Cass, o que vou fazer?

Enfim, está tarde e eu devo dormir.

Boa noite, Cass!