Molly Juliette Weasley II

“O dia em que Percy deixou de ser meu pai.”

25 de dezembro de 2016.

Olá, Castiel!

Sabe que dia é hoje? Hoje é dia 25 de dezembro! O dia em que comemoramos o Natal, ou como a mamãe diz, o dia do nascimento de Jesus Cristo. Eu não sei se é verdade, mas a mamãe diz que é, então, quem sou eu para discordar?

Cass, posso lhe contar como foi o meu dia aqui? Depois de tudo? Bem, acho que sim.

Sabe, dia 22, Tia Ally me chamou e disse que tínhamos que conversar sobre algo importante. Eu fiquei com um pouco de medo, achei que ela não queria mais que eu morasse ali. Achei que ela ia dizer que não me aguentava mais e que estava na hora de eu voltar para casa, que aquele não era mais meu lar. Sim, eu sou dramática, mas levando em conta tudo o que aconteceu nesses últimos meses, eu tenho o direito de me preocupar.

Mas não era isso.

“Eu estava em meu quarto, jogando vídeo-game, quando Tia Ally chegou. Ela estava vestida daquele jeito, pois iria dormir na casa da Thal’s. Ela não queria me deixar sozinha, entretanto, lhe disse que deveria ir. Não é porque eu vim morar aqui que ela vai deixar de fazer o que fazia antes, as empregadas podem cuidar de mim. E Arabella iria vir dormir aqui.

㇐ Moll’s, precisamos conversar.

O “precisamos conversar” dela me deixou assustada, ouvir isso nunca é bom.

㇐ Sobre? ㇐ Perguntei olhando-a. Eu estava sentada no chão, com algumas almofadas ao meu redor. Tia Ally estava sentada em minha cama.

㇐ Sua mãe quer que você passe o Natal lá.

— Eu não quero ir.

Tia Ally levantou e me abraçou.

㇐ Eu sei que deve ser difícil, principalmente depois de saber aquilo, entretanto você deve ir. É sua família! Resolva tudo, converse com eles sobre isso, mas acima de tudo, vá lá pela Lucy. Ela quer tanto vê-la, deve estar morrendo de saudade! Pense em como ela se sentiria se você não passasse o Natal com ela, se você não ficasse ao lado dela na hora dos fogos como sempre faz. Eu sei que é algo de vocês duas: olharem os fogos abraçadas.  Tia Ally me olhou. ㇐ Você não vai se distanciar da sua irmã só porque eles fingiram que aceitavam tudo. Eles mentiram, mas foi para o seu bem. Foi errado? Foi, mas como Rose disse: ninguém chegou para você e disse que deveria aceitar aquilo tudo tão fácil, por que com eles deveria ser diferente? Eles são crianças como você!”

Ela nunca havia falado comigo daquele jeito. Eu entendo, ela deveria agir daquela maneira, fazer eu perceber que nada era fácil, nunca seria! A vida é cheia de obstáculos, de desafios, eu deveria aprender a resolver eles; passar por eles. Tia Ally não queria que me tornasse uma garota mimada, que tem tudo o que quer e não sabe lidar com os seus problemas.

“㇐ Okay. ㇐ Lembro de responder. Eu não queria ir, mas minha irmã me queria lá e eu faço tudo por ela.

Tia Ally sorriu.

㇐ Sabia que diria isso! Bem, eu já vou!

㇐ Ahhh, fica mais um pouco! ㇐ Pedi, gostava da companhia da Tia Ally.

㇐ Não posso, meu amor. ㇐ Disse ela, dando um beijo na minha bochecha. ㇐ Thalia ficaria louca! E Arabella já está chegando, não quero atrapalhar vocês com os meus assuntos de adulto.

㇐ Como se você fosse falar sobre isso com a Thal’s!

Tia Ally riu.

㇐ É... Bem, vou indo. Amo você!

㇐ Também te amo!”

Na manhã seguinte, Tia Ally me ajudou a arrumar algumas roupas e depois aparatamos até a casa dos meus pais. Ah, uma coisa rápida sobre a Tia Ally, ela era da Corvinal! Isso não é tão divertido?!

“Chegamos lá e Lucy correu para me abraçar.

㇐ Eu pensei que você não viria! – Disse ela com a voz embargada por causa do choro.

O olhar da Tia Ally quando Lucy disse aquilo, foi do tipo “eu avisei”. E o jeito com que minha irmã falou e agiu, fez com que eu me sentisse mal por não quer ir passar o Natal lá. Eu realmente deixaria de passar o Natal com minha irmã por causa dos meus primos? Desde quando me tornei tão mimada? Mimada a ponto de deixar minha irmã sozinha por causa disto? Céus, que vergonha senti!

㇐ Eu não deixaria você sozinha, Lucy! ㇐ Falei, abraçando-a. ㇐ Temos uma tradição, lembra?

Ela riu e afirmou com a cabeça.

㇐ Vem, vou levá-la até seu quarto. ㇐ Lucy pegou a minha mão e começou a guiar-me pela casa, como se eu nunca tivesse morado ali; como se não soubesse onde é cada cômodo. ㇐ Eu meio que dormi nele...

㇐ Dormiu? Por quê?

Meio envergonhada, Lucy respondeu.

㇐ Eu fiquei com saudade. Conversar por cartas com você é diferente de tê-la aqui.

㇐ Desculpe-me, virei mais vezes.

Entramos em meu quarto. Ele estava do mesmo jeito, só a cama que estava um pouco bagunçada.

㇐ Você não virá. ㇐ Lucy se atirou em minha cama. ㇐ Você não se sente confortável estando aqui.

㇐ Por que diz isso?

㇐ Eu vi como você sentiu na última vez que veio. Você ficou no seu quarto, só conversou comigo e com mamãe e não conseguia falar com papai. ㇐ Ela me olhou. ㇐ Você sente como se aqui não fosse mais o seu lar.

Era estranho falar sobre aquilo com Lucy, ela parecia tão madura para sua idade... Tão esperta!

㇐ Você está certa. ㇐ Sentei ao seu lado e a abracei.

㇐ Não fique brava com os nossos primos, eles tem seus motivos, entretanto, a maioria falou a verdade naquelas cartas.

㇐ Como você sabe sobre isso?

㇐ Você contou para a mamãe e ela me contou. Louis, Dominique, Fred, Roxy e Hugo não mentiram para você. Rose, bem... Rose não consegue mentir e os Potter são... Os Potter. Fazem tudo o que o Tio Harry manda, entretanto, Lilly ainda é criança e é mais fácil para ela aceitar isso. E, bem, Lilly não é de fazer tudo o que o Tio Harry manda.

Suspirei.

㇐ Eu não sei...

㇐ Os perdoe, finja que nada aconteceu, veja que com o tempo eles vão se acostumar com tudo isso. Pois é como a Tia Mione diz: “ a dor deve ser sentida”. Vai doer? Vai, mas com o tempo passa.

Lembro de olhar para minha irmã para ter certeza de que quem conversava comigo era uma garotinha mais nova que eu ou uma mulher mais velha.

㇐ Certo.

Lucy riu e me abraçou mais forte.

Tia Ally ficou até a hora do papai chegar, pois os dois não se davam muito bem, algo sobre ela ser uma bruxa, mas optar por viver como os trouxas. Não sei direito.

Bem, até ele chegar, foi tudo divertido.

Lucy e eu brincamos, mamãe e Tia Ally ficaram conversando. Provavelmente, mamãe queria saber como estava sendo os meus dias lá, já que eu não contava. Sinceramente, mamãe e eu quase não conversávamos; ela mandava algumas cartas, mas antes eram diárias, agora são três a cada duas semanas. É como se conversar comigo não fosse tão importante. Mas é, pelo menos é o que mamãe diz.

Papai não me mandou nenhuma carta e quando me viu, só disse: “Olá, Molly”, não teve nenhum “Filha, que saudade!” ou “Céus, como você cresceu! Como anda a escola? Sentiu saudades do papai? Eu senti muito a sua falta, meu amor!”

A noite, depois do jantar, quando mamãe e Lucy já estavam dormindo, eu desci as escadas e fui até o seu escritório ㇐ papai fica muito tempo lá, ele trabalha muito.

㇐ Papai. ㇐ O chamei. Ele já havia terminado o seu trabalho, sei disso, pois ele estava guardando suas coisas.

㇐ Sim? ㇐ Perguntou de maneira fria.

㇐ Eu queria conversar...

㇐ Eu não posso agora, Molly. ㇐ Respondeu me dando às costas. –㇐ Estou muito cansado, amanhã conversamos.

Fechei os olhos, não choraria. Não agora.

㇐ Você vai dar essa mesma desculpa amanhã.  

㇐ O que disse? ㇐ Perguntou se virando para me olhar

㇐ Você não quer conversar comigo, eu já entendi! ㇐ O olhei. ㇐ Mas, eu sou sua filha!

Ele apenas me observou.

㇐ Eu sou um aborto? Sou uma vergonha para você? Sou! ㇐ Gritei, agora, deixando as lágrimas escorrem por meu rosto. ㇐ Mas, acima de tudo, eu sou sua filha! Você não pode simplesmente me ignorar por algo que eu não tenho culpa de ser! Você irá me ver por muito tempo, quero dizer, me ver crescer e me ensinar o que é certo e errado, você não vai, porque achou que seria melhor me afastar da sua vida só porque tem medo do que os outros vão dizer. Céus, que tipo de pai você é? O que aconteceu com aquele homem que era meu herói? O que ele virou? Um vilão? Porque o homem que eu conhecia, o meu pai de verdade, não agiria assim só porque a filha não é uma bruxa!

Eu chorava muito, tenho a vaga lembrança de ver mamãe mandar Lucy ir para o seu quarto

㇐ Talvez você não me conheça, não como acha que conhece. ㇐ Respondeu e subiu as escadas, me deixando ali, chorando. Lembro que mamãe me abraçou e disse que ele só havia falado aquilo porque estava cansado, que ele não sabia o que estava falando. Mas eu sabia, sabia que não era mais sua filha. Ele fez o que vovó Molly sempre odiou, o que ela sempre deixou claro que não conseguiria suportar: ele renegou a própria filha e agora eu o renegarei.

Eu não tinha um pai, não mais.

Na manhã seguinte, fomos todos para a Toca. Chegando lá, eu encontrei meus primos. Eles vieram conversar comigo, pelo que entendi, Rose havia contado para eles que eu já sabia de tudo. Lembro de que ouvir eles pedirem desculpas, que estavam errados, mas que depois de um tempo, tudo o que falaram era verdade. Disseram que eu não deveria duvidar das suas palavras, pois agora, elas eram verdadeiras, que eles me aceitavam do jeito que sou. Que eu ainda era uma Weasley e os Weasley são uma família unida.

Bem, James e Albus ainda agiam estranho, mas eu não me importei. Tinha os outros primos ao meu lado.

Passamos o dia inteiro ajudando nossas mães e brincando. Foi um dia bem divertido e logo a noite chegou.

A casa estava toda decorada. Na sala estavam os homens conversando sobre Quadribol e trabalho, na cozinha você encontraria as mulheres botando a fofoca em dia e aonde você fosse, veria as crianças (nós) correndo pela casa; brincando ou de pega-pega ou de esconde-esconde

Depois da ceia, fomos todos para o pátio. Lucy e eu estávamos abraçadas e enquanto víamos os fogos, cantávamos “Hey Brother”, a nossa música.

“What if I'm far from home?

Oh, brother, I will hear you call

What if I lose it all?

Oh, sister, I will help you out

Oh, if the sky comes falling down, for you

There’s nothing in this world I wouldn’t do”

E assim foi o meu Natal. Eu me diverti tanto, até esqueci daquele triste momento com meu pai. Lucy e eu estamos mais unidas e agora, eu e meus primos voltamos a ser o que éramos antes.

Está tarde e eu devo dormir.

Boa Noite, Castiel!

 ㇐  O trecho da música/ tradução:

E se eu estiver longe de casa? / Oh, irmão, eu vou ouvir você chamar / E se eu perder tudo? / Oh, irmã, eu vou ajudá-la! / Oh, se o céu vier caindo, por você / Não há nada neste mundo que eu não faria.

 

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