Dons: Carbúnculo escrita por KariAnn, Haruka hime


Capítulo 13
Planos


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o atraso. No sábado não me loguei e confesso que no domingo me esqueci completamente de postar o capítulo, mas aí está!!



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Na manhã do dia seguinte, após o desjejum, Fábio saiu de casa para caminhar pelo parque central da cidade e pensar no que faria a seguir. Das árvores caíam folhas alaranjadas que formavam um tapete outonal cuja beleza Fábio gostava de apreciar. Enervava-se dos que ignoravam tamanha demonstração de singeleza da terra, e os considerava ignorantes.

Fábio caminhou um pouco mais e parou para olhar as casinhas históricas que se estendiam por um grande quarteirão, todas bem preservadas e coloridas, bem em frente ao parque. A grande vantagem de Kendrich, para o garoto, era ser muito bem planejada e balancear o progresso e a tecnologia, com a natureza e suas virtudes.

Pela cidade se via prédios e arranha-céus cuidadosamente planejados, cujos terrenos tinham extensas áreas verdes preservadas. Havia bairros que não possuíam prédios, mas eram apenas reservados para casas. O lugar onde estavam localizadas as residências dos Raimann era um desses bairros, e não era limitado apenas a casas, mas casas de alto padrão.

Acádia, que ficava ainda mais distante, era basicamente uma floresta, com mansões espalhadas e o palacete dos Raimann. Por isso Fábio gostava tanto de viver naquela cidade.

Quando voltou a caminhar, Fábio avistou Carlos Magno parado próximo a uma enorme árvore. O garoto ficou tentado a mudar de direção, mas continuou andando até aproximar-se do primo que o esperava ali. Usava apenas um casaco escuro e calças largas e escuras. Os cabelos estavam soltos e revoltos, balançando com o vento. As folhas secas caiam ao redor dele.

— Que faz aqui? — Fábio perguntou ao passar direto pelo primo que se virou e se pôs a acompanhá-lo.

—  Conversei com a Alessandra ontem à noite.

— Hum! — O garoto fingiu não se importar. 

— Ela quase me convenceu, mas sei quando ela está mentindo. Então, do que se trata o tal livro que Marcos tanto quer roubar de você? É este que segurando agora? — Magno apontou par ao livro de capa negra. 

Fábio olhou para o livro e sorriu. Por um momento sentiu raiva de Alessandra por havê-lo mencionado, mas sabia que não podia culpá-la. Frente a Carlos Magno, ele também sentiu medo.

— Eu não sei por que ele quer o livro —  Fábio mentiu.

— A Alessandra falou a mesma coisa. Não acreditei nela. E não acredito em você agora.

— É uma pena. 

— E você seguiu a Alessandra por quê? Se o livro não tem valor, não faz sentido ter feito isso.

Fábio mordeu o lábio inferior. Não tinha explicação para aquela questão e não conseguia pensar em nenhuma desculpa. Mas também não estava inclinado a deixar que Magno descobrisse tudo.

— Eu... fiquei curioso para saber por que ela queria o tal livro.

Magno sorriu, e isso assustou o primo. Antes que ele fizesse uma nova pergunta, os dois rapazes se depararam com Victória Montserrat que vinha na direção deles. Ela usava um vestido longo e simples, cuja saia possuía algumas camadas de tecido fino e claro. Os cabelos cacheados estavam perfeitamente penteados, e presos com alguns grampos. Seus olhos claros logo se fixaram nos dois, e um largo sorriso se abriu em seu rosto.

Fábio acenou e, ao olhar Magno, notou um leve sorriso se formar em seu rosto. Se antes estava assustado com o primo, aquele sorriso agora o apavorava. Desde quando Carlos Magno se comportava daquele jeito?  Ele pensou. Certamente a presença de Victória Montserrat mudara alguma coisa, tanto que Magno parecia ter se esquecido de que Fábio ainda estava ali, o que não foi de todo ruim.

— Como vão? Que prazer encontrá-los! —  a cantora exclamou ao se aproximar e cumprimentar os dois.

— Igualmente — Fábio falou. — E o que a senhorita faz por aqui?

— Estou hospedada no Auguste Chartier próximo daqui e não resisti. O parque é tão lindo que precisei sair para vê-lo de perto.

— E fez bem! Entre o parque e o bosque, não sei quem oferece melhor visão, mas certamente que este parque não merece ser ignorado, e sei que a senhorita, como excelente artista que é, compreende isso muito bem.

Victória riu viva e delicadamente frente à vivacidade do garoto ao falar de um lugar que ela percebeu ser muito apreciado por ele.

— Você é um garoto muito vivaz e sensível. Não conheço muitos hoje que tenham a sua idade e tamanha disposição para prestar atenção nas coisas pitorescas. Certamente que sua família soube te dar uma boa educação artística.

— E me orgulho muito disso. A senhorita gostaria de caminhar conosco?

— Muito, obrigada!

Os três voltaram a caminhar em outra direção. Pararam diante de um sorveteiro que lhes preparou um sorvete natural, e continuaram seu caminho.

Um pouco distante, Amélia, Christine e Michele voltavam do mercado e resolveram cortar caminho pelo parque, quando avistaram Fábio, Magno e Victória a conversar. Michele pareceu um pouco chocada ao ver Magno em companhia de uma mulher tão bela como Victória. Ela sorria e olhava para ele, que correspondia com o sorriso que tanto assustou Fábio e certamente assustaria o resto da família.

As meninas continuaram seu caminho e sequer foram notadas pelos três. Christine e Amélia se entreolharam preocupadas enquanto Michele não conseguia desviar o olhar do trio. Mesmo a presença de Fábio ali não desfazia sua insegurança em relação à Magno e Victória.

Sem ter o que fazer, Amélia e Christine simplesmente puxaram a amiga e aumentaram o passo para chegar logo em casa.

— Então, o que o senhor faz, Carlos Magno? — Victória perguntou.

— Sou oficial das forças armadas.

— Oh! Sério? A carreira militar é algo que me fascina, apesar do perigo. E o que o levou a se tornar militar, se me permite saber?

— Fui mandado para a escola militar quando era pequeno, e acabei por seguir carreira.

— Escola militar? —  Ela demonstrou surpresa. — Então seu pai pertencia ao exército?

— Meu pai era um orgulhoso general de exército. Ele morreu há muito tempo.

— Sinto por sua perda.  

— Obrigado. Felizmente ele morreu sem deixar inimigos, apenas admiradores.

Carlos Magno era de fato do exército de Áquila. Seu pai havia falecido quando ele ainda era criança. Cumprira bem seu papel de pai, apesar do compromisso com o exército, e deixara para a família conforto e segurança. Magno se orgulhava da lembrança dele e se esforçava por ser tão bom e útil ao exército quanto seu pai fora.

— O senhor me parece uma pessoa muito inteligente, assim como seu primo. Gostaria de convidá-los para me visitarem em Overtoun. Comprei o terreno recentemente, mas ainda não pude desfrutar inteiramente do lugar. Desejo que possam vir almoçar comigo.

— A senhorita disse Overtoun? — Fábio perguntou com os olhos brilhantes.

— Sim, sim. Semana passada, terminei de me instalar. Está tudo perfeitamente organizado e já posso receber visitas. Será que poderão ir me ver? — 

— Sem dúvida! — Fábio exclamou com animação pueril. O violeta de seus olhos pareceu renovado, como se estivesse apagado e subitamente se iluminasse.

— Ora, ora, vejo que você gostou da ideia. —  A mulher riu. — E o senhor, Carlos Magno?

— Pode contar comigo, senhorita.

— Maravilhoso! —  Victória bateu palmas. — Então espero por vocês amanhã mesmo, já que voltarei para casa ainda hoje.

— Está combinado!

Os três chegaram a uma das saídas do parque.

— Agora, lamento, mas devo retornar ao hotel. Não se esqueçam de mim.

— Pode deixar! —  Fábio falou.

Antes de se despedirem, os três trocaram números de telefone. Os primos se despediram da mulher e observaram enquanto ela se afastava até entrar num carro estacionado ali perto.

— Ela é mais encantadora do que imaginei —  Fábio falou e olhou para Magno. Sorriu ao perceber que ele continuava a olhar na direção do carro que se afastava até dobrar a esquina. Só então Magno se deu conta de que o primo havia dito algo e pareceu um pouco embaraçado com a situação.

— Sim, sim. Tem razão.

— Você sequer ouviu o que eu disse. Mas não tem problema, sei que você ficou bastante impressionado com ela e não me admira que...

— Do que você está falando? — Magno perguntou, encarando o mais novo —  Você é só uma criança, fique quieto.

— Ora, que mau humor. —  O garoto franziu a testa. — Mas é hora de eu voltar para casa. Até mais — ele se despediu, já se pondo a caminhar.

— Fábio! —  Magno o chamou. — Não pense que nossa conversa acabou.

— Estou ansioso por continuarmos com ela —  o garoto respondeu e tomou seu caminho. Magno o observou se afastar com certa raiva.

***

— Você os viu? Não acha que estavam muito próximos um do outro? — Michele perguntou a Christine.

— Amiga, relaxa. — Christine tentou acalmá-la. — Eles estavam só conversando. Você viu o Fábio lá também. Deve ser uma amiga deles.

— Sei, Amiga! — Michele falou irritada. —  Mesmo com o Fábio lá... Você viu como ela olhava para o Magno? Ai, não era como uma amiga! Ela estava visivelmente afim dele.

— De quem vocês estão falando? — Lady apareceu. As meninas estavam todas no quarto que Michele compartilhava com Lady na Casa Grande.

— Nós vimos o Magno e o Fábio no parque — Amélia explicou para a outra. — Eles estavam conversando com uma mulher e a Michele acha que ela tava flertando com o Magno.

— Mas estava! — Michele proferiu aquela frase com irritação. — Você precisava ver, Lady. Ela, toda produzida com um vestido branco, com os cabelos perfeitos, parecia...

— Ela parecia uma princesa de gelo. — Amélia fantasiou, olhando para a parede e sorrindo feito boba. — Desculpe, amiga, mas ela estava um arraso com aquele vestido branco. Quando o vento bateu, pareceu que ela estava flutuando. O tecido ondulou de forma tão bonita.

— Pois é! —  Michele falou e socou um travesseiro. —  Ela estava linda, perfeita, e falando com o Magno. Como ele resistiria, não é?

— Não fica assim, amiga. — Christine abraçou Michele. Ela não chorava, ao contrário, parecia muito brava.

Michele se levantou e começou a andar de um lado para o outro enquanto as amigas, todas sentadas na cama de Lady, olhavam para ela com preocupação.

— Como ele pôde ser tão frio comigo? Ele nem... nem... Daí aparece essa mulher... Quem será ela? O que ela tem com ele?

Nessa hora, Michele deixou escapar algumas lágrimas, mas tratou de enxugá-las rapidamente. Christine se levantou e a abraçou novamente, mas dessa vez Michele retribuiu o abraço com mais força.

As quatro garotas foram até a sala para tentar fazer algo que as distraísse e se depararam com Fábio a conversar com Alícia.

— Ela nos convidou — ele dizia à irmã —, ao Magno e a mim, para almoçar na casa dela amanhã mesmo.

— Então você irá com o Magno? — Alícia franziu a testa como se aquela ideia fosse muito estranha. 

— Não que eu queira a companhia dele, mas sim, eu vou. Quero poder levar a Branca e a Preta também. Acabei de falar com ela pelo telefone, e ela aceitou receber mais duas pessoas.

Amélia se aproximou dos irmãos, interrompendo a conversa. Alicia a olhou com sua costumeira expressão de desinteresse, e Fábio com certa irritação.

— Fábio, quem era aquela mulher com você e com o Magno lá no parque? 

— Como assim? — Ele pareceu não acreditar que Amélia não soubesse de quem se tratava. — Aquela era Victória Montserrat, uma soprano famosa que, aparentemente, apenas você nunca ouviu falar.

— Ah! Foi aquela que fez a apresentação que você e o papai foram assistir? Nossa!

— Pois é. E por que pergunta? Você esteve no parque? 

— É, eu passei lá com a Christine e a Michele, mas vocês não nos viram. Enfim... Só fiquei curiosa pra saber quem era.

Amélia voltou para junto das amigas e as quatro resolveram ir para a varanda. Fábio as observou sem entender, pois vira as lágrimas rolarem na face de Michele. Apesar disso, não deu importância, e voltou à conversa com a irmã mais velha.

***

Marcos ouviu o telefone tocar e não perdeu tempo em atender. Do outro lado da linha, uma voz gutural o fez estremecer por um momento. Ele suspirou irritado por ter sentido medo por um momento, mas recuperou o controle e se sentou no sofá, colocando o aparelho no modo viva-voz.

— O que você quer, Elifaz?

“Você encontrou a pedra?”

— Ainda não. Tive um... Imprevisto.

“Que imprevisto?”

— Um dos meus parentes tem o livro de que preciso.

“Então o pegue!”

— Não é tão simples assim. Mas eu o vi hoje quando passeava no parque. Creio que amanhã mesmo terei esse livro.

“Não creia. Faça!”

Elifaz desligou o telefone. Marcos ficou furioso, mas deixou aquela discussão de lado e se concentrou em pensar como pegaria o livro de Fábio. Tê-lo visto em companhia de Carlos Magno e de Victória Montserrat no parque foi uma boa surpresa que, no final, compensaria. Aproveitar-se-ia do fato de ele estar longe da família e roubaria o livro.

Apesar de ele não conhecer seu poder, a pouca experiência do garoto facilitaria tudo. Era preciso um tempo considerável para um sobre-humano aprender a controlar seu dom, e Marcos contava com a falta de experiência em luta de seus parentes. O grande erro deles era justamente não se meter em confusões, o que os tornava inexperientes em combates diretos. Marcos, por outro lado, se envolvera em muitos conflitos e sabia exatamente como usar seu dom.

O único desafio seria Carlos Magno, que era um militar extremamente bem treinado. Mas se estivesse distraído o suficiente com a mulher, Marcos poderia achar uma brecha para atrair Fábio e roubar-lhe o livro.

Enquanto Marcos formulava seu plano, Jason adentrou a sala e se sentou noutro sofá, então ficou a encarar Marcos por um tempo. Este, depois de se dar por satisfeito, se virou para Jason e começou a descrever o que faria.

— E eu faço alguma coisa nessa história?

— Você virá comigo para garantir que, caso Carlos Magno tente interferir, você possa mantê-lo ocupado até que eu tenha o livro em mãos.

— Tudo bem. —  Jason gargalhou. — Estou mesmo afim de acertar as contas com aquele caçador maldito. Vai ser divertido!

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! ^.^



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