Dons: Carbúnculo escrita por KariAnn, Haruka hime


Capítulo 14
Overtoun


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas. Hoje eu não ia postar porque meu PC quebrou, mas consegui um emprestado e, com um pouco de esforço, aqui está.



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O caminho que levava a Overtoun era cercado de mata dos dois lados. O terreno ficava consideravelmente distante da cidade. Para acessar o lugar, era necessário atravessar uma ponte, pois havia um largo rio que desaguava no mar a muitos quilômetros de distância dali.

A ponte de Overtoun era antiga, datada do século XVII, mas ainda estava bem preservada, e guardava muita história. Os moradores das redondezas consideravam o lugar mal assombrado por conta das várias mortes que ocorreram naquele lugar. Contavam-se várias histórias sobre cães que, ao passar a ponte, se jogavam dela sem motivo aparente[1], além de também ser local de desova e de onde várias pessoas que queriam por fim a sua vida se atiravam.

Mesmo aqueles relatos não tiravam a beleza do lugar. Ao passar por ali, Fábio se admirou com a paisagem e com o rio. Sua correnteza era sempre forte. Cair daquela ponte era morte na certa.

No carro de Carlos Magno estava também Fábio, Preta e Branca. Os três haviam conversado sobre a boa sorte que tiveram de poder ir para Overtoun. Só teriam que criar um momento para poder procurar pelo carbúnculo. Preta havia já ligado para Alessandra e informado de tudo.

Ao chegar à mansão, que era maior do que eles imaginaram, Magno estacionou o carro próximo a uma fonte. Victória os aguardava na porta e se dirigiu a eles, assim que saíram do carro, para cumprimentá-los.

— Vocês vieram. Que maravilha! — a cantora comemorou. — E vocês são Letícia e Lizett? Prazer em conhecê-las.

— Igualmente — as duas responderam ao mesmo tempo e logo os cinco entraram.

Na sala de jantar, o almoço já estava servido. A mesa era rica em saladas e frutas, carne e grãos. Também havia sucos e vinho, e Victória não fez cerimônia ao pedir que todos se sentassem e se sentissem em casa.

Durante todo o almoço, eles conversaram sobre os mais variados assuntos. Victória fez muitas perguntas aos garotos sobre os estudos e ficou surpresa ao saber que nenhum deles frequentava a escola, mas tinham aulas particulares. Perguntou sobre a família, gostos musicais, gostos para artes em geral, e pareceu muito entusiasmada em falar com jovens tão cheios de conhecimento como eles.

Carlos Magno falava também, mas falava menos que os primos. Ele observava muito mais as feições de Victória e de vez em quando emitia alguma opinião ou falava algo.

Victória também parecia muito interessada em ouvir o que ele tinha para falar, e seu silêncio só atiçava mais a curiosidade dela.

***

Alessandra se esgueirava por entre árvores e arbustos até que teve acesso a uma área mais fácil de caminhar. Estava em Overtoun, onde Fábio disse que estaria também. Resolveu então dar uma espiada no terreno.

Enquanto caminhava, Alessandra tropeçou numa rocha. Amaldiçoou aquilo e só então se deu conta de estar num cemitério.

— Woohoo! — Ela assoviou. — É maior do que eu pensava. Ora, ora. Será que o tesouro tá em algum desses túmulos? — indagou para si mesma, coçando o queixo. — Ho! Mais isso vai demorar muito! Não posso cavar túmulo por túmulo. E agora? — Alessandra coçou a cabeça. Agradeceu por ainda ser dia, pois não gostava muito de entrar em cemitérios à noite.

Enquanto caminhava por entre as lápides, Alessandra notou que havia mais alguém ali. Ficou com medo de ser descoberta, então se agachou atrás de um mausoléu e espiou. Seus olhos se arregalaram ao ver Marcos, e ela torceu para não ser notada por ele. Depois de vê-lo voar e disparar aquelas esferas de energia, ela não se sentia muito segura em enfrentá-lo.

Marcos, por sua vez, caminhava tranquilamente até sair do cemitério. Ele seguiu na direção da mansão, e não parecia muito preocupado em ser visto.

***

Victória e seus convidados, após terminar o almoço, resolveram sair para passear pelo terreno. Quando saíram da mansão, eles passaram por onde Marcos estava. Este, por outro lado, se escondeu atrás de uma estátua, pois não queria ser visto por Carlos Magno tão cedo.

Os cinco seguiram em direção ao cemitério. Alessandra, que ainda estava por lá, ouviu quando eles se aproximavam, e sorriu aliviada ao ver Fábio, mas logo se sentiu amedrontada novamente quando notou a presença de Carlos Magno. 

— Só tem gente que me ama aqui! — Alessandra cochichou para si mesma, irônica. 

Enquanto caminhavam, Fábio notou que Preta parecia agitada. Ela olhava para os lados o tempo todo e seus olhos se mexiam com rapidez nas órbitas, como se estivessem fora de controle. Fábio temeu que Victória notasse aquele comportamento estranho e garantiu que ele e Preta ficassem mais atrás.

— Ei, o que há com você? — perguntou Fábio para a prima, tomando cuidado par a não ser ouvido. 

— Eu não sei! — Preta falou com gravidade. — Há algo de errado nesse lugar. Tem algo me afetando.

— Como assim? Branca, você sabe do que se trata? — Ele se dirigiu à outra. 

— Estou sentindo a agitação da minha irmã, mas não sei exatamente o que é. Temo que seja o carbúnculo.

— O carbúnculo? Você pode senti-lo? — O garoto ficou feliz e temeroso ao mesmo tempo. 

— Se ele é uma pedra mágica, é de se esperar que o ambiente aqui seja diferente. Coisas com aura causam algumas reações na Preta. Mas só quando essa aura é pesada, e escura.

O garoto olhou para os lados enquanto passavam em meio aos túmulos. Talvez não fosse necessariamente o carbúnculo, mas o cemitério, ele pensava.

Subitamente, Fábio ouviu um “psiu” e se virou. Viu Alessandra agachada atrás de um túmulo e, depois de se certificar que Magno e Victória não perceberam nada, agachou-se ao lado da garota.

— Desde quando está aqui? 

— Antes me escute. — A garota se apressou. — Eu vi o Marcos aqui!

— Como? — Fábio quase gritou, mas foi contido pela outra. 

— Quieto! Pois é, cara. Eu não sei o que ele faz aqui, mas isso não é nada bom.

— Tudo bem, tudo bem! Se ele está nos seguindo, devemos ficar atentos. Você vá procurar por aí, pra ver se acha alguma coisa.

— Tá louco? O carbúnculo pode estar em qualquer lugar. E se estiver num desses túmulos? O que faremos?

— Vou pensar em algo — falou Fábio, com irritação, e se levantou.

Naquele momento, Victória se virou para trás e viu Fábio se levantar. Curiosa, ela chamou:

— Fábio? O que está fazendo?

— Ãn?! Ah! — Ele se embaralhou. — Só estava... Vendo um vaso de cerâmica aqui. Muito bonito. — O rapaz tentou não parecer tão embaraçado, e correu até o grupo, voltando a acompanhá-los.

Magno olhou de soslaio para Fábio e franziu a testa. O garoto, já recuperado, agiu com a vivacidade de sua idade e começou a fazer perguntas a Victória sobre por que ter comprado aquele lugar.

Enquanto ela mostrava o bosque, onde eles já haviam chegado, Fábio cutucou Magno e falou ao seu ouvido:

— Marcos está aqui.

— O quê? — Ele olhou com emergência para o primo. 

— Eu o vi. Está nos seguindo.

De fato, Fábio já havia notado a presença de Marcos ali, assim como Preta, cuja agitação felizmente havia diminuído. Aquilo fez Fábio pensar que talvez o carbúnculo fosse mesmo responsável pelo comportamento da prima, e a última coisa que ele queria era que seu tio pegasse a pedra. Por isso resolveu alertar o Magno.

Marcos seguia o grupo por entre as árvores. Ele notou a hora em que Fábio se agachara atrás de um mausoléu, e depois se levantara, mas não imaginava que houvesse mais alguém, para a sorte de Alessandra.

Enquanto Victória falava sobre como havia adquirido a mansão, Magno mantinha sua atenção ao redor, embora conseguisse parecer totalmente atento a mulher.

— Então, o que vocês querem fazer agora? — Victória perguntou se voltando para a família.

— Eu tenho uma ideia. — Fábio falou levantando a mão de repente. — Eu sei que você e o Magno já são grandinhos, mas que tal um jogo?

— Qual jogo? —A mulher perguntou, interessada. 

— Bem, seu terreno é bem grande. Vamos brincar de esconde-esconde.

Branca e Preta olharam incrédulas para Fábio. Embora já entendessem o que ele pretendia, acharam que propor uma brincadeira com aquela era estranho demais. A surpresa, no entanto, foi maior quando Victória aceitou a proposta com animação.

Fábio sorriu para Magno, que olhou para ele como se suspeitasse de algo. Mesmo assim, também aceitou a brincadeira. Então ficou decidido que Branca contaria primeiro e os demais se esconderiam.

De onde estava escondido, Marcos, sem suspeitar de nada, achou que a proposta de Fábio seria fim do garoto. Seu único problema era que ele não estava com o livro, mas devia saber da história. Então o homem decidiu que o faria falar onde estava o carbúnculo.

— Um, dois, três... — Branca começou a contar enquanto todos se escondiam. Fábio e Preta foram na direção da ponte quando a garota começou a ficar agitada novamente. Magno e Victória correram noutra direção.

— O carbúnculo deve estar ou na ponte, ou no cemitério. — Falou Fábio quando notou a agitação da prima. 

— Provavelmente na ponte — Preta falou, ofegante. — Lá senti uma inquietação maior. Certamente está por lá.

Alessandra, ao ver os primos passarem correndo, se levantou e se juntou a eles.

— Não está no cemitério, está na ponte. — Fábio se limitou a falar e Alessandra aquiesceu.

— Mas onde na ponte? Ela é enorme.

— Não sei, mas a Preta poderá descobrir.

Marcos, que os seguia, ficou surpreso ao ver Alessandra, e só então se deu conta de que a pedra podia estar por ali, caso contrário, o que aquela ladra faria ali com eles? Sorriu consigo ao pensar que poderia ter o carbúnculo em mãos mais rápido do que ele pensava.

Antes que Fábio, Preta e Alessandra pudessem chegar à ponte, Marcos levantou voo e se pôs a frente dos garotos. Sorria infantilmente enquanto eles esboçavam surpresa.

— Olá, sobrinhos, como estão? — falou com voz grave e debochada. — E você, pequena ladra? Espero que estejam bem.

— O que você faz aqui? — Alessandra perguntou para tentar ganhar tempo. Pela primeira vez, desejava mais do que tudo que Magno estivesse ali naquele momento.

— Sem perguntas idiotas. — O semblante de Marcos mudou para muito tenebroso. — Agora me digam onde está a pedra e eu os deixarei viver. Caso contrário, terei que matá-los.

— E se nos matar, como pretende encontrar o carbúnculo? — Fábio perguntou com um sorriso maroto.

— Com você morto eu pego o livro e o encontro de qualquer jeito. Mas prefiro poupar esforços. Agora digam. Onde ele está?

— Esqueça! — Preta falou, resoluta. 

— É uma pena. 

Naquele momento, Marcos esticou a mão direita e disparou uma esfera roxa na direção de Fábio. O garoto se abaixou e a esfera passou direto, acertando e destruindo três árvores logo atrás dele.

Alessandra e Preta correram para lados opostos. A primeira sacou duas pistolas e começou a atirar na direção de Marcos, que se desviou habilmente de todos os projéteis. Preta, por sua vez, correu na direção da ponte. Assim que Fábio se levantou, correu na mesma direção que a prima.

— Aonde vocês vão? Voltem aqui! — Marcos gritou, divertido, e disparou mais uma vez. Aquele disparo acertou Fábio e o arremessou para frente com força, fazendo-o se chocar contra uma árvore que, por força do impacto, caiu.

Marcos olhou na direção onde estava Alessandra e disparou três esferas, das quais ela desviou saltando para trás. Então revidou com mais tiros, dos quais Marcos também se desviou.

Fábio se levantou com a mão nas costas. Fez uma careta de dor, então se virou na direção de Marcos com visível raiva. O tio olhou para ele e riu. Esticou seu braço e disparou mais uma vez, no entanto aquela esfera passou pelo corpo do garoto com se ele não estivesse ali. Aquilo surpreendeu Marcos, que tentou mais cinco vezes, porém todas passaram direto por Fábio.

A situação divertiu Alessandra, e Marcos, furioso, disparou também em sua direção. Ela se desviou com saltos mortais e voltou a atirar no homem que ainda se desviava dos projéteis.

***

Carlos Magno ouviu quando algo explodiu. Victória ficou assustada e se agarrou ao braço do homem, tremendo.

— O que foi isso? — ela perguntou enquanto olhava para todos os lado, apavorada. 

Em seguida ouviram os disparos que Magno logo identificou com vindo de pistolas. Ele segurou a mão da cantora e os dois correram em direção à mansão, porém, antes que chegassem à porta que ficava nos fundos da casa, um enorme lobo se colocou no caminho. Magno imediatamente reconheceu Jason.

— Minha nossa, que raio é isso? — Victória perguntou apavorada com a imagem de Jason a rosnar para eles.

— Vá para dentro da casa e fique por lá — Magno falou para a mulher que prontamente o obedeceu e correu em outra direção.

Magno puxou uma taurus que carregava presa em sua perna e apontou na direção do lobo. Este rosnou e avançou na direção do homem que saltou para trás, e disparou.

A bala passou de raspão no ombro da fera, porém ela pareceu sequer sentir. Voltou a atacar Magno, que correu e disparou mais uma vez. Então estendeu seu braço esquerdo e o apontou na direção do lobo. De repente, duas placas de metal acertaram seu focinho com força.

— Não costumo usar meu poder — Magno falou —, mas como estou sem minhas armas, não tenho escolha.  

Mais objetos de metal surgiram, saindo pelas janelas da mansão, e voaram na direção da fera, inclusive uma lança, que perfurou uma das patas de Jason. Ele uivou de dor, mas continuou a atacar. Magno agradeceu haver armaduras de metal na mansão.

***

Do outro lado, Branca havia chegado e distraia Marcos para que Preta pudesse encontrar o carbúnculo. Marcos achou que as coisas estavam um pouco mais difíceis do que ele imaginava. Agora que sabia do poder de Fábio, não o achava grande coisa em questão de ataque, mas a defesa era absoluta.

Branca, por outro lado, possuía um poder de ataque. Marcos disparou suas esferas na direção dela, porém nada a acertava por conta de uma espécie de barreira branca que ela criara em sua frente.

A garota, por sua vez, se agachou e tocou o solo. No chão, uma faixa branca de vinte centímetros de largura se formou e se estendeu em direção a Marcos, como um caminho se formando. Ao chegar aos pés dele, a faixa se tornou vertical, saiu do solo, como se adquirisse uma terceira dimensão, e acertou seu queixo em cheio. Tudo ocorreu muito rapidamente.

Marcos caiu para trás com o impacto do que fora um soco. Ele olhou com raiva na direção da garota, e, ao se dar conta, Fábio estava em sua frente e lhe acertou um soco de verdade. Então, antes que o homem pudesse reagir, Fábio afundou no solo, transpassando-o e ressurgiu, saindo do chão, ao lado de Branca.

— Seus pirralhos! — Marcos urrou. Então se levantou e, com as duas mãos, formou uma enorme esfera, do tamanho dele mesmo e a arremessou. Fábio bocejou como se aquilo não fosse nada. Branca, não tão despreocupada assim, uniu as mãos e um cubo branco se formou em torno dela, protegendo-a do ataque.

— Então essas esferas são de energia? — Fábio perguntou, com um sorriso indecifrável no rosto. — Curioso, e muito interessante.

— Não é simplesmente energia como a que faz com que os aparelhos funcionem — Marcos falou. — É um tipo diferente, mas eu não to aqui pra fazer um discurso.

Marcos continuou a arremessar as esferas incansavelmente. Branca permaneceu em seu cubo, e Fábio se concentrava para que as esferas passassem através de seu corpo.

Enquanto isso, Preta e Alessandra estavam na ponte. Preta se debruçou na amurada e observou o rio que estava cheio e cuja correnteza parecia terrivelmente forte. Ela olhou para um lado e para o outro, sentindo o incômodo e a agitação ainda maiores.

— Está nessa estrutura.

— Tem certeza? — Alessandra perguntou, olhando para onde Preta olhava. — Onde?

— Naquele lado. — Preta apontou. O lugar era na parede da própria ponte, que era muito larga.  

— Droga! — Alessandra falou. Então ela pegou uma corda que trouxera presa no cinto, a amarrou na amurada, e pediu que Preta a ajudasse.

— Deixe que eu desça e você me segura. — Preta falou.

— Tem certeza? — a outra indagou com preocupação. — Olha pra esse rio, é muito perigoso.

— Tudo bem. Eu sei exatamente onde está a pedra.

— Ok. Será que você não pode.. Sei lá, voar?

— Eu até posso, mas não agora. — Preta olhou para o céu. — Está claro demais.

— Como assim? 

— Detalhes! Vamos, me ajude.

Preta se prendeu à corda e começou a descer, se segurando nas rochas mais salientes, como se fizesse escalada. Alessandra cuidou para que a corda não se soltasse. Quando desceu um pouco mais e fechou os olhos, Preta sentiu algo pulsando ali.

Relutantemente, a ladra soltava um pouco mais a corda. Temia que Preta caísse no rio e olhava preocupada para o lado cada vez que ouvia o som de árvores explodindo e de tiros que ela sabia ser obra de Carlos Magno.

Preta apoiou os pés na parede para se equilibrar e uniu as mãos. Fechou os olhos, respirou fundo e separou as mãos lentamente. Na parede, as rochas foram se esmigalhando e se abrindo, o que fez a ponte tremer um pouco e assustou Alessandra.

De repente, Preta sentiu um pulsar ainda maior e que aumentava conforme as rochas se abriam. Subitamente ela parou e olhou para o interior do buraco que abrira. Viu algo cintilar ali e estendeu sua mão para pegar. Era uma linda esmeralda que ela admirou, mas não era o que queria no momento. Então estendeu seu braço no interior do buraco e se concentrou. Logo sentiu a pedra encostar-se a sua mão e a segurou com firmeza.

O sorriso que se abriu no rosto de Preta foi largo. Ela gritou para que Alessandra a puxasse de volta, o que a garota fez rapidamente. Quando colocou os pés seguramente no chão, Preta entregou a esmeralda para Alessandra.

— Lá está o resto do seu tesouro — falou, sorridente. 

— Woohuhu! — Alessandra vibrou ao pegar a esmeralda. — Que louco! Olha isso! Deve valer muito. Ho! Ho! É um prazer fazer negócio com vocês.

Preta olhou um pouco mais para o carbúnculo. Era uma pedra vermelha, pequena, mas polida, não bruta. Brilhava muito, mas estranhamente não estava causando mais problemas à Preta. A garota não entendia o que estava acontecendo, mas não podia perder tempo.

Mais acima, Branca e Fábio ainda lutavam contra Marcos que incansavelmente disparava esferas cada vez maiores nos dois. Fábio já estava ficando cansado, e Branca revoltada. De seu cubo saíram cinco pontas, como lanças, rapidamente na direção de Marcos. Ele saltou e levantou voo, indo na direção dos dois. Antes que pudesse acertá-los, mais cinco pontas surgiram do cubo e ele, por pouco, não teve o tronco transpassado por aquelas lanças.

***

Do outro lado, Carlos Magno se jogou para trás quando a pata do lobo quase o acertou. Três corpos de seguranças que tentaram ajudar jaziam no chão, destroçados.

A unha grossa da fera passou raspando na perna de Magno, mas fez apenas um pequeno corte. O homem largou sua taurus, cujas balas já haviam acabado, e correu na direção do lobo, segurando uma espada que pegara de uma das armaduras da mansão. Ele saltou e fez um corte com a lâmina no braço de Jason que uivou, encolerizado, e arremessou o homem para trás.

A tarde já dava espaço à noite, e Magno sabia que era o momento perfeito para Jason. A luz da lua cheia o revitalizaria, portanto ele precisava acabar com aquela batalha o mais rápido possível. Ao ouvir novamente o som das explosões, preocupou-se com os primos.

***

— Fábio, vamos acabar logo com isso — Branca falou de dentro de seu cubo. — Já está de noite.

— Ótimo! — o rapaz falou, embora Marcos não entendesse o que havia de ótimo no cair da noite.

De repente, quando Marcos avançou mais uma vez, ainda no ar, ele recebeu um soco em cheio e caiu abrindo um buraco no chão. Preta caiu em pé, entre Marcos e os primos.

— Finalmente! — Fábio falou, irritado. — Achou?

— Claro que sim. — Preta pegou a pedra em seu bolso e a jogou para Fábio.

Marcos se levantou ainda tonto. Sacudiu a cabeça de um lado para o outro e olhou surpreso para Preta. Das costas da garota balançava o que pareciam braços, mas sem mãos, e totalmente pretos. Eram sete ao todo, cada um com pelo menos dois metros. Os olhos da garota ficaram totalmente pretos e ela sorria insanamente.

— O que é isso? — perguntou Marcos, sentindo uma espécie de terror se apossar dele ao encarar a face monstruosa que se tornara o rosto da garota.

— Surpresa! — Preta falou com voz grossa e alterada. Seu sorriso se alargou mais, quase de orelha a orelha. Os braços negros se esticaram rapidamente na direção de Marcos e o acertaram, arremessando-o para trás.

Desesperado, Marcos arremessou mais esferas de energia, mas elas foram todas rebatidas pelos braços de Preta. A garota correu e sua direção e acertou mais socos em sua barriga e em seu queixo. Quatro daqueles braços seguraram Marcos enquanto os outros três o atingiam. Por fim, ele foi violentamente jogado para trás e bateu numa rocha que se esmigalhou com o impacto.

Muito debilitado por conta da surra que acabara de tomar, Marcos fez um grande esforço e levantou voo, indo embora.

***

O lobo viu a figura de Marcos passar no céu e se deu conta de que era hora de partir. Muito a contra gosto, teria que adiar a morte de Magno, embora não estivesse nem perto de conseguir tal coisa naquele momento.

Magno investiu contra a criatura novamente, porém ele se desviou e correu em direção à floresta. O homem tentou persegui-lo, mas ao ver Marcos se afastando ao longe, lembrou-se de que tinha que ver se seus primos estavam bem.

***

Magno bateu na porta da mansão, mas não obteve resposta. Depois de bater mais uma vez, ouviu alguém destrancar e abrir a porta. Os olhos de Victória estavam vermelhos e ela tremia terrivelmente, o que o sensibilizou por algum tempo. A mulher, então, o abraçou com força, e chorou muito.

— Pelos céus, você está bem? — inquiriu, apalpando o homem para se certificar de que não faltava nenhum pedaço dele. Oh! Minha nossa, seu braço está sangrando. E sua perna, você se cortou. Sua roupa está destruída. Pela minha vida, olhe, seu outro braço está cortado também. Precisamos cuidar disso...

— Senhorita — Magno interrompeu a mulher que olhou para ele, vertendo lágrimas abundantemente. — Você está bem?

— Eu? — Ela pareceu contrariada. — Como pode perguntar se eu estou bem quando você está nesse estado? O que foi aquilo, pelos anjos? Só de pensar que você...

Magno abraçou Victória novamente para tentar acalmá-la. No estado em que ela estava, ele não poderia explicar o que acontecera.

— Lamento por tudo isso. — Magno disse ainda a abraçando. — Agora preciso ver se meus primos estão bem.

— Eu vou com você — ela falou, secando as lágrimas que escorriam pelas bochechas rosadas. 

— Não. Melhor que fique aqui.

Apesar de todos os seus protestos, Victória acabou por ficar na mansão enquanto Magno se dirigiu à ponte. Lá perto, ele se deparou com Fábio, Branca e Preta sentados no chão. As duas pareciam razoavelmente bem, com apenas alguns arranhões e um pouco abatidas. Já Fábio tinha as roupas sujas e rasgadas. Ao redor, várias árvores e rochas destruídas.

— O que houve? — Magno perguntou.

— A Preta pôs o Marcos pra correr — Fábio falou com a voz fraca, mas sorrindo — E você?

— Jason, um lobo metamorfo que faz companhia pra Marcos. Ele fugiu.

Magno se aproximou e se sentou ao lado de Fábio. Os dois respiravam devagar para recuperar o fôlego, e ninguém dizia coisa alguma. Passados alguns minutos, Fábio conseguiu se levantar. Os quatro voltaram para a mansão onde Victória os recebeu, ainda chorosa. Magno tratou de acalmá-la novamente.

Em pouco tempo a polícia estava ali. Magno havia trocado suas roupas rasgadas por roupas que Victória emprestara. A polícia soube que um lobo gigante atacara o lugar, mas ninguém mencionou nada sobre Marcos. Magno pediu ao investigador responsável que chamasse a polícia de Áquila, como eles faziam quando casos inexplicáveis como aquele aconteciam.

Pela bizarrice do caso, a imprensa não foi permitida na cena, e ninguém sabia exatamente o que havia acontecido em Overtoun. Os jornais veicularam que supostamente um grupo de criminosos tentara invadir o lugar para roubar itens de valor, e entraram em confronto com os seguranças da casa, mas ninguém tinha imagens do lugar. Essa foi a versão dada pela polícia, que entregou o caso à polícia de Áquila.

 

[1] Essa ponte realmente existe. Localiza-se na Escócia, e é se tornou famosa pelo número de casos inexplicáveis de cães que aparentemente, cometem suicídio saltando fora dela.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!! ^.^



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