You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 27
Hora da DR


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas, Cheeeeguei!

Esse capítulo ficou meio melosinho, mas eu curti bastante. Aos que gostam de romance, aproveitem



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PDV da Marie

Fizemos a leitura dos textos da peça diversas vezes hoje de manhã. Ana estava de folga, ela mesma determinou isso, então eu só pude repassar algumas cenas com o noivo e os três possíveis pais da minha personagem.

A leitura era feita em uma sala de aula comum no prédio de Artes Cênicas, só treinaríamos no teatro quando tivéssemos figurino e cenário prontos para o ensaio geral.

Deus sabe que eu amo atuar, e estava apaixonada pela ideia de ser protagonista pela primeira vez, mas isso não mudava o fato de que eu não via a hora de terminar o ensaio pra poder encontrar com Noah. Eu esperava poder ver uma parte do ensaio da banda, gostava muito de vê-lo tocar agora que eu podia babar a vontade sem precisar disfarçar.

A leitura de texto acabou demorando mais do que o necessário, o que me deixou extremamente mal humorada e irritadiça. Poxa, eu mal tivera tempo pra ficar com ele durante a semana, não chegava a ser um crime querer largar tudo e correr atrás dele.

– Marie, está com algum problema? – O velho professor ergueu os olhos em minha direção por cima dos óculos espessos de armadura bem grossa. – Está correndo com as suas falas, se tem algo mais importante pra fazer podemos esperar a Vossa Majestade ter disposição para treinar.

Falou comigo de maneira petulante e cheia de sarcasmo. Me encolhi na cadeira, mantendo meus olhos fixos em meus textos.

– Não senhor, estou bem. – Respondi simplesmente.

Bem, bem irritada, isso sim. Ana podia tirar folga quando quisesse, e eu que ensaiei a semana toda bonitinho estava presa no teatro em pleno sábado a tarde.

Já havia se passado cerca de meia hora desde o horário previsto para o fim da leitura, eu consultava meu relógio de pulso de 5 em 5 minutos. Ninguém ali parecia ter tanta pressa quanto eu.

Quando finalmente fomos dispensados, eu estava tão pilhada e irritada que mal me despedi de meus colegas, apenas corri ao fundo da sala para pegar minha bolsa e sumir dali.

Acenei para algumas pessoas já da porta, sem saco para beijinhos e fofocas pós ensaio. Bufei, num misto de alívio e indignação ao me ver finalmente livre de meu compromisso do dia, mas o que vi naquele corredor quando voltei minha atenção para a frente fez com que todo o meu mau humor fosse embora.

– Hey, Você vem sempre aqui? – Noah piscou pra mim. Estava escorado na parede do corredor, com um copo de plástico em mãos e um sorriso maroto nos lábios. – Chá verde com lichia. Estava bem gelado, mas eu já estou esperando aqui há um tempão, então já deve estar quente. – Ele ergueu o copo em minha direção. – Não sei como você consegue gostar dessas coisas, parece remédio.

Ele fez uma careta engraçada quando falou do chá, e eu ri.

Corri até ele e passei meus braços em torno do seu pescoço. Beijei-lhe o canto da boca, e a boca em seguida, mordiscando-lhe o lábio inferior.

– Desse jeito eu vou derrubar seu chá no chão. – Brincou, puxando-me pra mais perto com a mão livre.

Tínhamos encontrado uma maneira só nossa para facilitar a comunicação, já que gostávamos de ficar grudados a maior parte do tempo, e isso quase sempre impossibilitava a leitura labial. Eu tinha um jeito mais delicado de acariciar-lhe a face e afastar nossos rostos, e ele adorava, sempre estremecia ao meu toque quando meus dedos alcançavam a parte de trás de sua orelha.

– Eu senti sua falta. – Sussurrei, quando seus olhos finalmente se focaram em meus lábios. – Como podemos morar na mesma casa e nos vermos tão pouco?

– A semana foi corrida, mas as coisas vão melhorar quando finalmente definirem horários fixos pros ensaios da banda. – Ele ajeitou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha, e beijou a ponta do eu nariz. – Eu também senti sua falta.

Abracei-o, afundando meu rosto no pescoço dele. Noah envolveu minha cintura com a mão livre e beijou meus cabelos.

Eu não queria soltá-lo. Apenas fiquei ali, quietinha, acarinhando a nuca dele enquanto tentava insistentemente identificar o perfume que inalava em seu pescoço. Eu entendia de perfumes, sempre sabia quando meu pai trocava o perfume, e até mesmo quando Ryan trocava o dele, já que o garoto toma um banho de água e sabão, e outro de perfume logo depois. Com Noah não era tão fácil, ele passava pouco perfume, e não se parecia com nada que eu já tivesse sentido antes.

– Quer comer alguma coisa? Já faz muito tempo desde o café da manhã. – Perguntou, enquanto ainda estávamos abraçados.

Me afastei um pouco, um muxoxo descontente escapou de meus lábios quando tive que fazê-lo.

– Eu não to com fome.

– Você nunca tem fome. – Insistiu, franzindo as sobrancelhas. – Desse jeito vai ficar magra demais, eu gosto de ter gordurinhas pra apertar!

Minha boca se abriu em um enorme “Oh!” indignado.

– Que gordurinhas??? – Praticamente gritei, erguendo a blusa alguns centímetros e apertando minha própria barriga. Noah revirou os olhos.

– Era uma piada... Você está ótima, sabe disso.

Olhei pra ele com cara de poucos amigos, e abaixei minha blusa num puxão só, cruzando os braços em seguida.

– Não se brinca com as gordurinhas de uma garota. – Bufei. – Eu odeio você.

Ele riu, e passou novamente o braço pela minha cintura. Não retribui o abraço.

– Não... – Beijou a curva do meu pescoço, e eu me arrepiei inteirinha. Depois deslizou a mão livre por minha barriga e minhas costas, contive o riso, não podia rir, estava brava com ele. – Você me ama. – Sussurrou a última parte ao pé do ouvido, e então roubou um beijo antes que eu tivesse a chance de me desvencilhar.

Droga, o beijo dele era muito bom! Eu esqueci meu nome, sobrenome, esqueci inclusive que estávamos em um lugar público, no meio do corredor.Quando finalmente nos separamos, eu não tinha mais forças pra fugir de suas carícias.

– Isso é totalmente injusto... – Eu disse, observando seus olhos cor de mel fixos em meus lábios. Era engraçado reconhecer o desejo em seus olhos sempre que se voltavam aos meus lábios. Sempre parecia tentado a me beijar bem no meio de uma frase, e nessas horas eu me sentia a garota mais sortuda do mundo. E claro, estava grata por não ter ninguém ali pra registrar minha cara de boba.

– Esquece essa história de gordurinhas. Você não está gorda, e precisa comer. – Estava falando bem sério. – Vamos, eu vou te levar pra praça e aí nós comemos.

– Praça huh? – Brinquei. – Muito romântico!

Ele riu.

– Vamos, eu to morrendo de fome.

Ele tomou minha mão entre seus dedos e estendeu-me o chá. Seguimos de mãos dadas até o buggie que nos levaria a praça.

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PDV do Adam

Já era fim de tarde quando a muito custo consegui convencer Aaron a ir à praça comigo. Convencer Aaron a fazer algo que ele não queira, é praticamente se condenar a agüentar o mau humor característico dele elevado a quinta potência por tempo indeterminado, mas eu não me importava. Gostava de estar com ele, era a única pessoa com quem eu tinha desenvolvido uma amizade.

As vezes eu tenho pensamentos estranhos que vão além da amizade, e isso me assusta. Assusta tanto que eu tenho vontade de arrancar meu cérebro fora pra ver se melhora. Já cansei de me flagrar observando a maneira como os cachos lhe caem nos olhos, e ele sopra de volta repetidas vezes, até que perde a paciência e os deixa onde estão mesmo. Ou então a mania de observar o céu a noite, mesmo fora do horário acadêmico e sem instrumento nenhum. Ele acredita nesses lances de fase lunar influenciando a vida na terra, vê se pode!

Eu nunca conheci ninguém tão interessante de observar, e estava cada vez mais difícil negar o óbvio a mim mesmo.

Oh Deus, eu vou arder no inferno pela eternidade, e meus pais vão ter vergonha de mim.

– Hey, você me arrastou pra esse antro de pessoas fúteis e sem ambição na vida pra ficar aí fitando o vazio com essa cara de besta? – Reclamou, de braços cruzados e cara fechada.

– Você podia pelo menos tentar se divertir. – Sugeri, cutucando-lhe os ombros. – Vamos, o povo lá da república sabe como fazer um som bacana, eu juro!

– Não pode ser melhor que as maravilhas que meu telescópio me revelaria. – Deu de ombros e sentou-se na mureta de um dos canteiros da praça (Não sem antes pegar um lenço umedecido e “limpar” o local.)

Eu ri, balançando a cabeça negativamente e me sentando ao seu lado.

– Eu não sei porque faz tanta questão de reclamar de tudo e de todos. Eu sei que lá no fundo, bem no fundo, você não é tão carrancudo.

– Ah sou sim, eu sou carrancudo e ranzinza e sou muito feliz assim. – Retrucou, de má vontade.

– Não é não... – Eu insisti, e ele revirou os olhos, impaciente. – Você fica horas e horas sem reclamar quando falamos de estrelas, ou quando eu leio. Tem momentos que você esquece a carranca de lado. Por que não faz isso definitivamente?

Ele sorriu meio de lado, e me encarou com a sobrancelha arqueada.

– A vida não é uma poesia, Adam. – Manteve seus olhos ligados aos meus, e de repente eu me sentia tão absurdamente transparente, exposto, tamanha era a profundidade daquele olhar. – Não é colorida como você enxerga.

– Talvez. – Uma energia fluía entre nós, e não era nada relacionado aos desejos que eu reprimia, era algo mais simples. Empatia. Eu tinha sentimentos estranhos, e não podia mais negar isso a mim mesmo, mas essa empatia não era como isso, era inocente. – Mas com certeza também não é tão escura como você vê.

Ele pareceu ponderar por um momento, deixou a cabeça pender levemente para o lado direito de maneira distraída.

– Se juntarmos os dois pontos de vista talvez cheguemos mais perto da realidade. – Seus olhos faiscavam, cheios de segundas intenções. Eu me remexi desconfortavelmente na mureta e interrompi o contato visual. Ele riu de maneira sarcástica. – Você sempre faz isso!

Não respondi, apenas mantive meu olhar fixo ao chão. Tentava esconder a vergonha que eu sentia de mim mesmo, dos meus sentimentos.

– Você gosta de estar comigo. Eu não sou idiota, Adam, e você é estupidamente previsível. – Estava bravo, mas tentava manter o tom de voz controlado. Não queria perder as estribeiras comigo, mas deixava bastante claro que estava cansado do meu comportamento. – Você me dá todos os sinais de que quer uma aproximação, e quando eu dou um passo a frente, você recua.

Mantive o silêncio. Eu sabia que cada palavra do seu discurso era verdadeira, mas pra ele parecia muito simples jogar todas essas verdades na minha cara, como se fosse fácil aceitar que eu estava vivendo em pecado. Eu não devia querer me aproximar dele, é anti-natural, não é pra isso que existimos.

– Eu sou filho de pais Católicos. Cresci em meio aos princípios da igreja, e a bíblia sempre esteve presente dentro da minha casa. Não é certo... O que eu sinto, não é certo. Eu não posso dar esse desgosto aos meus pais, eles me criaram pra ser um homem de respeito...

– E eu não sou um homem de respeito? – Me interrompeu. – Sabe o que eu acho? Bom, eu não creio em Deus, creio na ciência, mas acho que até mesmo para aqueles que crêem, é uma puta burrice cultuar um Deus incapaz de amar um filho como ele é. Você pode negar o quanto quiser, eu posso sair da sua vidinha de merda e nunca mais aparecer, mas nada disso vai mudar quem você é! Está sendo preconceituoso, extremamente preconceituoso. E a maior vitima do seu preconceito não sou eu, e sim você mesmo.

– É fácil pra você falar. – Retruquei, sem pensar. – Aposto que sua família já está acostumada com a escolha que você fez pra sua vida, nenhuma decisão que tome agora vai influenciar na maneira como eles te vêem.

A expressão dele mudou radicalmente, percebi tarde demais que minhas palavras o tinham ferido de algum modo. Ele estava boquiaberto, me encarava sem nada dizer com as íris escuras que mal piscavam.

– Você tem razão... – Eu nunca o tinha visto se dirigir a mim de maneira tão amarga. – Todos já sabem, sempre souberam, eu nunca fui nem remotamente interessado em garotas, mas eu paguei bem caro por isso. Matthew me humilhava em público, me batia, e meu pai achava o máximo porque acreditava que ele me “ensinaria a ser homem”. – Fez uma pausa, tinha tanto ressentimento implícito em cada palavra proferida, que eu não me surpreenderia se um dia acabasse matando o irmão mais velho. – Eu sempre estudei, nunca bebi, ou fumei, nunca dei nenhum tipo de trabalho. E mesmo assim Matthew é o orgulho da família. Mas você tem razão, as coisas são bem fáceis pra mim.

Fechei os olhos, alisando minhas têmporas.

– Olha, me desculpa, eu não quis dizer isso...

– Foi exatamente o que você quis dizer. – Me interrompeu pela segunda vez na noite. – Vá se ferrar, Adam.

Deu-me as costas e saiu, a passos largos e apressados.

_/_/_

PDV da Marie

Noah simplesmente não deixou que eu me recusasse a comer. No começo manteve seu tom brincalhão enquanto andávamos de mãos dadas por entre as barracas de comida da praça, mas quando percebeu que eu estava falando sério, e não pretendia comer, seu semblante assumiu um ar preocupado.

Não é do feitio dele ser chato e insistir, mas tem outras maneiras igualmente eficazes de conseguir o que quer. Ficamos meia hora diante do coreto esperando Ryan chegar com as coisas, Noah sempre gastava mais tempo para se preparar, afinal a bateria não se montava sozinha. Durante todo esse tempo, ele mal olhou pra mim. Manteve os olhos grudados no celular, e sempre que eu falava algo me respondia com palavras monossilábicas.

Quando cortou completamente o contato visual e me largou falando sozinha feito idiota, eu perdi a paciência.

– Noah, é sério isso? – Empurrei-o, forçando-o a olhar pra mim. – Poxa, eu mal o vejo desde o meio da semana, e quando finalmente temos um tempo juntos é desse jeito?

– Eu não posso enfiar comida na sua garganta, mas isso não quer dizer que vou ficar assistindo você entrando na onda daquela sua mãe maluca sem fazer nada. – Deu de ombros.

Eu suspirei longamente e puxei os fios dos meus cabelos pra trás.

– Você está exagerando. Não é como se eu estivesse há um mês sem comer. Você está me tratando como se eu fosse doente.

– Pra evitar que fique doente de verdade. - Ele acariciou minha maçã do rosto, erguendo-me a face de maneira delicada. Me encarou, e eu correspondi seu olhar preocupado. – Você é linda, não precisa de dieta, nem nada dessas coisas. Eu esperei por você durante muito tempo, e preciso que se cuide, pra que possamos compensar esse tempo. Eu sei que você não está doente, só me prometa que não vai mais pular refeições, por favor.

Como eu poderia negar qualquer coisa a ele quando me pedia desse jeito? Seus olhos pidões quase faziam com que eu me sentisse culpada por não ter comido logo de uma vez, mas era tão complicado! Eu sou uma bailarina, preciso estar em forma. Minha mãe é rígida mas não está de todo errada.

– Eu prometo. – Sussurrei, acariciando-lhe o peitoral magrelo por cima da camiseta. Já maquinava outras maneiras de manter o peso, talvez intensificasse minha maratona de exercícios, de qualquer maneira daria um jeito de manter minha promessa. – O que você acha de pegar um sanduíche de frango grelhado pra mim?

– Que tal um X-Burguer? – Sugeriu, a tensão ainda não o abandonara por completo, mas ao menos sorria pra mim.

– Pessoas saudáveis não comem X-Burguers. Não quer que eu seja saudável?

Ele riu, e se inclinou em minha direção, dando-me um selinho demorado.

– Ok, frango grelhado então. Eu já volto, tenta não fugir com o primeiro bonitão que aparecer, ok? – Piscou pra mim.

– Engraçadinho. – Apertei-lhe a ponta do nariz, ele pegou minha mão entre seus dedos e a beijou, seguindo rumo à barraca de lanches naturais, alguns metros a frente.

Eu fiquei ali, sozinha, observando a pequena multidão de pessoas que aumentava gradativamente conforme a noite caía. Vivíamos em uma república tão pequena, que as vezes me surpreendia com a quantidade de gente que morava nesse campus. Existem outras repúblicas, dos mais diversos tamanhos, existem até mesmo fraternidades enormes, com mais de 40 moradores cada. As festas deles são boas, mas no geral todos acabam Bêbados e caídos no jardim. Fui buscar Noah em uma dessas festas uma vez, há muito tempo atrás. O encontrei dormindo ao lado de um arbusto, era alergênico, bem feito!

Um grupinho de garotas avançava em minha direção, do outro lado da praça. Não vindo diretamente a mim, claro, mas seguiam bem na minha frente. Pararam há uns bons metros de distância, mas cochichavam algo, provavelmente a meu respeito. Ah, uma garota sempre sabe quando estão falando dela, ainda mais se o grupo em questão estiver encarando, e por vezes até mesmo apontando.

Quando se dispersaram, 3 delas seguiram rumo a um dos bancos da praça, uma entrou na fila da barraca de suco, e a última continuou seu caminho rumo ao meu encontro.

E eu sabia quem era ela.

A vaca que eu peguei beijando Noah na porta do prédio onde ele estuda.

Ela usava uma roupa bem curta, com botas pretas um pouco acima dos joelhos. Botas lindíssimas, tenho que admitir. A maneira como usava, associada a um micro shorts e uma micro blusinha é que não me agradava.

Ela estava com um copo de Milk shake nas mãos, e chupava o canudinho fazendo um barulho horrendo e nem um pouco elegante.

– Olha, se não é a francesinha sem graça. – Sorria de maneira petulante, mexendo o canudo com os dedos. – Estão dizendo que você colocou a coleira no Noah, como fez isso? Bruxaria?

Ah, claro. Era exatamente disso que eu precisava nesse momento, uma piriguete no meu pé. Pior que isso, uma piriguete recalcada que já beijou meu namorado.

– Eu não preciso colocar coleira nele, ele está comigo porque quer. – Cruzei os braços, determinada a provar àquela fulana que eu não a deixaria me intimidar.

Ela riu, e deu outro gole no Milk shake. O barulho horroroso encheu meus ouvidos de novo.

– Ele é músico. Músicos são aventureiros e boêmios, querem experiências diferentes. Você vai entediá-lo em menos de um mês.

– Jura? E você tem tanta certeza disso que precisa vir aqui me azucrinar?

Ela me rodeou, me medindo de todos os ângulos possíveis. A maneira debochada com que me encarava estava me tirando do sério.

– Ah querida, eu tenho certeza. – Sussurrou ao meu ouvido, as unhas vermelhas muito compridas alisavam meus cachos, me causando um arrepio ruim. – ‘Você vai entediá-lo em todos os sentidos. Ele é bem... Experiente, se é que me entende. Você não passa de uma pobre garotinha virgem. – Suas unhas deixaram meu cabelo e arranharam meu maxilar, depois apertou meu queixo. Eu odiava tê-la tão perto, odiava senti-la me tocar.

– Eu... Não sou virgem! – Gaguejei, droga, minha tentativa de soar convincente era absolutamente patética.

– Ah é sim. – O sorriso da cobra se alargou ainda mais. – É mais do que óbvio que é.

– Ele não se importa com isso. – Retruquei, afastando seus dedos de mim e recuando alguns passos. Parecia mais uma criança contrariada do que uma mulher em uma discussão. Me sentia acuada, não sabia como revidar.

– Vejamos por quanto tempo. – Destilou seu veneno, me medindo de cima a baixo uma última vez antes de rebolar aquela bunda gorda pra longe de mim. Mais adiante, o grupo de amigas já estava quase todo reunido novamente.

Deus, era só o que me faltava.

Sentei-me em um banquinho próximo, minhas pernas tremiam de nervoso. Eu queria que Noah voltasse logo, queria olhar pra ele, agarrá-lo, queria que seu toque retirasse os calafrios que aquela louca me causara. Quem ela pensa que é? O que raios ela quer?

E se eu não for mesmo boa nesse negócio de pegação? E se eu não tiver pegada? Oh meu Deus, quanto tempo será que ele agüenta sem sexo? Porque eu definitivamente ainda não estou pronta pra isso.

E se eu for muito ruim nisso?

– Marie. – Sobressaltei-me. Virei-me em direção ao chamado, e encontrei Noah me estendendo o sanduíche com olhar desconfiado. – Ta tudo bem? Você ta meio verde.

O encarei por um tempo, tentando me recuperar do susto.

– Deve ser fome. – Dei de ombros, esperando que a desculpa colasse.

Noah não disse mais nada, apenas me estendeu o lanche e me encarou de maneira estranha por um tempo. Sentou-se ao meu lado, e passou um dos braços por meu ombro. Me encolhi ainda mais em seus braços e funguei seu pescoço, o cheiro era reconfortante.

De repente eu não estava mais com fome, mas forcei-me a morder o sanduíche. Tinha uma promessa a cumprir.


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