You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 21
Surpresas, desavenças e culinária Argentina


Notas iniciais do capítulo

Oieeee, minha gente, depois de atrasar por 2 semanas eu tenho o maior orgulho de anunciar que EU ESTOU ADIANTADA! AEEEEEEEEEEEEE!

Por isso, e por vocês terem sido pacientes comigo, eu vou postar o capítulo hoje.

Meus agradecimentos especiais a Thays Marques, ela sabe porque.

Bem vindos Mrs Dark, Vingador das sombras e Beatriz! Obrigada por lerem, espero que gostem até o final.



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PDV da Alícia

Observei as pessoas deixarem o auditório aos poucos. Eu tinha que garantir que todos estivessem fora dali antes que a loira desmiolada seguisse as pistas e voltasse, mas pelo visto não teria grandes problemas com isso.

– Acho que sua parte da missão cupido está cumprida. – Ryan parou ao meu lado, fitando os últimos presentes se retirarem vagarosamente. – Topa comer alguma coisa na praça? Ana já deixou claro que não vai cozinhar hoje.

– Podemos comer na praça. – Olhei pra ele de rabo de olho, fingindo olhar as unhas distraidamente. – Ou eu posso fazer de novo aquelas empanadas que eu fiz na quinta feira. Mas ah, deixa pra lá, melhor comermos na praça mesmo.

Dei as costas pra ele, sorrindo travessa. Todos gostaram bastante das minhas empanadas, mas ele superou a todos, comeu quase a metade da comida.

– Não, espera aê! – Ryan segurou meu braço, exatamente como eu previra. Virei-me de frente pra ele, já sabendo o que viria a seguir. – É melhor comer em casa mesmo né, mais econômico, saudável. Vamos, nós passamos no mercado e eu pago a conta!

– Você não vale o chão que pisa, Ryan Dawson! – Brinquei, rindo da cara dele. – É melhor que pague a conta mesmo.

Deixamos o teatro em direção a república, onde pegaríamos o Volvo pra ir ao mercado. Estávamos na metade do caminho, nos provocando e empurrando quando meu celular tocou.

O nome de Landon brilhou na tela, e eu não resisti a fazer uma dancinha ridícula no meio da rua.

Ryan franziu a testa, me olhando como se eu tivesse lepra. – Que foi? Tá fazendo um descarrego? – Perguntou, rindo da minha cara.

– Alguns dos caras que pegam nosso telefone realmente ligam! Isso merece ser celebrado. – Respondi.

De repente não parecia mais engraçado pra ele caçoar de mim, ele fechou a cara e cruzou os braços, bastante interessado na minha conversa. Eu o ignorei, deslizei o dedo na tela do celular e atendi ao telefonema, tentando não soar tão animada quanto estava de fato.

– Olha só, pensei que não fosse mais ligar. – Mordi o lábio inferior. Sabia que não podia me ver, mas era um reflexo. Eu tendia a fazer isso quando dizia provocações.

“Você também tem meu número sabia? Fui eu que te liguei da última vez.” – Landon retrucou do outro lado da linha, eu achava meio charmosa a maneira como ele fazia uma resposta mal criada soar como um flerte. – “Eu estou trabalhando então vou ser breve. Me espera hoje na saída do expediente? Eu posso cozinhar pra você. Estou estudando a culinária argentina, tem um tal de Lacro, que dizem que é bom...”

– Locro? – Corrigi. – Eu adoro Locro, mas hoje eu não posso, tem um amigo meu que ta na fossa, preciso ficar de olho nele... – Ryan arqueou a sobrancelha, rindo, incrédulo. Ainda bem que Landon não podia me ver, eu minto muito mal. – Mas que tal amanhã? Você está de folga amanhã, não?

“- Por mim ta marcado, eu te mando um torpedo com o endereço da república onde eu moro. Eu vou fazer Locro pra você.”

– Combinado! Até amanhã então.

Ele murmurou um “Até” extremamente sexy do outro lado da linha, e então desligamos. Eu sorria feito retardada, mas quando ergui os olhos para Ryan, percebi que ele não compartilhava da mesma felicidade que eu.

Ele me fitava todo carrancudo e com os braços cruzados.

– Você definitivamente quer morrer, eu desisto de tentar te ajudar. – Reclamou, seus olhos me desaprovavam de tal maneira que eu me sentiria envergonhada se não soubesse que não estava fazendo nada errado.

– O que o Landon tem a ver com essa cachorrada toda? Ah não, Ryan, eu me recuso a ficar paranóica! Não posso desconfiar de tudo e de todos, isso não é vida não. – Retruquei, batendo meu pé firmemente no chão. Aquele brutamontes não ia folgar comigo não.

– Mas devia. Tem alguém te vigiando, e você não sabe quem é.

– Partindo da sua linha de raciocínio, podia ser qualquer um, incluindo você!

Aquela situação toda era ridícula, eu precisava tomar cuidado mas não podia deixar de viver. Claro que eu sabia que Ryan jamais me faria mal, ele me protegeu desde meu primeiro dia ali e não mediu esforços pra me ajudar desde então. Não era justo acusá-lo daquela maneira, mas eu estava irritada pela maneira petulante com que estava se metendo na minha vida.

– Não acredito que está dizendo isso pra mim. – Ele veio em minha direção e segurou meus ombros, me balançando levemente. – Pelo amor de Deus, Alícia. Não sabemos quem ele é, e a seita não é algo com que podemos brincar! Ou você acha mesmo que eles não vão pensar em mandar alguém se aproximar de ti?

– Hey, tira as mãos de mim! – Ralhei, me afastando mais alguns passos. Nunca deixei ninguém folgar comigo dessa maneira, não ia começar ali. – Então você acha que ninguém pode se interessar por mim, tem que ter alguma intenção obscura por trás?

Ele suspirou, revirando os olhos.

– Eu não disse isso. Só quero que tome cuidado.

– Eu vou, pode ficar tranqüilo! – Eu estava exaltada, ele estava tentando me alertar e eu estava sendo rude com ele. Parte de mim sabia que era muita ingratidão da minha parte, mas a outra precisava acreditar que ele estava errado. Todos os dias eu travava uma batalha comigo mesma, todos os dias eu precisava guardar meu pavor numa caixinha e ir sozinha pra aula de manhã. Desconfiar de Landon seria como tirar esse medo da caixinha, seria o primeiro passo pra eu ter uma crise de pânico que só pioraria até que eu finalmente cedesse e pegasse um avião de volta pra argentina.

Eu sou Alícia Baquedano. Eu cresci em clubes noturnos e bordéis e já sobrevivi a coisas piores do que isso. Aprendi a ter memória seletiva, e tomar o controle dos meus sentimentos pra que eles não me impeçam de viver. Eu nunca saí correndo de lugar nenhum, e não sairia agora. Esses idiotas vão ter que me engolir.

– Eu não posso me colocar numa bolha, Ryan. – Sussurrei, em meio aos meus dentes trincados. – Isso ia me matar antes que eles o fizessem.

– E eu não posso te proteger se você não colaborar comigo... – Ele colocou as mãos de volta no meu ombro, dessa vez de maneira gentil.

Eu fechei os olhos, sentindo o toque dele e pensando porque raios ele fazia isso comigo. Porque me deixava nessa situação? Será que ele não via que eu não podia colaborar com ele dessa forma?

– Você não pode me proteger de maneira nenhuma. – Coloquei minha mão sobre a dele e apertei seus dedos de leve. – Eles entraram no meu quarto, tiveram acesso ao meu armário antes de mim, mexeram nas minhas coisas. Eles estão em toda parte. Eu não posso me esconder, Ryan, só existem duas opções pra mim: Ceder, ou lutar. Eu escolho lutar.

– E eu admiro isso, e não esperaria nada diferente de você. – Ele sorria, mas seus olhos brilhavam preocupados. – Mas você pode lutar e ao menos se esforçar pra se defender.

– Não duvidando de tudo e de todos. Landon é um cara legal, e eu quero conhecê-lo. Poxa, eu tenho que ir até a cidade hoje a noite com um cara em quem não confio atrás de pistas dessa história maluca. Amanhã eu quero sossego e um encontro de verdade, é pedir demais? – Eu o fitava com os olhos suplicantes, ele respirou fundo.

– Ao menos me dê o endereço caso prec...

– Ah Ryan, faça-me o favor! – Nem o deixei terminar, apenas fiz com que largasse meus ombros e dei as costas pra ele, afastando-me. – Landon não é como o Joshua, ele não está sob suspeita! Eu não vou te dar o endereço de todos os lugares que for, e até que algo ligue Landon a essa maluquice, ele está fora disso tudo, me entendeu?

– Eu não vou ficar sentado vendo você se arriscar desse jeito. – Levantou o tom de voz pela primeira vez durante a conversa, eu o encarei com os olhos arregalados. – Alícia, pensa! É no mínino questionável ele ter se aproximado de você justo agora!

– Já chega! – Gritei, tapando meus ouvidos com as duas mãos. – Eu não quero mais ouvir essa história, me deixa em paz!

Depois dos meus berros, o silêncio reinou absoluto por alguns segundos.

– Ok. – Ele estava contrariado, um pouco irritado, eu diria até magoado. – Aparentemente você não precisa mais de mim. Boa sorte com Joshua, eu espero sinceramente que sobreviva. Ah é, boa sorte no seu encontro amanhã também.

Deu de ombros, e prosseguiu no caminho rumo a república. Eu o encarei pelas costas, estupefata.

Espera, eu não tinha mais uma escolta pra mais tarde? Era isso?

– Hey! Aonde você vai? – Gritei, ele já estava bem mais a frente.

– Vou até a casa do Joe. Ele pelo menos é menos cabeça dura que você.

– Você vai é rastejar atrás daquela naja azeda! Devia ouvir seus próprios conselhos Dawson, ela com certeza é mais perigosa que o Landon!

– Só que eu sou especialista no veneno da Naja. Você é que não sabe onde está se metendo.

E sumiu na esquina da rua, me deixando sozinha com todas as barbaridades que dissera ecoando em minha mente.

_/_/_

PDV do Noah

Ficamos naquele teatro por quase toda a tarde. Marie dançou pra mim, roxa de vergonha e rindo de nervoso. Eu gravei uma parte, mas quando ela percebeu que estava sendo gravada tirou o celular de minhas mãos e apagou o vídeo. É impressionante como uma princesinha de porcelana frágil e delicada pode virar um demônio cheio de dentes quando se trata de defender a própria imagem. Meu ombro que o diga.

Depois de resolver o problema do vídeo, me dar uma bela marca de mordida no ombro e sumir com meu celular, ela cantou aquela música do teste, dançando e rodopiando naquele palco exatamente como sua personagem o faria. E já que minha garota além de linda é total flex, ela interpretou também.

Claro que pra isso eu tive que insistir muito, fazer cara de dó, e quando tudo isso falhou tive que ameaçar colocar aquela foto dela babando no sofá na página anônima de fofocas da faculdade. E ela nem discutiu, pois sabe que eu seria capaz.

E depois de tudo isso ela voltou pros meus braços, brincamos, nos beijamos, conversamos sobre besteiras, como sempre gostamos de fazer. Falamos de coisas sérias também, eu contei a ela como eu odiei Adam logo que chegou, e como eu jurava que eles estavam mesmo se engraçando por aí. Ela riu, achava ridículo que alguém cogitasse a possibilidade de ela e Adam terem algo. E também disse algo que fez meu coração quase saltar pra fora do peito.

– Qualquer pessoa que olhasse pra mim enxergava o meu amor por você... Só você não via.

Claro que a recíproca também era verdadeira, até as garotas com quem eu saía sabiam que eu era louco por ela mesmo sem nunca ter dito uma palavra sequer sobre isso. Elas caçoavam de Marie e se vangloriavam dizendo que ela nunca satisfaria um cara como eu.

Bom, elas estão muito erradas. Marie me satisfaz de uma maneira que elas nunca conseguirão entender, e eu não preciso ir além com ela pra que isso aconteça. Estar com ela já me basta.

O nosso amor é diferente, nós somos diferentes. A maioria dos casais fica primeiro e se conhece depois, nós somos o contrário.

Nós estamos juntos porque já nos conhecemos, isso é raro.

E enquanto eu divago sobre todas essas coisas da vida deitado num palco de madeira, ela esta encostada em mim, com a cabeça em meus ombros, os braços em torno da minha cintura e uma das pernas entre as minhas. Não conversamos, não teria como fazer leitura labial daqui, mas nenhum de nós dois realmente se importa com isso. Eu posso senti-la respirar, e posso sentir seus dedos brincando com os meus sobre a minha barriga. É o suficiente.

Esse provavelmente é o melhor dentre os melhores dias da minha vida.

Meus olhos procuraram os dela assim que ela se debruçou sobre meu peito, encarando-me com as orbes cristalinas.

– Noah... – Ela chamou, e apesar de não a poder ouvir, eu sabia que estava manhosa principalmente pelas feições em seu rosto.

– Eu. – Respondi.

– Como foi que aconteceu? – Ela ruborizou ao concluir a pergunta, e percebi que era algo que ela hesitara muito a perguntar. – Eu sempre esperei que um dia você fosse se sentir a vontade e me contar naturalmente, mas nunca aconteceu...

Eu suspirei.

– Não é questão de se sentir a vontade ou não, é que ainda é um assunto difícil...

– Então esqueça a pergunta. – Ela beijou meus lábios de maneira gentil.

– Não, eu quero contar a você. – Levei minha mão ao seu rosto, ajeitando seu cabelo atrás da orelha e apertando seu nariz de leve. – No meu último ano de escola, eu era um imbecil. Eu era popular, as pessoas gostavam das minhas piadas, mas na verdade eu não passava de um merda que se achava o tal e fazia pouco das pessoas. Eu tocava numa banda de garagem, todos os integrantes eram da minha escola, e no meu tempo livre eu arranjava maneiras cruéis de rir dos outros.

Ela me escutava atentamente, seus dedos ainda brincavam com os meus, me incentivando a continuar.

– Na verdade lá no fundo eu não era tão diferente do que sou hoje, mas era desesperado por atenção, e não pensava nas consequências dos meus atos, a quem eu ia ferir ou o que aconteceria depois. Eu era Maria vai com as outras. E isso me ferrou.

Fiz uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado.

– Uma noite dessas, os caras resolveram pegar as motos e apostar corrida. Eu detestava motos, detesto até hoje, mas a galera toda ia. – Eu ri, ri do quão idiota eu era e do quanto isso me custara. – Resumindo, nos dividimos em duplas, e eu fui na garupa de uma das motos. O imbecil do piloto fez uma curva pro lado errado e deu de cara com um muro. Ele bateu a moto, e a velocidade era tão alta que a parte de trás empinou e eu voei, e bati a cabeça com tudo no muro. Quando acordei, já não ouvia mais nada. Os médicos disseram que era um milagre eu não ter quebrado o pescoço.

– Eu sinto muito... – Ela disse, depois deitou-se sobre mim de novo e beijou meu pescoço, mantendo o nariz gelado grudado a ele depois. Ela adorava cheirar meu pescoço, já tinha feito isso mais vezes do que eu tinha conseguido contar hoje.

– Não sinta. – Abracei-a, e passei a acariciar seus cabelos. – Foi difícil, mas isso fez de mim uma pessoa melhor. Ao invés de rir dos outros eu aprendi a rir de mim mesmo. De repente não me importava mais ser amigo dessas pessoas, eu estava livre pra ser quem eu realmente era. Aí eu passei no vestibular, vim pra cá e conheci o Ryan. Em poucas semanas ele já era o melhor amigo que eu já tive. Ele estudava biologia antes, tinha acabado de mudar de curso e acabamos na mesma turma. E aí... – Abracei-a mais forte. – Você apareceu duas semanas depois do começo do ano letivo. Eu estava em cacos, mesmo não aparentando por fora. E você me juntou de novo.

Ela não disse nada, se disse também eu não tinha como saber já que seu rosto ainda estava entre meu pescoço, mas se aconchegou ainda mais a mim, beijou novamente meu pescoço e mordiscou minha orelha de leve.

Se eu soubesse que seria assim tão bom e descomplicado, teria me declarado antes.

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PDV do Aaron

Mas que Droga, olha as situações em que eu me meto por causa da idiotice alheia. Eu nem fiz nada pra esse imbecil, ele que deduziu coisas só porque eu disse que queria vê-lo depois do fim da pesquisa.

E agora eu estou aqui, do lado de fora da república dele, tentando parecer invisível porque sei que é uma grande burrice entrar ali.

O Adam é uma enorme furada por diversos motivos, ele é exatamente o tipo de cara de quem eu fujo: Sensível, inseguro, cheio de dedos. Eu não gosto de ter que vigiar o que digo ou deixo de dizer, pessoas sensíveis nunca se dão bem comigo. Acontece que por algum motivo que eu desconheço, ele gostou de mim, e estávamos nos dando bem.

E bom, ele é bem inteligente, é uma boa pessoa pra se conversar e indica ótimos livros. Droga, eu devia ter dado graças a Deus por ter sumido, ainda mais depois de ter maliciado meu convite para continuarmos nos vendo. De pessoas mal resolvidas eu quero distância.

Só que eu sinto falta daquele idiota. Toda noite quando não tenho nada pra fazer eu tenho vontade de ligar pra ele e conversar.

Eu queria ter Adam por perto de novo, e pra isso se tornar realidade eu precisava ter paciência e ceder um pouco. Nenhuma das duas coisas eram fáceis pra mim.

Resolvi seguir em frente. Andei os poucos metros que me separavam da porta de entrada resmungando e xingando aquele loiro imbecil, quem ele pensa que é? Eu nunca tinha ido atrás de ninguém antes, e estar ali me rebaixando dessa maneira me deixava muito irritado. Porra, eu só queria continuar vendo ele, precisava sair correndo como uma menininha que viu uma barata?

Bati na porta da pequena casa de maneira impaciente, bufando de raiva.

– Já vai, to indo, não sabe esperar não? – Uma voz esganiçada gritou do outro lado da porta, e logo a abriu.

A garota que me atendeu era morena e baixinha, tinha um bob enorme preso à franja e estava com creme na cara.

– Wow, o monstro do lado Ness. – Comentei, rabugento. Nunca fiz questão de agradar ninguém mesmo.

– É... Me desculpe, como é? – A garota franziu a sobrancelha e cruzou os braços. – O que você quer aqui, grosseirão? Ou bateu aqui só pra me insultar?

Ela fechou a cara pra mim, me fitando de cima a baixo com um olhar petulante. Gostei dela, aprovo pessoas petulantes.

– Não, eu vim falar com Adam, posso entrar? – Fui direto ao ponto, objetivo como sempre fui.

– Oh! – Ela exclamou, sua expressão suavizou-se. – Você é o garoto das estrelas, não é? Eu sou Alícia.

Ela me estendeu a mão, e eu achei que já tinha sido deselegante o suficiente para recusá-la, então apertei-a.

– Aaron Harisson.

– Irmão do amigo delinqüente da Stella... Adam já tinha comentado. – Ela escancarou ainda mais a porta, sinalizando pra que eu entrasse. – Demorou hein? O garoto ficou quase a semana inteira saindo do quarto apenas pra ir a aula, não falou com ninguém.

– Porque é retardado, eu acho que ele pensa que eu o assediei. – Dei de ombros, soprando parte dos meus cachos que me caiam aos olhos. – Eu não devia estar aqui, mas sinto falta daquele imbecil e quero conversar com ele.

– Você é um doce de pessoa. – Seu rosto se contorceu numa careta estranha. – Segunda porta à esquerda. Fique a vontade.

Apontou me o corredor, em seguida seguiu pelo mesmo virando à direita, provavelmente rumando para o próprio quarto. Eu segui meu rumo até o quarto de Adam, em meio a toda a decoração horrenda daquela casa. Por Deus, a cozinha parecia um arco íris de tantas cores que ali havia.

Enquanto avançava pelo corredor, eu pensava em maneiras de falar com ele. Tinha vontade de sacudi-lo e gritar “Acorda! Você não pode fugir das coisas desse jeito!”, mas as coisas com ele não funcionam assim.

Eu tinha que ter paciência, olhar no olho dele e dizer que eu não vou fazer nada que ele não queira. Eu não devia precisar dizer isso, que droga, eu tenho cara de maníaco por acaso?

Parei em frente a porta, e respirei fundo algumas vezes tentando manter a calma. Depois de um tempo, finalmente ergui o braço e bati na porta três vezes.

– Me deixa Alícia, eu já vou sair ok? – Ele respondeu.

– Não é a Alícia... – Falei um pouco mais alto, pra que pudesse me ouvir do lado de dentro. – Aliás, essa menina é meio estanha não?

Ele grunhiu do lado de dentro, e não me deu nenhuma resposta.

– Abre a porta, Adam. Você saiu correndo sem nem me ouvir direito,me deve isso.

Silêncio. Silêncio absoluto por um instante que me pareceu uma eternidade. Eu estava cansado dessa postura de crianção, minha paciência estava no fim, eu só queria conversar.

– Olha... Eu abri mão de algumas horas de sono pra estar aqui agora, e fiz isso porque preciso te dizer uma coisa. E você vai ouvir, seja cara a cara ou com uma porta no meio.

Demorou um pouco, mas ouvi o barulho de seus passos do lado de dentro do quarto, e então o da trinca se abrindo. Logo o rosto emburrado de Adam estava bem na minha frente, e fora o bico que eu nunca vira direcionado a mim, ele me parecia o mesmo de sempre.

Era bom vê-lo, eu tinha me acostumado com a companhia dele no observatório, ou de ligar sempre que lembrava de algo pra falar. Eu só tinha o Faros e ele, eram as duas únicas pessoas com quem eu tinha alguma afinidade.

– Oi... – Coloquei minhas duas mãos nos bolsos. – Você sabe que não é meu tipo, Adam..,

– Ah, para com isso! – Ele me cortou, irritado. Nunca o tinha visto irritado antes, geralmente eu era o mau humorado e ele o sorridente – Você diz isso mas, aquele dia no observatório você deu a entender outra coisa. E eu te avisei, eu sempre disse que eu não sou gay, eu não quero esse tipo de contato com você.

Como queria que eu acreditasse nisso quando nem ele parecia 100% certo? Ele não me olhava quando falava, e suas mãos estavam agitadas.

– Não é isso, me deixa terminar. – Pedi. – Você realmente não é meu tipo. Eu nunca gostei de pessoas como você, felizes, sorridentes e otimistas, eu sou escuro e sozinho. Sempre fui, e sempre gostei de ser assim. Mas você não se afastou quando fui rude com você, e ria de mim quando eu o fazia. Nos tornamos amigos. E eu gosto de ter alguém pra conversar pra variar.

Ele ficou calado.

– Eu não quis te assustar nem nada do tipo, eu só queria dizer que queria continuar te vendo mesmo depois da pesquisa. Eu não vou mentir pra você, até porque esconder as caras não é o meu forte. - Fiz uma pausa e respirei fundo, ganhando tempo pra escolher bem as palavras. – Eu estou curioso sobre você, Adam, eu quero te conhecer melhor, mas eu não sou um maníaco retardado. Eu vou respeitar você. Agora tudo o que eu estou te pedindo é que me deixe ser seu amigo.

Ele suspirou, e levou a mão direita aos cabelos, puxando os fios.

– Me desculpe...- Disse, por fim, desfazendo a carranca. – Eu não devia ter reagido que nem uma garotinha histérica também.

– É, não devia... – Concordei, entre risos. – Eu li Orgulho e Preconceito, até escrevi uma resenha já que você me desafiou a tentar o mundo literário. Astrônomos escrevem artigos também sabia? Aposto que não fui tão mal. Se me deixar entrar eu te mostro, ou tem medo que eu pule em você e tire sua virgindade?

– Cala a boca. – Ele deu um soco no meu ombro, e escancarou a porta pra que eu entrasse. – Deixa eu ver, aposto que está bem ruim.

Eu ri, adentrando o cubículo onde ele dormia.

– Se eu fosse você não me subestimava.

A porta ficou aberta às minhas costas.

_/_/_

PDV da Alícia

7:45. Faltavam quinze minutos pra chegada do Joshua e eu tinha que dar um jeito de tirar essa cara de cu do meu rosto. Eu ainda não estava acreditando que um homem feito como Ryan tinha armado toda aquela cena por causa do meu encontro amanhã. Caramba, eu só queria viver um pouco pra variar! E agora eu estava pronta pra me encontrar com um cara que realmente me assusta sem nenhum tipo de garantia.

Garanto que aquele pobre daquele garoto mal viu o que o matou, e acabou caído no meio da praça sem nunca ter feito nada além de conseguir uma droga de uma bolsa.

Não, eu não podia me acovardar agora! Eu tinha que ir lá e descobrir algo. Por mim, e por ele também.

Dei uma última olhada no espelho. O coque bem preso permanecia intacto, deixei a franja solta na frente, pra dar um ar mais informal ao visual. Escolhi um vestido preto e uma sapatinha de mesma cor, e como todos sabem que eu adoro um bom colorido, escolhi uma jaqueta de couro vermelha para colocar por cima.

Queria que Marie estivesse aqui, ela saberia como escolher algo ideal para a ocasião. Eu ri, balançando a cabeça negativamente. Onde será que essa maluca tinha se metido com Noah?

Dei uma última olhada na maquiagem, reforçando o batom vermelho, então peguei minha bolsa e saí do quarto de uma vez. Era melhor esperá-lo na sala.

Sobressaltei-me ao encontrar Ryan ali, jogado no sofá de dois lugares, passando os canais tediosamente na televisão. Seus olhos se voltaram a mim assim que percebeu minha aproximação, e sua expressão de espanto me ofendeu um pouco. Que é? Ele acha que só porque eu sou mais simples, eu não sei me arrumar?

– Wow, você tá uma gata! – Ele se levantou do sofá e passou a me rodear. Aquilo fez meu sangue subir a cabeça, quase dei na cara dele.

– Por que o espanto?? Ah é, esqueci. Eu devo ter um pinto pra você né? Ou cara de ET, porque você acha que ninguém pode se interessar por mim sem um interesse obscuro por trás.

– Paaaara, eu não disse isso! – Respondeu, com a voz manhosa. – Olha, eu não quero mais brigar com você, ok? Toma isso.

Remexeu no bolso traseiro da calça e tirou de lá um frasco de spray de pimenta. Nem quis saber aonde arrumou isso, apenas o peguei e enfiei na bolsa.

– Sei que está acostumada a se virar sozinha, mas eu sou seu amigo agora, e vou continuar me preocupando com você, quer queira, quer não. O que quer dizer que nós vamos seguir o plano original, eu vou logo atrás de vocês pra cidade e me escondo num café esperando sua mensagem com o endereço.

– Pensei que ia atrás da ruiva azeda. – Disparei ressentida.

– As vezes você não merece minha lealdade, mas mesmo assim, alguma vez eu já te deixei na mão? – Eu estava brava com ele, e ele me encarava com aqueles olhos castanhos de cachorro sem dono e sorria aquele sorriso de cafajeste que é irresistível.

– Eu odeio você, Ryan. – Eu disse, pouco antes de ir até ele e abraçá-lo forte. – Você é o pior amigo do mundo!

Ele me apertou ainda mais forte e beijou minha testa, quase no mesmo instante em que a buzina de um carro soou do lado de fora. Me arrepiei dos pés a cabeça.

– Eu sei. – Sussurrou ao meu ouvido. – Vai lá garota, e não tenha medo. Nada vai te acontecer.

– Obrigada.

Ele me deu um último sorriso de incentivo, e então eu saí pela porta da frente, pronta pra encontrar Joshua.


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Notas finais do capítulo

E aí amores, aprovado o capítulo?

Até semana que vem. Beijoos



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