You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 19
Je t'aime - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Meus Amores MIIIIL PERDÕES pela demora! Eu me comprometi a atualizar uma vez por semana e me atrasei, me desculpem. Isso não vai virar rotina, ok? Prometo.

Bem vinda Ana Letícia, muito obrigada por ler, e comentar, e pela paciência. Juro que não costumo demorar tanto, meu prazo é uma semana e eu costumo respeitá-lo. Desculpe ok?

Leiam amores! Beeijos



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PDV do Noah

O teste de Marie será as 10 da manhã, e eu estou aqui, sentado na última fileira da platéia do teatro morrendo de ansiedade e nervosismo. Nervoso por mim, por ela, e por nós. Nervoso porque quero que consiga esse papel, ninguém merece mais que ela. Nervoso porque eu estou prestes a abrir meu coração, e não faço a menor ideia do que raios ela vai achar disso. Nervoso porque se ela disser que não me ama, eu não sei o que vai ser de mim.

Mas eu fiz uma burrada, e preciso concertá-la, se não vou perdê-la pra sempre de todas as maneiras possíveis.

Eu olho o relógio de 5 em 5 minutos, e o tempo não passa. Ana e o restante dos responsáveis pelo grupo de teatro já estão posicionados em sua banca, mas ainda faltam cerca de 30 minutos pro início do teste. Ela vai se sair bem, eu sei que vai. É maravilhosa em tudo o que faz.

Meus pés se chocam com o assoalho de madeira compulsivamente, enquanto estralo meus dedos pela milésima vez aquele dia. Droga, eu não posso morrer de ataque cardíaco antes de dizer a ela o que precisa ser dito.

Já estava praticamente louco de ansiedade quando Ryan entrou no teatro e se juntou a mim na ultima fileira. Deu tapas de incentivo nas minhas costas e me entregou um mini controle remoto. Oh Deus, aquele mini controle é uma prova incontestável. Eu vou mesmo fazer essa loucura. Argh, eu acho que vou vomitar.

Olhei para Ryan, que sorriu pra mim. Algo entre me encorajar e rir da minha cara ao mesmo tempo.

– Você ta verde cara. – Caçoou ele. – Tem certeza de que está bem?

– Eu to bem. – Tentei manter a voz firme. – Eu vou dizer à Marie como eu me sinto. Nada demais.

– Você vai fazer mais que isso. Vai deixar essa garota de boca aberta, e ainda mais apaixonada por você.

– Ou ela vai sair correndo mais uma vez e eu vou ficar lá, sozinho, tendo que conviver com o fato de que ela não me ama.

– Noah, drama não combina com você. – Ele riu. – Eu chequei tudo, vai dar tudo certo.

Oh, eu acho que vou colocar aquele Brioche pra fora até o começo desse bendito teste.

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PDV da Marie

– Qual o começo da minha fala mesmo? – Sussurrei para Alícia, enquanto as mãos dela deslizavam pelo meu cabelo fazendo uma trança embutida. Eu estava meio que em transe, um pouco nervosa, mas principalmente assustada. Era minha chance, eu precisava conseguir esse papel. Minha primeira protagonista.

– Relaxa! – Alícia tinha mãos ágeis para trançar, e isso era surpreendente. Quando me disse que ia me ajudar com meus cabelos, confesso que fiquei assustada pela falta de coordenação dela, mas estava indo muito bem. – Você viu Mamma Mia! em filme, teatro, leu críticas, estudou até mesmo as “Sophie’s” da Broadway! Esse papel é seu.

– Queria que isso bastasse...

– Vai bastar! – Me abraçou pelo pescoço, dando um beijo estalado na minha bochecha. – Você é a próxima. Está pronta, linda, e vai dar tudo certo!

Tem que dar certo. Depois de dois anos inteiros nesse lugar, quatro produções, quatro testes, quatro papéis coadjuvantes, eu tenho que conseguir um papel grande. Talvez assim minha mãe veja que eu posso ser bailarina e atriz ao mesmo tempo, talvez eu a convença a vir no musical, e ela vai ver que dançamos também. Eu posso ser grande e ainda seguir meu sonho.

Levantei-me da cadeira e fitei meu reflexo no espelho uma última vez. Tinha que deixar Marie ali e encarnar Sophie, uma jovem e esperançosa menina de 20 anos, prestes a se casar, e que deseja encontrar o pai para guiá-la até o altar.

Eu posso fazer isso.

– Torça por mim. – Pisquei pra Alícia. – Meu futuro depende desse teste, mais do que imagina.

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PDV do Noah

– Só tem gente ruim nessa porcaria de teste! – Reclamei, enchendo minha boca de Doritos. Ryan apenas me olhou de rabo de olho e riu, descrente. – Quando é a vez dela?

– Logo, se acalma, e para de comer! – Arrancou o saco de salgadinho da minha mão. – Vai se declarar pro amor da sua vida fedendo a Doritos?

Eu tinha me esquecido dessa parte do plano. Na verdade estava tentando manter meus pensamentos sob controle e era difícil fazer isso quando me lembrava de que eu pretendia dizer a ela como me sentia, então eu simplesmente reprimia esse pensamento. Agora graças ao Ryan meu estômago voltou a revirar, e a adrenalina voltou a pulsar em minhas veias, tão forte que parece que estou no meio de uma queda livre. Talvez esteja mesmo. Resta saber se tem ou não um paraquedas pra me segurar.

Enchi minha mão de salgadinhos uma última vez e os enfiei todos na boca. – Tem um perfuminho aí? – Perguntei, ainda de boca cheia.

Alícia entrou esbaforida no auditório, e veio em nossa direção, captando parcialmente a atenção de Ryan. Ela tentava andar o mais rápido que podia enquanto atravessava as outras pessoas sentadas na última fileira e tentava não esbarrar nelas. Se jogou na cadeira ao meu lado, e o olhar que dedicou a mim quando me viu cheio de farelos de salgadinho quase me fez cair morto ali mesmo.

– Fala sério! – Ralhou ela. – Eu acabei de sair dos bastidores dessa droga de auditório, e deixei a garota linda e cheirosinha pra você, pro teste também é claro, mas principalmente pra você, e você está se sujando todo de Doritos?

– Eu tirei o saco dele. – Argumentou Ryan, erguendo o pacote como prova. O olhar fuzilador que antes era só meu, agora se dirigia a ele também.

– Meio tarde né? E cadê o Adam?

Olhei para Ryan, e ele pra mim, ambos com um ponto de interrogação enorme na testa.

– Fala sério! Esqueceram que eu pedi pra vocês tirarem ele do quarto? Eu nunca peço nada pra vocês, poxa.

– Olha, eu esqueci, mas não acho que ele viria de qualquer jeito. – Eu disse, meio sem jeito, já que ela me olhava com uma carinha que era um misto de irritada com chateada. – Quer dizer, quando passei pelo quarto dele, a porta estava fechada, e ele estava ouvindo música clássica no último volume.

– Deixou ele sozinho ouvindo música clássica? – Agora ela berrou, com a voz mais esganiçada que o normal. – AH, FALA SÉRIO!

– O que tem? Ele ta em um momento de reflexão, deixa ele. Eu ficaria um mês deprimido se descobrisse que sou viado.

– Isso é porque você não é gay! – Insistiu. – E não use termos como “Viado”, é feio, soa preconceituoso. Além disso, nem sabemos de verdade o que aconteceu.

Olhei pra ela incredulamente.

– Jura? Pobre Alícia, tão inocente. – Caçoei. Olhei para Ryan, que fazia bicos e caretas para provocá-la.

– É, Acho que temos que contar a ela que Adam gosta de meninos. – Completou, então me juntei a ele nas caretas.

– Vocês são dois idiotas. – Ralhou ela.

– Mas sério, eu acho que nós devíamos dar um tempo a ele. – Ryan piscou pra ela, deixando a brincadeira de lado ao ver que estava ficando roxa de raiva.

– É, talvez, mas eu acho que ele já está isolado a tempo demais... – Alícia começou a falar, mas interrompeu a si mesma para me cutucar freneticamente. - Noah! Anunciaram o nome dela.

–Então se aquietem, vocês dois! – Sussurrei, mantendo meus olhos fixos no palco, esperando-a aparecer.

A distração momentânea do furacão Alícia passou assim que ela pisou naquele palco, linda como sempre em uma saia longa branca e uma blusa azul de estilo grego. O cabelo estava preso em uma trança meio frouxa, e o sorriso, ah, aquele sorriso eu guardaria na minha lembrança como um dos mais estonteantes de Marie Etienne. Eu tinha uma lista deles, todos guardados cuidadosamente na memória.

O nó na boca do meu estômago apertou um pouco, mas não importava. Eu só conseguia olhar pra ela e desvendar cada detalhe de sua expressão corporal. Parecia calma, não tinha qualquer indício de nervosismo como apertar as mãos ou mexer no cabelo, mas apesar disso eu sabia que estava se tremendo toda por dentro. Ela conseguia conter pequenos aspectos de sua personalidade para deixar a personagem aflorar, e enquanto citava as falas despreocupadamente, eu enxergava uma mulher completamente diferente da minha Marie. Apesar se não poder ouvi-la, via certas diferenças no entorno de sua boca, Sophie falava sorrindo, Marie era um pouco mais contida.

A mais bela Sophie da história desse musical.

Seus olhos refletiam a busca da personagem, seus gestos, era outra pessoa, e isso me deixava absolutamente maravilhado. Ela nasceu pra isso, e por mais que eu seja suspeito pra falar, tenho plena certeza disso.

Ela me encanta em cada palavra que sai de seus lábios, e eu pensei que fosse impossível me agradar mais, mas estava enganado.

Quase esqueci de respirar em seu número musical, a maneira como rodopiava e desfilava seus passos de Balé pelo palco, conciliando movimento com a voz suave que saía de seus lábios. Até mesmo o sotaque francês era brilhantemente disfarçado em cada uma das estrofes. Nunca a ouvi falar, é verdade. Não tenho como saber se sua voz é suave ou quão forte ainda é seu sotaque depois de tantos anos em outro país, mas é assim que eu imagino.

A saia longa rodava junto com ela, de um lado, pro outro, e eu observava a cada movimento absolutamente boquiaberto.

Eu me sentia perdido em algum lugar paralelo no tempo, assistia a cada detalhe em câmera lenta, e ao mesmo tempo tudo parecia voar. Quando ela agradeceu ao “público” com uma reverência, eu tive a impressão de que o teste mal tinha começado. Eu queria mais.

– Muito bem, obrigado querida. – O cara barbudo e simpático falou ao microfone mais uma vez. Sempre era doce e cordial com as garotas, ao contrário de uma loira azeda que estava ao lado de Ana, cheia das caras e bocas. – Anunciamos o resultado em meia hora.

Marie acenou em concordância e se retirou do palco. Sorria nervosamente, mas não tinha motivos para temer, ela foi absolutamente brilhante.

Ana se retirou do auditório, acompanhada dos outros dois jurados. A acompanhei com o olhar durante todo o trajeto em direção a saída, esperando que me desse qualquer sinal sobre o que raios tinham achado da performance dela. Eu precisava saber, ou ia explodir de nervosismo e morrer antes mesmo do resultado, que dirá da surpresa.

Ela me deu uma piscadela no último segundo, sorrindo travessa. Acho que era um bom sinal, afinal.

Suspirei aliviado por meio segundo, até me dar conta do que viria a seguir.

Oh Deus, eu tinha meia hora pra me preparar, meia hora.

– Eu vou dizer a Marie como me sinto. – Disse, pela milésima vez aquele dia. Era inacreditável, até mesmo para mim.

Alícia me abraçou pelo pescoço, beijando meu rosto carinhosamente.

– Vai dar tudo certo. Eu prometo. - E piscou pra mim. – Agora se me dá licença, eu tenho uma encomenda pra buscar.

– Vai lá... – Sussurrei, era o máximo que podia fazer devido ao nervosismo. – E obrigado pela ajuda, valeu mesmo.

– Ah não me agradeça. Eu quero mais é que vocês se entendam de vez e parem de me alugar.

Eu ri, enquanto a observei sair do recinto toda saltitante como sempre. A encomenda dela era o primeiro passo pra minha surpresa, era a minha deixa, e seria entregue logo após o resultado.

É, agora era tudo ou nada, tarde demais pra voltar atrás.

_/_/_

PDV da Marie

Trancei e destrancei meus cabelos várias vezes durante a meia hora que se seguiu. Muitos dos outros concorrentes preferiram compartilhar sua agonia com amigos e parentes presentes na arquibancada, eu por outro lado voltei para a mesma salinha onde todas as meninas se prepararam e me sentei diante do espelho, mexendo e remexendo em meus cachos dourados. Queria ficar sozinha, aquele era um momento meu.

Ninguém sabia, nem mesmo Alícia, ou Adam, ninguém entendia a importância que tinha esse teste. Perder esse papel tinha um significado bem mais preocupante para mim, eu tinha uma mãe insatisfeita que achava que o teatro nunca me levaria a lugar nenhum, e depois de ter ganhado peso nas férias, perder esse papel seria o estopim final para que ela cortasse de vez a verba da faculdade.

Mas quer saber? Independente do resultado, eu não ia me deixar abater. Mesmo que o pior venha a acontecer, mesmo que tudo dê errado e ela resolva não investir mais na minha carreira como atriz, eu não ia me submeter as suas vontades.

Eu tenho dois braços e duas pernas, posso trabalhar.

Apesar disso, desejo ardentemente conseguir esse papel, porque é o meu sonho, e porque eu quero mais do que tudo na vida que ela se orgulhe de mim e veja que eu posso ser grande e ainda fazer o que eu gosto. No fim das contas, mais importante que o dinheiro, era a sua aprovação.

Tinha acabado de destrançar as madeixas mais uma vez, quando uma de minhas colegas veio me chamar. Iam anunciar o resultado. No meio de meus conflitos e pensamentos mais íntimos, a meia hora acabou sendo mais curta do que o esperado.

Caminhei ao lado de minha colega silenciosamente, costumava ajudá-la com os exercícios vocais, e sempre lidamos bem com essa história de concorrência. Não agimos de má fé, isso facilita a convivência. Além disso, ambas detestamos Amber Nickelson, a odiosa e arrogante estudante do quinto período que estrelou quase todas as produções as quais se candidatou. “Nada une mais duas mulheres do que o ódio em comum pela mesma biscate”

Nos posicionamos de volta no palco, de frente para as poltronas e a banca dos jurados. O minuto de silêncio que se seguiu foi o mais perturbador de toda a minha vida, no entanto me deu o tempo de que precisava para vasculhar as poucas cabeças presentes na platéia e encontrar os sorrisos encorajadores de meus amigos. Alícia, Ryan e Noah riam e faziam gestos em minha direção, acenei discretamente pra eles. Uma pontada de tristeza fisgou meu coração ao ver que Adam não estava ali.

Por quase um minuto inteiro, acreditei mesmo que tinha me deixado na mão. O garoto que escreveu uma peça inteira pra mim na época do primário não estava ali para me apoiar. No entanto, quando já tinha quase desistido de procurar, reconheci seus cabelos loiros escondidos no fundo da sala. Sorri pra ele, que acenou pra mim em resposta.

Estar naquele palco arrepiava cada centímetro da minha pele, a ansiedade era tanta que quase saía pelos poros, e eu sentia que não ia suportar toda a demora para anunciar esse bendito resultado.

Como de praxe, começaram pelos papéis secundários, para causar suspense. Rezei silenciosamente para que meu nome não saísse pela boca do Professor, ao menos não naquele momento. Meu coração parecia prestes a saltar pela boca. Quando finalmente chegou ao anúncio dos protagonistas, meus dedos doíam de tanto que eu havia forçado os nós.

Um calouro foi escolhido para o papel de Sky (Noivo de Sophie), foi uma surpresa, calouros dificilmente ganham papéis grandes, ainda mais em tão pouco tempo de aula. O teste dele devia ter sido muito bom.

Ana assumiu o papel de Donna, outra surpresa. Fazia tempo que a baixinha não participava das produções. Era um teatro escola afinal, professores tinham que dar o exemplo.

E então só restava Sophie. Meu nome ainda não tinha sido citado em momento algum, o que indicava que para mim era tudo ou nada. Se meu nome não estivesse escalado pra esse papel, o máximo que conseguiria seria ser a substituta de alguém.

Minhas pernas bambeavam de nervosismo e ansiedade, e tinha que me esforçar para impedir meus pés de tamborilarem contra o piso de madeira.

– Marie, o papel é seu. – Anunciou o professor.

E eu fiquei ali, parada, olhando para as expressões dos três professores a minha frente tentando entender o que estava acontecendo ali.

– Você conseguiu! – Minha colega gritou, segurou-me pelos ombros e me sacudiu levemente. – Não entende? Você conseguiu mesmo!

–Eu consegui? – Perguntei. Minha cabeça girava, e eu tinha vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Meu Deus, minha primeira protagonista! – Eu consegui! – Gritei de volta, a puxando pra um abraço.

Meus colegas deixaram o palco, uns felizes com o resultado, outros não. Eu não cabia em mim de tanta felicidade, estava tão confusa que não fazia nada além de andar de um lado pro outro que nem barata tonta enquanto tentava me convencer de que não estava sonhando, eu tinha mesmo conseguido. A felicidade era tanta que até me permiti mostrar a língua para Amber Nickelson, que deu de ombros desdenhosa.

– Eu consegui! – Murmurava enquanto ria feito louca. Logo os braços de Ana me envolveram em um abraço, seguidos por Alícia, Ryan, e até mesmo Adam, todos aparentemente felizes por mim....

... Mas o momento não estava perfeito. Faltava alguém.

– Noah foi embora? – Perguntei pra Alícia, que ainda estava grudada em mim que nem chiclete, me agarrando e reforçando o quanto estava orgulhosa.

– Ah... Ele pensa que você ainda está chateada com ele, preferiu ir embora mais cedo.

– Entendi... – Meu sorriso murchou tão instantaneamente quanto surgiu. Não me entenda mal, eu ainda estava feliz, tinha meu papel exatamente como queria. Só não era a mesma coisa sem ele ali pra dividir.

– Mas não se atreva a se entristecer, entendeu? – Alícia ralhou comigo. – Eu tenho uma encomenda pra te entregar, algo que eu acho que vai te animar.

Olhei pra ela, piscando confusa.

– Encomenda, pra mim?

Acenou afirmativamente, remexendo em sua bolsa e retirando de lá um frasquinho não muito grande de vidro. Dentro dele, pequenas bolas transparentes mudavam de cor conforme a luz do ambiente caía sobre elas. Meus dedos deslizaram pelo frasco imediatamente, retirei-o das mãos desastradas de Alícia e o analisei, boquiaberta.

– Não acredito... – Murmurei. Abri o pequeno frasco e peguei uma bolinha em mãos. – Bolinhas de gude. Quem te deu isso?

– Eu... não sei, o cara que me deu disse que foi pago pra me entregar. Não foi ele quem mandou. – Ela revirou novamente a bolsa. – Tem um cartão.

– Uma vez, logo que cheguei da frança anos atrás, vi uns meninos brincando com bolinhas de gude na rua e achei aquilo tão curioso! Eu fui criada em meio a bonecas de porcelana e xícaras de chá das cinco, nunca tinha visto nada assim. – Observava a bolinha em minha mão mudar de cor, aquela encomenda era no mínimo intrigante. – Eu brinquei com eles a tarde inteira, e achei maravilhoso poder me sentar no chão, ajoelhar no jardim, eles riam da maneira como eu jogava, mas foi uma tarde mágica. Quando cheguei em casa, minha mãe me castigou por ter sujado meu vestido, mas valeu a pena. Foi um dos melhores dias da minha vida.

Alícia me encarava curiosa, a mão que vasculhava a bolsa ainda estava lá dentro da mesma, mas a atenção da garota estava focada em mim.

– Achou o cartão? Vamos, eu preciso saber quem mandou! – Ralhei, ela imediatamente voltou a procurar.

– Ai, calma, ta aqui em algum lugar. – Ela remexeu a bolsa por mais um tempinho, e então finalmente tirou de lá um envelope cor de laranja que arranquei de suas mãos rapidamente.

Adam e Ryan conversavam animadamente com Ana, todos ainda no palco. Alícia apertou meu ombro, me sorrindo de maneira amigável e se afastou, juntando-se a eles e me deixando sozinha com meu mistério pra resolver.

O cartão não foi feito a mão, o que me deixou meio decepcionada. Poxa, não me deu nem a chance de reconhecer a letra.

“Parabéns Cherrie, eu sabia que conseguiria.

Eu vou te dizer pessoalmente o quanto me orgulho de você, mas antes nós vamos brincar. Eu tenho alguns presentes, todos simples como essas bolinhas, mas com um significado maior. São tesouros, alguns vão chegar até você, outros eu vou te ajudar a encontrar.

As bolinhas são simbólicas, sabe disso, não sabe? Elas são um lembrete de que as coisas podem ser melhores fora da bolha. Saia da bolha, Marie, suje seu vestido. Depois é só lavar.

p.s: Tem uma dica no fundo do pote. Estou te esperando, venha me encontrar. “


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Notas finais do capítulo

E até a parte 2 amores! Vai demorar menos, já tenho boa parte feita já que a ideia inicial não era dividir.

Revisei bem por cima devido ao atraso, então desculpem qualquer erro.



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