-Sakura...

-Estou quase achando uma sala.

-Mas Sakura...

-Se acalme, Hinata. Me ajude a carregar o Sasuke.

-Sakura, nós não vamos conseguir... o hospital... está ch...

-Droga! Você não precisa falar isso nesse tom de novidade!

Hinata retraiu-se. Faziam aproximadamente 40 minutos que estavam no hospital de Konoha, que, àquela hora do dia estava tão cheio que chegava a ser assustador. Aparentemente, um esquadrão de ninjas acabara de voltar de uma missão muito perigosa, seriamente machucados, e estavam ocupando todas as salas anteriormente vagas. Sasuke ainda estava desacordado, sendo amparado por Hinata e Sakura, o rosto cheio de sangue já coagulado.

Itachi encontrava-se um pouco mais atrás. Mais de duas vezes, o Uchiha mais velho tinha tentado dar suas explicações à Sakura, se oferecido para carregar o irmão mais novo ferido, mas ela não lhe dava a mínima atenção possível, como se ele fizesse parte das paredes.

Depois de fazer os primeiros socorros no colega de time, com auxílio de Hinata, Sakura saiu em disparada para o hospital, as mãos trêmulas, o cabelo desgrenhado e um humor nada saudável. Hinata e Itachi limitavam-se a segui-la, calados.

A Haruno já tentara de tudo para arranjar um quarto para Sasuke no hospital; mesmo sendo uma ninja médica bastante influente, aquilo não foi possível.

-Koizumi-san! - Sakura chamou a enfermeira que andava apressadamente, a passos enérgicos.

-Sakura-san! - a mulher se aproximou, e, como se não visse o garoto ferido e desacordado, perguntou: - Algum problema?

-Você precisa me ajudar. Não estamos conseguindo um quarto para Sasuke. Eu e Hinata já chegamos aqui há 40 minutos, desse jeito ele vai... vai acabar... morrendo.

Itachi pôde notar, pela exclusão que sofrera na frase da Haruno, que ela ainda estava ofendida e irritada com ele por ter machucado Sasuke. O Uchiha mais velho ainda tivera alguma esperança que Hinata pudesse ajudá-lo a explicar o que acontecera, mas Hinata estava mais abalada ainda que a Haruno. Seus pés não paravam quietos no lugar e ela parecia sempre estar à beira das lágrimas. Itachi suspirou. Seria difícil convencer Sakura.

-Ah... Haruno-san... - a enfermeira pareceu sem graça. - Eu sinto muito. Todos os quartos foram ocupados hoje, no começo da tarde. Um grupo de ANBU voltou da Floresta da Morte, muitos ficaram feridos e nós...

-EU SÓ PRECISO DE UM QUARTO! - explodiu Sakura, à beira das lágrimas. - O QUE TEM DE TÃO DIFÍCIL NISSO? HEIN? O QUE VOCÊS TEM CONTRA O SASUKE? - suas mãos agora apertavam e sacudiam os ombros da enfermeira, e ela parecia à beira de um colapso

nervoso. - SÓ POR QUE ELE FOI EMBORA DA VILA E RESOLVEU VOLTAR? QUE TIPO DE MONSTROS VOCÊS SÃO?

Seu rosto agora estava tão rosado quanto seus cabelos, a fúria evidente em cada linha de seu rosto. Hinata chorava baixinho, as mãos segurando Sasuke no colo; Itachi observava calmamente, o rosto compreensivo observando Sakura. Não ia pará-la.

Ela soluçou alto, largou Koizumi e saiu desabalada pela entrada do hospital. Itachi fez menção

de barrá-la, mas achou que ela tinha pleno direito de se rebelar contra uma situação. Pouco tempo depois, os médicos e enfermeiros miravam a porta do hospital, assustados.

-Ela acabou largando esse idiota com a gente - comentou Itachi, virando-se para Hinata.

-E-Está tudo bem - murmurou Hinata, limpando as lágrimas que cismavam em descer pela pele delicada do seu rosto pálido. - Eu posso cuidar dele, na minha casa. E-eu sei alguns jutsus médicos...

-Cuidado para não acabar matando-o de vez - disse o Uchiha, com um sorriso irônico.

-Eu sei o que faço. - ela deu um sorriso, aparentemente segura de si.

-Você não vai conseguir levar esse cara sozinha para sua casa. Deixe eu carregar ele.

O Uchiha mais velho fechou o irmão entre os braços, mirando a face ensanguentada deste com desprezo. Os dois saíram do hospital, chegando na casa da Hyuuga em pelo menos 15 minutos.

-Agora é você quem cuida dele - resmungou Itachi, largando o irmão na porta do templo Hyuuga.

-Sim. - ela mirou-o em silêncio por algum tempo, até dizer: - V-você deveria procurar a Sa-Sakura-san. Ela estava m-muito nervosa.

-É. - Ele olhou para o céu, tentando parecer desinteressado. - Cuide bem desse idiota. Até mais.

-A-Até!

Itachi retirou-se com um floreio elegante. Hinata curvou-se sobre o vulto de Sasuke, e seus olhos perolados miravam-o, preocupados.

-Sasuke-kun... - ela tocou numa mecha dos cabelos do garoto, e seus olhos se entristeceram.






Os anos de sua vida que passara em Konoha tinham sido o suficiente para que Itachi conhecesse os caminhos da vila com facilidade, da mesma forma que os poucos meses que passara junto de Sakura tinham sido bastantes para conhecer os hábitos da garota.

Em poucos minutos, encontrou-a exatamente onde imaginava-a encontrar; atrás do prédio da Hokage, num pequeno jardim coalhado de minúsculas flores amareladas. O vulto pequeno da garota encontrava-se encolhido, no meio das flores, e, pelo movimento sacolejante de seus ombros, Itachi imaginou que ela chorava.

O Uchiha aproximou-se sem se preocupar em esconder o eco de seus passos. Sakura ouviu as passadas suaves do nukenin, tão conhecidas dela, e virou-se para trás, assustada. Seus imensos orbes verdes cheios de lágrimas e suas mãos trêmulas denunciavam completamente a afeição que ela sentia pelo Uchiha mais velho. Continuava tão firme quanto antes.

-Não se preocupe - falou ele, a voz com um sarcasmo calmo e pungente. - Eu terminei de matar aquele retardado e joguei o corpo dele em algum buraco por aí.

O rosto de Sakura contraiu-se de medo; ele sorriu.

-Não vai me chamar de mentiroso? Estou inventando um absurdo bem na sua cara. - Ele aproximou-se dela e abraçou-a, acariciando os cabelos rosados da moça.

-Não brinque assim - sussurrou ela. Itachi sentiu as lágrimas dela molharem sua roupa. - Eu... eu fiquei tão... eu não pude... o Sasuke... você...

-Aquele idiota recebeu o que merecia - resmungou Itachi, separando-se dela para olhá-la nos

olhos. Como eles estavam molhados. - Ele me provocou. Se não fosse por você e pela Hyuuga, eu teria matado aquele pivete ali mesmo.

-Não fale assim! - ela ainda chorava. - Não me assuste, Itachi. Ele é meu amigo.

-Eu sei. E ele se usou disso para me deixar com ciúmes de você. - admitiu o Uchiha com uma voz levemente constrangida, mas ainda arrogante.

Sakura limpou o rosto, olhando nos olhos fundos e rubros do homem que amava.

-Me desculpe por aquela cena no hospital. Eu fui ridícula. - ela soluçou baixinho. - Depois que Sasuke souber daquilo, ele deve me odiar.

-E daí?

Sakura lançou um olhar magoado para Itachi.

-Certo, me desculpe - resmungou o Uchiha, abraçando-a de novo. Sentiu as mãozinhas dela abraçarem-se nervosas ao seu corpo, e sorriu.-Vá para casa descansar - orientou ele, ao ver que o corpo dela tremia de cansaço.

-Quero ficar com você.

Ele sorriu de novo. Maldita mulher, tão perfeita e tão angelical.

-Nós vamos ter todo o tempo do mundo. Agora, eu vou levar você para descansar.

Sem aviso, ele aninhou o corpo frágil dela nos braços fortes, e levou-a rapidamente pelos caibros e telhados de Konoha, até alcançar o bairro Uchiha e descer suavemente até sua casa.

-Mas aqui é sua casa - murmurou ela, sem graça.

-É sua também.

Ele levou-a para os aposentos internos, deitando-a na própria cama e cobrindo-a com o lençol branco. Ela sorriu.

-Se um dia eu tiver filhos, quero contar para eles sobre você.

-Se um dia você tiver filhos, eles serão meus filhos também - corrigiu Itachi.

Sakura riu.

-Agora, vou ter que deixar você aqui. Tsunade quer falar alguma coisa comigo, ela mandou um mensageiro quando eu estava atrás de você.

-Tudo bem - disse a Haruno, sorrindo. - Não demore.

-Prometo. - ele beijou a testa dela, antes de desaparecer depois da porta. Sakura continuou sorrindo, mirando o teto.