Os Olhos que Encontraram os Meus escrita por Yukii


Capítulo 19
Capítulo 19 - Sozinha




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O silêncio calmo da manhã penetrava lentamente no aposento escuro. Aquele quarto estava carregado por um ar de abandono, e parecia não ser habitado por ninguém há muito tempo. Ali, tudo exalava cheiro de morte, ar de morte. Cores da morte.

A única coisa viva no aposento era a garota adormecida na cama. Seu corpo pequeno mexia-se por debaixo das cobertas velhas, enquanto ela acordava preguiçosamente. Os orbes verdes precisaram olhar ao redor duas vezes seguidas para que ela pudesse situar-se, e seus cabelos rosas, em completo desalinho, abriam-se num leque por detrás da cabeça.

Sakura levantou-se, ainda sonolenta, tateando o chão com os pés nus. Seu rosto cansado ainda estava úmido pelas lágrimas que derramara no dia anterior. Olhando ao redor, a garota perguntou-se onde estaria Itachi; ele jpa deveria estar ali, pois já era de manhã.

A Haruno empurrou a porta com facilidade, abrindo-a para o corredor vazio e sombrio da abandonada mansão Uchiha. Não havia absolutamente nada ali, apenas o escuro. Com um calafrio desconfortável, ela chamou:

- Itachi? - não houve resposta. Ela tentou chamar mais alto: - Itachi-kun?

O silêncio foi sua única resposta. Ainda incomodada com o ar hostil daquela mansão, Sakura trancou-se no quarto vazio mais uma vez, e decidiu usar um método diferente para procurar o Uchiha. Concentrando parte do chakra num jutsu de localização, Sakura expandiu-o por todo o perímetro da mansão, procurando pela presença de Itachi. Não encontrou. Achando que tinha feito algo errado, fez a mesma coisa, mas acabou resultando na mesma coisa. A Haruno mordeu os lábios.

- Onde ele se meteu dessa vez?

Sem sair do quarto, trocou suas roupas e ajeitou-se o melhor que pôde, penteando os fios rosas da cabeça com os dedos. Em seguida, desceu para os jardins secos e abandonados num salto, transpondo o parapeito de pedra da janela do pequeno cômodo onde se encontrava. Pela luz forte que o sol derramava por toda a extensão de terra, já deveriam ser mais de 9 horas da manhã.

Enquanto caminhava pelas ruas de Konoha, Sakura buscava por qualquer sinal do Uchiha mais velho, olhando ao redor com um ar preocupado. Caminhou por quase uma hora sem achar sinal dele. Cansada e levemente irritada, a garota parou no Ichiraku para poder almoçar. Ao entrar no pequeno recinto, deu de cara com um velho colega.

- Sakura-chan! - a voz de Naruto soou por todo o aposento. - Faz tempo que não nos vemos direito!

- Ah, Naruto! - ela acenou para o colega e foi sentar com ele no balcão, tentando animar-se um pouco. - Você está sozinho?

- É... ultimamente, eu tenho andado meio só. - ele fez uma careta de desgosto. - Mas, mas, agora que você está aqui, podemos comer juntos!

Sakura sorriu para o colega, enquanto ele pedia os pratos. Enquanto esperavam, Naruto tagarelou à vontade, enquanto a colega de time escutava tudo pacientemente.

- Sakura-chan, você soube do que houve com o Sasuke, não é?

Ela tossiu um pouco, engasgando-se com o molho, antes de olhá-lo levemente hesitante.

- Bem, eu... é. Eu levei-o até o hospital.

- Sim, sim! Aquela onee-san do hospital, como é o nome dela mesmo, algo como Ko.. Koichi... Komari...

- Koizumi - corrigiu Sakura bondosamente.

- Isso! Essa onee-san me contou. Ela disse que você ficou muito abalada e tal, mas não quis me dar detalhes. O que houve de verdade?

Essas palavras fizeram Sakura morder os lábios, um pouco nervosa, e lembrar do dia anterior com certa relutância.

- Ah, ele e Itac... Sasuke-kun brigou com seu irmão mais velho.

- Puxa! - Naruto fechou a cara. - eu sempre pensei que eles não dariam certo na mesma vila!

- Hum - ela murmurou, enfiando o máximo que podia de macarrão na boca.

- Mas por que eles brigaram? Você viu?

Isso provocou outro acesso de tosses na garota. Ela rapidamente limpou a boca, antes de responder:

- Eu... eu não sei direito... mas vai ficar tudo bem, é-é o que importa. - ela não gostava de mentir para seu amigo, mas não via outro caminho.

- Pois é - concordou Naruto, se espreguiçando - ainda mais com a Hinata-chan cuidando dele!

Sakura ficou feliz em saber que alguém conhecido estava cuidando de Sasuke. Mas ainda queria encontrar Itachi, de qualquer forma.

- Err... Naruto... - ela precisava perguntar, mas tinha medo de deixar algo transparecer com aquela pergunta. - Por acaso você... você viu o Itachi por aí?

- Hm? - ele levantou o rosto sujo de molho do prato de ramen. - O que disse?

- Eu perguntei se... se você viu o Itachi, hoje.

Naruto fechou a cara numa carranca, e olhou Sakura com certa desconfiança. Ela rapidamente enfiou vários talos de brócolis e molho na boca.

- Não, não vi. Mas o que você quer com aquele cara, Sakura-chan? Ele te seqüestrou, lembra?

Ela usou o tempo de mastigar para pensar, e respondeu, a voz ligeiramente retraída:

- É, eu lembro. Mas... não sei, é sempre bom ficar de olho nele. - ela se sentiu indigna do resto do mundo. Estava mentindo outra vez.

- Sim, sim. Ainda acho que foi burrice da Tsunade-baa-chan deixar ele voltar. - Naruto terminou de comer seu ramen, e olhou ansioso para o prato interminado de Sakura. - Você ainda vai querer?

- Ahn... não! Pode comer! - o nome de Tsunade tinha dado uma ideia do que fazer a Sakura. Ela levantou-se rapidamente da mesa, dizendo: - Eu tenho umas coisas para fazer, acabei de me lembrar... a gente se vê, Naruto!

Saindo do restaurante a passos apressados, a Haruno atravessou as ruas de Konoha sem prestar muita atenção em nada. É sempre bom ficar de olho nele... Foi burrice da Tsunade-baa-chan deixar ele voltar... As frases soltas ecoaram na mente de Sakura e fortificaram sua ideia.










O silêncio imperava no escritório de Tsunade. Só era ocasionalmente interrompido pelo barulho que a Hokage fazia ao assinar papeis e documentos apressadamente, e por Shizune, ao empilhar organizadamente os documentos.

Aquela calmaria fez com que as batidas altas na porta se tornassem mais altas do que realmente eram. Tsunade assustou-se levemente com o barulho, fazendo um pequeno borrão na sua assinatura e praguejando baixinho.

- Entre.

A garota de cabelos róseos entrou, com um ar ligeiramente apressado. Tsunade não se surpreendeu ao ver Sakura ali; já estava esperando por aquilo. Empurrou os documentos de lado, enquanto a voz da Haruno perguntava:

- O que fizeram com o Itachi-kun?

O tom de voz era controlado, mas a raiva e o desespero resguardavam-se dentro dela. Tsunade suspirou. Sua discípula realmente dava muito trabalho.

- Sente, Sakura. - pediu a Godaime, indicando uma cadeira vazia defronte à escrivaninha atulhada de folhas. Sakura obedeceu. - Por favor, me escute até o fim, sem me interromper.

Aquela ordem alarmou a chunnin rosada, mas ela não demonstrou. Suas mãos contraíam-se levemente no colo, quando Tsunade começou a falar.

- A situação não podia ficar como estava. Apesar de tudo, Itachi é um dos nukenins mais temidos de todos os tempos. Ele estava cumprindo sua pena, mas as pessoas da vila... - a Hokage suspirou. - Elas não entendiam. Você também não entende, Sakura. Elas tinham medo, hesitavam, retraíam-se perto dele. Houveram até algumas revoltas. Não tivemos escolha.

O silêncio retornou, calmo e impenetrável. Os olhos castanhos de Tsunade miravam a aluna, e esta, por sua vez, olhava desesperada para a Hokage, os olhos turvos.

- Mas então... o que... o que houve com ele? Onde ele foi parar? - balbuciou Sakura.

- Eu sinto muito... nós não tivemos escolha. - Tsunade engoliu em seco. - Ele foi exilado, Sakura.

- Exilado?! - a voz de Sakura soou levemente histérica. - Onde? Onde vocês o deixaram? O que fizeram com ele?!

- Sakura, se acalme! - a Hokage empurrou a garota de volta para a cadeira. Sakura tremia. - Eu não posso lhe dizer nada. Na verdade, nem mesmo isso eu deveria ter lhe contado. Só contei pela consideração que tenho por você.

- Me diga onde ele está! - ela implorava, tentando segurar as próprias lágrimas. - Eu preciso apenas vê-lo, apenas ter certeza se está tudo bem com ele!

- Mas eu já lhe expliquei que...

- POR FAVOR! - ela agora chorava e soluçava, segurando a Sannin pelos ombros. - Eu preciso vê-lo... Itachi... ele não...

Uma ideia lhe ocorreu. Os orbes verdes se arregalaram e piscaram, limpando as lágrimas, enquanto ela largava os ombros de Tsunada e balbuciava, virando-se de costas:

- Lá... depois da floresta... a pedra maior... Misha... Misha pode me...

Sem maiores palavras, Sakura saiu apressadamente do escritório, batendo a porta com violência. Ao ouvir o som apressado dos passos da discípula, Tsunade suspirou, virando-se para Shizune:

- Mande um esquadrão de 4 ninjas segui-la. Não posso deixá-la partir assim. - os punhos da Hokage se contraíram, e ela mirou o céu azul, o coração levemente apertado dentro do peito.











- É aqui.
Com quatro dias de viagem e dois de procura, Sakura conseguiu achar o local exato. Seus dedos enluvados tocaram a pedra fria, e suas pernas tremiam de cansaço. Não sabia o que estava acontecendo com ela. Estava ficando cansada rápido demais, nos últimos dias.

Com um esforço, ela acertou a pedra com todas as forças que lhe restavam, caindo de joelhos no chão. Arquejando, Sakura atirou-se para a passagem que fora aberta à força.

A Vila da Chuva enfrentava uma de suas tempestades rotineiras, o aguaceiro encharcando as ruas desertas. Sakura caminhou, cambaleando pela dor e pelo cansaço, sem notar que era seguida pelos ninjas enviados por Tsunade; estava cansada demais para notar qualquer coisa.

Como da última vez, conseguiu achar a entrada para a sede da Akatsuki. Seus pés trêmulos pararam defronte a porta, e ela já ia pensar num jeito de abri-la, quando sentiu algo atingindo-a no braço esquerdo e uma boa quantidade de sangue quente jorrando do mesmo.

Virando-se, assustada, ela deparou-se com um dos guardas da organização criminosa, coberto por uma capa de chuva. Sua mão já preparava-se para lançar outra kunai, e Sakura atirou-se para o lado, tentando desviar, numa débil tentativa. Ao cair no chão encharcado, seu corpo doeu cem vezes mais, o cansaço evidente em cada fibra de seu ser.

- Saia, mulher. - ordenou o homem, a voz grosseira e debochada abafada pelos sons da chuva. - Vá embora, ou teremos que matar você.

- Não - Sakura levantou-se com dificuldade, apertando o ferimento. - Itachi... eu...

O homem avançou novamente para ela, dessa vez segurando uma espada curta. As pernas da Haruno tremiam demais para que ela pudesse desviar, e sentia-se fraca até mesmo para cair.

O ataque foi interrompido por um dos ninjas enviados por Tsunade. Os quatro cercaram a chunnin, as armas em punho. No mesmo momento, mais guardas apareceram, com um ar feroz no rosto.

Sakura não viu nem ouviu mais nada; fraca e tonta pelo sangue perdido, sentiu seu corpo esfriar na chuva, e só teve tempo de ouvir um grito antes de desmaiar no chão molhado.






A menina acordou sentindo uma leve compressão no braço esquerdo, fria e agradável, tal qual um jutsu de cura. Debaixo dela, havia o que parecia ser uma cama macia e fofa. Ela acordou, piscando várias vezes, para tirar a água dos cílios.

- Graças a Deus, ela acordou! Está tudo bem com ambos, então!

Sakura reconheceu aquela voz primaveril. Ao olhar para o lado, encontrou Misha, a dona da voz, curando seu braço, os cabelos castanhos cheios de gotículas de chuva, e um sorriso no seu rosto. A Haruno perguntou-se o quão deveria ter sido forte o impacto causado pelo cansaço, já que teve a leve impressão de ouvir a amiga falando "ambos". Teria alguém mais ferido?

- Misha - a voz da Haruno saiu fraca e apagada. - Obrigada... eu sabia... sabia que voce ia...

- Não se esforce - pediu a outra. - Você está muito fraca. Felizmente nós conseg...

- E o Itachi? - disse Sakura, lembrando-se do propósito de ter vindo e quase atropelando as palavras. - Ele está aqui, não está?

- Itachi? - a voz inconfundível de Deidara veio de algum ponto à direita de Misha. Sakura esticou-se um pouco e conseguiu vê-lo, sentado no chão ao lado da companheira. - Ele saiu daqui a muito tempo. Você sabe melhor que a gente, un.

- Sim - concordou Sakura -, mas ele não voltou?

Misha e Deidara se entreolharam, como se estivessem cogitando a ideia de que a Haruno estivesse com algum problema sério no cérebro.

- Não, nós pensávamos que ele estava em Konoha, junto com você - replicou a garota de cabelos castanhos.

- Ele foi exilado - disse Sakura, deixando escapar um soluço. - Eu vim para cá, pensando que ele poderia... poderia ter vindo para cá.

- Para cá? Ha! - Deidara sorriu, incrédulo. - Até parece que você não o conhece, mulher. Se foi exilado, deve estar num lugar bem pior, un.

Misha lançou um olhar de censura para o loiro, que retraiu-se, parecendo incomodado. Em seguida, ela voltou-se para a Haruno.

- Nós vamos encontrá-los juntos, não se preocupe. - ela silenciou, provavelmente pensando em algo bom para dizer, e continuou: - e o seu time está bem, estão esperando lá fora. O seu bebê também, eu já verifiquei.

- Tim... - Sakura sentiu um leve calafrio percorrer seu corpo ao ouvir a palavra "bebê". - Que... que bebê?

Pela segunda vez, Misha e Deidara trocaram um olhar assustado. A garota lançou um olhar hesitante para Sakura, antes de dizer:

- Bem... pensei que você soubesse... você está grávida, Sakura.


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