Bem, depois do choque do capítulo anterior... eu já não esperava mais nada. O mundo tava perdido, e, não me surpreenderia, se eu fosse filha de J.K com Tolkien. Tá, eu deixo de viagem, e continuo a história.

Nos dias que seguiram, tudo parecia calmo. Mel já tinha pedido desculpas por ter me ofendido, além de confidenciado, contente, que ela e o Matt estavam ficando, para ver o que ia dar... e que, quem sabe... podia rolar um lance mais sério.

- Cara, Marietta bendita... O QUE ERA AQUILO? HUM? EIN! PERDIÇÃO DA MAMÃE MELISSA! – contava, histericamente, abanando as mãos e andando de um lado para outro. Eu tinha sinais de vertigem, quando ela agia assim. – A princípio, achei que ele estava só querendo me ajudar. Mas depois... ele disse... que gostou da Anne sim... mas que já tinha chamado eu pra sair antes, naquele dia no cinema. E que... e que... ele gostava de mim, OOOOOOWN.

- Como ele passa a gostar de alguém assim, de uma hora pra outra? – questionei, ignorando totalmente que a culpa fosse minha, por não ter percebido nada antes. Às vezes, cega pelo que me acontecia, nem notei (debaixo do meu nariz) o clima que rolava. E não tinha nada que os impedisse... é. Nada mesmo.

Mas, pra ser sincera, duvidei. Mel era do tipo que se apaixonava rápido... e desencantava mais rápido ainda. E Matt, não tinha nada a ver com ela. Enfim, isso nunca foi de minha conta, né? Se desse certo... ficaria feliz.

Jared e Anne... brigaram, muito... mas se acertaram. Só que eu, que não tinha nada a ver com o rolo, tinha que ficar vigiando as duas, para que não houve brigas nos estúdios. Virei guarda-costas, só pode.

E foi assim que se passaram mais três meses. Isso, três meses agitados, inesquecíveis, que foram carimbados e eternizados por quatro acontecimentos:

1: pela ficada de Mel e Matt (que eu já contei).

2: as aulas “divertíssimas” de Ray.

3: a amizade que ficava cada vez mais forte, entre mim e Matt.

E 4: o sentimento que ia nascendo entre mim e Syn. Vou descrever cada um com detalhes, para que eu possa ir ao outro capítulo contando sobre o mês de maio, quando iniciaram as gravações do meu filme. Mas, vamos por ordem.

Acontecimento 2: as Aulas com a Raven.

Não foram tão diferentes do que pensei. E lá estava aquela moça magrela, emburrada, gritando de um lado para o outro, que a arte de atuar era muito mais do que atuar. Era sentir, excitar, e um monte de bosta que eu ignorei porque não agüentava mais ouvir.

- QUE PUTARIA É ESSA AQUI? – berrou certa vez, com a régua na mão. – VOCÊ, HOMEM, TEM QUE SER ODIOSO. TODOS NÓS TE ODIAMOS! E VOCÊ, MARIETTA, VOCÊ TEM QUE SER EGOÍSTA, IRRITANTE. VAMOS, VAMOS, SE MOVA, SE MOVA.

- Ah, vai tomar no cu. – praguejei, empurrando-a. – Porra Ray, por que você é tão mal comida?

(***)

- MATTHEW, MEU FILHO, BEIJA COM VONTADE, FINGE QUE A MARIETTA É UM PEDAÇO DE CARNE BOVINA, COMO A PICANHA, EM DIA DE GREVE DE FOME NO SAAARAAA CARAAA! – gritava, histericamente. – NÃO DÁ, NÃO DÁ. AAAJA COMO HOMEM, SENHOR DO CÉU, COMO HOMEM.

- Ow sua galinha preta. – rebelou-se Matt, em um dia fodido do mal humor de Ray. – Vai arranjar um macho que te coma, porque eu não tenho culpa não.

- VOCÊ TEM QUE SENTIR A ARTE COMO SENTE O SEXO.

- Juro que se ela falar mais uma vez em sentir a arte, vou fazer ela sentir a arte do meu punho na cara dela, juro mesmo. – resmungou entre os dentes, acirrando os punhos.

(***)

- Isso, isso... viu como você não é tão burro? – sorriu Ray, com sarcasmo. Do outro lado, estavam Zacky e Syn, produzindo alguns sons com as guitarras. – VOCÊS AÍ, NADA DE SONS LEVES. TÊM QUE SER PESADO. TÊM QUE SER FODA.

- Ray, você já transou? – perguntou Syn, sem rodeios. – Esse seu stress, gatinha, é falta de homem!

- Como...

- Vem cá, vem cá delicinha. – correu Zacky, agarrando-a. Acabou dando um beijão, daqueles beeeeeeeem longos, para que, talvez, domasse aquela fera.

- UIIIIIIIIIIIII, ZACKY FODÃO. – gritei, batendo palmas.

Raven ficou da cor de um tomate, sério. Ficou cambaleando, sem falar nada com nada, e acabou cancelando a aula, por estar nervosa demais. AAAAH, mas ela adoorou que eu sei!

Acontecimento 3: a amizade com Matthew.

Não sei por que, mas acho que depois do lance de Matt com a Mel, a gente se aproximou ainda mais. Não era só impressão, tenho certeza disso. Passávamos horas conversando, na varanda. Falando de absolutamente nada... ou tudo.

- Melissa é uma pessoa muito linda. – contou-me certo dia, encostado na muretinha. –Vocês se parecem muito, por isso devo gostar tanto dela.

- Você gosta dela mesmo? Eu nunca percebi antes. – questionei, levemente irritada. Odiava deixar as coisas passarem sem ter “captado” a mensagem. Mal de jornalista, ignorem.

- Gosto muito. Não vou dizer que nos amamos... puuuxa, estou apaixonado. Nem ela também. Mas é assim que nasce as coisas, né? E to cansado de pegar mulheres vazias. E Mel tem uma inteligência formidável.

- Credo, ein Matt? Utilizando de palavras como “formidável”? VAI FALAR QUE VOCÊ É UM ET? – brinquei, bagunçando-lhe o cabelo, todo molhado.

- Aprendi com minha grande amiga Heagle, conhece-a? Uma pessoinha irritante que foi me cativando até se tornar o que é hoje: minha grande amiga. – sorriu, dando uma piscadela. Ai... deixa de ser lindo só pra variar, vai. – Uma filha da puta que chegou pra ficar, HAHAHA.

Matt era uma pessoa perfeita, e por uma fração de segundos, fiquei feliz por estar com Melissa. Não sei por que, mas eu não conseguia botar fé naquele relacionamento. Não sei se era por conhecer muito bem ambos... ou por desconhecê-los.

Era estranho ter que chegar ao almoço... e ver os dois se cumprimentando com selinho. Ou que, nas baladas, fiquem juntos, dançando. Ou que também, até por vezes, sugiram que eu e Syn fiquemos juntos, para sairmos em casal.

Estranho como tudo muda em tão pouco tempo. Alguém, por favor, vira minha vida, porque ela está de cabeça para baixo.

Acontecimento 4: Syn.  

Eu juro que não entendia meu lance com Syn, mas sabia que cada vez mais estávamos próximos. Vivíamos falando merda, zoando nossos amigos, visitando lugares diferentes... como se fossemos um casal. Mas logo caíamos na real, e percebíamos que tinha alguém no meio de nós: Hugo.

Foram bons, esses três meses. Deu tempo para que eu pensasse como que seguiria minha vida, se Hugo pedisse o divórcio. Eu viveria muito bem sozinha, acreditava. E, pra completar, nem estaria sozinha. NÃO TEM COMO SE SENTIR SOZINHA QUANDO SE VIVE NO MESMO HOTEL QUE MEL E OS AVENGERS, fica a dica.

Aí vocês podem estar pensando: “Porra Marietta, então larga do Hugo e fica com o Syn”. Não, não era tão fácil assim. Nós conhecemos muito bem nosso galinha favorito, e sabemos o quanto ele é FILHO DA PUTA! Puta que pariu, aquele respirava mulher, pior que Matt. Eu não queria arriscar e ser mais uma na lista dele, nunca fui mulher para isso. Daria tempo ao tempo, e se por algum milagre de santo Expedito das causas impossíveis (bota impossível disso), Syn gostasse de mim DE VERDADE... eu...poderia... até.

É... quem sabe. O foda era que eu não conseguia levar a sério o que ele dizia... porque tudo que ele falava era brincadeira! COMO LIDAR COM ISSO?

Eu não podia só ser uma escritora feia e genial, a ser famosa em Londres, sem ter que tomar essas decisões tão difíceis da minha vidinha medíocre? É PEDIR DEMAIS POR UMA LUZ, SENHOR! EU SOU DEÍSTA, MAS NÃO ATÉIA, POXA! OLHE, ESTOU AQUIII, HELLO?

- Tem falado com o brocha? – perguntou certo dia, brincando com uma bolinha que batia e voltava do porta-retrato. Acenei com a cabeça, negativamente. – Puta que pariu ein? Vai ser idiota assim na porra que o parta.

- Porra que o parta? Essa é nova para mim. – ri, botando a mão no rosto. Ai gente, como eu ria na companhia daquele lindo.

- Aff, ele é um idiota. Deixa você sozinha, aqui... to avisando, vou furar o olho dele e ele nem vai perceber. – disse-me com malícia, sentando ao meu lado, passando os braços pelo meu ombro.- E aí gatinha, rola?

- Opa, rola loucamente. Rola você vazando e criando os sons que Ray pediu que você... – disse, desvencilhando dele. Fiquei de pé mesmo, ao lado da mesinha, evitando aquelas tentações. Depois quando digo que Deus, Jimmy e Johnny riem das minhas tragédias, NINGUÉM ACREDITA. Cogito a hipótese de participar de um The Sim Divino, mas isso é outra história.

- Poxa Marie, não estraga nosso clima falando da Ray. Ela consegue brochar qualquer macho em plena ereção! – resmungou, dando uma cambalhota no sofá. Parou na minha frente, com um sorrisinho maroto, e aquele olhar que fazia as pernas amolecerem. – Vamos falar de...nós, sua linda!

- Deixe de ser bobo, Syn. – ri, tentando fugir novamente do assunto. – Hum... que tal a gente ir almoçar, ein? Devem estar todos lá embaixo.

- Acredito que Mel e Matt ainda estejam no elevador, dando um daqueles pegas violentos. – opinou, indo até a porta. – Os dois fazem um casal legal. Soltando labaredas da pura sedução de amar...

Filosofia mode on, by Syn Gates.

- Deixe de ser bobo e vamos. – empurrei-o, no meio de gargalhadas.

Era tão sinistro o quanto eu me sentia bem ao lado de Brian. Talvez... eu devesse ousar e dar um passo, não é?

Mas, infelizmente, aquele sentimento pelo Hugo vivia assombrando. Ainda estava em mim... como se, não tão cedo, fosse sair.