Era aproximadamente seis horas da tarde quando entramos no carro, para voltar ao Hotel. Eu já tinha feito amizade com metade da turma, e, possivelmente, faria com a outra metade no dia seguinte. Não sei se já disse, mas eu repito: sou sociável demais. Ainda mais com aqueles atores... tão cheios de ambições, que dariam a vida por aquele papel. Dariam a vida pela arte, que é muito além de ir e interpretar. É sentir. Ser. Muito gratificante para mim. Muito mesmo.

Até que compartilharia desse sentimento com meus amigos... se Matt deixasse eu abrir a boca e parasse de falar da Anne. Isso, falava tanto que até Mel já estava irritada. Diga-se de passagem: muito irritada.

- Aff, Matt, cala a boca. – gritou, a certa altura do campeonato. – Anne Anne Anne... você só falou dela! Nós conhecemos aquela figura irritante, não precisa ressaltar se ela tem cicatriz no fêmur ou na puta que te pariu.

- Poxa, não posso achar uma pessoa simpática? – defendeu-se, ajeitando-se no banco.

- Nós entendemos o que, pra você, é ser simpática. – ri, entendendo MUITO bem as intenções daquele Ogro pra cima de minha amiga. Podemos dizer que ele era viciado em sexo. Era um gato, e rico. Então... nada mais a declarar! - Para de gracinha porque ela é noiva do Jared. – continuei, dando aquele aviso. Minha missão era proteger os dois, isso. – E ela o ama muito, pra começar.

- Xiii, vocês também, ein? Tá, achei ela muito gata e interessante... mas isso não quer dizer que eu vá dar em cima dela. – suspirou, cruzando os braços. – Não sou tão ninfomaníaco como vocês pensam. Sei admitir quando uma moça não é do tipo que trai. Anne não é...

- Você é tarado, cara. É só bobear que você vai e PANZ! – esbravejou Mel, apontando o dedo para a cara dele. Bem... se eu falasse pra vocês que ela estava histérica demais... vocês iam ficar assustados, como eu fiquei?

Sei lá... ela sempre odiou Anne, mas não a ponto de criar uma guerra como aquela. Ao contrário: sempre a ignorou. Uma boa coisa de se fazer com alguém que você odeia tanto. Ah, talvez elas tivessem brigado novamente. Isso! Talvez isso.

Pensei que houvesse encontrado as respostas, até que Matt sorriu de canto, levantando uma hipótese que, até então, não havia cogitado. Será possível que...

- Está com ciúmes de mim, é Melissa? – perguntou, com audácia. Já minha amiga, diferente do que eu imaginava (que ela iria xingá-lo de filho da puta e socá-lo até a morte), corou, afundando no banco. Apenas resmungou, em sua defesa nada convincente:

- Não, eu só a odeio, é diferente.

- E por quê? – questionou, com teimosia.

- Elas brigaram. Eu conheço a Anne a mais tempo que a Mel, e elas a mais tempo que eu. Certo dia, em um dia de deprê, chamei as duas para me ajudar. Resumindo: as ideias se divergiram... e acabou ferrando tudo. Saíram até no tapa.

- E a maldita roubou meu namorado. – completou Mel, corando ainda mais. – Meu namorado.

- Ele também não prestava, Mel. Até em cima de mim ele deu.

Era lastimável o quanto Melissa tinha dedo podre para homens. Esse namorado que Anne “roubou” dela, era um carinha tipo Syn Gates, mas dez vezes mais escroto. Jogou em mim uma cantada, na frente do meu namorado, enquanto a Melissa ia ao banheiro:

- Se jogar o coco, rola ou não rola?

Além disso, teve outras e outras! E afirmo, de pé junto, que Anne fez de propósito. Ela nunca foi moça de namorar ou ficar com idiotas... mas sua birra com Mel era maior. Acho que foi por isso, também, que Mel deu uma entrevista bombástica sobre Anne, para a revista Elle. Saiu maior barraco.

Só que, o início de tudo, era desconhecido até mesmo para mim. Mas eu sabia: fora na época do fundamental/colegial. Mel, com seu jeito brincalhona, deve ter feito alguma brincadeira com Anne. A última, sempre grosseira e estúpida (o jeito dela mesmo), deve ter xingado. As duas brigaram e deu que deu.

Pronto, agora vocês sabem um pouco da Guerra Mundial das duas, minhas maiores amigas. Que tal voltar pra narração, ein?

- Tá... mas eu a odeio da mesma forma. Além de prepotente, é... é... argh! – gritou, agitando a cabeça. – COMO EU A ODEIO!

- Calma, meninas. Eu só achei Anne linda e interessante. APENAS ISSO!

Tudo bem que aquele interesse momentâneo de Matt me incomodava, mas como o conhecia, logo iria passar. É, eu achava. Um homem como ele, não era de se prender facilmente por uma mulher. Tá que Anne era diferente... era sedutora e uma ótima pessoa... ér... mas mesmo assim, Matt não.  

Ao chegarmos ao Hotel, dei graças a Deus. Pensei que, enfim, a boca do Matt ia se fechar, e que eu não ouviria mais seus comentários sobre Anne. Ahá, eu estava redondamente enganada, pra variar. Matt continuou com a mesma história com Zacky e Syn. E ficaram lá, debatendo sobre ela, como se fosse um objeto em exposição no museu.

- Nem na janta? - vociferou Mel, jogando o garfo na mesa. – Vão pro caralho!

- Melissa irritadinha e enciumada! – zoaram, mostrando a língua.

A Mel não estava de brincadeira. Porque, depois de um tempo de provocações, acabou levantando irritada, jogando o guardanapo no chão.

- Por que isso? – perguntei, vendo-a se afastar, bufando de raiva. – Nunca vi Mel de forma tão violenta.

- Acho que Melissa está com ciúmes do Matthew. – sugeriu Zacky, abocanhando um pedaço de pão. – Tá que ela odeia a tal Anne... mas aí já é demais. – e olhando para Matt, exibiu um sorriso. – EIIITA SEU FODÃO, ARREBATANDO CORAÇÕES PRA CARALHO!

- Vocês acham isso? – questionei, preocupada.

Será que era isso mesmo? E se Melissa estivesse gostando de Matt? É... talvez tivesse lógica! Lembro-me bem quando Matt jogou um chaveco... e ela aceitou, mesmo sendo brincadeira. Oh não... Melissa não estaria apaixonada pelo Matt. Não... estaria. Ou estaria? Eu teria percebido, se fosse verdade. Os dois nem ficavam muito próximos. Ou... Oh God! Será que... minha grande amiga... estava apaixonada pelo meu melhor amigo? Não, ela sofreria demais! Matt não faz do tipo que se apaixona por alguém... OH MEU DEUS, SERÁ QUE ERA VERDADE?

- Têm certeza, gente? – repeti, com dificuldade. Não sei, mas as palavras não queriam sair da minha boca. Estava totalmente assustada. E temia a resposta.

- Duvido. – riu Matt, um pouco sem graça. – Isso daí é birra de amigas. Fica sussa.

- Não seria uma má ideia. Só que eu ficaria de vela diante de dois casais. – disse Zacky, olhando para mim e para Syn. Atá, estava estampado na minha cara que eu estava gostando dele, ou o que?

Terminamos o jantar (que o assunto continuava a ser Anne) e subimos. Pela manhã teríamos mais reuniões.

Confesso que não tive um bom sono, como pretendia. A opinião de Zacky, as provas... as evidências. Tudo se encaixava, depois de um tempo. A forma que falava de Matt... e quando questionou se eu estava apaixonada por ele... e a forma de tratá-lo, sempre tão quieta (coisa que, definitivamente, nunca fora). E... no dia da viagem, que ela insistiu para sentar ao lado dele, e não deixei. Seu companheirismo com Syn e Zacky, que deviam apoiá-la nessa paixão proibida...

Mas proibida por que? Os dois eram solteiros, e livres. Oh Deus! O que fazer? E se Matt gostasse de Mel também? Oras, um casal no grupo, seria legal. Ou não seria?

- Preciso falar com a Mel sobre isso. – murmurei para mim mesma, virando na cama. Demorou algum tempinho para que eu dormisse. Eu precisava.