- CARALHO! – berrou ele, em resposta, aparentemente surpreso.

Bem... nem preciso dizer como eu estava na hora. Corada, não pensei duas vezes antes de fechar a porta com força, na cara dele.

- Não acredito, Marietta, você acaba de estragar a maior oportunidade da sua vida, inútil! – murmurei para mim mesma, trancando a porta. Matthew não voltou a bater, e nem ao menos demonstrou algum tipo de reação. É... eu sabia estragar com tudo mesmo.

Naquela tarde, decidi nem sair do quarto. Mel tentou conversar comigo, pelo celular, mas não atendi. Estava deprimida o suficiente. VI O MEU MATT SAIR PELA PORTA! Ou melhor, nem entrou, e era a chance que eu tinha de conversar com ele. Ele devia achar que eu era uma doidinha que ficava gritando enquanto os outros tentavam dormir.

De péssimo humor, cai na minha cama e apaguei. E fui acordar só pela volta da meia-noite, e com uma barulheira vinda do corredor.

- Depois o povo reclama que eu sou a barulhenta. – resmunguei, levantando-me da cama. Percebi que havia dormido com roupa, e cambaleando, fui ao guarda-roupa e peguei uma espécie de camisola. Vesti, largando tudo pelo chão. Coloquei uma espécie de hobby e fui averiguar o que estava acontecendo.

Não encontrei nada. Eram duas ou três moças que saíram correndo, gritando, por algo que eu desconhecia, ou não queria ver.

- Quanta gritaria! – resmunguei, cruzando os braços. Depois de esfregar os olhos, e voltar a enxergar algo a não ser borrões, olhei para o chão, depois de sentir uma coisinha peluda caminhar no meu pé. Achei que fosse algum brinquedo caído pelo chão... mas, Nossa Senhora das Escritoras Aracnofóbicas... QUE PORRA ERA AQUELA?

- Eu... eu... vou... morrer. – gaguejei, olhando uma coisinha peludinha, de oito patas, subir o meu pé. Era por isso então que as moças estavam gritando. Lógico, não tiveram coragem de voltar para avisar e saíram gritando. É, gritar... coisa que eu estava querendo fazer naquela hora. Já disse que... até hoje, eu desmaio só de pensar em aranha? SIM, SOU ARACNOFOBICA!

- Alg...uém... ajuda? – murmurei. Mas como eu queria que alguém me ouvisse, se eu não falasse alto? Não, não poderia correr riscos. Vai que a aranha se assusta e eu viro churrasco (WTF?).

- Não se mexa! – berraram para mim, no fim do corredor. A voz era de um homem. Pra ser sincera, eu não me importava em saber quem era, eu simplesmente queria aquele bicho longe de mim, para que eu pudesse desmaiar em segurança. Uma mão, com uma tatuagem de uma caveira, agarrou minha perna, e com uma espécie de pá, empurrou a aranha para longe. Ela não tinha me picado, mas eu estava a ponto de morrer. Do coração.

- Está bem? Ela te picou? – perguntaram, me chacoalhando. Eu estava ainda em estado de choque, olhando fixamente para um ponto reto (que, no caso, era minha porta).

Minhas pernas tremiam... e para variar, meu coração estava disparado. O homem que me acudiu voltou a perguntar uma ou duas vezes, e ao ver que eu não responderia, apoiou-me no ombro, entrando no apartamento que julgava ser o meu.

Ele não dizia nada. Sentou-me no meu sofá, e procurando algo que lembrasse uma torneira, tentou achar água. Eu tentei respirar fundo, piscar, e reparar em quem estava me ajudando. Juro que tentei, mas não consegui.

Fechei os olhos, pus as mãos no rosto e tive uma crise muito cabulosa de choro.

Eu já disse que tenho pavor de aranha? É, eu já disse, é só pra reafirmar que aquilo não era FRESCURA!

- Se acalma, por favor... aquela aranha não era venenosa. Ela é do Syn, aquele idiota que deixa gaiola aberta em qualquer lugar. Ela não te fez nada, não é?

- Syn? – murmurei, abrindo os olhos. Pela primeira vez, desde que o homem estava me ajudando, fitei com atenção seu rosto. E meu coração voltou palpitar ao ver que... era ninguém menos que M. Shadows. Pow... que pegadinha era essa comigo? Estava parecendo aqueles filmes de adolescente, cara.

- Está bem? Quer que eu chame alguém...

- Deus bendito, hoje é meu dia. – murmurei, um pouco mais calma. Exibi um sorriso nervoso, pondo a mão no rosto. – Segunda vez que eu encontro você cara, e por incrível que pareça, todas as duas foram uma bosta. O que mais falta acontecer?

Matthew riu. Passou as mãos pelos cabelos e começou a falar, um pouco mais alto:

- Ah cara... ouvi os berros das moças no corredor, e eu tinha percebido que Syn estava atrás da REV, então...

- Aquela aranha maldita se chama REV? Bela homenagem ao baterista mais foda de todos os tempos... - resmunguei, fazendo uma careta. Levantei-me do sofá, olhei para os lados e continuei. – Eu detesto aranhas. Detesto e tenho pavor.

- Normal... quase todas mulheres tem. Valary tinha pavor de aranhas e mosquitos. Toda vez que via algum, tinha um treco. Ai ai, bons tempos aquele.

Olhei-o surpresa, pela forma que falava da esposa. Mas eu não poderia questioná-lo, afinal, ele nem era meu amigo.

Respirei profundamente mais uma ou duas vezes, dei umas duas voltas em volta da mesa e tomei coragem, para agradecê-lo. Foi nessa altura do campeonato que eu percebi que trajava uma camisola, e ele... apenas uma bermuda. E aquele peitoral, todo de fora...

NÃÃÃÃÃO SENHOR, NÃO PODIA SER VERDADEEEE!

- Obrigada.

- Pelo que? Não precisa agradecer, Heagle. Ah, e quanto hoje à tarde... hum... eu não sabia que era você.

- Acho que me entusiasmei demais, quando fiquei treinando em frente do espelho novas falas para a minha personagem no livro. Eu sempre faço isso. – menti, tentando passar uma imagem um pouco mais louca, mas menos vergonhosa. Claro, melhor ele pensar que eu era uma doida com criatividade e cultura, do que uma doida nervosa que se estressa com pouco. Mesmo que esse pouco signifique minha carreira todinha. Ou eu esteja apenas sendo uma exagerada Drama Queen.

- Estou indo, já está tarde e é melhor você dormir. – disse Matthew, sorrindo. Abriu a porta, deu meia volta e saiu, gritando no corredor, antes que sumisse completamente:

- Prazer em revê-la, cara.

Acenei e fechei a porta, com uma puta raiva por existir. Duas chances. DUUUUUUUUUUUUAS! E EU A MONGOL NÃO HAVIA AO MENOS TOCADO NO ASSUNTO! Idiota, Marietta, Idiota.

- Agora vou tomar um banho, e morrer de insônia. Aranha maldita, aranha maldita, aranha maldita. Tem um nome foda... mas continua sendo maldita.