Por Justin.

Minha vida sempre foi complicada.

Tive que adquiri uma maturidade precoce, nunca tive uma infância apropriada a uma criança e tenho uma adolescência totalmente anormal, porém não digo que não tive bons momentos, pois tive e são sempre deles que eu me lembro quando não estou bem.

  Eu saí de casa muito cedo. Minha mãe não tinha boas condições financeiras e me ter como peso extra só piorava a situação. Ela ainda era jovem e tinha o direito de recomeçar, tinha o direito de ser feliz, afinal eu sempre a ouvia chorando baixinho toda noite por não poder me dar uma vida melhor e isso me agoniava... Fui embora sabendo que ela ficaria melhor sem mim, ela poderia se casar novamente, afinal meu pai e ela eram separados desde meus três anos e ele tinha outra família, ou talvez ela pudesse tentar arranjar outro emprego, e tudo isso seria mais fácil sem um filho de um casamento fracassado. Ser mãe solteira hoje em dia não é fácil.

Apesar de não ter muita noção do quê eu iria fazer, fiz uma mochila com algumas roupas e deixei um bilhete com os seguintes dizeres...

                                       “Vai ser mais fácil sem mim
                                         Por favor, não me procure
                                                   Eu amo você
                                                                 Justin”

Depois de uma semana rondando sem destino e plano nenhum eu esbarrei com Usher, desde o principio ele depositou uma confiança muito grande em mim, o que foi muito importante para mim e é ainda, afinal eu poderia ser um trombadinha, pois minha aparência demonstrava isso...

Ele primeiro me ofereceu um sorvete, eu hesitei em aceitar, porém aceitei depois nos sentamos e começamos a conversar, quando percebi já havia contado toda minha história para ele, e depois ele me surpreendeu mais uma vez quando perguntou se eu queria fazer algo bom, ser importante para o mundo, transformá-lo em um lugar melhor ou se eu ficaria sentado no banquinho do parque me lamentando e aceitando esmolas.

Fiquei encantado pelo fato dele não sentir pena de mim e respondi prontamente que queria transformar o mundo e então ele sorriu para mim.

Hoje em dia sou o que sou, meu “trabalho” sempre foi a melhor coisa para mim, além de ser minha válvula de escape, era também  modo de eu me sentir importante, o modo de poder transformar o mundo indiretamente em algo melhor, em algo seguro e meu “trabalho” continuou sendo a coisa mais importante até ela aparecer.

Sempre me achei forte o suficiente para agüentar qualquer coisa, depois de tantas dificuldades proporcionadas pela vida, achei que eu não era capaz de nutrir sentimentos, aquele que vimos pela TV, aquele sentimento tão comentado, porém sem definição complexa, só sentindo para saber que é algo avassalado e incontrolável. Eu experimentei, apesar de ter demorado a admitir e continuo sentindo apesar da distancia entre eu e ela.

Despedir-me de Lorenna era algo inevitável, mas mesmo eu sabendo, a dor não diminuiu, pelo contrário, eu não imaginava que podia doer tanto, o desejo de tê-la entre meus braços, o desejo de poder sentir os lábios dela no meu, o desejo de poder dizer a ela que eu a amo muito me causa quase uma dor física. Eu tento até mesmo não chorar, nunca pensei que dizer adeus fosse tão difícil... Lorenna mudou muita coisa em mim, todos os momentos ao lado dela me fizeram querer lutar pelos meus sonhos e enfrentar meus medos e se tem um motivo pelo qual eu continuo aqui, lutando, é por ela.

Continuar seguindo ás vezes é muito difícil, porém eu consegui... Depois que Lorenna partiu, Scooter e Usher chegaram aqui e 12 horas depois Hilton chegou com seu bando, foi fácil lutar contra eles, eles também não demonstraram resistência quando pegamos todas as esferas, eles pareciam cumprir um papel e de alguma forma eu sabia que eles não estavam dando tudo de si. Eu quase não saí afetado, apenas alguns hematomas, porém tinha alguma coisa acontecendo e isso era muito preocupante, pois se eles tinham uma jogada final, eu não fazia idéia de qual era.

No final de tudo o que ficou a entender é que nós tínhamos ganhado, pois agora nós estávamos com todas as esferas e eles haviam sumido na primeira deixa e mesmo depois disso acontecer, eu não consegui dar um suspiro de alívio...

Mas será que existia a oportunidade de me reencontrar com Lorenna, agora? Já que já estávamos com todas as esferas.

Porém Usher pareceu sentir que ainda faltava alguma coisa, como eu, já Scooter ficou muito animado para perceber alguma coisa.

- Ale – lu – ia, ale- lu – ia... - Scooter cantarolava – Ei, vocês são carrancudos assim mesmo ou o quê? Não vão comemorar? Nós ganhamos! Foi tão fácil!
- Por isso estamos carrancudos, foi muito fácil, fácil demais! – Usher respondeu

- Tem alguma idéia do quê eles planejam? – pela primeira vez me pronunciei.

- Eu não faço idéia, só sei de uma coisa! – Usher suspirou – baixar a guarda está fora de cogitação... Já estamos com a esfera, vamos manter assim!

Meus planos de encontrar Lorenna desceram pela descarga depois desse comentário de Usher.

O fato de não baixarmos a nossa guarda ficou resolvido, resolvemos sair do hotel que estávamos hospedados e ir para longe dali, apesar de não termos feito planos de sair da Grécia ainda...

Fomos para uma pousada que ficava a 5 horas de distância do hotel que estávamos hospedados, sair daquele hotel também foi um alívio, afinal, tudo naquele hotel me lembrava a ela, o cheiro dela estava impregnado no meu quarto, nos lençóis, no travesseiro... Em tudo...

Foi quase inacreditável o fato de eu ter tido uma boa noite de sono, talvez os deuses tivessem percebido que eu precisava de um pouco de paz, porém essa paz durou apenas algumas horas...

Eu estava no pequeno quarto, porém confortável, da pousada, estava deitado na cama, olhando o teto, por mais que tentasse não pensar nela, ás vezes ingenuamente pequenas coisas sobre ela me invadiam a mente, por exemplo, Sei que Lorenna adoraria esse lugar...

O barulho incomum do meu celular invadiu o local e me tirou de meus devaneios, saí da cama e fui procurar o aparelho, não puder evitar que certa esperança me invadisse. Grande parte de mim rezava para que fosse ela e a pequena parte que sobrará estava me chamando de idiota...

- Justin- atendi finalmente.

- Tudo bem com você rapaz?
- Desculpe, mas quem fala?
- Ora, ora, fico muito chateado de não se lembrar de mim, seu grande amigo... Hilton... - trinquei os dentes...

- O que você quer idiota? – disse rude.

- Se eu fosse você, não falaria assim comigo, pois no final pode não ser você a vir sofrer certas conseqüências...

- Do quê está falando?

- Estou falando da Lorenninha...

Meu coração falhou nas batidas...

- A deixa fora disso – disse sem força na voz.

- Tarde demais, ela já está envolvida nisso...

- O q-que  q-quer  d-dizer?

- Quero dizer que ela e seu filho estão comigo!
- F-filho?
- Ah, então você não sabia que ia ser papai...

- FIQUE LONDE DELA, ESTOU AVISANDO!
- Ficarei... Mas quero as esferas antes... Senão...

A ligação caiu... O celular escorregou até cair no chão, o desespero deixava um gosto amargo na minha boca, entrei em estado de choque, as lágrimas desciam e eu nem sentia...

Um filho? Eu teria um filho!

Corri até o quarto que Usher estava com o resto de minhas forças...

- Usher, Usher! – quase arrombei a porta dele!
- O que houve? – ele abriu a porta assustado – Justin? O que aconteceu?
- P-precisamos i-ir p-para L-Londres – falava entre os soluços – Lorenna está com Hilton... E meu filho também...