A Pequena Coleção de Memórias escrita por Scila


Capítulo 4
O Conto de Rose, Albus e Scorpius


Notas iniciais do capítulo

NA: Scorpius continua com a mesma personalidade do primeiro conto, mas acabou indo para Sonserina (o fato é que por mais que eu seja Corvinal e goste de irritar os Malfoy, Lucius e Draco nunca me perdoariam!). Albus foi para Sonserina (sorry Lucy! Mas a JK foi sempre injusta com a Sonserina... E também porque filhos não devem ser espelhos dos pais/substitutos sem graça da outra geração). Rose para a Grifinória. Mas no fim, as Casas pouco importam . Essa é uma das tantas visões de como eles interagiriam. Quem sabe eu não faça outras?



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Albus parou na esquina de um corredor para outro. Tenso, olhou para os lados, temendo ser encontrado, de novo. Mal tinha se livrado da cor meio dourada da última vez. Sabia que era má idéia mandar uma carta para a sua mãe pedindo ajuda, não importa o quanto Rose insistisse que James a obedeceria. James não obedecia ninguém, muito menos à uma carta da sua mãe, bem longe dele no momento.

De qualquer forma, lá estava ele de novo fugindo do irmão mais velho. Correndo para o único lugar a salvo em todo o castelo: a sala comunal da Sonserina. O problema era que James agora conhecia todas as rotas para os calabouços e adorava encurralá-lo no caminho. Seu consolo estava no fato que era dia de visita à Hogsmeade e James provavelmente estaria ocupado demais comprando doces para lembrar da sua promessa de mais uma piada à custa de Albus como vingança da carta para a mãe deles.

Mesmo assim, todo cuidado era pouco.

Ele gostava de seu irmão, sério. Mas desde que o Chapéu Seletor colocou Albus na Sonserina, James resolveu que achava tudo isso muito engraçado e não perdia uma chance de lembrá-lo. Na classe de Poções, no corredor, no Salão Principal, na biblioteca... Albus sabia que era um alvo fácil, por natureza escorregava, esquecia o que ia falar e ficava preso entre duas escadas móveis. Sua mãe dizia que eram sintomas de uma cabeça nas nuvens, Albus achava que estava mais para falta de cabeça.

Atravessou rápido o corredor e desceu finalmente às escadas para a segurança. A Sala Comunal estava vazia, grande parte dos alunos em Hogsmeade, o restante (aqueles que não podiam ir até a vila) estudando para as provas finais na biblioteca. De qualquer forma "Comunal" era uma palavra forte para aquele lugar, os sonserinos não eram de se socializar mesmo entre os colegas de casa. Estavam divididos em pequenas panelas que raramente aceitavam novos membros.

Albus sentou-se em sua cadeira favorita, num canto solitário perto da lareira. Aliviado colocou a cabeça para trás e encarou o teto escuro. Alguns minutos depois estava bem entediado. Não queria ler, não queria estudar e não queria fazer particularmente nada, mas nada estava o deixando entediado. Virou a cabeça para o resto da sala comunal. Percebeu então que não estava sozinho como antes acreditara. Em um canto bem mais afastado que o dele estava um garoto loiro pálido lendo um livro grosso.

Albus levantou uma sobrancelha, tentando lembrar de quem se tratava. A verdade era que boa parte do seu tempo livro ele passava com alunos da Grifinória, afinal 99 da sua família (ele sendo o 1 restante) estava naquela Casa. Sentava-se à mesa com eles em todas as refeições, estudava com sua prima Rose, jogava partidas de Snap Explosivo com James, Lily, Hugo e outros primos ruivos. Afinal, para ele, família era mais importante que rivalidade entre Casas. E à exceção de James, ninguém o perturbava sobre sua aliança sonserina. Durante as classes se virava sozinho, ou quando tinha aulas com a Grifinória, fazia par com sua melhor amiga e prima Rose. Portanto, apesar de finalmente reconhecer o menino como sendo da sua classe, Albus nunca tinha falado com ele.

Sabia quem era, claro. Albus podia ser solitário na Sonserina, mas pelo menos ninguém o perturbava, já o menino lendo livro era o alvo constante das piadas. No primeiro dia de aula chegou com um livro gigante (parecido com o que lia no momento) debaixo do braço e respondeu todas as questões impossíveis que os professores fizeram. Logo, a popularidade dele entre os mestres cresceu, mas caiu absurdamente com os sonserinos, que ambiciosos e sedentos por atenção ficaram com inveja dele e o excluíram das panelas. O segundo passo foi culpa do próprio menino, Albus concluiu, já que ele dedurou um dos alunos mais populares do ano, Cravo Parkinston, para o professor Slughorn. Slughorn, claro, só deu um pequeno aviso para Cravo, já que ele estava no seu famoso Clube do Slug e, portanto, era um de seus protegidos. E quem se deu mal foi Scorpius Malfoy, ou como gostavam de chamá-lo, Espantalho.

Fazia sentido então, que Scorpius estava na Sala Comunal sozinho, assim como Albus. Por um momento os dois meninos se encararam, Scorpius tirando o nariz pontudo do livro e finalmente notando sua presença. Era engraçado, Albus pensou tempos depois, o quanto você podia ter em comum com alguém e nem ter idéia.

Não querendo atrapalhar o colega da leitura, Albus desviou o olhar e resolveu mexer na lareira, alimentando seu fogo. Mas mesmo virado de costas e do outro lado da sala, podia sentir Scorpius o observar. Cada vez que virava a cabeça, no entanto, o menino estava com a cara escondida atrás do livro. Albus achou engraçado, quase riu, mas seria má educação.

Ao invés resolveu se aproximar e dizer "olá", como sua avó sempre dizia não custava nada ser educado.

- Oi, você também não está a fim de ir pra Hogsmeade? – sorriu, oferecendo sua mão. – Eu sou...

- Eu sei quem você é – ele respondeu curto, mas cumprimentando Albus do mesmo jeito. – É o filho de Harry Potter.

Albus suspirou. É, seu pai era famoso. Ainda era difícil se acostumar com a idéia.

- Sou sim.

Silêncio longo e incomodo.

- Então... O que está lendo?

Scorpius fechou o pesado livro e o levantou, mostrando seu título "As Mais Profundas Artes das Trevas". Albus engoliu seco.

- Parece... Divertido.

- Tem um capítulo sobre o seu pai.

Albus engoliu seco novamente.

- É... É mesmo? O que fala?

- Coisas.

- Certo. Que coisas?

Scorpius ofereceu o livro, indicando que Albus deveria ler por si mesmo.

- Não... Obrigado.

Silêncio. As coisas não estavam indo tão bem quanto imaginava.

- Por que não foi para Hogsmeade? – foi a vez de Scorpius iniciar a conversa.

- Ah... Você sabe, viu uma vez, viu tudo que tinha ver da vila – riu meio incerto.

- Da última vez que fui, não vi muita coisa.

- Não? Por quê?

- Me enterraram na neve perto da Casa dos Gritos, só deixaram minha cabeça para fora. Acharam que ia ser engraçado os fantasmas de lá me assustarem.

- Ah... Mas não tem fantasmas lá...

- Eu sei disso. Eles não.

Albus riu um pouco.

- Que babacas.

- É.

- Meu irmão já me fez de boneco de neve. Fiquei resfriado por uma semana, mas pelo menos não tive que ir nas aulas.

Scorpius só assentiu a cabeça de leve.

- É bem, vou deixar você com o seu livro...

"E ir para onde?", pensou de imediato, lembrando-se que ainda estava se escondendo de James.

- Você joga xadrez bruxo? – Scorpius o interrompeu, indicando o tabuleiro próximo a eles.

- Eu...

"... Sou péssimo. Perco até o do James". Mas então Albus se pegou considerando que não seria tão ruim jogar um pouco, até porque, não tinha para onde ir além de seu quarto e estava entediado mesmo.

- Ok. Vamos jogar.

Daquela partida de xadrez, a qual Albus perdeu escandalosamente, nasceu uma amizade. Scorpius se tornou seu primeiro amigo sonserino (e provavelmente único), companheiro de esconderijos e de vítima de piada alheias. Ao invés de irem para Hogsmeade, os dois ficavam em Hogwarts jogando xadrez ou mesmo Scorpius lendo e ele estudando. Albus ficou contente em finalmente ter alguém em sua própria Casa que não era um estranho. Porém, pouco da sua rotina normal mudou, ainda fazia suas refeições e, quando James não estava pregando uma peça nele, passava o tempo livre com o resto de seus primos e sua irmã Lily. Scorpius e ele não tinham muito em comum e o menino pálido preferia ler ao conversar.

A grande mudança, no entanto, ocorreu numa aula de Poções. Normalmente Rose seria seu par para fazer a lição do dia, mas ao chegar na classe Albus viu Scorpius flanqueado por Cravo e seus amigos. Sem pensar duas vezes eles pegaram o livro que Scorpius segurava e o jogaram dentro de um caldeirão com uma poção borbulhante. Logo depois foi a vez de todo material de poções de Scorpius. Que durante todo o tempo, tinha a testa cerrada e as sobrancelhas juntas, irritado, mas calado.

Normalmente Albus teria balançado a cabeça e seguido em frente para a mesa que dividia com Rose. Dessa vez sentia-se na obrigação de ajudar o amigo. Ao mesmo tempo o professor Slughorn chegou e Cravo foi se sentar perto da mesa do professor para tentar impressioná-lo. Albus sentou ao lado de Scorpius, emprestando seu material.

- Pode usar minhas coisas hoje.

Scorpius assentiu, agradecendo em silêncio.

Quando Rose chegou, no entanto, ficou furiosa em ter que fazer dupla com seu amigo Trevor Longbottom (que adorava deixar tudo na mão dela e ignorar suas reclamações). No final da aula Scorpius e ele estavam saindo da classe quando Rose se aproximou, irritada.

- Albus por que você me deixou sozinha hoje? Trevor nem ao menos me ajud...

Ela parou na metade sentença, ficando extremamentevermelha nas bochechas. Rose não tinha nada a ver com seu nome, não havia nada delicado na menina. Seu cabelo ruivo era embaraçado e normalmente preso em um rabo de cavalo descuidado, em aparência era uma perfeita mistura de seus pais, tio Rony e tia Hermione. Em atitude também. Era inteligente como a mãe, mas nervosa e explosiva com o pai. Albus muitas vezes tinha medo dela explodir como estava naquele momento. Tudo para ela era importante ser feito da maneira que achava que era a correta e ela pouco ligava para os sentimentos e opiniões alheias. Por isso foi muito estranho vê-la balbuciar incoerentemente ao invés de dar-lhe a costumeira bronca, ela começou a mexer com o rabo de cavalo e olhar para baixo.

- Rose, você está bem?

- Ahm... Er...

E com isso ela saiu correndo e desapareceu de vista. Albus levantou uma sobrancelha, confuso. Só foi muito mais tarde, jogando cartas com Lily e Hugo (ambos estavam no primeiro ano e na Grifinória) perto do lago, que ele foi entender o que havia se passado. Conversavam justamente sobre Rose.

- Ela me deixa louco – reclamou Hugo com uma careta, explodindo uma carta próxima. – Outro dia quis experimentar um feitiço novo avançado... Quase destruiu meu quarto.

- Parece que não tem muitos amigos. Tirando Trevor, que só conheceu porque o Professor Longbottom é amigo do papai – comentou Lily, parecendo preocupada. – É verdade Al?

Deu de ombros.

- Eu sou amigo dela. Quantidade não importa, acho.

- Ela é estranha. Mas papai e mamãe só têm olhos pra ela. "Rosie tirou notas excelentes", "Rosie, você é a melhor do seu ano de novo, venceu aquele peste do filho do Malfoy", "Rosie, vovó e vovô trouxeram bolo pra você". É um saco.

Lily riu um pouco das imitações de Hugo.

- Ela compete com Scorpius? – questionou Albus, encaixando uma peça.

- Você 'tá falando do Espantalho? Ela odeia ele porque ele vai bem em História da Magia e Transfiguração. São as únicas matérias que ela não tem a melhor nota do ano, fica sempre atrás dele.

Quem diria que havia um feudo entre seus dois amigos e ele nem estava sabendo? Dias depois estava estudando para as provas finais com Rose na biblioteca quando conseguiu coragem suficiente para perguntar sobre o assunto.

- Acho que estudamos o suficiente Runas... Vamos estudar Feitiços.

Estavam rodeados de pilhas de livros, até Madame Pince teria dificuldade em diferenciá-los no meio deles.

- Rosie...

- Hmm? – respondeu distraída com um livro.

- O que você tem contra o Scorpius?

O livro foi largado depressa e as bochechas dela ficaram vermelhas de novo. Albus começava a suspeitar que ela estivesse com Gripe do Dragão. Finalmente a menina se recompôs, tentando fingir que não estava afetada pelo assunto.

- O Espantalho? Que tem ele? Nem conheço...

- Hugo disse que você vive competindo com ele e...

- Você dá ouvidos ao Hugo? O bobo comia a própria neneca há alguns anos atrás!

- Quando ele era um bebê, mas...

- Pois é, não faz tanto tempo assim.

- Olha, a questão não é essa...

- Al, será que podemos estudar? Porque eu vim aqui para estudar, não conversar sobre pessoas estranhas.

Suspirou.

- É que eu queria esclarecer a situação, porque convidei ele para estudar com a gente...

A expressão de Rose foi terrível. Se seus olhos pudessem soltar fogo, eles soltariam.

- Você fez O QUÊ?

- Rosie...

Mas ela ignorou totalmente Albus e começou a murmurar sozinha, pegando os livros próximos e os arrumando de forma que só ela entendia. De repente estava sentindo o cabelo e tentando inutilmente deixá-lo mais arrumado, batia contra as bochechas, nervosa. Albus quase teve certeza que ouviu um "E a minha roupa, absolutamente terrível...", mas só podia ser imaginação.

Dez minutos depois Scorpius apareceu, pálido e levitando seus próprios livros. Olhou para Rose, estranhando sua presença, mas não mais do que seria educado fazer. Depois disse olá para Albus e se sentou ao lado dele. Por todo aquele tempo Rosie estava com as mãos juntas em cima da mesa, sorrindo forçadamente e suando frio. Albus não entendia como ódio podia mudar tanto uma pessoa.

- Scorpius essa é...

- Rose Weasley. Eu reconheci.

Rose levantou uma sobrancelha, vermelha.

- Você me conhece Espan...? – engoliu o insulto.

- Reconheci porque já vi você na classe de Poções e Slughorn faz chamada.

Albus só podia estar imaginando, mas jurava que vira uma expressão de decepção no rosto da prima. Os três passaram o resto da tarde estudando intensamente e pouco falaram exceto sobre a matéria. Em pouco tempo Albus estava entediado, principalmente porque a prima e o amigo tinham se esquecido completamente dele, envolvidos em discussões sobre as aulas.

- Eu anotei outra coisa que você, Scorpius.

- Percebi isso.

- Ótimo então pode ver que estou certa.

- Você anotar algo não faz este algo estar correto.

- Não anotaria se o professor não tivesse falado!

- Pelo que parece, anotaria sim. Porque ele não falou isso.

- Mas, veja bem, faz sentido não? Cortar as lesmas na direção anti-horária faz completo sentido! Porque assim o líquido inteiro flui mais, pois a corrente sanguínea corre nesta direção.

- Faz sentido na teoria, mas na prática é bem diferente.

Albus soltou um belo bocejo, espreguiçando seus braços bem expansivamente para demonstrar seu completo desinteresse pela discussão. O seu direito passou pela frente de Rosie e o esquerdo pela cara de Scorpius. Foi completamente ignorado do mesmo modo.

- Você se acha tão esperto.

- Acho que você se acha mais esperta do que todos.

- É, porque eu sou!

- Eu não me importo se você é – deu de ombros Scorpius. – Não faz diferença para mim.

- Gente... – mas Albus foi ignorado.

- É? Pois devia, porque esse ano vou me sair melhor do que você em todas as matérias.

- Parabéns – Scorpius continuou sem se impressionar. – Ainda não me importo.

- Quer dizer que não quer o título de melhor do ano? – riu irônica Rose, não acreditando que alguém não quisesse ter aquela posição.

- Não... Não quero. É idiota.

Rose ficou vermelha de raiva. Albus limpou a garganta.

- Que seja então Sr. Espantalho, eu não me importo com a sua opinião de qualquer forma!

E batendo o livro mais pesado que encontrou contra a mesa, Rose se levantou bruscamente da cadeira e saiu da biblioteca batendo o pé.

- Ela é divertida – comentou Scorpius em seu tom desinteressado de sempre quando Rosie saiu de vista. – Vamos estudar juntos de novo, outro dia.

Albus não acreditou no que acabara de ouvir. Como arranjara amigos tão estranhos?

O final do semestre chegou. As provas ficaram para trás, fizera um novo amigo e James não causara nenhum dano permanente em Albus, então o resultado de seu terceiro ano em Hogwarts foi extremamente positivo. Rose, no entanto, acabou perdendo seu título para Scorpius, que conseguira uma melhor nota em Poções e dessa forma, conquistando algo que nem queria.

Alguns meses depois estavam de volta ao Expresso no caminho para mais um ano. Dessa vez Albus dividiu seu tempo da viagem em dois. Primeiro passou metade da viagem no vagão da família Weasley-Potter, como sempre. Depois foi procurar Scorpius, o encontrando encurralado por Rose num corredor.

- Com licença, preciso passar. Está na hora de vestir o uniforme.

- Eu não me importo. Quem manda não vir preparado antes? – Rose se referia ao fato que ela já estava vestida bem antes de embarcar.

- Você é bem rude, não? – comentou Scorpius, tentando passar, mas na verdade não parecia incomodado nem ofendido.

- Como você conseguiu se sair melhor do que eu em Poções?

- O quê?

- Você me ouviu, cachinhos dourados.

Albus segurou uma risada. Rose, mais baixa que Scorpius, tinha seu dedo indicador no nariz do menino e tentava inutilmente o intimidar.

- Isso foi ano passado – respondeu. – Importa?

- É claro que sim! Porque tenho certeza que você colou!

- Não colei coisa nenhuma.

- Mentiroso.

- É rude chamar alguém assim sem ter provas.

- Se não colou o que fez?

- Cortei as lesmas em sentido horário – respondeu Scorpius com um raro sorriso de triunfo no rosto. – Olá Albus.

Rose estava vermelha de novo e balbuciando sem sentido. Albus cumprimentou o amigo e os dois entraram no vagão mais próximo, deixando Rose para fora. Porém, minutos depois ela entrou também, sentando ao lado de Scorpius, mas numa distância considerável. Os três não falaram nada pelo resto da viagem.

Estranhamente, a partir daquele momento os três se tornaram um trio. Scorpius não tinha conseguido uma entrada no clã Weasley-Potter, mas quando não passavam tempo com a família estavam com ele. Principalmente para fazer tarefas de casa e estudar. Afinal, estavam no mesmo ano e podiam trocar melhor informações.

Rose não parou de implicar com Scorpius, mas a inicial raiva se tornou em uma competição amigável. Albus estava contente em apenas observar de uma distância segura as discussões, sábio o suficiente para saber que se envolver não era uma boa idéia.

Para qualquer um observando de fora, a amizade de um trio de pessoas tão diferentes parecia improvável durar muito tempo. Mas a verdade era que Rose, Scorpius e Albus tinham muito em comum. E o que tinham em diferente, servia para completar suas forças.

Por exemplo, nenhum deles era socialmente apto. Scorpius era indiferente demais para conquistar amigos, Albus tímido demais para tentar e Rose simplesmente tratava os outros como ignorantes perante sua inteligência. Porém, Albus conseguia convencê-los a parar de estudar um pouco e relaxar, Scorpius sempre tinha um conselho estranho e potencialmente útil para dar e Rose lhes forçava a serem ousados e enfrentarem os garotos que os perturbavam (muitas vezes a chamavam de "guarda-costas" dos dois, para sua irritação).

Havia também algo em comum entre eles: expectativas. De um jeito ou de outro, suas famílias esperavam muito de cada um deles.

- O Chapéu Seletor ia me colocar na Grifinória – Albus confessara certo dia, quando discutiam a rivalidade entre Casas.

Rose abriu a boca, chocada. Scorpius parou de ler o livro que tinha.

- Não acredito! Então como foi parar na Sonserina?

Como ele poderia explicar?

- Ele me disse... "Vejo muita coragem em você, como sua família antes". Falou que eu me daria bem na Grifinória, junto com meus irmãos. Fiquei aliviado claro, ele me perguntou se era isso que eu queria mesmo. Só que ai eu vi a mesa da Grifinória, sabe? Cheia de ruivos e de parentes e... Me senti como sempre, mais um entre eles. Ai o Chapéu me disse "Mas também vejo uma vontade de ser mais e melhor que os outros". E ele estava certo – Albus ficou vermelho ao confessar seu segredo. – Queria me destacar, orgulhar meu pai e... Fazer jus ao meu nome. Queria mais.

- Nossa, isso é demais. Nem imagino o que o James falaria se soubesse que você escolheu a Sonserina! – riu Rose. – Você devia contar.

- Mas nunca! – Albus ficou branco com a possibilidade. – Não teria paz.

Rose revirou os olhos, virando sua atenção à Scorpius.

- Agora só falta você me dizer que queria ir para a Grifinória?

Ele balançou a cabeça negativamente.

- Claro que não – Rose respondeu sua pergunta sozinha. – Nada de interessante acontece na sua vidinha.

Scorpius franziu a testa, ofendido.

- Toda minha família duvidava que eu conseguiria entrar na Sonserina – ele confessou finalmente, após hesitar um pouco. – Aparentemente ler livros é sinal de alguma doença anti-sonserina.

Rose soltou uma risada curta irônica, sinalizando que estavam certos.

- Mas... Eles sabiam que livro você lê? – perguntou Albus, intrigado. – Quer dizer...

- É, realmente. Você lê assuntos que dificilmente fazem parte do currículo da escola – comentou Rose. – A maioria de Artes das Trevas. E faz isso por prazer. É meio perturbador, aliás, não pretende ser um Ditador do Mal quando se formar não?

- Rose! – protestou Albus.

- Só checando. Não custa nada – retrucou a menina ofendida.

Scorpius sorriu, como sempre achando divertidas as tentativas de Rose de perturbá-lo.

- Não quero dominar ninguém. Quero orgulhar minha família.

Rose ficou um pouco vermelha nas bochechas, aparentemente achando o objetivo de vida de Scorpius atrativo... Mas Albus revirou os olhos quando viu a reação dela.

- O que o Chapéu disse para você?

- Só: "Sonserina".

- Ah... Que... – Albus começou, mas Rose interferiu.

- ... Tédio.

- Por acaso você tem uma história melhor para contar? – Scorpius levantou uma sobrancelha.

- Claro que tenho.

- Então conta! – pediu Albus curioso.

Rose hesitou por um momento. Fitou brevemente Scorpius pelo canto dos olhos antes de começar sua história.

- Hmm. Só consegui entrar na Grifinória com muito esforço. Aliás, nem todos são que nem o Sr. Cabeça aqui, e tem que se esforçar muito!

- Era para você ir pra Lufa-Lufa? – riu Albus.

- Não! – cortou Rose, irritada. – Não me interrompe. Quando eu era menor chorava muito. E Hugo adorava me assustar com tudo mesmo sendo mais novo. Nem sempre fui esse exemplo de coragem, beleza e inteligência que está na frente de vocês!

Scorpius e Albus riram, mas ela ignorou os dois meninos.

- Um dia estávamos passeando no Beco Diagonal e pedi para minha mãe me levar até Floreios e Borrões. Claro que ela aceitou e logo nos distraímos com livros, e acabamos ficando separadas. Quando eu percebi estava sozinha no meio de várias estantes perdida num dos andares na livraria, sem sinal dela! Claro que comecei a chorar e morrendo de medo nem saí do lugar.

Scorpius agora ouvia atentamente.

- De repente aparece um menino, ele perguntou porque todo o escândalo. Depois de muito esforço consegui explicar. "Por que não vai procurar sua mãe então?" ele me disse arrogante! Só conseguiu me fazer chorar mais, porque não queria admitir que estava com medo de sair dali e me perder mais ainda. Surpreendentemente ele ofereceu a mão dele para mim, dizendo para procuramos ela juntos. Fiquei surpresa, mas que escolha tinha? Depois de um tempo finalmente achamos a mamãe toda nervosa e gritando com o dono da livraria atrás de mim. "Pronto, lá está ela. Da próxima vez seja corajosa e..."

- "...Não fale com estranhos."

Albus virou para Scorpius, confuso porque o amigo completara a frase. Rose sorriu, um pouco vermelha.

- Estou mais corajosa agora, não?

Scorpius assentiu.

- Mas ainda fala com estranhos.

- O que...? Scorpius foi o menino que te ajudou?

- Mais para tentou me dar uma lição de moral, mas é. Foi ele.

- Você sabia disso todo esse tempo? – perguntou Scorpius.

Rose ficou mais vermelha.

- Foi um evento traumatizante na minha infância, essas coisas são mais difíceis de esquecer – tentou se explicar em um de seus raros momentos de nervosismo.

Albus percebeu algo naquele dia. Várias coisas, aliás. Primeiro que Rose e Scorpius definitivamente não conseguiriam ser simples amigos, por bem ou mal. Segundo que os três tinham algo em comum: não só expectativa familiar, mas a vontade de ir além das expectativas, além do clichê e do esperado.

Demoraria muitos anos até que o restante do mundo conhecesse as várias razões para aquela amizade tão estranha.


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