A Pequena Coleção de Memórias escrita por Scila


Capítulo 3
O Conto da Esposa Número 1




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O Conto da Esposa Número 1


- Ah sim, eu ouvi dizer que ele casou! Quem diria, não? Depois de toda aquela confusão... Quem ia querer casar com ele?

- Confusão? Ele é rico. É fácil esquecer detalhes quando o rapaz é rico!

- Será? Então é mais uma fútil?

- Claro que sim. Quem mais ia casar com Draco Malfoy? Não dou nem dois anos.

- Com certeza não vai durar. Ouvir dizer que Pansy Parkinston é a próxima da lista.

- Talvez, mas a número 1 vai acabar com metade da fortuna dele se for esperta.

As portas do elevador do Ministério se abriram e as duas senhoras gordas saíram, a fofoca ecoando pelo corredor enquanto desapareciam de vista. Enquanto as portas da máquina se fecharam novamente, Esposa número 1 soltou um suspiro e moveu a mão até então escondida atrás de suas costas para perto do rosto, analisando o anel dourado recentemente colocado no dedo.

Era uma moça simpática, nem alta nem baixa. Quando olhava para o espelho não conseguia pensar em algum detalhe merecedor de descrição. A maioria das pessoas lhe informava que era bonita, como todas as loiras de famílias tradicionais e vindas da França deveriam ser. Não tinha opinião sobre o fato.

De qualquer forma, o anel, mesmo com todo o fardo que o acompanhava, combinava com sua mão. Talvez por ser tão... Normal quanto ela. Era o lembrete que precisava para ignorar o tipo de conversa como a das senhoras.

Fofocas, conclusões preconceituosas, rumores depravados, sussurros no trabalho, perguntas indiscretas... Não lembrava de ter concordado com tudo isso ao se casar com Draco Malfoy. Ao que parece, o herdeiro silencioso era persona non grata para metade da população mágica. O que significava que ela agora também era.

Olhou o anel de novo. O nome dele e o seu estavam marcados na jóia, mas começava a achar que o segundo deveria ser substituído por Esposa Número 1. Se fosse aberto para voto popular, tinha certeza que a mudança aconteceria.

Talvez o que mais a irritava era que a maioria nem se importava em descobrir o nome dela antes de inventar maluquices sobre sua vida!

As portas do elevador abriram de novo, dessa vez três homens respeitáveis entraram. Instintivamente escondeu a mão do anel atrás das costas e agradeceu à Merlin (e ao seu sogro) por não ter sua foto publicada em todas as colunas de fofocas do mundo mágico.

- Ótimo tempo não, Lawrence velho amigo?

- Sim, realmente. Não via céus tão limpos desde a festa da Segunda Vitória!

O terceiro homem que ainda não tinha dito nada soltou uma risada amigável, colocando a mão na vasta barriga.

- E que bela festa! Acho que foi a melhor primeira bebedeira em 50 anos!

- Todos resolveram abrir a melhor garrafa de vinho não? – riu o segundo, mais magro e narigudo.

- Não preciso nem comentar sobre as esposas! Nunca vi Marlene preferir dormir a ter uma conversa sobre seu dia!

- O que um bom vinho não faz.

- Realmente, realmente.

- Mas não devemos menosprezar as velhas tradições. Não somos mais jovens irresponsáveis. Hoje em dia dão mais valor para bebedeira do que um baile com gente educada.

- Inegável infelizmente. Há quanto tempo não temos um bom encontro entre famílias respeitáveis, com charutos de boa qualidade!

- Ah, mas tivemos o casamento Malfoy faz algum tempo. Ninguém dá melhores festas do que a madame Malfoy.

- Uma pena que o filho é um desperdiço de espaço! – comentou o magro.

- Ora ora, John, não seja tão cruel com o jovem irresponsável. Você mesmo já foi um deles! – riu o gordo. – Me lembro bem quando era a sua época de se aproveitar de doces garotas inocentes.

- Até eu tinha meus princípios, Lawrence. Ouvi dizer que o rapaz troca de namoradas como troca de roupa, não me surpreendo se trocar a esposa também.

Por um milagre o elevador parou e abriu as portas, Esposa Número 1 não se preocupou com educação e passou correndo pelos três homens, batendo contra seus ombros, para sair o mais rápido possível daquele cubículo infernal.

Como um anel no dedo poderia fazer tanta diferença? Desde que o anel, que ironicamente era seu conforto, foi colocado em sua mão o mundo parecia outro. De repente sua vida pessoal, que antes não era digna nem de um rodapé na coluna de nascimentos e mortes, virara tema de fofocas de elevadores.

Dois anos antes, quando ele entrou em seu escritório trazendo com si um cheiro de colônia exagerada e uma capa cara, ela não podia imaginar que chegaria naquela situação.

Sabia de sua reputação, claro, todos sabiam (se referia não a de mulherengo fútil, mas a de Comensal). Não era segredo seu envolvimento na guerra. No entanto, como muitos, Esposa Número 1 acreditou no depoimento de Harry Potter e não guardava nenhum rancor. Afinal, um homem pode ser tremendamente egocêntrico e narcisista e ainda assim um ser humano quase decente.

A segunda reputação só descobriu quando foi avisada que um tal de Malfoy iria passar em seu escritório. Como não tinha ouvidos para fofocas e rumores, preocupando-se com sua própria vida, não sabia como Draco Malfoy era até ler o motivo de sua "visita".

O emprego dela, nada glamuroso para a frustração de seus pais, era cuidar da papelada do Departamento da Lei Mágica, especificamente multas relacionadas à infrações do Decreto de Sigilo da Magia. E a multa de Malfoy era por realizar magia na frente de um grupo de trouxas. O motivo da infração havia sido impressionar uma moça depois de um número contestável de copos de vinho, roubando um iate caro trouxa com magia.

Portanto, quando Draco entrou em seu escritório Esposa Número 1 já possuía uma imagem em sua mente de como ele era. E não era uma imagem favorável, mas ainda bem ignorante da reputação que tinha que enfrentar atualmente.

Surpreendentemente Draco sentou em sua frente, esperou que lesse toda a papelada com muita calma, assinou todos os papeis, pagou a multa e sem nenhum drama foi embora, agradecendo a paciência dela. Uma atitude muito longe do menino mimado e fútil que imaginara.

Enquanto reconsiderava a opinião desfavorável que formou dele, Draco apareceu de novo alguns minutos depois perguntando se ela não queria tomar café com ele algum dia desses.

Sem pensar muito, disse que aceitava. Ainda não entrava em sua cabeça porque tinha dito sim, mas não havia dúvidas de que não se arrependia da resposta espontânea. Ele era um pouco bonitinho afinal e discutivelmente romântico. Roubar um iate era estúpido, mas também tinha seu apelo com o público feminino.

Como prometido alguns dias depois tomaram café juntos, perto do bebedouro do andar onde trabalhava. Nada glamuroso, mas novamente, Esposa Número 1 não era de ligar com esse tipo de coisa.

Ele perguntou seu nome, explicando que da última vez tinha esquecido graças à quantidade ridícula de papéis que ela o forçara a assinar. Ela respondeu, especulando se ele tinha se lembrado de perguntar o nome da moça do iate.

Pela primeira vez ouviu a risada dele e sentiu o frio na barriga que aconteceria para o resto da sua vida. Deveria ser ilegal alguém ter tanto poder com apenas uma risada.

- Eu perguntei o nome dela, o problema é que acabei esquecendo de qualquer jeito – respondeu.

- Alguém já disse que não é muito esperto falar a verdade em um primeiro encontro?

- Isso é um encontro agora? – replicou rindo.

Incrível como não precisou muito para desanimá-la.

- Se não é um, então o que é?

- Não me leve a mal, só queria conversar com alguém remotamente inteligente para variar.

- E eu ser inteligente impede de ser um encontro?

Lembrava claramente da maneira que sua sobrancelha se levantou para depois ser acompanhada novamente pela risada que ela passaria a adorar.

- Se você quer tanto que seja um encontro, então tudo bem. É um encontro.

Foi a vez de ela rir.

- Não precisa muito para te convencer – comentou sorrindo.

- Aparentemente.

A conversa não saiu muito de tópicos leves e Esposa Número 1 se despediu de Draco com a promessa de outro café em breve, dessa vez longe do bebedouro. Resolveu não contar do seu pequeno encontro para nenhuma das suas amigas, parecia ridículo comentar animadamente com elas sobre uma conversa perto do bebedouro, como se fosse a coisa mais incrível do universo. Se tivesse, no entanto, talvez tivesse descoberto mais cedo sobre a reputaçãopéssima que ele tinha.

A segunda vez que se encontraram foi no Beco Diagonal. Nada de especial acontecera, pelo menos nada de anormal em um encontro. Conversaram, uma piada aqui ou ali, flerte vai e vem. Foi divertido, mas novamente só falaram de assuntos bobos e nenhum dos dois arriscou perguntar algo pessoal. Ela notou que ele era bem mais pálido do que ela, algo raro, que seu cabelo era tão bem cuidado que por um momento suspeitou de suas intenções com ela (nenhum bruxo podia cuidar tanto do cabelo e ser, bem, interessado em bruxas). Percebeu que ele evitava multidões e não era fã de lojas das Artes das Trevas (não que ela fosse, mas a curiosidade que tinha sobre o assunto era inegável).

Da terceira vez que saíram juntos, foi ela quem escolheu o local. Visitaram Hogsmeade e se arrependia de ter os levado para lá. Se Esposa Número 1 tivesse acompanhado os jornais entenderia melhor que o problema não era Hogsmeade, mas sim Draco tendo que lidar com uma semana cheia de acusações contra sua família novamente.

Foi a primeira vez, de muitas, que teve que enfrentar o mau humor do futuro marido. E sinceramente, passou por sua cabeça uma ou duas vezes lhe dar um tapa e nunca mais vê-lo.

Tudo o irritava, do clima até o sapato que Madame Rosemerta estava usando (por algum motivo ele evitou a mulher como a praga, chegando até a fingir que tinha deixado cair um talher quando ela veio servi-los n'O Três Vassouras e convenientemente só achando o objeto depois que ela se afastara da mesa).

- Ex-namorada? – ela tinha brincado quando a mulher já estava longe.

- Não – respondeu seco.

- Mãe de uma ex-namorada?

- Não.

- Amiga de uma...

- Será que pode parar com as perguntas idiotas?

Não respondeu, mas seu humor acompanhou o dele em irritação pelo resto do encontro infeliz.

Depois daquele desastre passaram muito tempo sem se falar. A boa impressão que ele tinha causado nela rapidamente tinha se dissipado e Draco era muito orgulhoso para pedir desculpas.

Só foram se encontrar por acaso meses depois em uma festa de caridade em St. Mungos para levantar fundos e ajudar as vítimas da Segunda Guerra. Fora no lugar de sua chefe, que não gostava de eventos nem publicidade, e se sentiu um pouco deslocada por não conhecer ninguém.

Como todo deslocado em festas, Esposa Número 1 se colocou perto da mesa das bebidas e perto das janelas mais afastadas. Era o mais sensato a fazer, assim aparentava estar apenas pegando bebidas para colegas e ao mesmo tempo se enchendo de álcool para não sentir-se uma completa pateta.

Sua surpresa se deu quando encontrou Draco Malfoy parado perto da mesa de bebidas também. Enchia seu copo com uma quantia incrível de ponche. À primeira vista parecia que ele se encontrava na mesma situação patética que a dela, então se aproximou sem muita relutância.

Deveria saber que não seria tão fácil.

Quando chegou perto dele, o cutucou no ombro com um sorriso tentando ser simpática (afinal mesmo depois do fiasco em Hogsmeade, ele era a única pessoa que conhecia naquela festa). Ele se virou e a encarou sem dar sinais que lembrava quem ela era.

- Surpresa encontrar você aqui – começou, preferindo ignorar a ferida em seu orgulho. – Draco.

- Sim, realmente, porque o herdeiro dos Malfoy estar uma festa quase paga pela família dele é uma surpresa.

- De mau humor ainda?

- E isso é a da sua conta por que...?

- Realmente não se lembra de mim – riu amarga.

- Já disse uma vez para você que não sou bom com nomes.

Levantou uma sobrancelha, então ele sabia quem ela era, mas não sabia seu nome? Tudo indicava que Draco Malfoy seria o responsável pelo começo da tradição de não chamá-la pelo nome naquele dia.

- Adivinhe então.

- Luise? Madeline? June? Moça do Ministério? Garota do Bebedouro?

- Esquece. Quando você acertar, a festa já vai ter terminado.

Encheu um copo de ponche e pretendia se afastar dele, quando Draco a tocou no ombro e gentilmente sussurrou corretamente o nome dela em seu ouvido. Estava rubra quando ele se colocou em sua frente, sorrindo.

- O que eu ganho por ter adivinhado?

Conversaram pelo resto da noite e foi uma das festas mais divertidas que se lembrava de ter ido. Longe da multidão, os dois conversaram de tudo um pouco e finalmente ele arriscou contar um pouco sobre a família a qual pertencia. Sabendo que tinha um passado Comensal em sua história, Esposa Número 1 tentou demonstrar que acreditava que ele tinha mudado, como Harry Potter havia dito em seu depoimento. Mas Draco não quis saber a opinião dela, afirmando que preferiria não entrar naquele assunto.

Se beijaram pela primeira vez na porta da casa dela, depois dele a levar em sua carruagem. Seus sonhos naquela noite só giraram em torno dele e do que poderia vir depois do beijo.

O namoro evoluiu rapidamente e podia considerar seu envolvimento com Draco Malfoy "sério" em pouco tempo. Todo dia ele a visitava no trabalho, a levava para almoçar em algum restaurante interessante de Londres, se encontravam a cada oportunidade e começaram a passar todo o tempo livre juntos. Ela estava apaixonada em questão de semanas, ele... Bem, ele só confessou seus sentimentos no dia em que a pediu em casamento.

Draco era discreto quanto ao que sentia. Podia ser constantemente alvo de fofocas, acusações e até mesmo xingamentos na rua, podia responder a cada situação daquela com gritos, xingamentos, sarcasmo e ironia. Mas quando se tratava de romance, se guardava muito bem. O que tornou difícil algumas coisas para Esposa Número 1. Muitas vezes continuava no relacionamento por pura fé e sem provas românticas.

Talvez suas preocupações só foram realmente silenciadas quando ele a levou para conhecer seus pais. Do carpete da entrada até a colher de prata, a casa Malfoy era intimidadora. Surpreendentemente os pais dele não eram. Foram gentis, curtos, mas atenciosos, pareciam mais preocupados em não chamar atenção do que conhecê-la.

Naquela noite, quando voltaram para a casa dela, foi que Draco ficou de joelhos e a pediu em casamento, além de finalmente confessar que a amava. Para falar a verdade, ficou mais contente com a confissão do que com o pedido. Claro que aceitou na mesma hora, sem hesitação. Suas dúvidas tinham se calado.

Talvez o erro havia sido anunciar o noivado em público, pois foi durante essa época que os escândalos e fofocas começaram a chegar a seus ouvidos. Quando não tinham notícias quentes, os jornalistas gostavam de arranjar alguma matéria sensacionalista e antigos Comensais soltos eram suas vítimas prediletas. Infelizmente Draco era um alvo fácil, o que, por conseqüência a tornou um. Ele tomava cuidado para ninguém da imprensa tirar foto dela, (nunca soube se era por vergonha ou porque queria privacidade), o que tornou a especulação em torno dela gigantesca. Incrivelmente ninguém nunca se preocupou em acertar o nome dela corretamente ao mesmo tempo faziam de tudo para tirar uma foto sua.

Desde então era atormentada constantemente por alguma fofoca , algum rumor de infidelidade de Draco ou questionamento sobre suas intenções ao se casar com uma família rica. Principalmente indicavam que ela seria uma em uma lista longa de esposas. Nunca falaria para Draco, claro, mas todas aquelas conversas a afetavam. Se tantas pessoas tinham aqueles conceitos sobre eles, deveria ter algum motivo.

Quem era ela? Por que ninguém nunca se preocupava em perguntar seu nome? Porque tantos acreditavam que quem casara com Draco Malfoy tinha sido uma tal de Pansy?

Tentava focar nos momentos solitários com Draco, onde as intrigas pareciam ser algo distante, mas cada vez mais se perguntava se estava fazendo o que era certo. Poderia mesmo ela ser a primeira esposa de muitas? Raras foram as noites em que ela dormiu sem antes se questionar. Era tão surreal, pois o Draco que ela conhecia e o Draco que todos pareciam conhecer eram tão diferentes! Todos tinham uma opinião sobre o que ele era e o que faria, e tinham tanta certeza!

Uma noite teve a coragem de perguntar em voz alta sobre a situação, temendo que Draco se ofendesse com as dúvidas dela, mas como sempre ele a surpreendeu. Com uma das mãos ele delicadamente havia tirado alguns fios de cabelo do rosto dela, tentando conforta-la.

- Deixe eles pensarem o que quiserem, são só idiotas que não tem o que fazer.

Não foram as palavras mais calmantes do universo.

- Mas... É verdade o que eles dizem?

Dracoestava ofendido, claro, mas escondeu bem, pois a principio ela não percebeu.

- E, por Merlin, o que eles dizem?

Ela engolira seco, mas foi em frente já que não havia mais volta.

- Que... Bem, pra começar eles nem sabem meu nome! Me acusam de ser uma interesseira, que vai dar o golpe do baú! Sem falar nas incontáveis teorias de que você me trai. E que vou ser apenas a primeira de uma lista longa de esposas! E vou te dizer, se está pensando nisso, é estúpido, porque só dividiria sua herança e... E não seria muito legal da sua parte! Não que eu esteja interessada na herança, aliás, vocês são ricos? Porque todo mundo acha que escondem pilhas e pilhas de ouro em Gringotes, eu achava que você era rico, mas não tão rico para ter pavões dourados e... E... Uma piscina de moedas...

Houve uma pausa longa em que Esposa Número 1 ficou na expectativa da reação dele ao seu pequeno desabafo. Falar em voz alta seus temores os fizeram parecer extremamente bobos e infantis. Ele não poderia ter, afinal de contas, uma piscina de moedas... Ela teria visto!

Draco a encarava com uma expressão neutra no rosto até que... Começara a rir sem parar, para a enorme surpresa dela. No fim, até ela acabou rindo fracamente. Quando terminou o ataque de riso a beijou intensamente.

E foi a última vez que falaram no assunto.

Sim, ainda incomodava ela, talvez nunca deixaria para trás as fofocas totalmente, mas ela o amava e realmente conhecia Draco Malfoy. Repetiu esse mantra quando horas depois voltou no mesmo elevador, esperando pelo pior quando entrou e encontrou dois ruivos conversando animadamente. Ruivos, segundo Draco, só davam má sorte. Respirou fundo, mas não se deixou abalar.

O rapaz ruivo, alto e narigudo, assentiu de leve ao vê-la entrar por mera educação. A moça mais baixa e de cabelos longos a ignorou por completo, entusiasmada demais para perceber sua presença.

- E teremos flores amarelas por todo o caminho até o altar. Mamãe queria roxas, mas eu venci a batalha... Não a guerra, claro. Mas veremos! – riu a moça, enquanto o outro revirava os olhos.

- Gina, sério. Quem se importa com flores? Você devia estar aproveitando o noivado, não travando uma guerra sobre que cor os guardanapos vão ser!

- Ah, Rony, você não entende, né? É o meucasamento! Com Harry! Harry! Tudo tem que ser perfeito. E os guardanapos vão ser dourados.

- Você parece a Hermione.

Esposa Número 1 estava tão contente que o assunto não era ela e Draco, que cometeu o erro de relaxar e esquecer por completo da maldição dos ruivos.

- Que tem ela? Você nem a pediu em casamento ainda, seu lerdo.

- É, mas ela já está planejando tudo. É meio... Perturbador.

A ruiva chamada Gina levantou uma sobrancelha, sorrindo.

- Mais do que o normal?

- Muitomais. Quer dizer, você que tinha vê-la! Passou semanas pesquisando costumes de casamentos bruxos e trouxas, quer fazer a combinação perfeita. Leu inúmeras revistas, daquelas bem rosas e floridas, sobre o assunto. Sério, acho que ficou comentando do casamento dos Malfoy por semanas... O. Casamento. Do. Malfoy, Gina. É meio assustador. Ela usa a desculpa que pesquisa para o seu casamento, mas eu sei que é só meia verdade.

- Malfoy casou é?

Esposa Número 1 queria pular no buraco mais próximo e se enfiar dentro para nunca mais sair. Merlin, por que gostavam de torturá-la?

- Pois é. Incrível, eu sei! Afinal, quem iria casar com aquele narigudo covarde?

A ruiva soltou uma risada irônica.

- Aposto que foi pelo dinheiro.

- E eu aposto que ele vai trocá-la rapidinho. E sorte dela! Porque aquele fuinha deve estar mais mala ainda do que antes. E careca, dizem que ele está ficando careca. Ah bem que podia ser verdade!

Esposa Número 1 respirou fundo. Certo, Draco tinha acordado uma manhã gritando horrores, se olhando no espelho e jurandoque na noite anterior tinha mais cabelo. Ela respondeu, para o horror dele, que até gostava de carecas. Mas era só uma brincadeira, o coitado não precisava desse tipo de fofoca também!

- Quem é a coitada que casou com ele afinal?

- Eu vou lá saber... Nem lembro o nome. Dona Nariz Empinado Malfoy.

Os dois riram.

- Dona Comi mas Não Gostei Malfoy – ofereceu a moça.

- Dona Tenho Algo Enfiado no Meu Traseiro Malfoy.

- Dona Bebi Demais e Acordei na Cama Errada Malfoy.

Ambos gargalhavam com suas piadinhas oh tão engraçadas enquanto a paciência dela se esgotava assim como a humilhação aumentava. Esposa Número 1 não era de fazer escândalos, nem gostava de levantar a voz quando via alguém conhecido ao longe. Mas às vezes até mesmo uma tartaruga mordia.

- Meu nome é UNA MALFOY. Não Dona Sei Lá O Que, não Esposa Número 1! Una! E EU AMO MEU MARIDO – ela gritou, atrás dos dois. – E ele me ama!

O silêncio foi duro e longo. Lentamente os dois ruivos se viraram e encontraram a moça baixinha, loira e com um anel brilhante bem à vista. Não falaram nada e nem ela continuou seu grito, preferindo se encolher no fundo do elevador e ficar bem vermelha de vergonha.

O elevador parou, a luz no botão do andar se acendeu, a voz etérea anunciou a chegada. As portas se abriram.

Tentando manter sua dignidade, ela levantou a cabeça e passou pelos murmurando um "Esse é meu andar, com licença". Já fora do elevador, virou rapidamente para trás onde os ruivos continuavam encarando-a como se o próprio Harry Potter estivesse na frente deles.

Sentiu Draco passar sua mão pela cintura dela, a cumprimentando com um beijo rápido na bochecha (não era de mostrar carinho em público). Ao ver o rosto dela vermelho e sua respiração rápida, resolveu perguntar o que tinha acontecido. Ela só conseguiu apontar para trás, onde o elevador preparava-se para fechar suas portas.

Draco se virou e bateu os olhos com os dois Weasley, que ainda tinham as bocas abertas em surpresa. Enquanto as porta se fechavam finalmente, Draco ousou apertar o traseiro dela e gritar "É, ela casou comigo, algum problema?", se divertindo imensamente.

Vermelha, Una sorriu um pouco. Qualquer dúvida restante na sua mente tinha acabado de se esvair. Talvez ruivos não dessem tanta má sorte assim.


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Notas finais do capítulo

N/A: Numa tentativa de explorar o personagem misterioso que é a esposa de Draco antes que a JK resolva anunciar que na verdade era um travesti vestido de mulher, ou pior, Pansy! (Cala a boca JK hahaha). Enfim, espero que gostem.



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