Não Pare a Chuva escrita por sheisbia


Capítulo 17
Capítulo 17 - Dúvida




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A sensação de dormir sozinha em uma casa que não é sua não é das melhores, embora o confortável quarto me fizesse esquecer disso rapidamente. Eu estava mergulhada naquele travesseiro, meu corpo quente. Lembrei-me que tomei banho pouco antes de dormir e que antes disso estava quase desmaiando de sono. "Que horas são?", pensei comigo mesma, ao afastar a cabeça da cama e encarar a janela. Luz, muita luz. A claridade me obrigou a fechar os olhos novamente e abri-los com mais calma. Levantei, ainda sem muita energia para continuar em pé. Caminhei até o banheiro e lavei o rosto, eu acabei deixando meu celular ao lado da pia, ele marcava dez horas. Isso não era cedo.

Um pouco mais tarde, quando meu cabelo e rosto já não transpareciam que eu havia acabado de acordar, eu vesti um biquíni preto simples e por cima, apenas um short jeans e uma camiseta cinza clara, quase branca. Caminhei até a porta, tranquei o quarto e guardei as chaves no bolso, assim como Julie havia pedido generosamente.

Durante aquela manhã, Julie e Bill não trocaram ao menos uma palavra, pelo menos não na minha frente. Isso me deixou um pouco irritada, afinal, Julie era a primeira pessoa que se aproximou de Bill que eu não tinha raiva. Isso também me lembrou que Penny havia brigado com Gustav... Durante o café da manhã ela me contou o que havia ocorrido.

— Ele quer viajar para o Canadá durante alguns meses. Eu não gostei nada da ideia, disse que era contra — ela suspirou, sentada num banco. — Então nós brigamos. De novo.

— Canadá? Mas o que ele pretende fazer lá?

— É por causa daquele monte de problema da empresa do pai. Eu não entendi bem e não quis explicações.

— Ele vai levar o Yuri?

— Não, disse que ele vai ficar aqui com o pai, o que fez a gente discutir ainda mais... Eu só não queria ele longe e acabei o afastando ainda mais.

Penélope não chorava facilmente, isso eu digo com a maior confiança do mundo. Ela era forte, confiante, nunca desistia facilmente e tinha um coração enorme. Mas naquela pequena sala, enquanto encarva o chão, uma lágrima fina escorreu em seu rosto e eu tremi. Pra ser sincera, eu nunca me apaixonei perdidamente, nem mesmo por Matt, então não sabia o real motivo daquela lágrima, mas eu sei que doía.

— Não acho que vou conseguir encarar ele de novo — ela continuou.

— Vai sim — eu sorri e toquei com cuidado seu ombro.

— Eu...

— Penny, você tá me decepcionando assim, sabia? Achei que você não choraria por um garoto na minha frente, tsc... — eu sorri ainda mais ao ver um sorriso surgir também em seu rosto e abracei-a fortemente, ela chorou ainda mais. — Agora deixa de ser uma idiota apaixonada e vamos pra praia, tá?

Ela não pôde responder, pois o barulho da porta se abrindo a interrompeu. Era Georg, ele ia falar algo também, quando notou que Penny estava limpando o rosto com as mãos e se afastando de mim com um sorriso.

— Aconteceu alguma coisa?

— Só a emoção de esperar os meninos se arrumarem — eu disse, me levantando. — Então, vamos?

— Ah sim... — ele voltou a atenção pra mim. — Eu vim chamar vocês.

Penny também se levantou e, sem mais delongas, saímos da casa junto com o restante e nos dirigimos até a praia. Nós fomos andando, pois o lugar era realmente perto.

Naquele dia o sol brilhava, embora não aquecesse muito, diferente do dia anterior. Depois de quase quinze minutos, chegamos até a praia, que se encontrava quase deserta. Assim que meus pés tocaram a areia, enquanto eu segurava as sandálias nas mãos, virei de costas para o mar, apreciando a paisagem maravilhosa das montanhas. Pareciam bem perto de nós, como se eu pudesse tocá-la se tentasse. Ao me virar novamente, o mar azul e areia tão clara e fina preencheram minha visão.

— É um lugar lindo — Olívia afirmou.

— Pois é — Julie sorriu, andando à frente. — Vamos, há um barco esperando por nós.

Caminhamos durante mais alguns minutos até uma passarela de madeira, onde podíamos avistar vários barcos. Um homem aguardava ao lado de um deles, e assim que viu Julie, saiu e cumprimentou-a. Logo em seguida, pediu para todos entrarem no barco braco. Era um barco pequeno e bem cuidado, com alguns bancos brancos com detalhes em cinza. Me sentei no canto e repousei a cabeça sobre os braços, observando a dança que a água fazia no mar, o cheiro doce que aquele lugar guardava e a sensação de segurança... Pelo menos enquanto o barco estivesse parado.

Demorou um pouco, mas finalmente todos se sentaram. Bill ao meu lado junto com Penny e Georg. Olívia sentou-se ao lado de Tom e Julie à frente. O barco ligou e produziu um barulho que me incomodou à princípio. Um frio correu pelo meu corpo rapidamente, mas eu respirei fundo e mantive os olhos em qualquer coisa, exceto na água, o passeio não iria durar muito.

— Posso te perguntar uma coisa? — indaguei, Bill me fitou com olhos contentes.

— Você sabe que pode.

— Por que você e a Julie estão tão estranhos? — eu falava baixo e, devido ao barulho do barco, apenas ele podia ouvir.

— Estamos?

— Não se faz de idiota. Eu vi o que aconteceu no apartamento do Gustav, mas depois disso parece que vocês não se falam mais. Aconteceu alguma coisa?

— Não, Nin. A gente só não se falou mais — ele disse, calmo.

— Então não brigaram?

— Não.

— Mas então por que vocês não... continuam? — eu não encontrei palavras e comecei a rir baixinho.

— Eu não sei. Ela me evita.

— Você é idiota?! — eu gritei e todos me olharam, encarei todos, fazendo com que eles desviassem o olhar e eu pudesse continuar minha bronca. — Ela vive te observando, sorri quando você tá por perto e os olhos dela brilham quando alguém diz seu nome... E isso me dá vontade de vomitar — ele sorriu. — Mas a questão é que ela gosta de você, talvez só seja tímida demais... Ou pode ser por causa do Georg também, ele parece um irmão bem ciumento.

— É, pode ser.

— Pode ser nada. Eu quero que você fale com ela.

— Por quê?

— Porque você também gosta dela.

Eu pronunciei as últimas palavras com seriedade.

— Tudo bem — ele sorriu e eu fiz o mesmo, pousando a cabeça em seu ombro. — E você?

— O que tem eu?

— Por que evita o Tom?

— Eu o quê?! — afastei minha cabeça para que pudesse encará-lo com um olhar confuso, mas no fundo, eu sabia exatamente do que ele falava. — Eu não faço isso. Por que tá me perguntando uma coisa assim?

— Eu quero entender o que acontece entre vocês, é meio complicado.

— É complicado porque você tá tentando entender o que não existe!

— Eu nem disse nada.

— Disse que... Argh!

— Então existe alguma coisa, não é? — ele riu, uma risada tão pura e bonita.

— Eu acho que sim, só não sei o que é — sussurrei tão baixo e envergonhada, mas eu não conseguia mentir para o Bill, podia continuar mentindo pra mim mesma, mas não para ele. — Lembra quando você disse que a gente não ia dar certo? Então, eu pensei nisso e eu concordo.

— Não precisa se prender no que eu disse — ele disse sério. — Eu não vejo o futuro, só deduzi isso.

— Você e o resto do mundo.

— Desde quando o que o mundo diz é importante pra você? — ele ergueu uma sobrancelha, com um sorriso nos lábios.

Nós chegamos até o outro lado da praia e tudo parecia muito parecido com a visão anterior: areia, mar, sol... Mas aquela parte era mais fechada, cercada por pedras grandes, muitas e muitas pedras. Sorri assim que desci do barco, acho que a conversa com Bill me fez esquecer totalmente do enjoo que eu geralmente sentia.

Todos deixaram as coisas na areia e correram para o mar, como crianças que nunca viram uma praia na vida. Aquilo me fez rir, todos se divertiam, já estava na hora de fazer o mesmo. Eu tirei o short que vestia e em seguida, a blusa, ficando apenas com o biquíni. Lembrei-me que entre todas, eu era a menor ali... Julie era a mais alta, com um típico corpo magro de modelo, Penny era apenas um pouquinho mais baixa, tinha um corpo lindo de uma mulher adulta. Olívia podia ser quase da minha altura, mas tinha pernas gigantes e curvas que qualquer mulher invejaria. E tinha eu, aquela coisa miúda, branquinha e frágil como um bebê. Não como uma mulher.

De repente a vergonha tomou conta de mim. Todos já estavam esperando, apenas eu e Olívia estávamos guardando as coisas. Eu fiquei parada pensando nisso durante tanto tempo que não notei quando Olívia me puxou pelo braço, me levando até onde todos estavam.

— Espera, eu esqueci uma coisa — eu falei, mas ela não deu a mínima.

— O quê? Não precisa de nada pra nadar.

— Mas eu não quero.

— Por quê?

— Porque eu não... Eu não gosto desse biquíni.

Ela finalmente parou, pertíssimo de onde todos estavam e me fitou.

— Mas preto fica lindo, destaca sua pele e... — ela parou de falar assim que observou com atenção. Julie, Tom e Bill se aproximaram.

— Que demora gente! A água tá fria, mas nem dá pra notar — Julie falou.

No momento, a água do mar batia na minha cintura e sol nas minhas costas.

— Por que tá me olhando assim? — perguntei para Olívia.

— Você parece uma bonequinha, é tão linda! — ela me abraçou e apertou minha bochecha, me senti uma criança.

Quando ela me soltou, todos riam e eu pude visualizar o rosto de Tom. É, definitivamente não só o rosto, mas aquele corpo forte e sem camisa. Corpo, Tom, corpo, Tom... Minha cabeça estava exatamente assim quando o vislumbrei. Engoli os pensamentos e me concentrei no que eles diziam.

Tom, ela não parece uma bonequinha? — perguntou Olívia e eu corei de imediato.

— Sim — ele respondeu, dando mais razão ao rubor em meu rosto.

— Ficaria linda se fizesse uma tatuagem, sabia? — disse Julie.

O quê? — perguntei atônita.

— Ela ainda não tem tamanho pra isso — ele disse, desfazendo a expressão séria e admirada e sorrindo, provocativo, enquanto colocava uma mão sobre minha cabeça para dar ênfase ao "tamanho".

— Concordo, acho que vocês deveriam esperar para fazer tatuagens, acho muito cedo — Olívia disse, encarando Bill, porém ele se manteve quieto.

— Então tudo bem já que eu não me importo muito com o que você acha — sorri vitoriosa e dei as costas, procurando por Penny. — Chega de falar disso, por favor. Vocês viram a Penny?

— Bem ali — Julie apontou para um canto bem longe, onde Georg e Penny brincavam como crianças.

— Que patético — eu disse, suspirando.

— Que mau humor — Tom sussurrou enquanto os outros começavam uma conversa, se dirigindo para onde Penny e Georg estavam. — Nunca teve infância, não?

— Você acabou com ela — sorri irônica.

— Mentirosa.

— É verdade, eu teria sido uma criança feliz se você não tivesse jogado lama na minha roupa no dia do meu aniversário.

— Você ainda lembra disso? — ele riu. — Mas foi sem querer.

— Sempre é.

— Ah, pensa, se fosse não eu, você não teria uma paixão de infância — eu bati em seu ombro.

— Idiota, eu não gostava de você naquela época, eu te odiava.

— Naquela época? Então gosta agora?

Ele riu e eu o empurrei, ele sabia exatamente como me deixar sem graça. Uma onda forte bateu entre nós, molhando uma parte do meu cabelo comprido e ondulado, que caia sobre meus ombros até a cintura. A franja continuou intacta, mas agora meu corpo inteiro estava molhado e eu me arrepiava toda vez que um vento forte batia. Eu fitei Tom, tentava não olhar para seu corpo durante muito tempo pra não parecer uma completa idiota fascinada, mas não conseguia, somente quando ele sorria e seu piercing reluzia, só então eu conseguia focar minha atenção para seu sorriso.

— Eu quero ir embora — eu disse, depois de um tempo que estávamos conversando.

— Já?

— Tá muito frio.

De repente, sem razão alguma, ele se aproximou de mim e tocou meu cabelo, retirando alguns fios do meu rosto. Eu tremi e encolhi meu corpo, ele continuava me fitando com intensidade.

— Tem outra aranha em mim ou o quê?

— Nada não — ele sorriu. — Vamos?

Seu braço tocou minhas costas, deslizando até parar um pouco acima da cintura, me conduzindo até a areia novamente enquanto prendia nossos corpos juntos. Ele pediu para que eu esperasse e gentilmente chamou todos. Já era tarde, o sol era fraco e estava quase abandonando o céu, dando espaço para ele ser tingido de um laranja forte. Acho que nesse dia eu me dei conta de que estava apaixonada por aquele idiota... Era hora de voltar pra casa, definitivamente.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora, o Nyah tava dando erro, mas pra compensar o capítulo tá grandão! Mandem reviews que eu PROMETO que o próximo capítulo vai ser bem especial *-*