Não Pare a Chuva escrita por sheisbia


Capítulo 14
Capítulo 14 - Pizza?




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Eu continuei com Yuri no quarto, ele me contava sobre sua mãe e eu achava simplesmente maravilhoso ele sentir tanto amor por ela sendo que nem ao menos se lembra de como ela era e apenas a via por fotos. Mas uma coisa ficou clara, ela também o amou demais. Eu sentia isso, e esse amor era a única ligação que eles tinham.

Depois de conversar um pouco, nós voltamos para a sala. Tom e Penny estavam na cozinha, eu fui até lá enquanto Yuri ficou na sala.

— E então? A pizza chegou? — perguntei.

— Não, pelo visto ainda vai demorar — disse Penny, olhando a geladeira. — Tem doce pra dar e vender aqui, mas não tem nada de além disso.

— Não quero doces — eu disse, fazendo uma careta. — Vocês vão me ajudar?

— Você é muito teimosa, deixa os dois se virarem — disse Tom.

— Eu deixo, ou melhor, é exatamente isso que eu vou fazer. A gente vai dar uma volta e deixa os dois sozinhos. Eles precisam se sentir à vontade.

— Sem problemas — disse Penny. — Mas tem que tirar o Yuri de lá.

— Nós levamos ele.

— O Gustav me pediu pra cuidar bem dele, ele vai me matar só em descobrir que eu tirei ele de casa — disse Penny. — Ele é muito amado.

— Eu sei — concordei. — Não vamos sair do prédio, Penny. Relaxa.

— Então vamos logo — disse Tom. — Espera, não vai ficar na cara se todo mundo sair assim de uma vez?

— Vai — afirmei.

— Vocês vão na frente e levam o Yuri, eu dou um tempo e depois vou atrás, ok? — Penny disse e nós concordamos.

Eu e Tom saímos da cozinha e pegamos a chave ao lado da TV.

— Onde vocês vão? A pizza chegou? — Bill perguntou. — Ou é outra coisa? — disse, erguendo uma sobrancelha.

— O quê? — eu perguntei assustada. — Não. Nós vamos descer, eu esqueci uma coisa no carro — eu disse.

— Posso ir? — Yuri pediu, facilitando as coisas.

— Claro.

— Não demorem. — Julie disse.

Assenti e fomos para o corredor, abrindo a porta e saindo em seguida. Dentro do elevador o silêncio reinou. Tom me encarava, Yuri me encarava e eu encarava a porta, começando a ficar vermelha e xingando o elevador por ser tão lento! Assim que saímos dele, Yuri pediu para ir até a sala de jogos, concordamos, porém ela estava trancada quando chegamos até lá. Decidimos então ficar apenas pelo hall de entrada vazio, esperando Penny, mas ele nos fez esperar do lado de fora, onde fazia um vento frio.

Yuri não era uma criança comum, ele não fazia barulho, não irritava ninguém e conversava sobre qualquer coisa, exceto garotas e namoros! Ele ficou na entrada, brincando silenciosamente com o meu celular enquanto eu o observava, sentada no banco ao lado de Tom.

— Ele parece você — eu disse baixinho. — Quando mais novo, claro.

— Eu não acho — disse Tom. — Eu era bem mais...

— Chato e arrogante! E não mudou nada. Mas eu disse que são parecidos aparentemente.

— Obrigado pela parte que me toca — disse irônico.

— Tom... O que o Matt tava fazendo naquela casa pra esquecer o relógio? — eu perguntei, mudando totalmente de assunto e ignorando-o.

— Sei lá. Devia estar com alguma garota, talvez.

— Entendi — eu suspirei, sem expressão. — E por que vocês tiveram que ir com ele até lá?

— Para o caso do verdadeiro morador da casa estar lá.

— Como assim? Vocês só iriam se ferrar junto caso ele estivesse lá, não é?

— Não exatamente — ele disse. — O Bill conhece os netos do dono de lá, é um velho chato que tem a memória ruim.

— Entendi — ainda me restavam dúvidas, na verdade.

— Você ainda gosta dele? — eu o fitei imediatamente.

— O quê?! Como assim?

— O Matt. O Bill me contou sobre vocês.

— Bem... — eu suspirei novamente, desta vez apenas cansada. — Não. Mas eu ainda me preocupo, pra ser sincera — sei lá porque eu contei isso.

— Tem certeza?

— Tenho — respondi rápido e com um sorriso fraco. — Bill também me contou que você tinha uma namorada. O que aconteceu?

— Nós terminamos — ele sorriu bobo. — Não tem como, eu moro aqui agora...

— Você amava dela?

— Sei lá... Ela era legal.

— Você não é muito romântico — eu disse, observando aquele sorriso bobo.

Yuri parou o que estava fazendo e nos observou, talvez quisesse saber o motivo dos risos. Ele sorriu e voltou a jogar, dando as costas para nós. Tom tirou uma maço de cigarro do bolso, retirando um deles juntamento à um isqueiro. Acendeu-o, encarando o garoto com curiosidade. Se existia algum clima, ele acabara totalmente com ele no momento que a fumaça me alcançou.

— Isso pode te matar — eu disse, tossindo.

— Todo mundo vai morrer um dia — ele tragou. — Por que se preocupa?

— Não me preocupo, mas tá me incomodando!

— Não precisa ficar perto de mim, se não quiser — ele fora falsamente gentil e em seguida lançou-me um sorriso cínico.

— Patético — murmurei. — O que o Bill quis dizer com "ou outra coisa"?

— Sei lá. Ele deve imaginar que nós queremos ficar sozinhos para...

— Como assim? Você contou sobre... aquele dia? — eu interrompi baixinho, fiquei realmente envergonhada.

— Não, mas ele não é idiota. E não se sinta tão especial, o nome daquilo é impulso.

"Te ensinarei algo cujo nome é calar a boca, idiota!", pensei. Fiquei calada, porém ainda havia algo que eu realmente queria perguntar para ele. Tomei coragem e virei meu corpo para poder fitá-lo.

— Por que você tinha ido embora? — questionei, ele me olhou confuso.

— Do que tá falando? — seu olhar, quando perdia a pose de durão e tornavam-se confusos, ficavam mais bonitos.

— De quando era criança e foi embora.

— Eu tinha cansado daqui e, por mais que eu brigasse com o meu pai, ele era o meu pai. Eu não ia conseguir viver com ele longe por muito tempo naquela idade, então decidi que ia morar com ele... Só isso.

— Você vai voltar pra lá?

— Sei lá.

— Hm — abaixei a cabeça, imaginando se um dia eu talvez pudesse morar com o meu pai.

— Er... Nin, tem uma aranha no seu pescoço — ele disse, prendendo o riso.

— O QUÊ? TIRA, TIRA, TIRA, SAI, SAI! — eu gritei, com medo.

— É pra tirar ou sair de perto, droga? — ele franziu o cenho.

— É PRA ELA SAIR, IDIOTA! — eu fechei os olhos com medo.

— Fica calma, caramba! — ele segurou meus braços e eu fiquei quieta, ainda com os olhos fechados, senti uma mão deslizar pelo meu pescoço, enquanto a outra afastava meus longos cabelos, eu tremi.

— E se ela me picar e eu virar tipo o homem-aranha? — eu resmunguei. — Ou pior, e se ela me devorar?! EU VOU MORRER!

— Acho que o mundo não tem tanta sorte — ele disse e eu abri um olho apenas, depois o outro, mas bem pouco, o suficiente para ver que o cigarro já não estava em suas mãos. — Já saiu, chorona.

— Tem certeza?

— Aham — ele soltou um riso fraco e tirou suas mãos de mim.

— Não ri — eu fiquei séria. — Você também deve ter medo de alguma coisa.

— Não é isso — ele continuou. — É que você só assusta de longe, de perto é uma medrosa.

— Você tá querendo me irritar?

— Não — ele sorriu e depois se manteve sem expressão. — Mas você fica bonita irritada.

Quando eu abri completamente meus olhos, eu o vi tão perto que não sabia para onde olhar, me perdendo no seu rosto. Eu fiquei encarando ele, sem saber o que fazer ou dizer, quando seus lábios formaram um sorriso delicado e aproximaram-se do meu rosto enquanto eu estava estática. Eu senti seus lábios perto do meu, quando Yuri gritou:

— Penny! Por que demorou? — ele correu para onde ela estava e eu tratei de me afastar do Tom no mesmo instante, antes que algo acontecesse.

— Desculpa, eles me torturaram — ela disse, nos olhando. — Eles devem ter percebido.

— T-tudo bem — eu levantei. — Então vamos subir e esperar essa pizza. Está muito frio pro Yuri aqui.

— Sim, vamos lá.

Nós entramos no elevador e eu nem mesmo olhei para o Tom, envergonhada — mesmo que nada demais tenha acontecido. Antes de chegarmos no apartamento, eu pedi para que todos fizessem silêncio e eu entrasse primeiro. Eu abri a porta com cuidado e entrei sem fazer barulho, fui até o corredor e olhei no canto da porta. Julie e Bill estavam sentados no sofá, no meio de um lindo e meigo beijo. Bill a segurava com delicadeza enquanto a outra mão arrumava os fios de cabelo que estavam por cima do olho de Julie e ela sorria durante o beijo. Fiquei feliz, achei que não poderia haver um casal mais bonito em todo o mundo! O interfone tocou e eu o atendi para não incomodar o casal, era a tão esperada pizza.

Eu saí do apartamento e quase derrubei Penny, que estava com os ouvidos colados à porta. Todos, exceto ela, riram.

— Acho que quebrei um braço agora — ela fez um bico e eu ri ainda mais. — E então?

— Eles estão se beijando e a pizza chegou.

— Sério? Aaaaaaaaaaawn!

— Que nojo — disse Yuri e eu ri baixinho.

— Quando você tiver essa idade vai pensar o contrário — disse Penny.

— Duvido! — ele disse. — Mas, por que as pessoas se beijam? É tão... — ele era realmente inocente.

— Ah Yuri, porque elas se gostam muito, muito mesmo ué! — Penny respondeu e eu e Tom nos entreolhamos.

— Ou pode ser por impulso — eu declarei, apertando o botão do elevador e olhando muito rápido para Tom.

— Como assim, Nikky? Está estragando a magia — disse Penny.

— Mas não tô mentindo. Vai buscar a pizza logo, eu não quero descer de novo — respondi.

— Certo.

Ela entrou no elevador e ele fechou-se diante dos meus olhos. Eu abri a porta novamente, dessa vez fazendo bastante barulho para que os pombinhos notassem, se eles quisessem continuar aí o problema já não era meu. Entramos e eu decidi ir direto para a sala, cansada. Tom não disse nada, apenas foi em direção ao banheiro.

— Voltamos — eu disse assim que entrei na sala, eles já não estavam mais juntos e assistiam TV como se nada tivesse acontecido.

— Que demora! — disse Julie. — Cadê todo mundo?

— Penny está trazendo a pizza — eu me sentei no outro sofá. — Tom tá por aqui.

— Sei — ela sorriu. — Então, vamos pra cozinha?

— Vamos! — eu disse, animada.

Penny chegou rápido, com a pizza em mãos.

Todos sentamos à mesa e cada um pegou apenas um pedaço, considerando o número de pessoas. Apenas Bill e Tom repetiram quando todos haviam acabado de comer. Foi tranquilo, com piadas idiotas e coisas que eu só ouviria perto daqueles amigos. Um pouco mais tarde fomos todos embora, exceto Yuri e Penny, que dormiriam lá. Aliás, Yuri foi extremamente fofo comigo e pediu para que eu voltasse à visitá-lo breve. Eu concordei. No fim, aquela fuga não havia sido por nada.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram do capítulo? Bom, eu sei que vocês querem me bater por enrolar tanto, mas essa enrolação é necessária, juro! Deixem reviews *-*