O Sol brilhava, os carros andavam, então você diria, ah hoje é um dia normal. Mas não. Tivemos quatro terremotos em uma hora, e eles nos perseguiam. Portanto, não, não é um dia normal.  Além do mais, o mundo não era normal, e isso me deixava depressiva. Por que não poderia ser apenas um mito? Por que? Na verdade, eu imagino que isso seja resultado da TPM. Mas olhei para o lado e lembrei que não. Chuck estava no carro, e sua simples presença me irritava e me desanimava.

- Toda essa animação é comovente. – Chuck disse, quebrando o silêncio.

- Quer animação? Vamos pro Inferno, viva! – Eu disse levantando os braços e fingindo entusiasmo. Serena, no banco de trás, mastigava uma latinha de coca-cola e lia uma revista de moda qualquer.

- Por que não ficamos na praia? Los Angeles tem praias ótimas! – Serena disse com a voz levemente trêmula.

- Seria uma boa ideia, você poderia ver seus amigos cavalos marinhos. – Ele disse, olhando para mim e eu revirei os olhos.

- Se viessemos de avião seria bem mais rápido. – Praguejei pela quinta vez, enquanto me ajeitava novamente no banco.

- Se viessemos de avião seriamos mortos bem mais rápido. – Chuck ironizou, fazendo com que meu sangue fervesse.

- Sabia que você é extremamente irritante?  - Ele sorriu tortuosamente, o que era um mal sinal.

-  Você não parecia pensar isso quando me agarrou na boate. – Minha boca se entreabriu de espanto. Quem ele pensa que é?

- Espere. – Serena interrompeu. – Vocês transaram? – Chuck gargalhou auditivamente.

- Não! – Gritei.

- É óbvio que não!  - Ele disse entre os risos e eu arqueei uma sobrancelha.

- Está me chamando de feia? – Ele gargalhou um pouco mais, mas não me respondeu. Cruzei os braços no bando do carona e me calei. Ele realmente tinha me chamado de feia?

Passamos pela entrada de Los Angeles, e Serena puxou um papel, ditando um endereço para Chuck. Eu sabia que era em Hollywood, então passamos pelos letreiros  e chegando a um lugar meio estranho. Parecia uma gravadora. Na placa acima da porta dizia: Estúdio de Gravação M.A.C. – Proibida entrada de advogados, vagabundos e viventes. Por dentro, já não parecia tão normal assim. As paredes e carpete eram cinza, e no lugar de flores, haviam cactos, o que não deixava o lugar mais agradável. Os moveis eram negros. Haviam várias pessoas. Pessoas transparentes. Gente. Morta. Ótimo!

- Olá, queremos ir ao Mundo Inferior. – Chuck disse calmamente.

- Ah, é claro, e eu quero um aumento. – O homem de terno bufou atrás do balcão. Ele pareceu pensar por um minutos. – Ah, vocês são filhotes de deuses! Creio que não posso come-los. – Ele falou, triste. Parecia que aquela ideia era realmente tentadora. – Hades está esprando vocês, venham. – Aqueles palavras não era nada tranquilizadoras. Parecia, mais ou menos um “Ah, Hades está ansioso para mata-los!”. Olhei para o Chuck, apreensiva, e ele parecia tranquilo.

- Temos a benção de Zeus, ele não fará nada contra nós. – Sussurrou para mim enquanto pegávamos uma gôndola.

- Deuses, o rio Estige é tão sujo! – Serena murmurou, e eu olhei para as aguas. Haviam cordões, chapéus de formatura, um exame de gravidez, alianças e várias outras coisas.

- Quando as pessoas morrem, seus sonhos ficam no Estige. – O homem que conduzia a gondola falou como se fosse algo natural.

Saímos do barco e vimos duas grandes filas.

- Morte Expressa e Atendente de Serviço? – Perguntei franzindo cenho, e Chuck me puxou pelo braço pela fila do meio, Morte Expressa, que avançava rapidamente. Ele colocou a cabeça no meu ombro, e começou a falar calmamente.

 - A Morte Expressa vai ao Campo de Asfódelos. São pessoas que não querem arriscar o julgamento final. As duas outras, são para as que querem tentar o julgamento do tribunal e ir para os Campos Elísios. Apenas para pessoas extremamente boas. Mas caso você tente o julgamento e tenha feito algo realmente ruim, vai para o Campo de Punição, serem torturados pela eternidade. Garotas más como você. -  Eu ri, fazendo alguns espíritos se virarem.

-  Vai se ferrar. – Passamos pela fila, e uma escolta de mortos vivos nos acompanhou. As paredes era negras com detalhes dourados. Assustador, eu diria. Fiquei o tempo todo atrás do Chuck, e ele ria de vez enquando.

- Você vieram. – Eu bufei. Acho que ele queria dizer ‘vocês sobreviveram’.

- Aparentemente... – Eu disse com um toque de irônia. Serena me cutucou.

- Ah, senhor, gostaríamos de falar com você. – Chuck disse, e Serena o cutucou também. – Com o senhor. – Ele se corrigiu.

- Entrem, andem. Não vou matar você. – Hades falou com naturalidade e nós entramos, ainda desconfiados.

- É a primeira vez hoje. – Eu disse, e ele riu.

- Sabe, seu pai foi um grande herói. – o deus disse se sentando. – Pretende seguir os passos dele garota? – Chuck gargalhou ao meu lado.

- Ela fazendo algum ato heroico? – Gargalhou novamente. – Ela tropeça nos pés enquanto anda. – Ele falou apontando para mim e ouvi Serena gargalhar. Ia me defender, mas Hades o fez primeiro.

- Perceu também não era grandes coisas no inicio. Hércules também não. Tudo depende de treino criança. – Eu o encarei firmemente.

- Achei que quisesse me matar. – Como todo mundo, conclui mentalmente.

- Na verdade, queria. – Ele falou calmamente sentando no seu trono de ossos. – Mas percebi que você pode ser útil. Um dos meus filhos se rebelou contra mim. Ele é um bom garoto, mas está... – Ele pareceu pensar. – Indo para o caminho errado. – Não parecia estar sendo sincero. De qualquer jeito...

- Que filho? – Chuck disse, interrompendo a linha dos meus pensamentos. – O senhor só tem um filho adulto vivo, correto? – Eu percebi que falar senhor era um grande sacrifício para o Chuck.

- Dan Humphrey.