Retornou sozinho para o dormitório. Ao ver Akane passar pelo corredor, ele tentou chamar sua atenção, sem muito sucesso. A garota parecia estar magoada com ele. Tudo o que ele pode fazer é ve-la subir as escadas para os quartos das garotas, sem poder fazer nada. Dirigiu-se ao banheiro, trancando a porta e se despindo. Nu, ligou o chuveiro e deixou a água quente correr por seu corpo, pensando sobre o que havia acontecido antes.

Em seu quarto, Akane lembrou do momento que viu o garoto com Megumi, e irritou-se, se encolhendo em sua cama. Somente desceu para a janta, como de costume fazia assim como os outros alunos, e retornou para dormir.

No outro dia, Yuuki saiu junto de Akane. Porém, toda tentativa de interação com ela lhe concedia um tratamento ríspido, como a de uma tsundere enciumada. Estranhou o comportamento da garota, e para piorar a sua situação, após terem se encontrado com Emiko e Shizue, deram de encontro com o loiro.

— Ah! Yuuki-kun, Shizu-chan, Emi-chan, Akane-chan. Bom dia. – Acenou com um sorriso gentil em seu rosto. Todos retribuíram seu gesto exceto Miyagi, que chamou a atenção justamente por não ter dito uma palavra sequer.

— Akanecchi, o Tsukishima-kun tá te cumprimentando. Dá um bom dia. – Comentou e imediatamente notou o olhar irritadiço da moça. – Akanecchi?

— Ah, deixa ela. Não seria bom insistir, ela parece nervosa. – Respondeu o loiro, tentando apaziguar a situação. A cara da morena estava para de poucos amigos.

— Shizue-san… é que…

— Pode me chamar de Shizue ou Shizu se quiser, Yuuki.

— Eh… não, não. Eu não tenho essa intimidade toda com você e…

— Está tudo bem, não se importe com isso, não precisa ficar usando honorífico comigo.

— Bom… se você diz… mas é que você chamou a Megumi de “Tsukishima-kun”… e ela é uma garota…

— Eh? Não mesmo, Yuuki. Tsukishima-kun é um garoto. – O moreno ficou levemente incrédulo e virou seu rosto para o loiro.

— Megumi… isso é verdade? É verdade que você é um garoto?

— Olha, assim disse a Shizue-chan, mas ela poderia estar enganada, sabia? – Confundiu o jovem, e irritou a alaranjada.

— Ah, então você vai mentir assim, na minha frente? Yuuki, não acredite no Tsukishima-kun, ele é um garoto como você…

— Ou é assim que ela me vê…

A discussão continuou, deixando o garoto mais confuso até que ele enfim interrompeu a “briga” chamando a atenção dos dois. Perguntou de vez o que era a pessoa de cabelos loiros a sua frente, e Nakajima se meteu na frente. Yuuki decidiu não lhe dar ouvidos, pois queria escutar de quem estava se tratando aquele assunto a qual respondeu com um sorriso terno:

“O que eu sou? Bem… é complicado explicar, então para simplificar, digamos que eu seja o que você quer que eu seja.”

A confusão de Yuuki diminuiu mas não tanto, pelo tanto de informação que havia recebido. E aquilo, não ajudava muito.

— O que quer dizer com isso?

— Quer dizer que se você me vê como uma garota, eu sou uma garota. A Shizue-chan do contrário me vê como um garoto, então para ela, eu sou um garoto. Mas se ainda quiser debater e pensar sobre o que sou, sinta-se à vontade.

Hisashi decidiu se contentar com aquela resposta, apesar de não estar ainda satisfeito. Não se importou por hora, e quando olhou para Akane, esta, que lhe observava com o canto de seu olho, somente lhe deu os ombros. Dentro de si, uma sensação estranha, como se sentisse algo a se revirar. Um desconforto inexplicável pairava em si, a qual ela mascarava com sua expressão irritadiça.

— Akanecchi, tá tudo bem? – Mais uma vez perguntou, e dessa vez recebeu uma resposta, azeda, por sinal. Sabia que a garota estava com ciúmes dos dois, e para não irritá-la mais, decidiu não insistir no assunto, a deixando sozinha por aquele momento.

Já no colégio, durante a aula, a jovem conseguiu prestar atenção nas aulas, mas hora ou outra, olhava para Yuuki, antes de reagir da mesma forma, como se ele não fosse importante para ela.

O final do período havia chegado, e Akane se levantara para sair. Como se não quisesse nada, o moreno decidiu ir atrás dela. Tornou por se encontrar com Megumi, mas não lhe deu a atenção devida, pedindo-lhe desculpa por tal comportamento, continuando no encalço de Akane.

— Deveriamos segui-los? – Questionou Nakajima a vê-los partir.

— Acho que a melhor decisão seria deixar eles. – Opinou Emiko passando ao lado da alaranjada e indo trocar seus sapatos.

Durante o caminho, ele fez questão de manter distância dela, mas não com o intuito de se esconder, pois sabia que não havia como, já que tomavam o mesmo trajeto para retornar ao dormitório. Seu objetivo era outro, e na metade do caminho, notou que o havia falhado, pois Akane se virou bruscamente em sua direção. Seu semblante não estava nada agradável.

— O que você quer comigo? – O garoto tentou dizer algo, sendo interrompido quase que instantaneamente. – Você já não tem a sua coleguinha, a Megumi? – Novamente, nenhuma chance lhe fora dada a falar qualquer coisa. – Então o que você quer comigo? – Enfim lhe fora dada a chance de poder proferir algo.

— Eu só quero a explicação do que está acontecendo. – O rapaz falou, e ela tomou aquilo como se fosse algum tipo de ironia, como se o mesmo estivesse brincando com ela.

— Explicação? Essa é boa. Agora você quer saber o por que. Me desculpe, mas está perguntando a pessoa errada.

— Como assim? O que quer dizer com isso? – E não fora respondido, enquanto ela retornava seu caminho. – Não me diga que está com ciúmes?!

— Ciúmes? Até parece. Não há motivos para eu ter ciúme de você. – Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela o mandou deixar-lhe em paz, e correu a frente. Tudo que ele podia fazer era vê-la sumir no horizonte. O vento soprou contra o menino, algumas folhas a voar até que tal se acalmou. Decidiu retornar sozinho para o dormitório.

Shizue retornava para sua casa, acompanhada de Emiko até certa parte do caminho. Durante sua trilha, resolveram falar sobre os dois.

— Ne, Emi… acha que isso pode ficar pior do que já está?

— Se o Yuuki não resolver essa situação e rápido, pode crer que ele vai estar cavando a própria cova.

— Entendo… Deve ser dificil pra ele, não?

— Não só pra ele, mas para a Akane também. Deveríamos ajudá-los da melhor maneira possível, de forma a não piorar tudo. – Nakajima concordou com um aceno.

Retornando as duas para suas respectivas casas, a jovem de cabelos alaranjados chegou em sua casa, cumprimentou seu irmão mais velho, e adentrou a área de serviço. Despiu-se e fora tomar seu banho, matutando sua simples ideia enquanto a água percorria seu corpo nu.

Após um banho bem tomado, e devidamente vestida, ajeitou o jantar para ambos, e assim se alimentaram. Horas depois, em seu quarto, pegou seu celular e discou um número.

No dormitório, em seu quarto, o telefone da garota tocava, e ela então pegou-o para ver de quem se tratava, e atendeu.

— Moshi moshi? Akanecchi?

— Shizue-chan… tudo bem?

— Ah bem, eu estou né… mas e você?

— Eu? Ah, você sabe… passando por mais algumas…

— Entendo… Me diz, por que não confronta o problema de frente?

— O Yuuki-kun é quem tem que saber de quem ele gosta… ele tem a liberdade de escolher…

— E por conta disso você não vai mostrar pra ele seus pontos positivos? – A garota ficou calada. – Você gosta dele, não é? – Mais uma vez, nada se disse. Shizue decidiu verificar se a garota havia desligado, todavia, ela ainda estava na chamada, escutando. – Vou tomar esse seu silêncio como um sim. Então, se você gosta dele, deveria lutar por ele. Não é porque o Tsukishima acabou de aparecer que o Yuuki vai te dar as costas e dedicar sua atenção toda pra ele. Ele também vai te dar atenção, assim como ele vai dar atenção para o Tsukishima. Então não desiste dele só por isso.

As palavras de Shizue acabaram por levantar o espirito da morena, que agora estava decidida. Por mais alguns minutos, gastaram tempo jogando conversa fora antes de se despedirem. Akane então configurou o despertador em seu celular, e se ajeitou para dormir, ansiando pelo dia de amanhã.