Descendo as escadas do dormitório, bateu a porta da área de serviço e perguntou se havia alguém ali, recebendo uma resposta de uma voz feminina. Esperou até que saísse para poder enfim tomar banho. Trancou a porta, despiu-se e entrou debaixo do chuveiro. A dor que sentira por ter caído da cama após o pesadelo ainda persistia em seu rosto, e quando esfregou seu rosto a fim de despertar daquele estado de sonolência, se intensificara ligeiramente.

Terminado seu banho, vestiu seu uniforme escolar e saiu da área de serviço enquanto um outro aluno esperava sua vez. Ao passar por ali, seu perfume brevemente hipnotizou o jovem que ali estava, antes de entrar. Yuuki saíra do quarto e ao passar em frente a escada, o mesmo aroma chamou sua atenção, o fazendo olhar em volta, até ver brevemente uma figura feminina a sair do dormitório. Pouco depois, quando saiu, estava lá Miyagi a lhe esperar, encostada no muro.

— Bom dia, Yuuki-kun.

— Bom dia, Akane. – Começaram a andar juntos, a caminho do colégio. Um incomodante silêncio pairava ao arredor daqueles dois. – C-Conseguiu dormir bem? – Perguntou. A menina, por um momento, pensou no pesadelo que teve antes de cair da cama.

— Consegui. – Mentiu. – E você, Yuuki-kun? – O jovem retrucou positivamente com um aceno. Em uma parte do caminho, se encontraram com Emiko e Shizue, e relembrando a cena de anteriormente, Miyagi corou, tomando um pouco de distância do rapaz. Ele não entendeu, e tentou se aproximar, entretanto, o mesmo foi impedido de fazê-lo.

— Bom dia, vocês dois. – Abraçou-os pelo pescoço, os unindo novamente, os deixando ruborizados, respondendo. Um puxão para trás, todavia, surpreendeu os três jovens.

— Shizu. Não vê que está os incomodando? – Questionou, notando o rubor em seus rostos.

— Eh? Qual é, Emi. Você sabe que eles ficam muito bem juntos. – Ao dizer aquilo, os dois se assustaram simultaneamente. – Viu, até reagiram em sincronia.

Como forma de tentar colocar juízo em sua cabeça, Sugihara a pegou pelas duas bochechas com seus dedos e os puxou, de forma a provocar dor na colega.

— Isso é pra você aprender a respeitar o espaço e a privacidade das pessoas. – Largou as maçãs do rosto dela, e começou a empurrá-la pelas costas. – Agora vamos! Nos desculpem, vocês dois.

Acenaram juntos, sem notar a sincronia entre si. Vendo as duas se distanciarem, continuaram a andar em silêncio por todo o caminho até o colégio.

Chegando lá, trocaram seus sapatos e seguiram rumo à sua classe para mais um dia de aula. Mal Akane colocara o seu pé para dentro da sala, e os rapazes estavam lhe rodeando, com o intuito de separá-la de Hisashi o máximo que podiam.

— Você parece linda hoje, Akane-chan… – Comentou um, e ela, sem jeito, agradeceu.

— Você acha que ela tá linda só hoje? Ela esteve linda desde que chegou nessa sala.

— Ah, e esse perfume… que doce aroma. – Foi neste momento que Nakajima colocou a mão sobre o ombro dos rapazes que a rodeavam.

— Ei, seus fedorentos… – Ao ouvirem sua voz, que não parecia nada animada, engoliram seus orgulhos a seco e começaram a tremer. – … vocês podem, por gentileza, ficarem a uns dez mil quilômetros de distância da minha colega? Pois se vocês contaminarem ela com o seu mau cheiro, ela vai ficar traumatizada para sempre, e eu vou ter de fazer algo a respeito disso.

Os garotos se afastaram lentamente dela, a deixando sozinha em sua carteira, somente com a menina ali do lado. Quando Miyagi estava para agradecê-la, a alaranjada a interrompeu.

— Não precisa me agradecer. Eu só fiz o que uma amiga de verdade faria. – Respondeu, caminhando para sua carteira. – Afinal, você já tem a quem complementar seu perfume, né? – Contou, lançando uma piscadela para a jovem, que ruborizou, e olhou para Yuuki, discretamente.

“Se soubessem que estavam flertando com um garoto feito eles…” Era o que Hisashi refletia enquanto a professora se posicionava a frente do quadro-negro para poder começar a lecionar.

Períodos se passaram e o sinal a tocar sinalizava o horário do intervalo. Enquanto Akane aproximava a carteira dos dois para poderem lanchar juntos, ele assim se levantou, despertando sua curiosidade.

— Eu vou comprar um Pão de Yakisoba.

— Não trouxe o Bento hoje? Se quiser, eu divido do meu.

— Não precisa, Akane. Eu já volto. – Respondeu, saindo de sua classe, e indo em direção ao refeitório. Havia uma pequena fila, e o Yakisoba Pan estava começando a ficar escasso, mas por sorte, ele conseguiu um para si. Poucos foram os passos dados por ele antes de esbarrar em alguém, que caiu.

— Aah, me desculpe…

— Oh não, a culpa foi minha, por favor me perdoe… – Dizia uma pessoa de cabelos loiros, que ao fitar Yuuki, ficou encantada. Sua voz, que aparentava ser indistinguível, além de sua aparência fizeram Hisashi ficar em certa dúvida. – Está tudo bem?

— Ah, sim… e você? Se machucou?

— Não, eu estou bem. Me desculpe por isso.

— Não precisa se desculpar, eu que... – Ao tentarem pegar o Yakisoba Pan de Hisashi, acabaram por tocar suas mãos. Seu toque suave e leve acabou por deixar ambos levemente mais corados. De vergonha, retiraram as mãos dali. – Bom, preciso retornar a minha sala. Com licença. – Se levantou, e virou-se a ponto de ir.

— Espere… – Yuuki interrompeu seus passos, e virou seu rosto em direção a pessoa que também se levantara. – … Como você se chama? – O coração do garoto palpitou. Era uma pergunta simples, mas que para ele, significava mais do que se esperava.

— Um… eu me chamo Hisashi. Yuuki Hisashi. E você?

— Eu me chamo Megumi Tsukishima. É um prazer conhecê-lo, Yuuki-kun. – O jovem ficou vermelho ao escutar seu nome a ser pronunciado por aquela pessoa. Despediram-se e então cada um foi para sua sala.

Na sala de aula, Yuuki se sentou em sua carteira, e Akane o observou. Aparentava estar distraído, com a cabeça no mundo da lua. Os períodos passaram tão rápido que ele nem sentiu que havia chegado ao final. Akane então parou ao lado dele e ficou chamando sua atenção e passando a mão em frente a seu rosto. Depois de um breve tempo, ele enfim retornou a sí.

— O que houve para você estar assim, distraído, Yuuki-kun? – Pegou o garoto um pouco de surpresa. Ele sabia que não poderia simplesmente cuspir os feijões, pois corria o risco de ela se zangar.

— Ah, a aula tava bem chata, tão chata que por um tempo eu fiquei querendo que ela acabasse logo. – Mentiu. De alguma forma, aquela mentira fora tão bem estruturada que a garota acabou por cair nela. Ou assim ele acreditou, pois ela se juntou novamente a Shizue e Emiko.

— Acha que pode ser uma garota? – Sugeriu a alaranjada, em voz baixa para evitar alertar o menino.

— Não tenho dúvidas. É bem certo que foi uma garota que deixou ele assim.

Tendo arrumado suas coisas, Tsukishima então saiu de sua sala, e se deparou com Yuuki no corredor, à distancia. Como pouco o conhecia, caminhou em sua direção, lhe chamando e acenando para ele. Imediatamente ao chamá-lo, Akane, que acompanhava o menino, virou seu rosto na direção do chamado, e se deparou com a loira.

— Ah, Megumi-san. Me desculpe por antes.

— Não se preocupe, já passou.

Miyagi não estava gostando nada daquele pequeno clima entre eles ali, e decidiu interromper os dois.

— Com licença… quem é ela, Yuuki-kun?

— Essa é Megumi Tsukishima, minha nova colega. A gente acabou se esbarrando quando eu saia da cantina.

— Foi um acidente, a gente não sabia que isso aconteceria… – A morena tomou aquele comentário de forma desconfiada. Como ela não sabia da situação, não confiava nem mesmo em Hisashi, seu amigo de infância.

— Enfim, Megumi, esta é…

— Akane. Miyagi Akane. Bom, eu tenho que ir. Até mais. – Saiu na frente. Inocente, Megumi somente deixou aquilo passar, sem pensar muito. Ela então pediu se podia o acompanhar no caminho de casa, e ele retrucou dizendo que ele não sabia por onde ela ia, na qual ela somente perguntou se ele saia pela direita ou pela esquerda. Saiam pelo mesmo lado, e então a mesma o acompanhou até um pedaço do caminho, aonde ela parou junto dele.

— Bom… Eu preciso atravessar a passarela por aqui. Ah, mas antes, se não for incômodo, você me permitiria acompanhá-lo todos os dias na hora de voltar? – Tal pedido deixou o garoto levemente corado. Pensou seriamente em rejeitar, mas pelo bem das duas, atendeu a seu pedido, visando melhorar a relação entre eles três.