Na manhã seguinte, enquanto ele saia, não a percebeu escondida por detrás do muro que cercava o dormitório.

— Aonde vai? – Perguntou ela, segurando ele pelo pulso, o pegando de surpresa.

— A-Akane… que susto. Você sabe para onde vou…

— Então com sua licença… – A garota o agarrou pelo braço, e ele ficou sem entender nada. Somente sabia que estava levemente desconfortável pois seu corpo estava levemente inclinado para a esquerda, aonde ela o abraçava. Novamente, memórias recentes dela dizendo que era um garoto lhe vieram a mente, e se tornaram mais um fator de desconforto para o menino. Decidiu não dizer uma palavra, nem questionar. Na metade do caminho, encontraram-se com as duas colegas, as quais uma parecia confusa, e a outra não demonstrava, mas por dentro, estava levemente orgulhosa. A confusa se questionava como os dois estavam bem tão rápido assim. A orgulhosa nada revelou, fingindo também estar confusa. Akane somente disse que havia tomado uma atitude quanto a aquilo tudo, e imediatamente, os olhos da primeira encaravam a segunda, que tentava evitar contato visual, o que lhe era inútil pois estava na cara que ela fora o estopim.

Na distância, alguém estava os chamando. Olhando para trás, se tratava de Megumi, a pessoa a qual Yuuki estava confuso sobre. Ela os cumprimentou como de costume e Miyagi, que estava agarrada ao moreno, o abraçou com um pouco mais de força, fazendo o menino gemer levemente de dor.

— Oh… parece que alguém tá meio apegada demais hoje de manhã. – Comentou a alaranjada, caçoando.

— Então foi você esse tempo todo… – A alaranjada ficou levemente assustada com a atitude da jovem de curtos cabelos. Megumi, vendo os ataques de ciúmes que a morena demonstrava, decidiu também abraçar o garoto por seu outro braço.

— Megumi made? — A descrença do menino ao ver a loira lhe agarrar fez Nakajima rir levemente, Akane tendo ficado incomodada.

— Parece que você tá bem disputado hein, Yuuki… – A escura lhe provocou.

“Eu até ficaria feliz, mas…” – Pensava ele, desconfortável. De um lado, uma garota que apesar das aparências, tinha o corpo de um menino. Do outro, uma pessoa a qual ele não conseguia discernir, tanto visualmente quanto comportamentalmente, se a mesma era homem ou mulher. Shizue lhe dizia que era garoto, mas esta o confundia e o dizia que cada um a via de uma forma diferente. Deixou aquele pensamento se esvair naturalmente conforme o tempo, enquanto os períodos matinais começavam.

No intervalo, Akane juntou sua mesa com a de Yuuki, e como de costume, as outras duas vieram. As meninas conversavam sobre o clima, que estava ventoso, e como que aquilo acabava por bagunçar os cabelos. Akane chegou a enfatizar que não somente o clima, mas como ao dormir, acordava com seu cabelo todo desgrenhado. O garoto somente ficava ali a escutar enquanto lanchava.

— Ah… desculpa, Yuuki. A gente total te deixou de fora né… foi mal. – Disse Shizue, tentando apaziguar para com o menino. Ele disse que não necessitava se preocupar com aquilo, pois não queria se intrometer em assuntos femininos, o que não lhe convia.

— Falando do clima, acham que pode chover hoje? - A mais nova, de cabelos levemente azulados, interrogou-os.

— Olha, dado como o clima tá mais ventoso e o sol não parece tão quente, tem boas chances de chuva. A meteorologia ontem mesmo apontou que hoje poderia chover.

— O céu também parecia estar levemente nublado.

A preocupação dos quatro com o tempo era de se esperar, já que nenhum dos quatro trouxeram guarda-chuva caso uma chuva desabasse sobre suas cabeças.

Pouco depois, era chegado o fim do intervalo, e todos ajeitaram suas cadeiras. Os periodos finais se prosseguiriam até o final do último, que ao tocar do sinal, todos desempenharam as ordens de acordo com a representante de classe. Após isso, Satomi foi em direção a Akane e a perguntou se ela poderia lhe ajudar com algumas tarefas simples, que envolviam a sala dos professores, tendo o aval da disponibilidade da garota. Ela pediu ao jovem moreno que fosse a frente, e quando este estava prestes a cumprir o pedido da jovem, como uma forma de caçoá-lo, Nakajima o empurrou em direção a ela, que como estava com poucos passos de distância, se esbarraram, e os papéis cairam no chão.

— Ah… desculpa, representante… – Disse ela, antes de olhar um pouco irritada para Shizue.

— Opa. Não esperava ter sido tão forte assim… enfim, boa sorte! – Tornou-se a virar e apressar seus passos. Era tudo uma estratégia para deixá-los a sós, e ainda assim, até mesmo Emiko ficou irritada para com ela. Como forma de pedir desculpas, Yuuki decidiu ficar e ajuda-la, também pedindo perdão a representante, que os desculpou.

— Não se preocupe, terei uma conversa franca com a Shizue amanhã. – Falou Takahashi, que também os ajudou a juntar os papéis. Depois de entregues, enfim, puderam retornar para casa. Na saída, não esperavam o fato de Tsukishima os aguardar.

— Parece que vai chover, não é? – Dizia ela. – Seria melhor se nos apressarmos.

Yuuki concordou. Akane também. Durante o caminho, algo clicou a mente de Megumi.

— Agora que me lembro… Akane-chan, você parece ter algo comigo, ainda que eu nem implique com você… – De imediato, abraçou Yuuki, como se a provocasse. – É por causa dele?

A menina ruborizou todo seu rosto, entregando praticamente de bandeja a resposta para a loira.

— Hã?! É-É claro que não! – Cruzou seus braços, virando seu rosto contra eles.

— Yuuki-senpai, você tem algum tipo de relacionamento com ela?

— B-Bem… nós só somos amigos de infância… – Akane estava começando a ficar um pouco incomodada com o grude dos dois, mais por parte de Megumi.

— Amigos de infância… do jeito que ela reagiu, me pareceram bem mais que só amigos… – Ela tornou a ficar vermelha novamente.

— Eh? Eu e Akane? – A loira afirmou com um aceno. – Ah… bom, quanto a isso, eu não sei, não tenho muita certeza... – Naquele momento, Miyagi se surpreendeu ligeiramente, antes de enfim conectar os pontos, o que gerou uma pontada dolorosa em seu peito. Permaneceu calada, porém, estava sim magoada. A caminhada seguiu normal, e ela até chegou a interagir com os dois, como se nada houvesse acontecido. Entretanto, ao separar de Tsukishima, a morena simplesmente foi na frente, também sem proferir uma palavra, enquanto os dois se despediam. A loira estranhou seu comportamento, e sugeriu que o mesmo devesse falar com ela para saber o que se passava.

Ele então a seguiu, todavia, ela aparentava apressar seus passos. Ele não entendia nem um pouco o porque.

— Akane, espera. – Chamou sua atenção, em vão. Ela começou a correr, e ele também, até um certo momento que ele conseguiu, de alguma forma, pegar seu pulso. Como réplica, ela se livrou de seu tomar, e lhe aplicou um tapa em seu rosto, sem o mesmo ainda não entender nada. Algumas gotas começavam a cair dos céus enquanto ela ia na frente e ele ficava la, antes de enfim seguir. Ao tentar dizer qualquer coisa, ela o exclamava para que não lhe dirigisse a palavra. Sem poder dizer um ‘ai’ sequer, eles voltaram para Nozomi-sou em silêncio debaixo do início de uma garoa.

Já dentro do dormitório, a chuva lentamente começava a pegar ritmo, e ele agradecia por ter dado tempo de ter chegado antes de a chuva os pegarem. Akane por si não se importaria se houvesse retornado encharcada, pois algo pior se passava dentro de si.

Debaixo do chuveiro, estava frustrada. “Ele ainda me vê como um homem...” Pensou,deprimida. Não via nada demais em seu corpo, todavia, aquilo lhe incomodava quanto a ele. Tornou a imaginar alguém que lhe atormentava a mente, e sentiu medo. Terminou seu banho e cruzou caminhos com o garoto de novo, ainda sem falar nada.

Em seu quarto, deitou-se na cama e ficou a olhar seu smartphone, quando este vibrou. Era uma mensagem de Yuuki, querendo falar com ela. Somente o ignorou. Mais mensagens chegavam, e Miyagi continuava a ignorar. Então seu celular tocou: era o garoto a ligar para ela. Tal como antes, continuou a desconsiderar até que ele desistiu depois de tanto insistir. Mesmo na hora do jantar, nada se pronunciava entre os dois. E no inicio da madrugada, quando Yuuki estava em seu sono mais leve, seu celular vibrou e tocou, mostrando uma notificação. Era de Akane, ela finalmente havia lhe respondido, mas sua réplica não aparentava ser muito agradável, o deixando um pouco aflito com a mensagem que somente dizia:

“Amanha, tudo vai mudar.”

1 Megumi também?!