Depois de passados os quatro primeiros períodos de aula, o sinal tocara, representando a chegada do intervalo. Dessa vez, Takahashi abordou Akane e lhe ofereceu uma escolta para apresentar o prédio escolar. A menina brevemente olhou para Yuuki por um breve momento, antes de acompanhar a representante, apesar de já saber o que esperar. Na sala, mais uma vez Hatarase juntara sua carteira à de Hisashi, porém, desta vez, o garoto havia alguns olhares direcionados a ele.

— Aí, aquela menina é uma conhecida sua? – Questionou, colocando seu bento em cima da mesa.

— Ela é uma amiga de infância.

— Bonita ela. Não é a toa que todos aqui estão com inveja de você. – O garoto comentou a respeito dos outros alunos. Apesar de o jovem não lhe responder nada, ele concordou em silêncio, sem dar uma pista. Alguns minutos depois, ela voltava, ainda na companhia da representante de turma e seus olhos imediatamente fitavam Yuuki da porta da classe. As outras meninas a chamaram para lanchar com ela. Ainda que quisesse se sentar com o moço, ela deixou se dar a chance de comer com novas companhias, já que o jovem já estava acompanhado de um colega.

Hisashi olhava para o lado, a ver ela lanchando com as outras garotas, e elas não lhe deixaram passar despercebido.

— Ei, ei. O Yuuki tá olhando pra você, sabia? – Comentou uma das meninas, de cabelo longo alaranjado e olhos cor ciano escuro. Esta era Nakajima Shizue, e logo ao seu lado, se assentava uma jovem mais introvertida, de curtos cabelos arroxeados, chamada de Sugihara Emiko. Akane decidiu ver se era verdade, e ao mínimo instante que trocaram olhares, ele desviou o olhar para Minoru, como se estivesse a conversar com ele. – Acho que pra quem ficou tanto tempo longe, ele tem uma quedinha em você, não acha? – Provocava Nakajima, a deixando ruborizada. – E você, ao menos diga algo. Eles não ficam bem juntos? – Tornava a provocar, desta vez, chamando a atenção de Sugihara.

— Eh? Ah… eu… não sei… – Respondia, um pouco sem jeito.

— Hã? Que tipo de resposta é essa? É claro que eles ficam bem juntos. Akane-chan, quanto tempo exatamente você ficou longe do Yuuki? – Ela a questionou.

— Se me lembro bem, eu tinha uns sete anos, e o Yuuki seis quando fizemos a promessa, então… uns dez anos. – Elas não deixaram de notar o que a mesma havia dito.

— Promessa? – Miyagi estava em choque ao notar que havia falado demais. – Hmm… estou interessada. Me conta mais dessa tal promessa. – Shizue pediu.

— Bem… isso eu não vou poder contar.

— Ah, vamos, não seja sem graça. Prometeram se casar quando crianças? Foi isso? – A jovem imediatamente imaginou sua cena vestida de noiva, a esperar no altar, com o menino entrando de terno na igreja. Isso fez ela corar intensamente e a balançar a cabeça intensamente de um lado para o outro, negando.

— Parece que elas já estão se dando muito bem. – Comentava Minoru ao olhar o grupo de garotas conversando. O sinal tocou, e logo, todos os alunos estavam arrumando suas carteiras enquanto a professora já entrava em sala.

Durante um dos períodos, um papel chegou até a carteira de Hisashi, na qual ele silenciosamente abriu. “Você prometeu se casar com a Akane-chan quando eram crianças? Ass: N.Shizue.” era o que dizia o bilhete. Suas bochechas se avermelharam, e um pouco irritado, ele decidiu amassar o papel. Ela claramente não deixaria ele ignorar sua mensagem, então preparou uma bolinha de papel e jogou em sua cabeça. Mira certeira. Ao virar seu rosto quase que para trás, deparou-se com uma Nakajima de semblante também irritado. Pegou novamente o bilhete, e em suas costas decidiu escrever sua resposta, e de mesa em mesa, a devolveu.

“O que eu prometi ou deixei de prometer não interessa a ninguém a não ser eu e a Akane.” Dizia assim a nota. “Tch! Que raiva desse Yuuki.” Pensava ela, ainda com a expressão irritada. Os dois períodos finais passaram como um relâmpago, e ao soar do sinal, todos se levantaram. Alguns alunos ficaram responsáveis pelas tarefas rotineiras de limpeza e organização do colégio, enquanto o resto da turma saia da classe para suas casas.

— Yuuki-kun! – Corria ela em direção ao menino. – Posso acompanhar você até em casa? – Parou a seu lado, com os braços e mãos nas costas, ligeiramente inclinando sua cabeça em sua direção.

— Bem… eu não moro mais em casa… agora, vivo no dormitório da escola. – Sua resposta correspondia com o que a mãe do garoto havia dito à ela no dia anterior.

— Entendo… ainda assim, posso te acompanhar? – Aquela pergunta fez ele corar levemente.

— E-Eu não me incomodaria se você me acompanhasse…

— Então isso é um sim, não é? – Sorriu, e então pararam cada um em frente a seu armário, trocando seus sapatos e saindo do prédio, juntos. Apesar daquele curto momento, ele já se sentia perfurado pelos olhares dos garotos, que o invejavam por causa de Miyagi. – E então? Como foi lá sem mim? – Questionou ela.

— De início, senti sua falta. Mas isso foi passando, e eu fui me acostumando. – Retrucou ele, a olhar aos céus enquanto caminhava.

— E a nossa promessa? Você ainda lembra? – As bochechas do garoto ruborizaram.

— Se me lembro bem… prometemos ficarmos juntos, não era? – Olhou para o chão, tímido.

— Não foi só isso. – Akane o pegou de surpresa, e levantou seu dedo mindinho. – Prometemos ficarmos juntos para sempre. Você até me disse que jamais nos separaríamos, lembra? – Refrescou-lhe a memória, o deixando ainda mais vermelho.

— E-Espera. Mas assim, do nada?! – Hisashi perguntou assustado.

— Foi você quem disse.

— Mas foi você quem sugeriu.

— E você concordou, dizendo isso. – Sorria, parados debaixo de uma ponte, perto de um rio. – Se você acha que estamos nos apressando, por mim tudo bem. É até bom nós tomarmos isso um passo de cada vez. – Voltou a caminhar, com um sorriso confiante no rosto, antes de parar novamente, sem dizer nada, e começou a rir um pouco.

— O que foi? Tem algo no meu rosto?

— No seu rosto? Você só foi um tanto ingênuo, sabia? – Ele ainda não entendia o porque daquilo. – Pode me prometer outra coisa? – O jovem continuava confuso, porém, não recusou o pedido dela. – O que eu disser agora é um segredo nosso, tudo bem? Ninguém mais pode saber.

— Segredo? – Seu coração começou a bater de ansiedade. Uma sensação de nervosismo envolvia seu corpo, e ela, que estava de costas, se virou para ele, ainda com um sorriso, contudo, desta vez, havia um tom de brincadeira.

— Atashi… Otokonoko desu yo.— Tais palavras o acertaram em cheio no peito, deixando ele em choque. – Deve ser uma baita surpresa para você não é? O pior é que apesar disso… – A partir deste ponto, Hisashi estava tão surpreso, que nada mais ele ouvia. Sua vista também parecia ter gradativamente cessado, e sua realidade, naquele momento, foi inteira e completamente destroçada à cinzas.