No distante horizonte, o sol vagarosamente começava a raiar, atravessando o vidro e passando por entre as frestas da persiana. Atingindo-lhe o rosto, acompanhado de um som de um desagradável despertador, a jovem acordava de seu amado sonho, esfregando o olho.

— Puxa, já é de manhã… como passou rápido. – Reclamou, ainda em tom de sono, sentando e se espreguiçando, antes de enfim sair de sua confortável cama. Bocejava enquanto caminhava em direção ao seu guarda-roupa, o qual abriu e retirou de lá seu uniforme. O pôs em cima da cesta na área de serviço e começou a se despir, e entrando no banheiro, ao girar o registro, acabou por inicialmente se assustar com a água gelada, resistindo enquanto tremia. Próximo do final de seu banho, já não tremia mais, havendo se acostumado com a temperatura da água gelada.

Saindo dali já se sentindo revigorada, secou-se em sua toalha, vestiu seu uniforme e parada em frente ao espelho, lutou contra o fenômeno de cabelo amanhecido. Com tudo devidamente arrumado, foi ao quarto e olhou sua mala com um sorriso em seu rosto. Olhou para seu relógio, e notou que ainda havia um pouquinho de tempo para um rápido café da manhã. Sentou-se e rapidamente tomou seu desjejum, se levantando e pegando sua mala, que dentro estava, além de seus materiais, o papel que comprovava sua matrícula em Sagishima. Saiu então com as duas malas, uma com seus materiais escolares, e outra com as roupas e o documento, rumo à estação. Ao parar da locomotiva, os vagões mais próximos estavam um tanto quanto cheios e os mais distantes estavam vazios. Como não podia se atrasar, não teve outra escolha senão adentrar aos vagões mais cheios.

Praticamente espremida, quase que contra a porta, ela suplicava em silêncio para que ali não houvesse nenhum molestador. Sabia dos perigos de ser uma estudante desacompanhada em um trem lotado, por isso, temia. Por boa parte da viagem, tudo seguia bem, até que ela sentiu algo estranho. Alguém estava lhe acariciando por detrás. “Não… não acredito… um molestador…” Pensava, ainda com aquela mão ali atrás, lhe tocando. A tal mão foi chegando a áreas um pouco mais perigosas, lentamente querendo passar no meio dos glúteos da garota. Um desconforto enorme era o que ela sentia por dentro. “Alguém… me ajude…” Clamava ela em pensamento, com seus olhos já cerrados até sentir que o trem estava parando. O trem parou em uma estação aonde a descida seria pela porta que ela estava, entretanto, essa não era sua estação ainda. Aquela parada de alguma forma foi sua salvação, e assim ela acreditava que o mesmo saltaria naquela estação. Saíram pessoas e pessoas antes de as portas se fecharem novamente. Ainda assim, haviam muitas pessoas, mas dessa vez havia um pequeno espaço aonde ela poderia respirar um pouco mais aliviada.

Mas não por muito tempo. A mão havia retornado, e em poucos segundos, já estava resumindo de onde havia parado. Agora com um pouco mais de espaço, ela disfarçou e olhou de canto, a fim de identificar quem lhe abusava. Havendo encontrado o mesmo, a mão do homem agora estava mais fundo, em um ponto aonde a mesma tinha ficado intensamente avermelhada. Os movimentos vulgares pararam por um momento, como se tivesse alguma dúvida ou medo. Entretanto, não demorou muito para retomar. Já quase chegando na estação que ela iria saltar, respirou fundo, se preparou e com certa força, lhe aplicou uma cotovelada em sua barriga, o que o fez gemer de dor, e assustou aos outros passageiros.

As portas então se abriram e ela saiu dali, zangada, arrumando a saia atrás. Olhou em seu celular as coordenadas para a Nozomi-sou e então começou sua caminhada. Andava com passos apressados, apesar de já saber que estava atrasada para o primeiro período de aula. Encontrado o local, ela tornou a tocar a campainha até que alguém veio lhe atender.

— No que posso ser útil? – Questionou uma outra mulher, vindo lá de dentro.

— É que eu sou a nova moradora do dormitório. – A garota respondeu, pegando o documento de sua mala e a entregando. Ela revisou com cuidado os dados naquele papel, antes de tirar quaisquer conclusões precipitadas.

— Bem, ninguém aqui foi informado sobre isso. O documento é oficial, então você pode sim morar aqui. Mas você está atrasada para o seu primeiro período, não está?

— Sim, por isso me apressei em vir aqui antes. Poderia deixar minha mala dentro do meu quarto?

— Claro, só um instante, vou pegar a chave. – Solicitou a mulher, entrando, e logo após saindo com a devida chave em mãos, a entregando, e pegando a mala de roupas da menina. A jovem agradeceu e então foi rumo ao colégio, agora correndo, a fim de ao menos pegar o inicio do segundo período.

Chegada a escola, foi à sala de professores, e lhe fora informada da sala na qual ela atenderia as aulas. Uma das diretoras então saiu dali junto dela e foi até a classe à qual ela estudaria. Interrompeu a aula brevemente para sussurrar a professora que havia uma aluna nova em classe, e a sensei fez questão de se ajeitar enquanto a diretora saia, e a menina esperava, ainda do lado de fora.

— Bem, alunos… eu sei que é inesperado mas parece que temos mais uma aluna transferida. – Um certo burburinho entre os alunos era audível. – Por favor, pode entrar. – E naquele momento, todos observaram a porta a se abrir, e a jovem a entrar. Vestindo o uniforme feminino daquela escola, de cabelos castanhos que iam até a altura de seu umbigo, e olhos igualmente castanhos, a morena parou ao lado da professora, que terminava de escrever seu nome, no qual Hisashi se surpreendeu ao lê-lo. – Pode se apresentar. – Ordenou a professora.

— Meu nome é Akane. Miyagi Akane. Vim da cidade de Iwata, e espero me dar muito bem com vocês. Yoroshiku onegaishimasu. – Disse ela, se arqueando. Os rapazes imediatamente foram a loucura devido a beleza de Miyagi, e comentavam o quão linda ela era. Até mesmo entre as garotas haviam comentários sobre o quão bonitinha ela era. Só que um aluno daquela classe se destacou por ficar de pé no meio de todos ali sentados, e este era Yuuki. Ao levantar sua cabeça, todos estavam a olhar para ele, até a professora, e os olhares de Akane se travaram no rapaz.

— Yuuki… algo de errado? – Questionava a sensei.

— Yuuki-kun… – Ela o chamou. “Eu não estou sonhando, não é? Se for sonho, por favor, não quero acordar”— Pensava ela ao olhar para o garoto.

— Akane… você… é aquela… da minha infância?

— Yuuki-kun! – Correu ela para abraçá-lo. – Sou eu mesma! Quanto tempo, quanta saudade eu senti… – Aquela sentença foi o suficiente para que as meninas gritassem “Que ousada!” em coro, enquanto os rapazes fitavam à Hisashi com ódio.

— Ah… sim, quanto tempo… – Replicou, um pouco desajeitado, enquanto ela sentava em um lugar um pouco mais distante do dele, já que era outro local vazio naquela classe.

— É bom que vocês já se conhecem, assim, você pode ajuda-la a se dar bem com os colegas de classe dela, não é, Yuuki? – Sugeria sua professora com um sorriso, e o rapaz concordava, ainda um pouco nervoso. Jamais que ele esperaria que sua amiga de infância, a qual ele fez uma promessa, voltaria a lhe encontrar após anos de separação e ainda mais estudar na mesma escola e classe que ele.