Yuuki chegara a estação de sua cidade natal alguns minutos de casa. Comprou uma passagem e tomou o trem-bala em rumo à província de Shizuoka, local aonde estava para começar uma nova vida, e também estudar em Sagishima Gakkou, sua nova escola.

Em pouco mais de uma hora e meia, o Shinkansen finalmente fazia parada na província. Saltou do comboio e ao sair da estação, imediatamente a sensação de estar perdido lhe atingiu. Como era novo na cidade, não sabia bem aonde estava. Para piorar, estava sem mapa e nem com internet para recorrer ao GPS do celular. Decidiu então perguntar aonde ficava a escola que frequentaria, e com as coordenadas ditas, fora seguindo até encontrar o prédio.

Caminhando brevemente por aquele corredor inicial, olhou no boletim para ver em qual sala estaria. De seus passos se apropriou até chegar à porta da classe que iria ficar, e sem muitas cerimônias, a abriu, tomando a atenção da professora que estava já começando a se organizar para a chamada.

— Ah… se me lembro, você é o que se transferiu a pouco, não é? – Com um tom sereno o questionou. – Por favor, entre. – Solicitou, enquanto Yuuki ia até a professora, e virava-se diante dos alunos. Ela então ligeiramente pigarreou para ter a certeza de que sua voz saísse em alto e bom som.

— Como mencionado anteriormente, temos um aluno transferido. Pode se apresentar. – A sensei assim deu a permissão ao garoto para poder falar.

— Eu me chamo Yuuki Hisashi. A partir de hoje, sou um aluno da Sagishima. É um prazer conhecê-los. – Em um ato de respeito, arqueou-se, retornando brevemente à sua postura normal.

— Pessoal, vamos nos dar bem com ele, tudo bem? Yuuki-kun, você pode sentar… ali ao lado daquele rapaz, vê? Ali está vazio. – Concordando com a opção da professora, ele logo se sentou e assim se seguiu a chamada. O garoto ao seu lado, chamado Hatarase Minoru, lhe cumprimentou e se apresentou.

Em pouco tempo, acabava o período de Homeroom<!-- Período de 5 minutos aonde os professores fazem as chamadas para verificar a presença dos Alunos. --> e em seguida, iniciavam-se as aulas regulares. O garoto se mostrava atencioso às lições, assim como uma boa parcela dos alunos. Como era inicio do ano, as primeiras lições não lhe eram muito complicadas, então ele muito raramente necessitava perguntar ao professor para lhe tirar a dúvida. Por causa da atenção dos alunos, e do bom humor e paciência dos professores, o tempo parecia ter passado muito rapidamente diante de seus olhos. Quatro aulas que duravam 50 minutos deram a sensação de ter terminado em questão de vinte minutos.

No intervalo, a professora pediu encarecidamente para que a representante da turma lhe apresentasse os arredores. De curtos cabelos negros que pareciam brilhar com os raios de sol e olhos arroxeados, uma voz que lhe parecia madura demais para sua jovial idade, esta era Satomi Takahashi. Levantando-se de sua cadeira, se dirigiu à Hisashi e o escoltou enquanto apresentava os arredores do prédio, sem adentrar a salas de clubes.

Retornando a classe, ela lhe desejou que o mesmo se desse bem com a classe, o recepcionando com um confiável aperto de mão e um sincero sorriso. Minoru, que sentava a seu lado, uniu suas carteiras uma de frente para a outra, e colocou seu bento em cima da mesa. Yuuki fez o mesmo, mas teve uma reação de ligeiro desgosto ao ver a decoração do mesmo.

— Mãe… por que… – Pensou ele, ainda encarando seu lanche.

— Eh… sua namorada que fez? – Hatarase questionou, observando, e ele sentiu como se estivesse sendo provocado.

— Não… minha mãe fez… – Respondeu, desapontado. Entretanto, diferente do que esperava que acontecesse, ele não riu daquilo, e continuou a lanchar.

— Você veio de onde?

— Showa, Yamanashi,

— Eh… então é da prefeitura vizinha ao nordeste. Como foi chegar aqui a primeira vez?

— Mal eu coloquei o pé e fiquei perdido imediatamente.

— Mas você num tinha um mapa?

— O celular não estava com internet. E eu não tinha um mapa em papel para me guiar… tive que pedir direções.

— Que infortúnio. Bom, ao menos, você chegou aqui no colégio. Mas e pra voltar para casa? Não vai precisar pegar o metrô novamente?

— Não. Planejo morar em um dormitório, chamado Nozomi-sou.

— Ah, esse é o dormitório da escola. Eu sei onde fica, se quiser, eu te acompanho até lá quando as aulas terminarem.

— Quanto a isso, agradeço sua gentileza, mas a representante de classe já disse que iria me levar quando contei a ela.

— Ela é responsável como sempre, eh… – Comentou enquanto comiam. O sinal tocara novamente, e todos começaram a se organizar novamente, e guardar seus bentos. Mais dois períodos de aula antes de finalmente terminarem as aulas do primeiro dia.

Satomi parou ao lado de sua carteira e o convidou para acompanhá-la. Apesar de não haver nenhum contexto extra, alguns comentários eram ouvidos enquanto os dois saiam de sala. Trocaram de sapatos nos armários e então, deixaram o prédio, caminhando lado a lado. Durante sua caminhada, o silêncio era o que reinava. Não haviam perguntas, nem respostas, nem sequer um tópico a conversar. Somente seus passos e uma harmonia entre os sons da natureza e algumas casas, estabelecimentos e veículos.

— É aqui. – Parou de frente a uma casa de aparência tradicional, entretanto, construída com paredes de concreto, pintadas de uma cor azul clara como o céu. A placa confirmava o lugar: Dormitório Nozomi, para estudantes da escola Sagishima.

— Muito obrigado, representante. – Arqueou-se, como forma de gratidão pelo auxílio.

— Então, eu já vou indo. Tenha uma boa estadia, Hisashi. Até amanhã. – Segurando a mala em frente a seu corpo, também se arqueou levemente, virando-se e indo embora. O jovem vislumbrou por um momento, antes de adentrar os portões. Tinha expectativas de viver uma vida tranquila, e quase totalmente independente. Ao abrir a porta do local, uma mulher passava por aquele corredor.

— Você deve ser o novo estudante da Sagishima, se me lembro bem, você é o Yuuki Hisashi-kun, não é? Entre, entre. – Ela o chamou, e o deu direções de onde ficava seu quarto. Conheceu os outros moradores, e também descobriu sobre como funcionava o dormitório, brevemente indo arrumar suas coisas que estavam em caixas.

Não muito longe dali, também em Shizuoka, uma menina já preparava algumas roupas em uma mala. Por um breve momento, abriu a gaveta de seu armário, aonde estava sua carteira, a qual ela a pegou. Nela, havia a foto de um garoto o qual ela admirava, cuja ela guardava desde sua infância. Um flashback lhe veio a memória.

Início do Flashback

Dia anterior, 21:45. Da janela, ela observava os céus estrelados, com um semblante um pouco triste.

“Será que ele quebrou a nossa promessa e agora tem uma namorada?” Pensou ela, imaginando o jovem com supostas outras meninas. Imediatamente balançou a cabeça em negação, uma expressão de determinação tomava sua face. “Só tem um jeito de saber isso.” Tornou a refletir.

Levantou-se da cama e foi até sua escrivaninha de estudos. Fuçou em uma de suas gavetas, avistou um papel e o pegou. Desdobrando o mesmo, havia um número de telefone, com um nome carinhoso escrito em baixo do mesmo. Discando, o tom tocou duas vezes antes de alguém atender.

— Casa dos Yuuki, quem fala? – Dizia a voz de uma mulher.

— Ah, Okaa-sama… sou eu… – Respondeu-lhe em um tom gentil.

— Ara… que boa surpresa… Há quanto tempo…

— Eu sei… O Yuuki-kun está?

— Sim, ele está mas… ele já foi dormir.

— Entendo. – Retrucou. “Queria perguntar diretamente a ele… Não vou perguntar a mãe dele, já sei o que viria após.” Raciocinou, já imaginando o que a mulher poderia falar. – Quantas saudades eu sentia de morar aí em Showa… Era tão divertido. – Comentou.

— Pois é. Sempre que chegava do colégio, ele implorava para poder ir para a sua casa. – Retrucava, com algumas poucas risadas. – Uma pena que agora ele também vai se mudar daqui. – Tais palavras atiçaram a curiosidade dela.

— Como assim?

— Ele me disse que queria estudar em Shizuoka, e até se aplicou para lá. Além do mais, ele disse que viveria por um curto tempo em um dormitório, chamado Nozomi-sou. – Respondeu-lhe a mulher.

Fim do Flashback

“Se o que a Okaa-sama disse for mesmo verdade, então ele não está longe daqui” - Raciocinou ela. - “Espero mesmo que ele não tenha quebrado a nossa promessa” – Suspirou esperançosa. Finalizando sua mala, já cheia de roupas e alguns acessórios, desligou as luzes de seu quarto e se pôs em sua cama, a dormir.