Um amor inesperado escrita por Tianinha


Capítulo 15
Coisa mal-acabada




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No dia seguinte, Lara ligou para Giane:

— Hi, little Darling! Sou eu, sua mais nova amiga de infância.

— Não vem com essa história de amiga não que eu sei muito bem qual seu interesse em mim. — disse Giane. Ouviu Lara avisar sobre o horário da entrevista com Sueli Pedrosa e balançou a cabeça, concordando. — Três horas tá firmeza. Vou ficar o dia inteiro em casa mesmo. Valeu, tchau.

Giane estava firme na decisão de não trabalhar mais com Bento. Falara com ele a respeito disso, mais cedo. Bento agora estava sempre querendo aparecer na mídia, sempre querendo impressionar Amora, e Giane estava cansada desta situação. Não havia mais condições de continuar trabalhando com ele. A sociedade estava acabada. Também havia informado o pai de sua decisão. 

— Como assim ficar o dia inteiro em casa? — estranhou seu Silvério, entrando na sala. — Não vai trabalhar, hoje, não é?

Giane sentou-se diante do computador.

— Esqueceu que eu não trabalho mais com aquele traíra? Chega.

Seu Silvério sentou-se no sofá.

— Traíra por quê? — disse seu Silvério, sem entender nada. — Só por causa da entrevista? Ô filha, você tem que pensar que isso é bom pra divulgar o negócio de vocês.

Giane não pensava assim. Não era no negócio deles que Bento pensava quando ia fazer pinta de galã para a imprensa. Era na Amora que ele pensava.

Seu Silvério percebera que Giane estava morrendo de ciúmes do Bento com a Amora. Em vez de assumir o que sentia, a filha ficava arrumando briga com o rapaz. A garota estava chegando ao ponto de querer largar o trabalho, por ciúmes. Seu Silvério não estava gostando nada disso.

— O único negócio que o Bento se importa é o amor dele por aquela biscateira. — disse Giane, enciumada. — Também, depois do que vai rolar hoje, ele nunca mais vai nem querer olhar na minha cara.

— Peraí. — disse seu Silvério, levantando-se do sofá e aproximando-se da filha. — Que é que você está falando? O que que você vai fazer?

O que será que a filha ia aprontar? Seu Silvério não estava gostando nada disso. 

— Um bem pra ele, pai. — disse Giane, levantando-se. — No início ele vai ficar com aquela noia, vai me escorraçar. Mas depois ele vai entender. Quem sabe um dia ele até me agradece. Vou comprar pão. Fui!

Giane saiu de casa. Na rua, viu que Bento estava encima da van, arrumando as coisas. Passou pela van. Bento a chamou:

— E aí, Giane? Bora trabalhar?

Pelo visto, Bento não levara a sério o que ela havia dito.

— Que trabalhar, Bento? Você achou que eu estava brincando? Nossa sociedade acabou. — disse Giane, furiosa.

Bento desceu da van.

Giane parou de andar e virou-se.

— Aliás, onde você passou a tarde toda ontem? — disse a garota. — Foi correr atrás da Amorinha? Pensando bem, não fala não. — levantou a mão. — Não quero saber. Não tem nem por quê, né? A gente não é mais sócio, não é mais amigo, a gente não é mais por... coisa nenhuma.

— Que isso, Giane? Giane, espera! — disse Bento.

Giane nem deu ouvidos. Foi à padaria comprar pão. Quando voltou para casa, Bento insistiu para ela voltar a trabalhar com ele. Não aceitava o fim da sociedade.

— Vai, Giane, deixa de criancice! — disse Bento. — Vamos trabalhar!

Giane estava deitada no sofá, mexendo com o controle da televisão.

— Criancice, eu, né? Quem que apagou ontem, mamadão no sofá, com aquela fantasia ridícula? Fui eu, né?

Seu Silvério entrou na sala. 

— Como é que você...  Peraí... Foi você que me botou na cama e tirou minha roupa depois que eu dormi? — perguntou Bento, surpreso.

— Você fez isso, Giane? — perguntou seu Silvério.

Giane ficou envergonhada. Falara sem pensar. Deixara escapar sem querer que havia cuidado de Bento na noite anterior. Se fez de desentendida.

— Não! Nem sei do que ele está falando, pai. — levantou-se. — Palhaçada!

— Eu não tô gostando nada nada do rumo torto que essa história está tomando. — disse seu Silvério. 

Seu Silvério não gostava nada da história de Giane ficar se enfiando na casa de Bento. O que a garota tinha na cabeça? 

— Você nunca explicou direito o que que estava fazendo na casa do Bento quando pegou o Fabinho destruindo a estufa. — disse seu Silvério à filha. — E agora você entra lá de novo e tira a roupa do rapaz, com ele desacordado?

Giane ficou morrendo de vergonha. Bento disse:

— Peraí, seu Silvério, talvez eu tenha tirado...

Seu Silvério nem deu atenção para o rapaz. Falou para a filha:

— Por que você não fala logo? Abre o jogo, conta logo pro Bento o que é que você sente.

— Contar o quê? Gente, eu não tô entendendo nada. — disse Bento.

Seu Silvério não conseguia entender como Bento pode não ter percebido, como podia não enxergar o que era tão óbvio. Já que a filha não tinha coragem de dizer o que sentia, ele teria que fazer isso. Quem sabe assim ela e Bento se acertassem.

— Não tá entendendo?  — disse seu Silvério a Bento. — É, só mesmo sendo muito cego pra não perceber que a Giane tá apaixonada por você.

Bento ficou perplexo. Giane sentiu-se constrangida. Não podia acreditar que o pai havia sido capaz de fazer uma coisa dessas, expor seus sentimentos na frente do Bento. 

— Isso é mentira! — gritou. — Isso é mentira!

Correu para o quarto. Bento não acreditou no que seu Silvério dissera.

— Que é isso, tio Silvério? Eu sei que você sempre sonhou com a gente juntos, mas a Giane é como se fosse minha irmã!

— É. — disse seu Silvério. — Não é bem como irmã que ela gosta de você, né?

— Imagina, tio! A Giane é criançona! — disse Bento. — Ela nem pensa nessas coisas ainda. E outra, a gente é sócio. Vive junto pra cima e pra baixo. Você acha que se ela fosse apaixonada por mim, eu não ia perceber?

— Caso você não tenha percebido, a Giane cresceu! Mas eu errei mesmo. — disse seu Silvério, arrependido. — Eu não devia ter me metido nisso. Eu pensei que talvez assim, vocês dois pudessem se acertar.

— Ô, tio Silvério — disse Bento, aproximando-se e colocando as mãos no ombro de seu Silvério. — Olha só, um dia, a Giane vai achar um cara muito bacana, que goste dela.

Seu Silvério abanou a cabeça. Bento continuou:

— E eu, como irmão mais velho, vou estar de olho, entendeu? Só vai namorar o pretendente que eu aprovar. Deixa eu ir lá falar com ela.

Bento foi até o quarto de Giane:

— Ô pentelha! Sai daí, vai, Giane!

Giane estava morrendo de vergonha e não queria olhar para o rapaz.

— Bento, vai embora! Não tô a fim de falar com ninguém! Que saco!

— Bom, melhor voltar outra hora. — disse Bento.

Deu um tapinha nas costas de seu Silvério.

— Fala pra essa jaguatirica que eu quero ela amanhã cedo, no batente comigo, tá? — saiu fechando a porta.

Giane estava em sua cama, segurando sua bola, chorando. Seu Silvério bateu na porta do quarto e em seguida abriu-a:

— Posso? — disse, entrando e fechando a porta atrás de si. Aproximou-se da filha. — Filha, desculpe. — sentou-se na beirada da cama. — Olha, eu só queria...

— Pai, você não podia ter feito isso! — interrompeu Giane. — Como que eu vou encarar o Bento agora, pai? Eu quero sumir! Obrigada, viu?

— Calma, filha. — disse seu Silvério. — Olha, eu sei que quando a gente se apaixona pela primeira vez, fica...

— Para de falar que eu tô apaixonada pelo Bento! — Giane explodiu. — Eu não tô apaixonada! Eu quero que o Bento se dane!

— Tá. Tudo bem, tudo bem. — disse seu Silvério. — Quando você se acalmar, a gente conversa de novo.

— Eu não quero conversar, eu não quero falar com ninguém! — disse Giane. — Aliás, se o Bento ou os jornalistas me procurarem, você pode dizer que eu morri! É isso que você vai dizer!

Giane não estava em condições de falar com ninguém. Desistiu da ideia de derrubar Amora. Não ia adiantar nada mesmo. Bento ia continuar correndo atrás de Amora feito um cachorrinho, não importava o que ela fizesse.

— Por quê que um jornalista viria aqui, falar com você? — perguntou seu Silvério.

— Não sei, não quero saber, tenho raiva de quem sabe! — disse Giane, sem paciência. — Agora, pai, dá licença, que eu preciso ficar sozinha.

— Tá. Tá bom, tá bom. — disse seu Silvério, olhando para a filha. Partia-lhe o coração ver a filha daquele jeito. Retirou-se.

Giane passou horas no quarto, sem querer ver ninguém. Até que ouviu batidas na porta da sala. Seu Silvério havia saído. Giane foi atender.

— Que saco! Quem é?

Continuaram batendo na porta.

— Se for jornalista, eu já disse que eu não vou mais falar com ninguém!

Surpreendeu-se ao abrir a porta e dar de cara com uma Amora bufando de raiva. 

— Não vai falar com a imprensa, mas vai falar comigo. — disse Amora.

Amora entrou e foi largando a bolsa em cima do sofá.

— O que é que você está fazendo aqui? — perguntou Giane.

Como se não bastasse tudo o que tinha acontecido, a cobra apareceu para encher a paciência dela.

— Então, você vasculha a minha intimidade, pra me difamar e eu não posso entrar na sua casa? — disse Amora. — Pois você vai me escutar.

— Eu não vou escutar porcaria nenhuma! — disse Giane.

— Olha aqui, garota! — disse Amora, furiosa, apontando o dedo para ela. — Se você tem inveja de mim, o problema é seu! Mas você não tem o direito...

— De que? — perguntou Giane. — De contar pra todo mundo, quem é a verdadeira Amora Campana?

— E você sabe, por um acaso, quem é a verdadeira Amora Campana? — disse Amora. Agarrou-a pelos braços. — Você não sabe nada sobre mim! Mas agora, você vai saber!

Era só o que faltava, Amora resolveu ameaçá-la! Giane assustou-se:

— Me solta, sua patricinha, sua grã-fininha de mer...

— Tá assustada? Quer que eu te solte? Então não se mete nunca mais na minha vida! — disse Amora, soltando-a.

— Se você continuar se metendo na vida do Bento, eu vou me meter na sua, sim! — disse Giane.

— Garota, você não sabe com quem está lidando!

— Sei, com uma cobra! Que fica aí, posando de boazinha enquanto põe chifre no coitado...

— Eu nunca traí meu noivo! — interrompeu Amora, furiosa. — E se você insistir em me caluniar, eu te esmago que nem uma barata!

— Cuidado! Você pode sujar o salto do seu sapato! — provocou Giane.

— Você esqueceu de onde eu vim? — perguntou Amora. — Eu fui criada na rua, e eu estou aqui. Eu sobrevivi a coisas que você não sabe, que você não consegue nem imaginar! Então, pra mim, não custa nada te esmagar! E se o meu salto ficar sujo, tanto faz, porque eu tenho centenas de sapatos!

— Hum!

— Não se iluda pensando que eu sou apenas uma patricinha fútil e idiota, porque eu sou muito mais que isso e você devia saber! — disse Amora.

— O que eu sei é que você não presta! — disse Giane. — Nunca prestou, né, Mayara? Esse é o seu verdadeiro nome, né? Amora você inventou depois!

— Eu aproveitei todas as oportunidades que eu tinha pra seguir em frente! — disse Amora, agarrando-a. — Ao contrário de você, que não passa de uma coitada, uma criatura mesquinha, invejosa! Se enxerga, garota! — largou-a. Grunhiu. — Você pensa que você vai conseguir me derrubar só porque você está apaixonadinha pelo Bento e não consegue aceitar o fato dele querer ficar comigo!

— Não estou apaixonada pelo Bento! — disse Giane, furiosa.

— Está! Está e assuma! — disse Amora.

— Cala a boca! — disse Giane.

— Não é puxando meu tapete que você vai conseguir que o Bento olhe pra você! — disse Amora. — Porque nem ele, nem homem nenhum vai se interessar por essa coisa mal-acabada que você é! Essa criatura troncha, micha, sem sal, sem graça, sem charme que mais parece um machinho numa mulher!

Aí já era demais. Amora a atacou justamente em seu ponto fraco. Era melhor que ela desse o fora, senão ia levar uma surra. Estava merecendo. 

— Sai da minha casa! — gritou Giane. — Eu vou acabar com você, garota!

— Ah, vamos ver quem vai acabar com quem! — gritou Amora, agredindo-a. Começaram a se engalfinhar.

— Eu vou pegar você — disse Giane.

Bento entrou na casa e viu Amora e Giane brigando.

— Giane! Giane! — disse Bento, separando-as. — Solta Amora, Giane!

Amora riu, satisfeita por Bento defendê-la. Giane ficou decepcionada, chateada por Bento ter tomado partido de Amora. Era a Amora quem a estava agredindo, ela estava só se defendendo.

— Solta a Amora? Você está louco? Essa garota veio aí me atacar!

— Vai dar uma de mulherzinha, agora? Que garota ridícula! — disse Amora, querendo avançar nela.

— Amora! — disse Bento, segurando-a.

— Você está avisada! — disse Amora. — Pensa bem no que eu te falei!

Amora pegou a bolsa e saiu. Bento resolveu ir atrás dela:

— Amora! — chamou.

Giane ficou chateada. Amora a agride, e Bento vai atrás da entojada?

— Vai atrás dela, otário! — disse Giane. — Desgraçada!

Giane ficou no quarto, chorando por causa de tudo o que havia acontecido. Lembrou da discussão com o pai de manhã, na frente do Bento, e da briga com Amora. Bento ainda apareceu na frente de sua casa, chamando-a:

— Ô Giane! Vambora trabalhar!

Giane tapou o ouvido. Não quis nem saber. Queria ficar sozinha, não queria ver ninguém. Seu Silvério ficou conversando com Bento no portão. 


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